A série escrita por Guel Arraes, João Falcão e Jorge Furtado estreou no dia 27 de setembro esbanjando capricho e iniciando uma promissora trama sobre a história da televisão no Brasil. O nascimento da fictícia TV Guanabara e tudo o que a criação desse tão importante veículo representava na vida do público engrandeciam o enredo, mesclando fantasia e realidade através de uma deliciosa metalinguagem. Entretanto, ao longo dos episódios, a premissa da produção foi se diluindo, cedendo espaço para as idas e vindas do casal protagonista Saulo (Murilo Benício) e Verônica (Débora Falabella), além de umas sequências eróticas envolvendo Beatriz (Bruna Marquezine).
O principal diferencial da série foi jogado fora ao longo de sua exibição. Os primeiros episódios foram convidativos justamente porque focaram no surgimento da tevê e nas desconfianças que o novo veículo provocava, levando em consideração a sobrevivência do rádio. Aliás, o trabalho minucioso da equipe merece um destaque à parte, reproduzindo com perfeição os estúdios, figurinos, equipamentos e as câmeras da década de 50. A direção de José Luiz Villamarim sempre engrandece qualquer produto e não foi diferente agora, assim como a brilhante fotografia de Walter Carvalho. O elenco se destacava, principalmente Débora Falabella e Murilo Benício, em torno da elaboração do fictício folhetim "Anna Karenina", enfim. Todo esse conjunto é merecedor de reconhecimento, fazendo valer a premissa do seriado.
Porém, os dramas dos personagens se mostraram limitados desde o início. E a série decaiu justamente porque passou a focar somente nisso, esquecendo todo o contexto que a cercava. Os conflituados bastidores das telenovelas, a guerra de egos, o difícil mercado do patrocínio, a disputa por audiência, o preconceito que atores negros enfrentavam na hora de ganhar papéis, o medo do galã do folhetim ter a sua homossexualidade exposta, entre tantos outros temas inicialmente abordados no seriado, foram se apequenando para focar principalmente no relacionamento de Saulo e Verônica, deixando algumas outras cenas para o triângulo raso composto por Beatriz, Otaviano (Daniel de Oliveira) e Júlia (Letícia Colin).
Nada contra os personagens, todavia, a série não podia se resumir a isso. Até porque são dramas que poderiam ser explorados em qualquer novela, com exceção do trio amoroso que provavelmente seria extinto sem o apelo sexual.
São situações que pouco acrescentaram ao contexto. A história de Verônica é a mais atrativa, pois o fato de ter engravidado solteira expôs o preconceito da sociedade da década de 50, ainda agravado pela sua profissão de atriz. A protagonista viver um drama muito pior que a da sua personagem na novela foi uma boa analogia, destacando o imenso talento de Débora Falabella. Mas as idas e vindas com Saulo cansaram e ter dedicado vários episódios para a adoção e posterior retirada da guarda da criança enfraqueceu a estrutura da série, que mais parecia uma novela das seis. A relação dos dois ofuscou a TV Guanabara, que nem de cenário mais servia. Já as sequências sensuais protagonizadas por Beatriz se esvaziaram, implicando na perda de interesse pelo triângulo formado com os irmãos ricaços responsáveis pelo patrocínio da televisão de Saulo. Tanto que os três personagens foram minguando na trama.
A sensual personagem interpretada por Bruna Marquezine perdeu força quando a sua relação com Otaviano e Júlia ---- filhos do poderoso Pompeu (ótimo Osmar Prado) ---- começou a andar em círculos, protagonizando cenas cujo único intuito era chocar (como o quase incesto vivido pelos irmãos com Beatriz assistindo), sem maior relevância para o contexto. A sua guinada na TV Guanabara foi deixada de lado quando a menina trouxe sua mãe para viver com ela. Inicialmente, a relação delas prometia muito, mas não rendeu o esperado. Cássia Kiss protagonizou a cena mais delicada da série (quando Odete se arrumou toda só para ver a novela da filha na sala, sozinha), mas acabou sendo uma figurante de luxo. Os interesses políticos de Otaviano foi outro ponto que destoou da proposta envolvendo o surgimento da televisão, diluindo o enredo e virando quase que uma trama deslocada. Para culminar, ainda inseriram um personagem avulso que só prejudicou o todo: o desequilibrado Davi, provocando uma involuntária repetição de Jesuíta Barbosa vivendo novamente um ciumento assassino após "Justiça" (embora a série tenha sido gravada antes) ---- o desfecho de Beatriz (sendo morta por ele antes de concluir sua vingança) foi frustrante. Ou seja, todas as situações foram se desgastando, impedindo que o interesse em acompanhá-las continuasse.
Além de ter perdido uma ótima oportunidade de usar o surgimento da TV para a criação de uma história convidativa, a Globo ainda prejudicou a série com uma estratégia catastrófica: exibi-la semanalmente. O enredo não foi criado para ser exibido apenas uma vez na semana. Ao contrário de "Justiça", que exibia um gancho impactante em cada desfecho, gerando expectativa no telespectador pela continuação do capítulo na próxima semana (mesmo sendo exibida segunda, terça, quinta e sexta), a atual produção não gera curiosidade pelo que vai acontecer. Até porque são poucos os desdobramentos criados. O formato deveria ter sido em forma de minissérie. Não consertaria os defeitos do enredo, mas ajudaria na audiência, que deixou muito a desejar (os números foram caindo ao longo do tempo).
"Nada Será Como Antes" é extremamente caprichada e tem um ótimo elenco, mas perdeu uma grande oportunidade de explorar a história da televisão no Brasil através de uma boa ficção. Ao abandonar o mote inicial da série, Guel Arraes, João Falcão e Jorge Furtado transformaram a trama em um mais do mesmo desnecessário. Não é um produto ruim e a qualidade pode ser vista o tempo todo, entretanto, é facilmente esquecível em virtude do roteiro fraco. No final das contas, uma grande decepção.
Foi mesmo. E nunca entendi o título dessa série. O que tem a ver?????
ResponderExcluirSophie Charlotte acabou se dando bem não fazendo isso!
ResponderExcluirDisse tudo o que eu acho!
ResponderExcluirOnde eu assino? Série totalmente dispensável.
ResponderExcluirE a péssima da Bruna Marquezine só foi destacada quando mostrou os peitos pq pelo talento mesmo não dá. Cássia Kiss mal apareceu, assim como Osmar Prado e aquele vai e volta da Veronica com o Saulo foi um saco. A TV ficou pra trás. Já vai tarde. Análise precisa.
ResponderExcluirConcordo com o teu texto, analise muito boa, pelo pouco que eu vi, achava muito chato e cansativo, trama mais do mesmo pelo que eu vi
ResponderExcluirSérgio, boa tarde amigo!
ResponderExcluirConcordo plenamente pois a série, a despeito de ter uma produção primorosa, foi decepcionante...
Parecia que iria engrenar, mas decaia a cada capítulo, tornando-se enfadonha...
Uma pena, pois a Débora Falabella sempre é maravilhosa em seus papéis, mas o roteiro não contribuiu para o seu desenvolvimento a contento...
Falou tudo amigo!!
Obrigada sempre!!
Tenha um final de semana maravilhoso!
Beijos!!! :))))
Concordo. Dava muito pela série e não foi nada do que eu esperava.
ResponderExcluirBota esquecível nisso. Ninguém nem lembra que ela tá no ar, imagine quando acabar...
ResponderExcluirSó vi um capítulo, o resto me dediquei ao MasterChef.
ResponderExcluirBig Beijos
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Mais uma crítica acertada, amigo Sérgio. Mas gostei das atuações de Débora Falabella e Murilo Benício.
ResponderExcluirA Globo precisa entender que o que é da TV é da TV e o que é da internet é da internet. Não precisa ficar colocando os episódios antes no GloboPlay pra forçar assinarem, já que na mesma hora tem torrents e downloads gratuitos de alguém que já ripou. A função do GloboPlay é disponibilizar o conteúdo logo após ir ao ar na TV. Agora se eles querem tornar o serviço mais interessante, eles deviam fazer séries exclusivas para o GloboPlay, como um Netflix mesmo, apenas pra streaming. Supermax muito bem poderia ter sido planejada assim, já que atinge um público mais de nicho e que gosta de comentar na internet, não combina muito com a TV aberta brasileira, infelizmente. Todo dia ou semanalmente liberariam um episódio inédito na GloboPlay e incentivava o pessoal a comentar com uma hashtag pra disseminar nas redes sociais, além de chamadas na TV pra avisar que é uma série exclusiva de assinantes do GloboPlay. Quanto a Nada Será Como Antes, teria funcionado melhor como minissérie diária nas férias de janeiro quando a Globo costumava ter uma faixa para minisséries de época. O uso exagerado de filtros nas produções também tem incomodado, as novelas e séries tão sem cor, sem vida.
ResponderExcluirÉ uma produção sofisticada e diferente. Bons personagens e trama interessante, acredito que o maior empecilho, digamos, foi mesmo a opção pela exibição semanal e não, diária. O público brasileiro está mais acostumado com produções diárias, e a trama sendo exibida semanalmente acabou perdendo um pouco da sua exuberância, e gerando pouca repercussão.
ResponderExcluirObs 1: Boa a iniciativa da Globo em exibir os episódios antes pela Globo Play, porém, não é algo bom para a audiência, visto que eu mesma assistia pela Globo Play antes. No serviço streaming é mais interessante quando é algo completamente exclusivo, como é na Netflix.
Obs 2: Todos o elenco é excelente e talentoso, Mas realmente, Bruna Marquezine se destacou, visto que esse foi sem dúvidas, seu papel mais maduro na TV, ainda mais com a dobradinha com a Cássia Kiss.
Aplaudo a constituição de época e figurinos, impecáveis. Marquesine não convence como mulher fatal, ficou caricato. O fatiamento da série em um capitulo semanal foi fundamental para brochar o telespectador. A Globo insiste em continuar dando um tiro no pé. Afffffffff
ResponderExcluirSérgio, creio que a transgressão, como no caso da personagem de Bruna, é algo que precisa ser abordado em tv e cinema, mas sempre dentro de um contexto muito bem respaldado, para que não vire simples apelação, ou o objetivo na história acaba se perdendo. Abraços!
ResponderExcluirOlha, Sandro, a sua pergunta é bem pertinente.... rs
ResponderExcluirSe deu bem msm, anonimo.
ResponderExcluirQue bom, Sol.
ResponderExcluirValeu, Karina!
ResponderExcluirObrigado, anonimo.
ResponderExcluirEu que agradeço o seu carinho de sempre, Adriana. bjão
ResponderExcluirÉ verdade, Denise...
ResponderExcluirEu vi pelo Globo Play, Lulu. Tb acompanhei o Masterchef.
ResponderExcluirObrigado, Elvira. Tb adorei a atuação dos dois.
ResponderExcluirInteressante comentário, anonimo.
ResponderExcluirIzabel, nesse caso não acho que a Globo PLay tenha influenciado tanto. Porque liberaram um por semana, ao contrario de Supermax que liberaram os 11 logo.
ResponderExcluirA constituição da época ficou maravilhosa msm, Oathkeeper. A Globo é mestra nisso.
ResponderExcluirExatamente, ,Bia!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu sempre me perguntei: porquê só uma vez por semana? Assisti no início e depois foi........
ResponderExcluirPois é, Unknown...
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