quinta-feira, 4 de julho de 2019

"Aruanas" une ficção e realidade de forma brilhante

Após a estreia da comédia romântica "Shippados", no dia 8 de junho, na Globo Play, a Globo lançou outra série no seu serviço de streaming, menos de um mês depois da trama protagonizada por Tatá Werneck e Eduardo Sterblich. Mas a nova produção nada tem a ver com a anterior. A temporada completa de "Aruanas" (com dez episódios) foi disponibilizada no aplicativo no dia 29 de junho, embora tenha sido anunciada para o dia 2 de julho. E a emissora ainda exibiu o primeiro episódio em sua grade na "Sessão Globo Play", nesta quarta-feira (03/07), logo depois de "Cine Holliúdy".


A campanha da série teve uma divulgação histórica, pois houve um lançamento simultâneo no Brasil e em mais de 150 países. Isso porque a temática é de interesse mundial: três amigas de infância são envolvidas em uma organização não governamental que investiga crimes ambientais na Amazônia. E esse conhecido lugar é "apenas" o pulmão do mundo. Sem ele tudo entra em colapso, embora muitos governantes não se importem em preservá-lo. O próprio título da produção explica a vida do trio protagonista. "Aruanas" é uma palavra de origem tupi que significa "Sentinelas da natureza".

Ativismo, preservação, sustentabilidade e direitos indígenas fazem parte do DNA da história, que prende o telespectador logo no primeiro episódio através de um thriller ambiental muito bem estruturado. O clima de suspense não demora a aparecer, fisgando o telespectador.
Uma parcela da sociedade, infelizmente, considera todas as questões que envolvem a preservação da Amazônia "chatas" e por isso os roteiristas foram inteligentes no desenvolvimento do enredo, evitando o tom panfletário que a temática poderia provocar. Conseguiram colocar uma ótima ficção a serviço de algo de extrema importância.

Na trama, Luiza (Leandra Leal), Natalie (Débora Falabella) e Verônica (Taís Araújo), fundadoras da ONG Aruanas, investigam uma sucessão de pedidos de socorro, denúncias anônimas e massacres de povos indígenas vindas da fictícia Cari, no interior da Amazônia. O resultado das investigações aponta para um grande esquema criminoso patrocinado por uma mineradora. O trio se empenha em denunciar todos os envolvidos e acaba diante de situações cada vez mais perigosas. No primeiro episódio, inclusive, Luiza acha o corpo de um informante dentro do porta-malas de seu carro e percebe a armação para incriminá-la. O crime intimidador é que motiva a coragem das protagonistas. As atrizes estão irretocáveis, o que nem é uma surpresa. Leandra se destaca na pele da ativista mais irresponsável, enquanto Taís brilha interpretando uma advogada que representa o pilar mais rígido do time. Já Débora mais uma vez mostra seu talento, agora como uma jornalista respeitável que luta pelo bem do planeta e sofre com a perda de um filho.

O trio central ainda ganha a ajuda de Clara (Thainá Duarte), estagiária recém-chegada, mas com o mesmo empenho que elas. Aos poucos, as personagens vão descobrindo todos os podres da empresa e as tentativas de camuflagem das consequências provocadas no meio ambiente e na população local, onde vários se viram doentes (com sérios problemas neurológicos) em virtude dos produtos da mineradora jogados na água. Os poucos que se interessam em falar acabam mortos ou ameaçados no dia seguinte. O enredo eleva a tensão à medida que as investigações avançam e instiga o telespectador. Como produto da Globo Play, inclusive, é, até agora, o mais eficiente em motivar quem assiste a 'maratonar' os episódios rapidamente. Mais até do que a elogiada "Assédio". A reta final, então, é eletrizante.

No posto de antagonistas estão Luiz Carlos Vasconcelos e Camila Pitanga. Ele vive o ambicioso Miguel, empresário dono da mineradora KM; e ela interpreta a ambiciosa Olga, lobista que atua no sentido de neutralizar as ações da "Aruanas" através de políticos influentes e contatos poderosos. Os dois estão ótimos como vilões sem escrúpulos ---- a cena em que os personagens transam, bebem e cheiram cocaína, ao som de "O Que Se Cala" (de Elza Soares), é genial. Vale citar, ainda, o bom artifício do roteiro para humanizar um pouco o canalha que planeja desmatar uma reserva para extrair ouro: a neta deficiente. O elenco ainda conta com outros bons nomes, como Cláudio Jaborandy, Vitor Thiré e Gabriel Falcão.

Escrita por Estela Renner e Marcos Nisti, com colaboração de Pedro Barros, "Aruanas" é uma produção de alto nível. Dirigida por Carlos Manga Jr. e direção geral de Estela, a série ---- que contou com a consultoria do Greenpeace e o apoio de 28 organizações de direitos humanos e ambientais ----aborda um tema extremamente atual de forma brilhante. Um entretenimento informativo. Vale muito a pena.

8 comentários:

  1. Que série boa!!!! Adorei. Vou maratonar sim!

    ResponderExcluir
  2. Texto maravilhoso, Sérgio. Você é hábil com as palavras.

    ResponderExcluir
  3. Endosso cada palavra da sua crítica e eu já vi tudo!!!!!!!!!

    ResponderExcluir
  4. ah,não vi nem pus pra gravar. coloquei joaquim pra gravar q ia passar na tv cultura. nem vi se deu tudo certo. eu não tenho globoplay, então só devo ver essa série na tv aberta. quero muito ver. gostei muito das matérias que vi. não li seu texto pra não estragar a surpresa. qd eu ver venho aqui na busca achar. beijos, pedrita

    ResponderExcluir
  5. Mas ano que vem passa na aberta, Pedrita.

    ResponderExcluir