Kaysar Dadour é uma boa surpresa de "Órfãos da Terra"

A presença de Kaysar Dadour na décima oitava edição do "Big Brother Brasil" foi marcante. O participante logo caiu nas graças do público com suas brincadeiras e a forma peculiar que falava português, com um forte sotaque sírio (sempre usando o termo "caraca" em todas as frases). Era um dos favoritos para ganhar e sua história de vida cativou os telespectadores (queria trazer sua família para o Brasil e livrá-los da guerra na Síria). Ele foi o vice-campeão, mas conseguiu algo que quase todos os ex-BBBs sonham: trabalhar como ator na Globo.

A emissora resolveu investir no rapaz em virtude de seu incontestável carisma e o enredo de "Órfãos da Terra" parecia perfeito para sua estreia em novelas. Afinal, Duca Rachid e Thelma Guedes criaram uma trama que aborda o tema dos refugiados e a família da mocinha morava na Síria. Todos acabaram vindo para o Brasil, após um violento bombardeio que vitimou milhares. Kaysar deu várias entrevistas confirmando como o roteiro lembra um pouco a sua vida. Mas, ironicamente, o seu personagem é oposto de sua pessoa.

Fauze era o mais fiel capanga do poderoso Aziz Abdallah (Herson Capri) e fazia absolutamente tudo o que o patrão ordenava. Agressivo e frio, o homem assustava suas vítimas até pelo olhar intimidador. E estrear em um papel que não tem nada a ver com sua personalidade é ótimo para Kaysar mostrar seu talento.
Tanto que despertou atenção logo nas primeiras cenas, mesmo com poucas falas. A sua expressão facial realmente provocava medo. E sua parceria com Herson era ótima. Aquele participante do "BBB 18" brincalhão e engraçado ficou para trás na ficção.

Aos poucos, o personagem foi ganhando mais texto e Kaysar não decepcionou, ainda que tenha continuado um perfil bem secundário. Vale destacar, inclusive, a forte cena em que Fauze espancou e torturou Hussein (Bruno Cabrerizo) e a sequência do assassinato de Soraya (Letícia Sabatella), quando o capanga segurou firmemente Dalila (Alice Wegmann) para o patrão poder matar a esposa sem obstáculos. Instantes de pura tensão e bem defendidos pelo ator. O mesmo vale para o momento em que Fauze apontou uma arma para a filha do sheik, após ter fugido da prisão, e ameaçou eliminá-la.

Kaysar também tem convencido na fase "boazinha" de Fauze. O rapaz se envolveu amorosamente com Santinha (Cristiane Amorim) e expressou um lado mais humano. Todavia, é uma pena que o personagem tenha se perdido, assim como toda a novela. A morte de Aziz implicou na perda de função do capanga e a dobradinha dos atores tinha tudo para render muito. A solução dada pelas autoras foi colocá-lo como capanga de Paul (Carmo Dalla Vecchia) e o contexto ficou pouco crível, até mesmo quando Fauze se mostrou indignado com o sequestro do neto de Miguel (Paulo Betti) ---- como pode um pessoa que torturou e matou várias vítimas do sheik se chocar com um rapto que nem maltratou a criança?

Para piorar, Fauze ainda virou capanga de Dalila. E a sua vingança? Afinal, a vilã se negou a livrá-lo da prisão e nem cogitou ajudar o braço direito de seu falecido pai. A solução rasa das autoras foi a invenção de um parentesco entre o personagem e a filha do sheik. Viraram irmãos de sangue em virtude de uma armação da menina para enrolá-lo. Ou seja, por um momento o rapaz voltou a ser malvado. Mas não demorou até trair Dalila e ajudar Jamil (Renato Góes) com Laila (Julia Dalavia). Essa ''tripolaridade" do papel apenas expõe a péssima condução das escritoras. Fauze muda de personalidade de acordo com a necessidade do roteiro. Esse equívoco da dupla, todavia, serviu para expor a segurança do ator em cena. Não é fácil viver um perfil sem rumo.

"Órfãos da Terra" se perdeu por completo, mas Kaysar Dadour foi uma boa surpresa da produção. Ele merecia essa oportunidade e vale citar também sua participação no filme "Carcereiros" --- derivado da série protagonizada por Rodrigo Lombardi ---- que ainda vai estrear. Para culminar, o agora ator ainda entrou para o time da edição de 2019  da "Dança dos Famosos". Está em todas.