sábado, 5 de outubro de 2024

Emiliano Queiroz fez de todo coadjuvante um sucesso

 Morreu, na manhã de sexta-feira, dia 4, Emiliano Queiroz. O ator, recentemente, havia se submetido a uma cirurgia para colocar três stents no coração. Na última quinta-feira, dia 3, recebeu alta e foi para casa. Mas acordou se sentindo mal às 4h30, foi levado ao mesmo hospital, onde teve uma parada cardíaca e partiu aos 88 anos. 


Filho de um ourives e uma professora primária, Emiliano deixou seu estado natal, o Ceará, com pouco mais de 20 anos. Nesse período, ele pegou carona em um caminhão rumo a São Paulo, para participar de montagens profissionais de teatro, atividade a que se dedicava desde a infância, quando ainda morava na pequena cidade de Aracati, onde nasceu. Entre familiares e amigos de escola, era considerado um prodígio. 

Aos 10 anos, depois de se mudar com os pais para Fortaleza, o jovem participou de cursos livres de artes cênicas e logo decidiu que seguiria a carreira artística. Entrou para o Teatro Experimental de Arte, uma importante companhia cearense, aos 14 anos. Pouco depois, começou a trabalhar na Ceará Rádio Clube. Após um curto período em São Paulo, o então rapaz retornou ao seu estado natal e foi contratado pela TV Ceará.

Na emissora local, fez de tudo: trabalhou como ator, humorista, contrarregra, produtor, apresentador, cenógrafo... Até voltar novamente para São Paulo e ser convidado para integrar o elenco de "'Eu amo esse homem" (1964), na TV Paulista. 

Dali em diante, emendou trabalhos bem-sucedidos em folhetins televisivos. Depois de participar de "Ilusões Perdidas" (1965), primeira novela da TV Globo, caiu nas graças do público em "'Eu compro esta mulher" (1966), novela da mesma emissora, escrita por Glória Magadan. Também em 1966, chegou a apanhar na rua por causa do vilão nazista Hans Stauben de "O Sheik de Agadir", da mesma autora. 

O papel mais famoso na carreira de Emiliano Queiroz veio em 1972, com o Dirceu Borboleta, de "O Bem Amado", escrita por Dias Gomes. O personagem entrou para a antologia da televisão brasileira com sei jeito nervoso de mexer as mãos e sua gagueira compulsiva. Dirceu Borboleta acompanhou o ator para além da exibição da novela: entre 1980 e 1984, ele retomou o personagem no seriado "O Bem-Amado" e, em 1994, no humorístico "Escolinha do Professor Raimundo". 

Na década de 1990, esteve em outras novelas de sucesso, como "Barriga de Aluguel" (1990), "Deus nos Acuda" (1992), "Irmãos Coragem" (1995), "A Próxima Vítima"(1995), "Era uma vez..." (1998) e "Andando nas Nuvens" (1999). Em "Alma Gêmea" (2005), fenômeno de Walcyr Carrasco reprisado atualmente no "Vale a Pena Ver de Novo", deu vida a Tio Bernardo e formou um trio de ouro com Fernanda Souza e Emilio Orciollo Netto, intérpretes de Mirna e Crispim, respectivamente. Na década seguinte, interpretou Nonno Benedetto, em "Passione" (2010), e formou um triângulo amoroso impagável com os saudosos Leonardo Villar e Cleyde Yáconis. Também viveu o Deodato em "Morde & Assopra" (2011) e o Tabelião, do remake de "Guerra dos Sexos" (2012), além do padre Santo, de "Meu Pedacinho de Chão" (2014). É impossível listar todas as produções que contaram com seu talento, mas outras que tiveram Emiliano no elenco foram "Caça-Talentos" (1996/1998); "Hilda Furacão" (1998); "A Muralha" (2000); "Senhora do Destino" (2004); "Eterna Magia" (2007); "Cinquentinha" (2009); "Dercy de Verdade" (2012); "Haja Coração" (2016); e "Treze Dias Longe do Sol" (2018).

No cinema, ganhou o Kikito de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Gramado por uma participação de três minutos no filme "Stelinha" (1990), de Miguel Faria Jr. Também atuou em "A Extorsão" (1975), de Flávio Tambellini; "O Xangô de Baker Street" (2001), de Miguel Faria Jr; "Madama Satã" (2002), de Karim Ainouz; e "Casa de Areia" (2005), de Andrucha Waddington.

No teatro, destacaram-se personagens como o Veludo da peça "Navalha na Carne" (1969), de Plínio Marcos; o Tonho, de "Dois perdidos numa noite suja" (1971), também de Plínio; e a antológica composição de Geni na "Ópera do malandro" (1978), de Chico Buarque. O último trabalho no palco se deu em 2022, quando estreou junto à atriz Lea Garcia, falecida em 2023, o espetáculo "A Vida não é justa", baseado no livro de Andrea Pachá, com direção de Tonico Pereira. Já sua última novela inteira foi "Espelho da Vida", em 2019, onde emocionou na pele de André, filho de Júlia Castelo, interpretada por Vitória Strada. Seu personagem era o elo entre passado e presente na trama primorosa de Elizabeth Jhin. O veterano ainda fez uma participação em "Além da Ilusão", como o padre Romeu. Ficou apenas em cinco capítulos na trama de Alessandra Poggi, exibida em 2022, que foi seu último trabalho na tevê. 

Emiliano Queiroz tinha uma vida discreta e era casado há 51 anos com Maria Letícia, advogada e também atriz, de 77 anos. O ator criou 14 filhos junto com a mulher e deixa oito netos e três bisnetos. Nunca ganhou a oportunidade de viver protagonistas na televisão, mas se destacava em qualquer papel e fez de todos os seus coadjuvantes um sucesso. Mais uma parte da história da teledramaturgia se vai, mas o legado é eterno.

2 comentários:

  1. Não havia papel pequeno ou irrelevante diante da competência e do talento de Emiliano Queiroz, que deixa a sua indelével marca no universo das artes cênicas. Descanse em paz, Emiliano.

    Guilherme

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  2. Ele fazia crescer os personagens! Mais uma perda! abraços, chica

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