quarta-feira, 31 de agosto de 2022

"Mar do Sertão" tem início promissor, mas tropeça ao cortar cenas na primeira virada da trama

 A nova novela das seis da Globo teve uma primeira semana tranquila. "Mar do Sertão", escrita por Mário Teixeira e dirigida por Allan Fiterman, iniciou sem correria ou atropelos. Aliás, analisando friamente, poucos acontecimentos relevantes ocorreram na trama. O principal objetivo foi apresentar e formar o triângulo amoroso central do enredo, composto por Candoca (Isadora Cruz), Zé Paulino (Sérgio Guizé) e Tertulinho (Renato Góes). 


O trio protagonista vem dominando a narrativa e os demais personagens têm muito pouco tempo de tela. Os únicos perfis secundários que já sobressaíram na novela foram o prefeito Sabá Bodó, intepretado pelo sempre impagável Welder Rodrigues, e o malandro Timbó, vivido pelo ótimo Enrique Diaz. O político sem um pingo de escrúpulo protagoniza situações divertidas, mas que representam a podridão do Brasil em sua essência. Já o sofrido morador de uma casinha simples tem clara inspiração em João Grilo, interpretado por Matheus Nachtergaele em "O Auto da Compadecida". Tem uma vida miserável, mas se vira com o pouco que tem e, quando consegue, foge de trabalho. São tipos promissores. 

Já o enredo principal preenche quase integralmente o tempo dos capítulos. O triângulo é um clichê de qualquer folhetim e o de "Mar do Sertão" lembra o de outra produção das 18h: o formado por Cassiano (Henri Castelli), Ester (Grazi Massafera) e Alberto (Igor Rockli) em "Flor do Caribe", escrita por Walther Negrão em 2013. Até o plot twist é semelhante porque Zé Paulino sofre um grave acidente com Tertulinho e é dado como morto.

A tragédia resulta no casamento de Candoca com o vilão. No entanto, o trio atual tem muito mais carisma e humor que o da fraca novela de nove anos atrás. E a construção das relações tem sido bem realizada pelo autor. 

Candoca e Zé Paulino começam a história noivos. Ela traz toda a doçura da juventude, mas também carrega a força do sertão dentro de si. Criada pela mãe, Dodôca (Cyria Coentro), uma costureira viúva, Candoca é professora na fictícia Canta Pedra e está sempre atenta ao que acontece na cidade e pronta para defender qualquer injustiça. Aliás, as cenas da mocinha invadindo a prefeitura e enfrentando o prefeito várias vezes foram ótimas. Zé Paulino, vaqueiro da fazenda Palmeiral, também é conhecido por todos por seu caráter honesto e justo. O rapaz tem como principal exemplo o tio que o cria como pai, Daomé (Wilson Rabelo), meeiro da fazenda. O mocinho também é muito fiel ao patrão, coronel Tertúlio (José de Abreu), que o tem como filho.

O público não acompanhou como os mocinhos se conheceram e se apaixonaram porque já foram mostrados como um casal logo no primeiro capítulo. A situação não costuma funcionar na teledramaturgia caso algo grave não os separe logo, mas é justamente o que acontece com a falsa morte do mocinho. Então fica mais fácil torcer pelo reencontro. Após uma primeira semana de calmaria, a virada aconteceu no capítulo desta terça-feira, dia 30, quando Zé Paulino e Tertulinho se acidentam. Os mocinhos estão ansiosos para o casamento, mas Tertúlio dá ordem para que Zé leve um cavalo até uma outra cidade justamente perto da data da cerimônia. O coronel ainda manda o filho, Tertulinho, acompanhar Zé Paulino na entrega do cavalo. Mas uma forte chuva durante a viagem provoca um grave acidente. O vilão consegue se salvar, mas o mocinho é dado como morto. 

Mas foi justamente na reviravolta do enredo que Mário Teixeira tropeçou feio. Logo após o acidente, houve uma passagem de tempo de sete dias e com o carro sendo retirado das águas. Ou seja, todas as cenas envolvendo a reação dos personagens com a 'morte' do mocinho foram simplesmente ignoradas. Nem a volta de Tertulinho foi exibida e era certo que o vilão inventaria alguma mentira aumentada 20 vezes, como já fez várias vezes desde o início da trama. Todo o impacto da situação acabou fissurado, o que provocou uma inevitável frustração no telespectador. Por sinal, o momento mais importante seria o choque de Candoca com a notícia. Era a grande chance de Isadora Cruz, que tem se mostrado uma grata surpresa, brilhar. E nem sequer a expectativa em torno da busca do corpo de Zé Paulino foi exibida. O autor privou a sua história de instantes tensos e importantes. Não eram sequências irrelevantes ou descartáveis. 

Não deu para entender o motivo para a pressa, após uma primeira semana tão calma. Houve uma guinada que prejudicou a narrativa. Daria para compreender as razões caso o folhetim fosse curto. Mas não é. Está previsto para acabar apenas em março de 2023. Há muito chão pela frente e ter retirado cenas tão impactantes, e que proporcionariam para o elenco ótimas atuações, foi um erro amador. E outra correria desnecessária é o envolvimento de Candoca com Tertulinho. O 'defunto' ---- que ninguém sabe como conseguiu escapar porque a cena não foi exibida ---- nem esfriou ainda. Aliás, a sequência do velório, onde a emoção predominou, só confirmou o quanto as reações ao acidente trágico fizeram falta. Também foi dada uma pista sobre a verdadeira identidade do pai de Zé Paulino: Tertúlio. O coronel tentou disfarçar sua dor, mas o clichê que transforma o mocinho e o vilão em irmãos é quase certo. Ou seja, é um folhetim clássico e com todas as fórmulas de uma deliciosa história. Ainda é cedo para maiores análises, mas o início tem se mostrado promissor. Uma pena que a grande virada do roteiro tenha impedido o público de acompanhar momentos que eram vitais. O primeiro equívoco da trama até então. 

Agora, "Mar do Sertão" tem uma passagem de tempo de dez anos e o protagonista volta mais vivo do que nunca a Canta Pedra. Resta torcer para que o retorno de Zé Paulino seja bem construído e que nenhuma reação importante seja ignorada. Mário Teixeira tem uma boa história em suas mãos. Só não pode desperdiçá-la.

22 comentários:

  1. Boa noite, Sérgio,

    Esta novela é bem do tipo que me agrada: estória muito brasileira e com trilha sonora muito boa.

    Beijão

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  2. Que esse equívoco de cortar cenas cruciais em viradas das tramas de folhetins seja o único em uma obra como essa, com elementos que certamente despertam interesse em acompanhá-la.

    Guilherme

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  3. Expressei-me mal, desculpe. Que esse equívoco notado limite-se à segunda semana de exibição de "Mar Do Sertão".

    Guilherme

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  4. Como sempre uma excelente análise.
    Abraços

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  5. Boa tarde!
    Só pra lembrar que o Zé Paulino já foi o Candinho em outra novela das 6h e saiu-se muito bem, lembra?

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  6. SEmpre muito bem de olho nos detalhes!

    Bom fim-de-semana!

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  7. Sergio, apesar de estar gostando da novela, é inegável que Mário Teixeira cometeu vários erros nesse início. O principal para mim, é em relação ao casal principal. Começar a novela com eles juntos e sem mostrar ao público a construção da relação deles é muito ruim. O único casal que eu compro assim, é em novela espírita porque tem a justificativa de outras vida o interesse. Tirando essa situação, não compro casal como Zé e a Candoca e como você falou a novela é longa, dava para ele construir a relação deles com calma até a separação. Diferente de AVDG , onde o romance rápido da Ana e Rodrigo tinha justificativa e foi importante para a segunda fase e a Lícia sabia que eles não iriam ficar juntos, em Mar do Sertão , dificilmente a Candoca não vai terminar com o Zé , por isso era importante construir a relação deles e fazer a gente se apegar ao casal . Estamos vendo a relação da Candoca com o Tertulinho sendo melhor trabalhada , o que não acho ruim , mas faltou esse equilíbrio com a outra parte do triângulo amoroso. Fora que o autor poderia trabalhar mais a dubiedade do Tertulinho que transformá-lo em um vilão clássico. Outra coisa que me incomodou foi o lance do acidente, como você falou o autor pulou etapas que seria importante para o público ver. A cena do acidente ficou muito boa, queria ter visto o desespero do povo descobrindo. Esse acidente tem a mesma importância na história que das irmãs Fonsecas , era importante a gente viver esse momento. Fora que achei forçado algumas reações, principalmente do Timbó, o Enrique Diaz é um ator maravilhoso! Porém, para mim, faltou mostrar a relação do Timbó com o Zé Paulino. Acho que faltou mostrar mais do Zé Paulino, para a gente sentir o impacto do acidente dele e sua suporte morte. Espero que o autor nos surpreenda na segunda fase e que a novela ainda tenha muita lenha para queimar, porque sinceramente ele pode ter desperdiçado boas histórias até a mudança de fase.

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  8. Realmente parece muito Flor do Caribe. Só que uma diferença é a pressa que nunca foi comum nas novelas de Walther Negrão. Só que isso pode não ser bom. O autor está tão apressado que a história pode ficar barriguda muito no início, aí já viu tudo. Inclusive, em O Tempo não Para ele dedicava tempo demais aos protagonistas. Os coadjuvantes acabavam aparecendo muito pouco. Isso vem se repetindo em Mar do Sertão. O autor pode destacar as tramas secundárias nessa nova fase. Tomara. Mas esses acontecimentos e viradas muito apressadamente é preocupante. O autor pode cair no esgotamento e a novela virar uma barriga sem fim. E já está praticamente impossivel acreditar no contrário.

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  9. Não estou acompanhando a produção, mas você fez um resumo muito bem feito. Parabéns!

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  11. Vc tem razão, Camila. Pena qque na mudança de fase foi uma correria ainda maior...

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