Bella Campos foi uma grata revelação de "Pantanal"

 Não é exagero afirmar que o cancelamento de "Malhação" provoca uma queda brusca no lançamento de talentos no mercado. O longevo seriado adolescente da Globo era a porta de entrada de muitos novatos. A maior prova disso é Bella Campos. A atriz tinha sido escolhida para protagonizar "Malhação - Transformação", temporada escrita por Priscila Steinmann que foi descontinuada pela emissora. A intérprete, então, fez teste para o remake de "Pantanal" e passou. Foi um dos destaques na pele da Muda. 

Ou seja, a atriz que brilhou na trama adaptada por Bruno Luperi não deixa de ter sido lançada em "Malhação". Mesmo com uma temporada que sequer foi ao ar. Bella ganhou uma personagem que seria complicada até para uma profissional experiente. Ruth chegou na história para se vingar de Juma e Maria Marruá (Alanis Guillen e Juliana Paes) por conta da tragédia que viveu na infância, quando seu pai acabou brutalmente assassinado por Gil (Enrique Diaz), pai de Juma e marido de Maria. Como foi logo ameaçada com uma arma, ficou sem falar e as duas acharam que era muda. Acabou interpretando esse papel. 

A própria Bella declarou em entrevistas que o processo inicial foi complicado e acabou estabelecendo um método de estudo para o papel. A atriz inventava o texto de Muda em sua mente, de acordo com o que era falado em cena pelos demais personagens, para poder imprimir expressões faciais convincentes. E deu muito certo. O risco de cair na caricatura ou até em uma artificialidade era alto. Afinal, representar uma menina que fingia não falar e mantinha uma feição séria quase o tempo todo não era uma tarefa das mais simples.

Mas conseguiu convencer em todas as suas cenas a ponto de formar uma dupla que caiu nas graças do público nas redes sociais com a Juma. Muitos até chegaram a 'shippá-las' como um possível casal. A sintonia deixava os momentos leves e muitas vezes cômicos. A frase 'Não fala nada, Muda', dita pela filha da onça, até hoje é um meme utilizado. 

E todo o processo de evolução da personagem foi bem defendido por Bella. Aos poucos, Muda foi criando um afeto por Juma e deixando sua armadura emocional de lado. Até as duas realmente estabelecerem um laço de amizade verdadeiro quando Juma descobriu sobre a vingança e a perdoou. Claro que ninguém aceitaria um perdão diante de tudo o que aconteceu, mas a licença poética é válida. Além da ótima parceria com Alanis Guillen, é preciso mencionar as cenas fortes protagonizadas pela atriz com Leandro Lima (Levi), a sua atuação no dia em que Ruth contou sobre o trauma sofrido pelo quase estupro do peão que foi devorado pelas piranhas e os instantes delicados ao lado de Guito, intérprete do Tibério. Dira Paes (Filó) é outra colega de cena que estabelece uma boa dobradinha com a estreante. E nem parece que é sua a primeira novela diante da segurança cênica. 

Uma pena que Muda tenha perdido a relevância na novela depois do casamento com Tibério. Virou praticamente uma figurante com poucas falas e na reta final aparece apenas para pedir que os outros matem Tenório por ela. Uma situação repetitiva. Vale ressaltar que o equívoco na trajetória da personagem aconteceu na obra de 1990 e poderia ter sido corrigido no remake. Mas Bruno Luperi pouco mudou e manteve quase tudo da história de seu avô, Benedito Ruy Barbosa, incluindo os erros. Ao menos Muda ganhou uma talentosa intérprete.

O ótimo desempenho de Bella Campos já rendeu a reserva de Rosane Svartman. A autora escreve "Vai na Fé", a próxima novela das sete, com estreia prevista para janeiro de 2023 e escalou a atriz para o elenco. Reconhecimento mais do que merecido. A intérprete da carismática Muda é a grata revelação de "Pantanal".