sexta-feira, 26 de maio de 2023

Transbordando caretice e covardia, Globo segue censurando beijos de Clara e Helena em "Vai na Fé"

 A novela das sete da Globo é o maior sucesso da emissora atualmente. "Vai na Fé" vem reunindo uma avalanche de elogios merecidos. Rosane Svartman novamente vem acertando em cheio com uma história envolvente e bem desenvolvida. Mas a censura do canal em cima dos beijos de Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman) virou quase uma novela paralela e por culpa da própria empresa. 


A relação das personagens vem sendo construída com habilidade pela autora através da amizade que surgiu entre a aluna e a sua personal trainer. Clara vive um casamento abusivo com o vilão Theo (Emílio Dantas) e descobriu na amiga uma espécie de porto seguro. É através dos diálogos das duas que as fragilidades da personagem acabam expostas com muita sensibilidade. 

A primeira censura da cúpula da emissora aconteceu no dia 10 de maio, quando a professora orientou os exercícios da aluna na casa de Clara porque a academia estava interditada. Uma tensão sexual no momento em que a personal segurou a cabeça de Clara ficou explícita e as duas se olharam (em uma clara alusão ao icônico momento do beijo protagonizado por Peter Parker e Mary Jane, no filme "Homem-Aranha", de 2002).

No entanto, houve um corte brusco e não teve beijo algum. Só que a censura destruiu o sentido da cena, já que as duas agiram como se tivessem beijado. 

A revolta nas redes sociais foi imensa e o veto repercutiu em toda a mídia de entretenimento. A diretora da sequência, Juh Almeida, expôs sua frustração em seu Twitter, assim como a atriz Regiane Alves. A Globo se justificou dizendo que toda cena é sujeita a edição, mas a desculpa foi tão esfarrapada que nem deveria ter sido escrita. Seria menos vergonhoso um silêncio. A autora e a equipe de roteiristas não esconderam a frustração e fizeram questão de noticiar que outras cenas de beijo tinham sido escritas. Ou seja, praticamente um aviso para o telespectador ficar atento a possíveis futuros cortes. E infelizmente foi o que aconteceu e segue acontecendo. 

No início da semana, Clara ouviu Theo chamar Lumiar (Carolina Dieckmann) de 'meu amor' e logo concluiu que os dois têm um caso. Para culminar, já estava abalada porque Helena colocou outro personal para orientá-la em seu lugar. A personagem ligou para 'amiga' e pediu para encontrá-la. Chorando muito, Clara desabafou e Helena enxugou suas lágrimas. No momento em que a beijou, houve um corte brusco da cena e ficou claro que transformaram um beijo na boca em um na bochecha com um ângulo que deixasse dúvida se tinha sido na boca ou não. Todo um malabarismo de censura como se o país ainda estivesse nos anos 1990. 

Mas a leva de cortes ainda não tinha acabado. No capítulo de ontem, dia 25, Rafa (Caio Manhente) flagrou a mãe beijando Helena na sala. Clara, sem graça, foi até o quarto do filho e lá os dois tiveram uma conversa franca e delicada sobre respeito e amor. Rafael fez questão em afirmar seu total apoio ao novo relacionamento da mãe, mas contou que achou estranho vê-la beijando outra pessoa. Só teve um detalhe: ninguém viu esse beijo, só ele. A cena simplesmente nem foi exibida. No caso, não houve corte porque nem teve um início. Só deu para ouvir Clara dizendo: 'ai, para'. Ironicamente, saiu nesta sexta-feira uma ótima matéria na revista Marie Claire com uma entrevista de Regiane Alves, onde a atriz novamente toca no assunto do beijo não exibido: "É muito louco, porque na história Theo teoricamente é um estuprador e as pessoas estão aceitando. Estão falando de um estuprador e todo mundo está 'ok'. Agora um beijo de duas mulheres, por que incomoda tanto? O que agride tanto? Estou tentando para poder ter essa resposta, não sei. Porque vejo a empresa onde trabalho há 24 anos muito à frente do seu tempo.", questionou. 

Já no capítulo desta sexta-feira houve uma resposta de Rosane e sua equipe ao time censurador da Globo. A autora sempre amou a musicalidade cênica e em todas as suas obras há a sua paixão por música em vários momentos com personagens cantando. Agora a escritora transformou isso em protesto e de forma sensível. Orfeu (Jonathan Haagensen), Theo e Lumiar cantaram em um Karaokê "Blues da Piedade", de Cazuza, ícone que Emílio também interpretou no teatro. Enquanto entoavam a canção, Ben (Samuel de Assis) e Valéria (Ana Flávia Cavalcanti), Dora (Cláudia Ohana) e Fábio (Zécarlos Machado), e Theo e Lumiar se beijavam, mas Clara e Helena passeavam na praia e apenas se abraçavam. O único casal que não teve beijo foi o de duas mulheres e justamente perto do trecho "vamos pedir piedade, Senhor piedade, pra essa gente careta e covarde". No caso, não houve corte de cena. Foi algo proposital. Pode até ser classificado como um 'exposed'. E os censores da emissora deixaram a sequência ir ao ar, talvez porque sejam parecidos com os militares da Ditadura que eram burros demais para a percepção das nuances críticas nos textos de autores, como Diaz Gomes e Janete Clair, e deixavam passar por ignorância e não benevolência. 

"Vai na Fé" segue um novelão de primeira. Todo sucesso é merecido. Mas a questão dos cortes, que não é de responsabilidade da produção do folhetim, vem manchando a trajetória da trama. Ainda não foram descobertos ou expostos os nomes da cúpula da Globo responsáveis pela censura na emissora, mas a autora Rosane Svartman, o diretor Paulo Silvestrini e os colaboradores Renata Corrêa, Pedro Alvarenga, Renata Sofia, Fabrício Santiago, Mário Viana e Sabrina Rosa deixaram bem claro o que eles são: caretas e covardes.

22 comentários:

  1. querer flertar com evangélicos radicais dá nisso. quer o ibope dos evangélicos e abandona o respeito as diferenças. aí faz um monte de matéria sobre inclusão, respeito, mas não pratica. beijos, pedrita

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  2. É isso, até ontem estavam mostrando até em Malhação. Agora essa vibe dos anos 2000. Fora que poderiam estar aproveitando esse publico (evangélico) e essa aceitação da novela para conscientizar.

    Mas uma outra questão que esta me incomodando bastante é o possível romance do Kevin e do Ramiro em Terra e Paixão, a história o desenvolvimento estaria sendo legal se não tivesse o fato de que Ramiro é um assassino a sangue frio que matou justamente o marido da mocinha da novela. Essa romanização dele me incomoda bastante, não shippo nem um pouco e fica bem revoltada quando vejo torcida a favor. Gente, o cara MATOU uma pessoa, parem de torcer por esse casal.
    Um história de um homem brucutu, machista com um gay seria bem interessante, desde que esse homem não fosse um ASSASSINO. Se o Walcyr já tinha em mente esse desenvolvimento para o Ramiro, deveria ter colocado outro capanga do Antonio para ter matado o Samuel e incendiado a casa dele. Agora que já mostrou que foi o Ramiro, não terá minha torcida jamais e serei um critica dessa casal.
    Me deixa perplexa pessoas shippando, isso também é hipocrisia, criticam tanto a criminalidade, pedem por justiça, mas estão ai torcendo por um casal só por ser um casal gay conta da representatividade. Poderiam ter criado um outro machão para ser par do Kevin, que não fosse um ASSASSINO.


    Mariana

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  3. Rosane Svartman e toda a sua equipe acertaram em cheio expondo por meio da cena citada no texto a caretice e covardia dos executivos da Globo em tratar o beijo ou o relacionamento de forma geral de casais homoafetivos em "Vai Na Fé" como se ainda fosse tabu. A emissora diz que "toda cena é sujeita a edição", mas tal posicionamento é adotado de forma oportunista. A cerca de um mês da exibição do especial "Falas De Orgulho", poderá ser ou não constatado o chamado queerbaiting caso alguma cena prevista para a produção seja parcial ou totalmente cortada por conta de censuras descaradas.

    Guilherme

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  4. A censura resulta do receio de perder parte dos telespectadores. Mas também se deve ao fato antigo de que os direitos - de modo geral e, especialmente, das 'minorias' nunca são concedidos sem que haja pressão (ou luta etc.).

    Beijo

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  5. Gracias por la reseña Te mando un beso.

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  6. Entendo, Mariana. Algo similar aconteceu com Chiclete e Vivi em A Dona do Pedaço.

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  7. Esse tipo de "medo" que a emissora tem é ridículo. Se não querem fazer, nem começassem com um casal gay. Fazer as coisas pela metade é triste.

    www.vivendosentimentos.com.br

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  8. É uma realidade que está acontecendo na vida real, só que, está invisivel aos olhos da sociedade.
    A novela é divertida, gosto.

    Uma boa semana, Sérgio!
    Abraço.

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  9. sory, zamenza, realmente espero que você critique a visita de Maduro. Mas eu realmente minto para mim mesmo pensando que você pode criticar Lula pela primeira vez. E quem está falando é alguém que teve que fugir da miséria da Venezuela.

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  10. Eu já achei muito estranho uma roteirista da novela ter descido o pau em quem shippava Yuri e Fred, alegando achar errado o "pretinho com o branquinho que tratou ele mal", mas achou certo Yuri com a Guiga que foi RACISTA e o Fred com a Bella e Kate, duas mulheres pretas.
    Queria muito que vc comentasse sobre isso, Zamenza.

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  11. Uau! Incrível essa resenha. Estou vendo todo esse burburinho que essa polêmica tem causado nas redes sociais, mas não acompanho a novela. Mas você detalhou tão bem as cenas, que fiquei totalmente por dentro.

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  12. Sabe o que é mais engraçado? A Globo se esforça pra agradar evangélicos mas a crentaiada nojenta odeia a Globo! Só assistem novela bíblica da Record kkkkkkkkkkkkk Agora, se todo mundo que tá reclamando PARASSE de assistir essas novelas, fariam pressão com a queda de audiência. O povo acha ruim mas continua assistindo. DESLIGUEM A PORRA DA TELEVISÃO e vão assistir séries na internet. Só aí é que vocês vão encontrar representatividade.

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  13. Tb nao tenho gostado desse desenvolvimento, anonimo, mas acho que tem como objetivo o Yuri perceber que gosta mesmo é do Vini.

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