terça-feira, 15 de janeiro de 2019

"Deus Salve o Rei" e "O Tempo Não Para" viveram situações opostas

"O Tempo Não Para" está em seu último mês e não há muito mais história a ser contada. A trama vem andando em círculos e o tempo parou, com o perdão do trocadilho. Vale destacar, todavia, o início empolgante da história de Mário Teixeira, que arrebatou o público com a ousadia do enredo em torno de uma família de 1886 descongelada em 2018. Os índices de audiência também estavam nas alturas. Mas, ao longo dos meses, o contexto foi minguando, assim como os números do Ibope. O irônico é que a produção anterior enfrentou uma situação totalmente diferente.


"Deus Salve o Rei" teve um início modorrento e nada atrativo, em virtude da falta de rumo da história de Daniel Adjafre. Nem mesmo o evidente capricho da produção da novela, com cenários belíssimos e figurinos luxuosos, conseguiu prender a atenção do público. Afinal, o enredo em torno dos reinos de Montemor e Artena se mostrava raso demais. O romance de Afonso (Rômulo Estrela) e Amália (Marina Ruy Barbosa) não tinha quase empecilhos porque o herdeiro do trono largou tudo com bastante facilidade para ficar ao lado do seu amor. E a então grande vilã, a rainha Catarina (Bruna Marquezine), mais tramava do que agia.

O telespectador podia se dar ao luxo de não assistir a vários capítulos que não perdia nada de relevante. A audiência teve um início morno, em torno dos 23/24 pontos, e assim seguiu nos primeiros meses. Como a Globo investiu muito na novela, inclusive na divulgação nas redes sociais, uma medida foi tomada: Silvio de Abreu, atual responsável pelo setor de teledramaturgia da emissora, chamou o autor Ricardo Linhares para ajudar Daniel na condução do folhetim.
A atitude gerou desconfiança, afinal, o escritor não tem até hoje um sucesso para chamar de seu ---- e sua produção mais recente era a catastrófica "Babilônia" (2015), escrita junto com Gilberto Braga e João Ximenes Braga. Porém, a mexida no roteiro funcionou.

Ricardo inseriu novos personagens que movimentaram a trama, como o vilão Rei Otávio (Alexandre Borges) e o inquisidor (Stênio Garcia), e eliminou outros que estavam avulsos através de uma peste que amedrontou a população. Ainda colocou a cruel Catarina para agir e inseriu um interessante mistério em torno da verdadeira identidade da filha desaparecida da Bruxa Brice (Bia Arantes). Também transformou a guerreira Selena (Marina Moschen) em herdeira do trono de Lastrilha, o que promoveu uma das melhores viradas da reta final. Aliás, as últimas semanas foram empolgantes, repletas de cenas de batalhas e enfrentamentos.

Assim que "Deus Salve o Rei" ganhou dinamismo, houve uma resposta quase imediata do público. Os índices de audiência começaram a aumentar e os capítulos ficaram muito mais convidativos, com bons ganchos. Tanto que a produção passou a alcançar 28/29 pontos com certa frequência. As alterações valeram tanto a pena que a novela conseguiu uma média final de 26 pontos, a mesma da elogiada "Rock Story" (2017). Nada mal para um produto que teve um início tão turbulento. Passou bem longe do fracasso.

No entanto, o caminho de "O Tempo Não Para" foi realmente oposto. O imenso sucesso com o público nos primeiros meses fez jus ao conjunto do delicioso folhetim. Era hilário e genial acompanhar as adaptações dos congelados de 1886 com as modernidades de 2018, ao mesmo tempo que os romances despertavam interesse justamente pela diferença de costumes, vide o início da relação de Samuca (Nicolas Prattes) e Marocas (Juliana Paiva) ou então o jogo de sedução entre Carmem (Christiane Torloni) e Dom Sabino (Edson Celulari). Mas também havia espaço para emoção, com a surpresa dos ex-escravos diante da liberdade dos novos tempos, e abordagens sociais através de críticas em cima de contextos que não mudaram tanto assim em 132 anos, como a corrupção nos poderes e o racismo.

Porém, infelizmente, Mário Teixeira esqueceu que todas essas situações tinham prazo de validade. Obviamente, com o tempo, todos já estariam quase adaptados e a necessidade de novos conflitos se faria presente. O autor acabou tentando solucionar isso com conflitos forçados em cima de vilões que nunca chegaram a funcionar no roteiro, como Emílio (João Baldasserini) e Betina (Cleo Pires). Ainda diminuiu a participação de personagens promissores, como Zelda (Adriane Galisteu), Helen (Rafaela Mandelli), Amadeu (Luiz Fernando Guimarães), Waleska (Carol Castro), entre outros. A história passou a andar em círculos e o interesse do telespectador foi acabando. Os quase 30 pontos iniciais ficaram em torno de 22/24 pontos em dias considerados bons. Tudo bem que época de final de ano sempre há uma costumeira queda nos índices, mas a descida foi acima do normal e já perceptível antes de dezembro de 2018. Agora, em suas últimas semanas, a audiência segue bem baixa e os poucos conflitos que restaram desinteressantes.

"Deus Salve o Rei" e "O Tempo Não Para" são novelas com linguagens completamente diferentes e nem cabe qualquer comparação. No entanto, vale tecer esse paralelo do caminho que as produções seguiram. As duas exibidas em sequência e com desenvolvimentos tão distintos. Sorte para uma, azar para a outra.

23 comentários:

  1. E a reta final de Deus Salve o Rei foi muito melhor.

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  2. Apesar de todos os defeitos, Deus Salve o Rei conseguiu ser melhor que O Tempo Nao para que se perdeu nesse final.

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  3. O que resta é torcer para que "Verão 90" tenha um início atrativo como o de "O Tempo Não Para" e uma reta final empolgante como a de "Deus Salve O Rei" (2018), bem como uma média geral de audiência semelhante ou mais expressiva que esta. Mas talvez o seu folhetim substituto na faixa das 19h30min, "Bom Sucesso", atenda a todos esses requisitos e quiçá seja visto como a melhor novela da Rede Globo neste e deste ano de 2019, embora eu estime que "Dias Felizes" e "Nos Tempos Do Imperador" também disputem esse título com a futura obra de Rosane Svartman e Paulo Halm. Sem querer desmerecer nenhuma produção, creio que "Verão 90" e "Órfãos Da Terra" terão lá seus respectivos encantos, mesmo achando que não serão nada de mais na programação. Se estrear ainda em 2019, Manuela Dias pode fazer de "Troia" uma estreia vitoriosa na faixa das 21h15min. E para não mencionar apenas as narrativas convencionais de duração diária de cerca de uma hora, "Malhação - Toda Forma De Amar" provavelmente não será uma evolução em relação a "Malhação - Seu Lugar No Mundo" (2015) e "Malhação - Pro Dia Nascer Feliz" (2016), porém renderá frutos melhores que a atual temporada, a asquerosa "Malhação - Vidas Brasileiras". Nossa, neste comentário praticamente teci minhas impressões sobre os lançamentos folhetinescos da emissora no ano presente, risos! Enfim, o importante é que nenhum deixe a desejar sobretudo em termos de audiência e qualidade.

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  4. Apesar de tudo, eu prefiro "O Tempo não Para". Sou fã de novelas leves e despretensiosas. A antecessora era mais soturna.

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  5. Que análise interessante a sua. Não havia parado para pensar nisso e faz todo sentido.

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  6. Estamos na era Netflix , com seriados de.10 , 12 capítulos por temporada. O ideal era cortar as novelas pela metade o que acabaria com a incomoda barriga. O tempo não pára seria perfeita com menos capítulos

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  7. Eu fui uma que viciei em O tempo não para, e enjoei no meio do caminho

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  8. Pensei que ia ter uma virada no roteiro e personagens do presente iriam para o tempo do dom Sabino 100 anos atrás ....

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  9. Mudando um pouco de assunto, eu comentei na publicação do blog sobre as estreias de 2019 que "O Sétimo Guardião" tem mais qualidade que "Malhação - Vidas Brasileiras". Retiro o que disse. O castigo de Eurico (Dan Stulbach) por ter traído a irmandade ora é se transformar em gato, ora é perder o tesão por mulheres (mas tê-lo por homens). Claramente é uma péssima abordagem sobre homossexualidade. E quanto aos guardiões da fonte, nenhum deles a protege da maneira devida. Apenas Judith (Isabela Garcia), governanta do casarão de Egídio (Antonio Calloni), demonstra possuir méritos para ocupar esse posto de guardiã do local, já que guarda os segredos de León (Eduardo Moscovis). Se o centésimo capítulo de "Segundo Sol" (2018) foi fraco, que dirá o do atual folhetim na faixa das 21h15min em 7 de março próximo (dia em que "Malhação - Vidas Brasileiras" completará um ano em exibição sem sequer ser digna dessa proeza)!

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  10. Sérgio, você soube que houve uma mudança no cronograma dos folhetins da Rede Globo na faixa das 18h15min? Segundo a coluna de Flávio Ricco, no site do UOL, o remake de "Éramos Seis" será a substituta direta de "Órfãos Da Terra". Com isso, "Nos Tempos Do Imperador" estreia em 2020. Talvez haja uma esperança de "As Five" ser gravada ainda em 2019. E em 2021 Glória Perez pode desenvolver uma nova novela na faixa das 21h15min. Sinto que aos poucos o setor teledramatúrgico da emissora voltará aos trilhos.

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  11. Manuela Dias fará de fato sua estreia na faixa mais nobre de telenovelas da Rede Globo após "Dias Felizes", de Walcyr Carrasco, mas o título da novela dela não será "Troia", e sim "Amor De Mãe".

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  12. Seria uma boa trama de 50 capítulos, anonimo.

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  13. Anonimo, as duas produçoes tão péssimas msm.

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  14. Quem adorou a novela "Verdades Secretas" (2015) talvez fique um pouco triste com o que vou contar: a sua continuação realmente será produzida, mas ficará disponível apenas no GloboPlay.

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