segunda-feira, 12 de maio de 2025

Conveniências de roteiro destroem arco central de "Garota do Momento"

 A atual novela das seis da Globo, escrita por Alessandra Poggi e dirigida por Natalia Grimberg, segue com qualidades e prendendo a atenção do telespectador, o que é fruto da gama de bons personagens, um elenco repleto de talentos e conflitos atrativos em todos os núcleos. No entanto, a trama vem apresentando um problema visível no núcleo central por conta das conveniências de roteiro em torno da vilania de Bia (Maisa) e seletividade de Clarice (Carol Castro). 


Primeiramente, é importante ressaltar que Maisa está ótima no papel. A atriz estreou nas novelas da Globo com o pé direito. Vale lembrar que a vilã foi oferecida a Larissa Manoela, que também estreou na emissora pelas mãos de Alessandra Poggi, em "Além da Ilusão", onde brilhou na pele das irmãs protagonistas. A intérprete, porém, recusou o papel, que ficou para a sua grande amiga. E Maisa está segura em cena desde o início. A tarefa não é fácil, pois contracena com muitos colegas de grande talento, o que poderia expor a falta de capacidade de uma profissional mais limitada. E até agora não tem deixado a desejar. 

A questão é o roteiro que a autora resolveu criar em torno da sua vilã. Bia começou como uma patricinha mimada e obcecada por Beto (Pedro Novaes). Só que todos os seus planos para separá-lo de Beatriz (Duda Santos) davam errado. Apesar de tantos fracassos, nunca desistia de seus objetivos. Porém, ao longo dos meses, a personagem foi ganhando boas camadas através de sua aproximação com Ronaldo (João Vitor Silva).

Os dois se uniram para a realização de trambiques porque ele sempre foi apaixonado por ela, mas a cumplicidade acabou desarmando e encantando a garota. Até uma rival pelo coração do rapaz surgiu com a entrada de Flora (Bella Piero), que virou um pesadelo na vida de Bia. 

Até então, tudo se encaminhava bem no desenvolvimento da história. Mas a saída de Flora marcou o início da barriga da novela. O termo é utilizado para definir a ausência de acontecimentos relevantes no enredo, que passa a apresentar conflitos que giram em torno do próprio eixo para disfarçar a estagnação do roteiro. A eliminação da vilã fez Bia retroceder e a desculpa foi uma respiração boca a boca que Beto fez para salvá-la de um afogamento. Aquilo destruiu todo o processo evolutivo da personagem, que voltou a ficar obcecada pelo ex-noivo. Todos os planos para separar os mocinhos retornaram, mas agora com êxito. E no meio das armações ocorreram crimes, como a troca de um colar para incriminar Beatriz e a simulação de uma transa com Beto, que foi despido por ela durante uma embriaguez. Além de ter botado a mocinha atrás das grades, ainda obrigou o mocinho a se casar com ela. 

Novamente, é necessário um parênteses. Tudo o que foi feito é o que se espera de uma boa vilã. Todo dramalhão tem uma víbora infernizando a vida dos mocinhos. E ótimo que "Garota do Momento" tem essa qualidade, algo que não foi visto na novela anterior, "No Rancho Fundo", que tinha vários vilões e nenhum fazia qualquer maldade. O resultado foi uma história modorrenta e sem qualquer acontecimento marcante. O problema da atual produção é a amenização dos atos de Bia. Todos os personagens 'passam pano' para as suas maldades como se tudo fosse apenas fruto de uma birra de criança mimada. E a sua doença cardíaca serve como desculpa para que não sofra consequência alguma.  Bia já agrediu Beatriz inúmeras vezes e a mocinha nunca revidou porque a vilã pode enfartar. O Beto não pode recusar o casamento porque a decepção pode causar uma morte súbita na garota. Nem mesmo um rompimento de amizade pode acontecer. Isso porque Celeste (Debora Ozório) e Eugênia (Klara Castanho) deixaram de falar com Bia depois do plano contra Beto e Ronaldo, uma vez que ela perdeu a virgindade com Ronaldo apenas para ter um exame contra o mocinho. Só que Ronaldo e Beto convenceram Celeste a reatar o laço com Bia porque a irmã caçula está grávida e precisa do apoio da amiga. Uma justificativa que não teve nexo algum.

Mas o pior tem sido a situação de Clarice e Bia. A cena mais esperada pelo público era lembrança do passado da mãe de Beatriz. Após longos meses sem memória, a personagem recordou de quase tudo e a sequência fez jus ao tempo de espera. Foi um lindo momento protagonizado por Carol Castro e Duda Santos. Aquela catarse tinha que marcar uma nova fase na história e estabelecer um elo de muita cumplicidade entre mãe e filha. Só que todo o desdobramento tem sido decepcionante. Clarice sempre acreditou em todas as mentiras ditas por Bia e fazia sentido, uma vez que sempre esteve cercada por uma grande farsa. Só que agora ela sabe de toda a verdade, vindo da boca de sua herdeira biológica. E ainda assim prefere priorizar a outra filha, a ponto de não acreditar na palavra de Beto e Beatriz e manter a armação do casamento para que a garota não tenha um problema cardíaco. Vale lembrar que Beatriz sofre de asma crônica, uma condição de saúde também delicada. Mas isso não parece importar para Clarice. Tanto que a personagem levou Bia para fazer seu vestido de noiva com Arlete (Bete Mendes) na pensão em que mora Beatriz e nem parou para pensar que provocaria uma mágoa gigante na filha. Só pensou em aproximar Bia da avó biológica. E qual a consequência diante de todas essas conveniências de roteiro? A destruição da aproximação entre Clarice e Beatriz. Tanto que as cenas amorosas das duas não causam mais qualquer receptividade dos telespectadores nas redes sociais, já que é visível a sua predileção pela outra filha. O texto pode repetir cem vezes que Clarice ama as duas igualmente, mas nunca vai convencer quem assiste porque as ações não condizem com o que está escrito. 

A redenção de Bia sempre foi óbvia e não há problema algum nisso. O que mais há na teledramaturgia é mudança no arco de um vilão. Mas é preciso um cuidado grande para que a regeneração seja comprada pelo público. Fazer com que todos os personagens amenizem os atos de Bia, como se fosse uma menina sofrida e sem responsabilidade pelo que faz, definitivamente não é a melhor maneira de atrair a compreensão do telespectador. Juliano (Fábio Assunção) e Maristela (Lilia Cabral) sempre compreenderem Bia é algo crível, mas o resto não. Até Beatriz preferiu deixar de lado a última tentativa da vilã de destruir sua imagem diante de um novo contratante só para não magoar Clarice. A mocinha virou a reencarnação de Jesus Cristo de tão bondosa e compreensiva. E é importante ressaltar que todas as armações da patricinha poderiam ser mantidas, mas sem a anuência de Clarice. Afinal, todo folhetim precisa de vilanias para andar, ainda que algumas subestimem a inteligência de quem assiste. Era vital um rompimento de Clarice com Bia para uma aproximação real com Beatriz. Não dá para ficar do lado de ambas na atual situação. Isso só enfraquece a narrativa e prejudica as cenas que o público tanto esperou. 

A maior prova da destruição do arco de Clarice e Beatriz foi a recente internação da mãe da mocinha, promovida por Juliano. A personagem lembrou que o marido matou Valéria (Júlia Stockler) e confrontou no quarto do casal. Uma atitude estúpida e que resultou no plano do vilão de enfiá-la em uma manicômio. Era para o telespectador se comover e torcer pela volta por cima de Clarice, mas o resultado foi o oposto: houve comemoração nas redes sociais porque ninguém suportava mais ver aquela mulher exigindo o casamento de Beto com Bia e ainda condenando a transa do mocinho com Beatriz. Para culminar, a cena da recordação do assassinato foi justamente na hora em que o protagonista se casou forçadamente com a neta de Maristela. A catarse se anulou diante do roteiro tão forçado. Até porque vale lembrar que o machismo da sociedade de 1958 só é utilizado quando conveniente. Celeste, Lígia (Palomma Duarte), Beatriz e tantas outras mulheres já sofreram julgamentos do povo, menos Bia. E a transa dela com Ronaldo estranhamente não se espalhou, assim como o seu golpe dado em Beto. Qual o sentido a palavra da mulher ter mais peso que a do homem na década de 50? É uma bola de neve que esmagou o núcleo central, antes tão atrativo. 

"Garota do Momento" continua gostosa de acompanhar e são vários os elogios para a produção de Alessandra Poggi. Mas todo o arco envolvendo a Bia vem sendo desenvolvido muito aquém do esperado, o que acaba esvaziando um drama que sempre se mostrou tão potente. A revolta do público é compreensível.

32 comentários:

  1. Fora o fato de a Bia ter se tornado a protagonista e a Beatriz mal ter tempo de tela agora e quando aparece não agrega mais na narrativa, já que ela não luta mais por nada. E tem mais, comeram também tantos outros personagens secundários que estavam construindo suas próprias narrativas, a glorinha, o Ulisses deviam ter bem mais destaques. O Guto também não tem mais relevância nenhuma, entre outros. Pessimamente planejado esse último terço da novela.

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  2. Olá.
    Toda novela tem barriga. Muitas vezes, "barrigaS"...já não consigo acompanhar novelas por longos meses.
    E então, o que seria de filmes e novelas sem o onipresente "conveniências de roteiro " ?? rss

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  3. mas é isso, fez sucesso resolveram esticar. o q era redondo, capítulos perfeitos, virou uma enorme enrolação. agora querem novelas curtas, q façam mas não estiquem, vira uma porcaria e uma eterna repetição. beijos, pedrita

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    1. Eu concordo que estão enrolando, mas acredito que a "santificação" da Bia e a seletividade da Clarice não façam parte do esticamento da novela, creio que é algo que, infelizmente, já estava no roteiro desde de sempre

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  4. Além da Beatriz ter perdido o protagonismo pra Bia, vários personagens secundários estão sumidos da novela há vários capítulos e o núcleo do Alfredo tá tendo um tempo de tela excessivo. Personagens como Jacira com a sua Pata Paty e o irmão mexicano do Alfredo, o Alfonso, são chatos. Fora o fato da autora sempre ficar enfiando novo personagem (principalmente no núcleo do Alfredo) ao invés de desenvolver os personagens da novela e sempre criar um plot novo pro núcleo do Alfredo. A autora prefere dar destaque para um núcleo cansativo do que desenvolver os outros personagens da novela.

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    1. Ontem vi Marlene em cena e quase não lembrava da personagem. Ela, Carlito, Ana Maria, Topete, Guto, e vários outros sumiram enquanto Alfonso tem várias cenas por capítulo. Qual o sentido?

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    2. Alfonso, personagem desnecessário e ridículo

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    3. Bem lembrado... Que fim levaram Marlene, o filho e o ex-marido? Como está a gravidez da dona da pensão?

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    4. Pois é... cadê esse povo?

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    5. O Alfonso ser irmão do Alfredo foi o jeito que inventaram pra dar um marido pra Teresa, que na verdade era um bom exemplo da mulher que se cansa do casamento e pode muito bem estar feliz sozinha (ou quase feliz, pois tem muitos traumas e manias). Mas o pior é terem esquecido o colar no pescoço da pata, ninguém investiga mais, agora a Jacira dá o colar pra uma adivinha que não tem nada a ver com a história. Como vão inocentar a Beatriz?

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  5. Nossa, sim. Ser mimada e fazer parecer que só isso é a falha dela é insuportável. Clarice não enxergar a verdadeira Bia chega a ser infantil. Estou esperando que todos, apesar do problema de saúde, vejam quem realmente é Bia e que Clarice priorize a Beatriz pra variar um pouco.

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  6. Beatriz mudou completamente! Quando chegou ao Rio e não foi reconhecida ou defendida pela mãe ao sofrer racismo pela primeira vez na perfumaria Carioca, ela chegou a comentar com Glorinha que sua mãe a havia abandonado de propósito e que ia seguir a vida sem ela, só mudou de ideia quando descobriu que Clarice na verdade não se lembrava de nada. Agora, poderia de fato largar essa chata pra lá e viver a vida com quem a ama e valoriza, mas faz o contrário, prioriza tanto Clarice que até tomou pra si o cuidado excessivo com Bia que a mãe tem. Bizarro e nojento o roteiro fazer a ideia do casamento ser dela! Muito problemático esse desenvolvimento.

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  7. Outra coisa, o roteiro também trata Clarice como uma vítima completa quando não é bem assim. Que eu saiba amnésia não muda caráter de ninguém, e ela foi uma mãe muito permissiva, passiva e cega. Muito fácil culpar Juliano e Maristela pela podridão da Bia, mas ela estava lá o tempo todo. Não percebeu? Não fez nada? Porque quando era pra exigir coisas para sua Magnifique ela soube muito bem enfrentar o marido e a sogra, mas pela educação da filha não? É pra testar a paciência do público viu, a minha mesmo acabou

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  8. Incrível como a Poggi simplesmente matou o grande trunfo de sua novela. Toda novela com reencontro de mãe e filho/a tem nessa descoberta suas cenas mais icônicas, mas nessa, logo após Clarice lembrar, a primeira preocupação da mulher foi "E a Bia? Ela vai ficar arrasada!" ah tenha dó! Lembrando que todo mundo entende que ela ame a filha adotiva, afinal viveu com ela toda a vida, mas não era o momento. Além disso, que amor é essa pela filha biológica que não tem o mínimo interesse em saber mais sobre o pai dela (que supostamente foi seu grande amor) ou pela própria filha, saber histórias de sua infância etc. Não, o assunto delas é sempre a Bia, Bia, Bia. Clarice só procura Beatriz para pedir ajuda, e a tonta move céus e terra pra ajudar, inclusive arriscando a própria vida (o que não parece afetar Clarice tanto quanto o coração de paçoca de Bia). Fora ela achar normal a menina jogar fora a própria felicidade para satisfazer os caprichos da outra. Se ao menos o roteiro reconhecesse isso, mas o pior é querer nos enfiar goela abaixo que ela ama as duas filhas igualmente.

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  9. Pois é, o ditado popular diz que "não se mexe em time que está ganhando". Mas os criadores da novela resolveram mexer. E eis aí o resultado, rsrs.

    Beijão

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  10. Concordo plenamente com tudo que escreveu, achei que era somente eu que estava vendo uma Clarice injusta e até desumana com Beatriz, onde já se viu uma mãe ir para Petrópolis e deixar a filha em um hospital psiquiátrico onde ela mesmo sabe que é um perigo estar lá, e ainda ficar preocupada o tempo todo com a Bia, uma pena mesmo a novela ter se perdido neste momento tão importante .

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  11. Virou outra novela. Parece até que a Maísa tava sofrendo muito hate na vida real e a Globo/direção pediu pra tornar ela isso que estamos vendo hoje pra que o público se compadeça. Do jeito que as coisas estão indo, as maldades que a Bia fez serão esquecidas (não digo nem perdoadas, esquecidas mesmo). Lembram quando ela quase MATOU a Beatriz com o produto de limpeza que ela colocou no creme de cabelo e ela foi parar no hospital com ataque de asma? E quando ela quase MATOU também o Beto com aquele calmante que ela serviu pra ele no café e ele dormiu no volante batendo no poste? Pois é, capaz até da autora ter esquecido também. A gente sabe que na reta final da novela, vai ter só um pedido de desculpas e tudo bem. Em outros tempos de emissora, ela pagaria pelos crimes na cadeia ou até mesmo morreria.

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  12. A Clarice deixa claro que apesar da Beatriz ser filha de sangue, ela prefere a Bia. Beatriz contou sobre o acidente de carro e ela nem fez nada em relação a isso, pelo contrário, tá tomando o maior cuidado do mundo pra agir sem machucar a Bia, e morre de medo do Juliano fazer algo com ela, sendo que ela é tão burra demais pra perceber que ele jamais colocaria a filha em perigo, diferente da Beatriz que se tiver a oportunidade ideal, ele tira a vida dela.

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  13. A Beatriz estava muito melhor sem mãe! Desde que a Clarice recuperou a memória, a única coisa que a preocupa é o coração frágil da Bia. Todas as conversas entre mãe e filha são sobre a fedelha mimada. É impressionante como ela acredita na bandida. Bia mesmo disse que se aproveitou do Beto na noite que supostamente perdeu a virgindade. O que ela fez? Nada! Agora, ela obriga Beatriz e Beto desistirem da própria felicidade em prol de alguém que não se importa um segundo com os demais. Eu fico tão irritada com tudo isso. Queria até que a Beatriz rejeitasse a Clarice. Ela não merece o amor da filha biológica. É a pior mãe do mundo! Fazia tempo que eu não detestava uma personagem tanto quanto eu odeio a Bia e a Clarice. Por mim, a Beatriz ligava o f*da-se e ia ser feliz com o Beto, deixando a mãe com a filha preferida. Enfim... Ah, eu não aguento mais o núcleo do Alfredo. Sempre tem história e sempre é ruim. Os núcleos paralelos que realmente têm algo a dizer sumiram... Cadê Ulisses, Verinha, Sebastião, Topete, Orlando, Ana Maria, Ulisses, Arlete, Marlene, Guto? Cadê o desenvolvimento de todos eles? Essa reta final é uma decepção total!

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  14. Olha, eu sei que todos ficamos meio patéticos quando estamos apaixonados, mas o Ronaldo ultrapassa todos os limites de pateticidade. Não dá nem para sentir pena dele. Só de saber que a Bia terá final feliz, eu sinto tanta raiva! É um absurdo! Ela não vai pagar por nenhum dos crimes que cometeu. Vai levar umas vainhas, ser rejeitada e só... Ridículo!

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  15. Concordo. Que essas falhas possam ser corrigidas rapidamente nos próximos capítulos.

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  16. Ficou uma tristeza assistir essa novela. Absolutamente tudo indo contra o que o público gostaria. Todos as raivas que passamos acontecem pra no final beneficiar a Bia.

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