sexta-feira, 5 de junho de 2015

Com cinco episódios primorosos, "Amorteamo" enredou amor e morte através da fantasia

Foram apenas cinco episódios. "Amorteamo" ---- que chegou ao fim nesta sexta- feira (05/06) ----teve uma duração tão curta quanto a antecessora "Os Experientes" (de quatro capítulos) e apresentou o mesmo capricho da série anterior, ainda que tenha sido voltada para um universo totalmente distinto. A produção criada por Cláudio Paiva, Newton Moreno e Guel Arraes, dirigida impecavelmente por Flávia Lacerda,  foi primorosa e marcou pela ousadia da proposta e pela abordagem lúdica da morte.


A série não foi propriamente de terror, mas apresentou vários momentos aterrorizantes em meio aos dois triângulos amorosos da história. Ambientada no Recife Antigo (no início do século XX), a trama usou vários clichês folhetinescos, priorizando o universo sombrio como pano de fundo e utilizando muitas doses da fantasia para retratar o infinito mistério da morte. O conjunto deu muito certo e esta mescla serviu para o público ser presenteado com um produto de extremo capricho. Aliás, vale ressaltar que esta produção contou com algumas propostas parecidas com de "Incidente em Antares" (minissérie baseada na obra homônima de Érico Veríssimo, exibida em 1994), como os mortos voltando de suas tumbas, por exemplo.

Os triângulos amorosos sustentaram bem a série, proporcionando sequências que misturavam romance, suspense e terror. O conflito mais maduro envolvendo o cruel Aragão (Jackson Antunes) e a sofrida Arlinda (Letícia Sabatella), que se envolvia com o cafajeste Chico (Daniel de Oliveira) ---- morto logo no primeiro capítulo ----, fez um bom contraponto com o romance adolescente de Gabriel (Johnny Massaro) e Lena (Arianne Botelho), que contava com a tenebrosa Malvina (Marina Ruy Barbosa), uma típica noiva-cadáver, para atrapalhar o par.
As tramas se interligavam e foram desenvolvidas de uma forma que prendia o telespectador, incluindo ótimos ganchos nos finais dos episódios.

Havia também uma grande valorização da música, tanto na bem selecionada trilha sonora (repleta de canções regionais), quanto nas cenas que eram transformadas em musicais de breve duração. E quem mais brilhou nestes momentos foi Letícia Sabatella, que, além de boa atriz, tem talento para o canto. Mas o elenco, é preciso enfatizar, estava impecável. Jackson Antunes deu um show na pele do violento Aragão e Daniel de Oliveira fez um sádico Chico de forma primorosa. Já Johnny Massaro foi um dos grandes destaques, comprovando seu amadurecimento como ator após seu grande trabalho no remake de "Meu Pedacinho de Chão", onde viveu o Ferdinando. Na pele do sombrio e triste Gabriel, Johnny mostrou que seu futuro é promissor.

Arianne Botelho, por sua vez, foi uma grata revelação e fez da doce Lena um sopro de luminosidade em uma trama tão obscura. Ela ainda teve química com Johnny e as cenas do casal eram sempre repletas de sensibilidade. Marina Ruy Barbosa também merece elogios porque mostrou uma nova faceta com sua psicótica e diabólica Malvina, que se matou e depois voltou da tumba, assassinando seus pais a facadas e aterrorizando a cidade. Foi um tipo totalmente diferente de tudo o que ela já havia feito (apesar de se vestir de noiva pela quarta vez), sendo interpretado com competência. Vale mencionar, neste caso, a maquiagem da noiva-cadáver, que realmente assustava. Belo trabalho da equipe.

E além de todos os atores mencionados, é preciso aplaudir Guta Stresser que fez uma ótima dobradinha com Aramis Trindade. A fofoqueira Cândida, cuja gargalhada era esganiçada, e seu marido Manuel deram um toque cômico para a série, onde os dois eram uma espécie de 'comentaristas' de todos aqueles conflitos vistos na cidade. Tonico Pereira é outro grande nome que merece menção, pois seu Zé Coveiro foi brilhantemente defendido por ele. O guardião do cemitério da cidade ganhou ainda mais importância na reta final. Maria Luisa Mendonça (cafetina Dora), Gustavo Falcão (Padre Joaquim), Livia Falcão (Maria), Isio Ghelman (Isac), Gilray Coutinho (Padre Lauro), Gheusa Sena (Zefa) e Bruno Garcia (Jeremias) também enriqueceram o elenco.

A grande virada da série aconteceu quando os mortos saíram de seus caixões, após um ato impensado de Gabriel, que desenterra Malvina e a chama de volta em uma chuvosa noite. A noiva-cadáver atende o pedido e graças a esta tenebrosa situação, as portas da morte se abriram, trazendo de volta todos os defuntos da cidade, incluindo Chico, que retorna para se vingar de Aragão e se torna um ser ainda pior que ele. A história ficou voltada para todos os conflitos envolvendo mortos e vivos, mostrando que não é nada bom mexer com algo que se desconhece. Malvina esfaqueando a mãe em uma cama de hospital e Chico aterrorizando Aragão na prisão foram as cenas mais marcantes da reta final, além da clássica sequência da mão saindo da terra, quando a noiva morta sai do seu caixão depois de ter sido enterrada novamente por Zé Coveiro --- que é assassinado por ela.

O último episódio honrou todas as qualidades vistas ao longo da produção. A cena em que Dora se mata e lamenta não ter ninguém para chorar sua morte foi linda e poética, com destaque para Maria Luisa Mendonça e Livia Falcão. A delicadeza se fez presente quando Gabriel enterrou seu melhor amigo Zé Coveiro, a pedido do próprio, que ainda sugeriu que o rapaz cantasse uma música triste para ajudar no sono. O momento que Chico tenta matar Aragão e é impedido por Arlinda, que se joga na frente e leva o tiro, também merece elogios. Letícia Sabatella e Daniel de Oliveira brilharam absolutos. Outra ação que precisa ser citada foi a imagem de todos os mortos voltando para suas covas, incluindo o padre Lauro, que até celebrou uma missa para os cadáveres na igreja minutos antes.

Já a melhor cena do grande final foi protagonizada pelos três mais jovens da trama: o encontro de Malvina, Lena e Gabriel. Toda a sequência em torno da noiva-cadáver ameaçando a 'rival', e tentando levar o ex-futuro noivo com ela, foi impecável, onde os efeitos complementaram perfeitamente a interpretação do talentoso trio. Johnny Massaro, Arianne Botelho e Marina Ruy Barbosa convenceram. E encerrando esta ótima primeira temporada, a história teve o casamento de Lena e Gabriel (o único final feliz), tendo os sinos da igreja embalando um momento alegre depois de tantos anos. A última cena, por sua vez, mostrou Aragão definhando em uma cama, solitário, e sofrendo com as lembranças do seu casório com Arlinda, que morreu ao defendê-lo. Desfecho grandioso.

"Amorteamo" foi uma série cujo título fez um ótimo trocadilho sobre amor e morte (vai da interpretação de quem lê) e a produção chegou ao fim tendo como saldo cinco episódios impecáveis. A trama escrita por Cláudio Paiva, Newton Moreno e Guel Arraes se baseou no expressionismo e contou uma rica história recheada de vingança, traições, amor, culpa e todos os ingredientes de um bom melodrama, além, claro, do tão temido e enigmático fim da vida. Houve uma mistura muito boa de fantasia com realismo. Uma segunda temporada já foi encomendada pela emissora e esta notícia é um verdadeiro reconhecimento pelo grande trabalho apresentado.

34 comentários:

  1. Olá! Concordo com toda sua análise da série. Me ocorreu uma dúvida; como seria esta segunda temporada se todas as personagens já tiveram seus desfechos?

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  2. Anonimo, acredito que com outros personagens na mesma temática.

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  3. Adorei a série e curti todos os episódios.Sua crítica ficou completa e é repetitivo escrever isso pra você.Achei o desfecho perfeito e como uma segunda temporada foi confirmada eu prefiro com outros atores mesmo pq essa já foi devidamente encerrada.

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  4. O que eu posso dizer? Nadinha, post perfeito... o que foi a cena da Malvina esfaqueando a mãe, se aterrorizou pela sombra projetada, imagina se mostrasse... melhor cena da série,pra mim. Todos se destacaram e fizeram um belíssimo trabalho. Uma das séries do ANO, apenas!!!!!

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  5. Achei tudo maravilhoso e caso a Globo não mude de ideia sobre a segunda temporada, é bom mesmo mudar todo o elenco porque esta história já foi finalizada e nem é bom mexer pra não estragar!

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  6. Também adorei a série e sua crítica está perfeita. O final me surpreendeu e me emocionou. Gostei de tudo e nem tenho defeitos para apontar.

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  7. Fiquei tristinha com o final porque adorava ver mas gostei de tudo e terminou de forma grandiosa como você disse na postagem.Merece ganhar prêmios e como você disse no Twitter o Emmy também.

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  8. Oi Sérgio! Vi a série completa e gostei bastante. Me assusta até saber que o Cláudio Paiva escreve Chapa Quente. Como pode escrever algo tão ruim e uma série tão boa como essa? Será que tem mais dedo do Newton Moreno e do Guel Arraes do que dele? O elenco esteve muito bem e os personagens eram bem interessantes.Só não gostei da atuação da Marina Ruy Barbosa porque a achei fora do tom mesmo numa produção voltada para o exagero. A segunda temporada deve ser com outro elenco mesmo. Abraço!

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  9. Sérgio, para você é "Amor te Amo" ou "A Morte Amo"?

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  10. Olá,Sérgio
    realmente, foi uma produção muito boa e merece todos os elogios , inclusive com o título,bem original e a "plim-plim" mostra acerto em aprovar a segunda temporada...essa temática ,o limite entre a realidade e o sobrenatural e muitas doses da fantasia para retratar o infinito mistério da morte, me atrai, como à tantos outros... Letícia Sabatella foi muito bem, além do trio citado,Johnny Massaro, Arianne Botelho e Marina Ruy Barbosa que convenceram e gostei da participação de Guta , dando esse toque cômico...
    Agradeço,belos dias, abraços!

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  11. Série de grande qualidade e perfeita em tudo. Concordo com tudo o que foi dito por você e pelos comentaristas!

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  12. A série parecia ser bizarra e até meio ridícula mas conseguiram acertar o tom e deixaram tudo muito caprichado e bem feito.Eu achei boa e concordo com o texto,mas não queria segunda temporada.

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  13. TIRANDO ALGUNS MOMENTOS TOSCOS, AQUELA NOIVA CAMINHANDO TORTA COM OS OLHOS ESBUGALHADOS FOI RIDÍCULO, FOI UMA PRODUÇÃO DE QUALIDADE, ISSO NÃO SE PODE NEGAR.

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  14. Essa série nem pode ser chamada como de terror porque apesar das boas cenas nada ali meteu medo. Mas fez uma boa mistura de amor e morte através da fantasia como você bem colocou.O final teve tensão, romance, morte e emoção. Tudo que um desfecho precisa ter.

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  15. Sergio, todas as suas colocações foram perfeitas. A série ficou um primor e a abordagem amor/morte, muito bem feita, a começar pelo título. Grandes interpretações! Gostei muito. Bjs.

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  16. Muito bem feita a sua análise Sérgio. Eu achei a série muito bem feita e com ótimas atuações. Gostei muito de saber que terá uma segunda temporada.
    Beijos

    http://simplesmentelilly.blogspot.com.br/

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  17. Gostei muito dessa série e mesmo com apenas cinco capítulos eu vou sentir falta por que já tinha me acostumado e gostava muito. O elenco era excelente e todos honraram seus papéis. Gostei muito da Marina Ruy Barbosa nesse papel psicótico, mas parece que ela vai ficar se vestindo de noiva pra sempre. Em Morde & Assopra ela pegou fogo, Amor à Vida morreu no altar e agora se matou no dia do casamento. Arianne Botelho foi uma ótima revelação mesmo e era a única personagem solar em meio a tantos outros sombrios. Fiquei feliz de saber que haverá uma segunda temporada, será que serão novos atores? Eu queria que a Arlinda ficasse viva, mas desde o início desconfiei que ela morreria no final. Aquele Chico era um maldito e a morte da Dora foi bem poética mesmo.
    Espero que as próximas séries sejam tão boas quanto foi essa.

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  18. Olá Sérgio,

    Excelentes considerações. Arrasou!
    Não vi, conforme pretendia, por isso apreciei muito a oportunidade de acompanhar o desenrolar da trama por aqui. Quem sabe não sai uma edição em DVD? Ou uma reprise futuramente? Se ocorrer, não perderei a oportunidade de ver, embora já com o conhecimento da história, mas será interessante ver a atuação dos personagens. Quanto ao título, eu já havia achado super criativo desde que vi o anúncio da série.

    Abraço.

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  19. Sim, Marília, é quase certo que venha com outros atores. Vamos aguardar. bjs

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  20. Mt obrigado, Lenon! E essa cena foi bem assustadora mesmo. A série foi maravilhosa. abçs

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  21. Pois é, Yasmin, faz por merecer um Emmy. E ficou um gosto de quero mais mesmo, mas terminou em grande estilo. bjs

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  22. Tem sim, OX. A ideia foi do Newton Moreno e provavelmente ele teve mais participação, mas Claudio merece mts elogios tb. Entendo sua crítica a Marina. abçs

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  23. Acho que as duas interpretações são válidas, anonimo. No caso de Lena e Gabriel foi Amor te Amo, no caso da Malvina foi A Morte amo.

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  24. Concordo plenamente com seu comentário, Felis. abçs

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  25. Tb achei o final completo, Arthur. Tudo ficou harmonioso e fechou o ciclo em grande estilo.

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  26. Eu tb curti mt, Ed. E estou sentindo falta. Além de todos esses vestidos de noiva, faltou citar o de Império. Marina e vestido foram feitos um pro outro. Tb achava que a Arlinda morreria e foi um momento forte. Mas acho que a segunda temporada será com outro elenco mesmo, o final dessa ficou bem fechado. abçs

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  27. Tomara que saia, Vera, para que vc possa ver. Foi mt boa. bjs

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