Em plena reta final (acaba no dia 5 de março), "Malhação - Viva a Diferença", dirigida por Paulo Silvestrini, não cansa de surpreender o público. O autor Cao Hamburger segue explorando os ótimos conflitos da trama de forma competente e agora mergulhou em outro tema de imensa importância e quase nunca abordado no seriado adolescente: a homofobia.
A entrada do irmão de Keyla (Gabriela Medvedovski) no enredo serviu para inserir essa questão, pois o menino não tem problema algum de se assumir gay. Fala com naturalidade e sem nenhuma vergonha, como realmente tem que ser. Esse jeito dele, inclusive, até resultou em momentos cômicos, como a hora em que Roney (Lúcio Mauro Filho) soube pelo filho que não existia nenhuma 'namoradinha' e sim um namorado. Era o início da abordagem em torno da homossexualidade do menino.
Mas o drama de Gabriel (Luis Galves) começou mesmo na escola, despertando a fúria de um grupo de alunos preconceituosos, que se indignaram quando o viram se assumir gay durante um debate em sala de aula ---- promovido pelo professor Bóris (Mouhamed Harfouch) ----, levantando a temática do preconceito.
Logo virou alvo de bullying e intimidações. Entretanto, fez amizade com todas as "five" e acabou se identificando com Felipe (Gabriela Calamari), pois ambos adoram grafite e desenhos. Não demorou para uma amizade surgir.
Através desse laço entre os dois, Cao tratou com precisão o preconceito em torno da parceria que um hétero pode ter com um gay. Quase sempre há a insinuação sobre a sexualidade do heterossexual, como se ele virasse homo porque se tornou amigo de um. Ou então, que o gay tenha algum interesse no hétero. Enfim, várias especulações imbecis, mas comuns. Ou seja, Felipe acabou sendo tão vítima de homofobia quanto Gabriel. E as ofensas iam aumentando gradativamente.
O estopim foi ao ar no capítulo desta quinta-feira (08/02), quando jogaram na internet uma montagem de Felipe e Gabriel juntos, resultando em uma sucessão de deboches. Porém, como sempre, Gabriel não se intimidou e enfrentou os homofóbicos com um discurso humilhante: "Vocês que tão se achando e fazendo piadinha comigo, vou deixar bem claro uma coisa. Sou gay sim! E daí? O que vocês têm a ver com a minha vida? E outra, Felipe é meu amigo. Ele não é gay. É só um cara legal que não é babaca igual a vocês. Acham que só porque ele é meu amigo ele vai virar gay? Eu não virei gay, eu sou gay! E tô muito feliz sendo gay! Se alguém tiver algum problema com isso, que procure um terapeuta!".
Claro que essa humilhação pública teve troco mais tarde. Os homofóbicos da turma flagraram o menino grafitando com Felipe à noite e logo partiram para a provocação, que culminou em violentas agressões. "Vou te acalmar direitinho, sua bicha! Vou estraçalhar essa sua cara! Cala boca, viadinho!", disse Rafa (Marcelo Arnal), o líder da gangue. Felipe e Gabriel acabaram espancados em uma cena forte e corajosa do autor, principalmente levando em consideração o horário da trama e todos os conhecidos meandros da Classificação Indicativa. A direção de Paulo Silvestrini e sua equipe foi irretocável, assim como os desempenhos de Luis Galves, Gabriel Calamari e Marcelo Arnal. Vale citar ainda o momento em que um dos agressores pegou uma lâmpada fluorescente e bateu na cabeça de Felipe, em uma clara referência ao caso de um gay covardemente agredido em São Paulo, no ano de 2010.
Outro ponto importante foi a cena em que Lica (Manoela Aliperti) e Samantha (Giovanna Grigio) se acertaram em um restaurante, após terem brigado por causa de Benê (Daphne Bozaski). As duas deram um beijo e resolveram dar um tempo para decidirem se irão namorar mesmo ou não. Durante esse delicado momento, Nena (Roberta Santiago) jantava com um delegado que tinha acabado de conhecer e se incomodou com o carinho delas. Foi um excelente paralelo que o autor fez, expondo de um lado o preconceito explícito e do outro o velado. Genial ainda porque Nena luta todos os dias contra o racismo, mas não conseguiu esconder seu desconforto ao ver duas meninas se beijando. Cao também explorou muito bem o telhado de vidro que todo mundo tem. Quem nunca teve algum tipo de preconceito durante a vida, mesmo sem perceber ou tentando fingir que não?
"Malhação - Viva a Diferença" está chegando ao fim e com certeza o clima de saudade já impera. Essa abordagem em cima da homofobia em plena reta final foi mais uma grata surpresa da temporada, que fez questão de chocar com uma cena impactante e bastante real, infelizmente. Ainda conseguiu expôr uma outra vertente do preconceito, deixando claro que o incômodo aparentemente velado acaba abrindo brecha para agressores sentirem que têm respaldo por parte da sociedade.
Que texto bom, Sérgio. E confesso que não havia reparado que havia o paralelo entre o preconceito velado e o explícito. Que interessante!
ResponderExcluirSérgio, acredita que aquele babaca do twitter segue lendo tudo o que vc escreve? Aquele que começa com T!!!!! Sempre que vc tuita algo ele vai lá e replica na base da indireta. Ainda tem a cara de pau de negar que criou uma segunda conta pra te ler. kkkkkkkkkkkkk É muito amor, viu!
ResponderExcluirQue texto excelente! As cenas foram muito impactantes mesmo.Fiquei paralisada. Cao Hamburguer sabe muito bem abordar todo tipo de assunto né?
ResponderExcluirEsse é um de seus melhores textos. De Olho Nos Detalhes é um título perfeito pro teu blog.Identificou coisas nas cenas que um leigo nem notou.Parabéns.
ResponderExcluirFoi uma ótima sacada mesmo a cena do espancamento ser logo após a cena da Nena no jantar. Lembrando que a mãe de Ellen nem falou nada, o olhar já disse tudo (e o "vim do culto" tbm, convenhamos). Achei que a lampadada ia ser no Gabriel, mas achei genial ser no Felipe, porque foi uma forma de atingir os dois ao mesmo tempo, já que Gabriel se sentiu mega culpado pelo amigo estar apanhando, esse desespero pôde ser constatado na excelente atuação de Luís Galves, transmitindo toda a agonia do personagem em ver aquela cena chocante sem poder fazer nada, já que enquanto um covarde batia, outro covarde o segurava. Um detalhe: mesmo com toda a explicação sobre a amizade entre gay e hetero, sem interesses, ser algo perfeitamente normal, ainda tem gente shippando Galipe. Preguiça eterna, até namorado o Gabriel tem - e muito lindo, diga-se.
ResponderExcluirEssa malhação vai deixar muita saudade mesmo, e acabou abordando mil temas importantes da maneira mais natural possível, sem parecer que tá fazendo um checklist. Só falta a menina de Recife do Felipe aparecer e sofrer xenofobia, rs.
Não acompanho malhação mas o pouco que tenho noticia pelo seu blog, reparo que essa Malhação tá mais próxima da realidade do que as outras temporadas.
ResponderExcluirBig Beijos,
LULU ON THE SKY
Olá, tudo bem? Sobre o post anterior: também concordo sobre o casal Clara e Patrick em O Outro Lado do Paraíso. Não sou muito fã dessa novela, mas o autor conseguiu arrumar um mocinho digno para a Clara. Gael não rola....Aproveito a oportunidade para desejar um ótimo Carnaval!. Abs, Fabio www.tvfabio.zip.net
ResponderExcluirHá muito tempo que não acompanhava novelas, quanto mais ''Malhação'', que sempre costuma tratar temas polêmicos com superficialidade. Mas essa temporada realmente é incrível! Fiquei num hype pra assistir o capítulo de hoje como não tinha há anos. E a cena foi bem forte para o horário das 18 horas, fiquei chocado tamanha a veracidade da sequência, que infelizmente foi necessária. Cao Hamburguer tá de parabéns mesmo! Essa temporada vai deixar saudades!!!!!!!!!!! A próxima vai ter que comer muito arroz e feijão pra superar ''Viva a diferença''...
ResponderExcluirOlá Sérgio
ResponderExcluirCertamente essa temporada é uma das melhores de Malhação, as interpretações, o texto, o roteiro, a direção e o contexto são excelentes.
Parece que tudo se encaixa perfeitamente ali, como num quebra cabeças onde nenhuma outra peça caberia tão bem :)
Uma cena e sequências impactantes!
E também reflexivo pensar que muitas vezes (talvez mesmo sem perceber e talvez nunca nos daremos conta disso) em algum momento de nossas vidas tenhamos como a Nena :/
Aliás essa temporada começa perfeita no título: Viva a diferença!"
Bjs Luli
Café com Leitura na Rede
Sabe não consegue dizer o que acho de mais acertado nessa Malhação se o autor, se a escalação se a história das Fives se a audácia de falar em temas delicados com toda a competência...
ResponderExcluirResumindo essa malhação ficará gravada como uma das melhores e mais complexas que já existiram. O texto é de uma inteligência e delicadeza que toca, as pequenas subtilezas do autor são dignas de autores vencedores de Emmy's. Cao Hamburguer criou uma história linda e diferente que ninguém ousou antes aquele centro das Five na novela é algo lindo e tocante mostrando o que uma verdadeira amizade pode ser.
Os diferentes temas abordados foram feitos com muita qualidade e como disse antes cheio de pequenas subtilezas que mostram e realçam o talento de todos envolvidos nessa temporada. Este do preconceito e do "ódio cego" foi um dos últimos e sem dúvida mais uma vez tocante e de realçar com a cena da Nena na mesma altura foi mais um dos milhares de acertos.
Que venham mais temporadas como esta porque o nível de qualidade está nas alturas (mas confesso que tenho dúvidas quanto à próxima)...
Essa temporada é a melhor que eu já assisti. Cão foi fantástico e a Globo não pode perder esse talento. Que ele volte logo é que possa ser"promovido" pra outros horários. Quanto a abordagem desse e de outros temas, são um avanço em tanto. Espero que Vidas Brasileiras consiga manter o nível. Só uma correção, a Nena estava jantando com o advogado dela ;)
ResponderExcluirUm importante marco para a comunidade LGBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros).
ResponderExcluirPor outros temas é que "Malhação: Viva a Diferença" é atualmente a melhor novela na Rede Globo que merece ser vista - minha humilde opinião.
De lá para cá, novos avanços surgiram e a comunidade envolvendo a identidade sexual ganhou mais visibilidade, mas ainda existe um longo caminho para a total igualdade de direitos.
Para comemorar a luta contra a homofobia, segue junto com uma lista de filmes, séries e documentários que retratam temas relevantes ao universo seja homossexual, bissexual, LGBT.
Que bom que gostou, Cassandra.
ResponderExcluirIsso já é doença, anonimo...
ResponderExcluirCao sabe muito bem, Chaconerrilla.
ResponderExcluirFico feliz, Denner.
ResponderExcluirMalu, onde eu assino????????
ResponderExcluirCom certeza, Lulu.
ResponderExcluirFábio, espero que vc tenha tido um ótimo Carnaval. abç
ResponderExcluirConcordo, Guilherme.
ResponderExcluirÉ exatamente ISSO, Luli!!!!
ResponderExcluirKimmy, sempre um prazer te ver aqui. Endosso cada frase do seu comentário e já estou com saudades dessa trama.
ResponderExcluirÉ isso, Pedro.
ResponderExcluirSão ótimas as abordagens, Day.
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