segunda-feira, 29 de junho de 2020

"Em Nome de Deus" choca, emociona e mostra a luta das mulheres por justiça

A Globo vem investindo cada vez mais em seu serviço de streaming e há um planejamento até com novelas produzidas exclusivamente para a Globoplay. Embora o conteúdo do entretenimento ficcional siga a todo vapor, um nicho ainda pouco explorado era o dos documentários. Mas o grande pontapé inicial se deu com o excelente "Marielle - o documentário", lançado em março, sobre o assassinato cruel da vereadora, ativista dos direitos humanos do Rio de Janeiro, Marielle Franco. Agora outro grande produto estreou na plataforma e teve seu primeiro episódio exibido na tv aberta na terça-feira passada (23/06): "Em Nome de Deus".


O documentário, em seis episódios, conta a história do médium João de Deus desde sua infância em Itapaci, em Goiás, até sua prisão por crimes sexuais. O Canal Brasil exibiu os seis capítulos entre quarta-feira passada (24/06) e esta segunda-feira (29/06). O conteúdo completo está disponível na Globoplay e o único episódio exibido pela Globo já provocou uma imensa repercussão nas redes sociais e na imprensa. Um resultado bem parecido com o que aconteceu na época da avalanche de denúncias de milhares de vítimas há dois anos.

Conduzida por Pedro Bial e Camila Appel, a série tem como ponto de partida as investigações que levaram às primeiras denúncias feitas, com exclusividade, no programa "Conversa com Bial", em 2018. Mulheres revelaram que, ao buscar o tratamento espiritual, foram abusadas sexualmente pelo médium João Teixeira de Faria.
Os dias que se seguiram à exibição do programa foram tomados por grande repercussão e perplexidade, enquanto centenas de outros começaram a vir à tona. Em questão de dias, João de Deus foi indiciado e, posteriormente, condenado a 40 anos de prisão.

Enquanto revela a vida paralela do líder espiritual, a sua ampla rede de proteção e denúncias de crimes graves, a série acompanha passo a passo a investigação da equipe no Brasil e no exterior, em viagens para a Holanda e Estados Unidos, revelando supostos crimes cometidos bem distantes de Abadiânia, interior de Goiás. O documentário também conta com relatos exclusivos de vítimas do médium ---- entre elas, a filha de João de Deus. O estúdio onde foi gravado o "Conversa com Bial", que deu início às denúncias, foi também o palco do primeiro e emocionante encontro destas mulheres, para falar sobre suas histórias. É um dos momentos mais sensíveis da série, ao mesmo tempo que doloroso e triste.

Pedro Bial faz um ótimo comentário a respeito do conjunto da série: "Em Nome de Deus" é a história de mulheres e de sua coragem em reagir. Mais do que resistir, de agir, a partir do sofrimento, da humilhação e do massacre que sofreram. É um documentário sobre a voz das mulheres", finaliza o jornalista. Os relatos chocam e um dos instantes mais devastadores é exibido logo no primeiro episódio, quando uma das vítimas (uma senhora) fica perplexa ao descobrir que uma das abusadas é a filha de João de Deus. De embrulhar o estômago.

"Em Nome de Deus" é uma série documental de primeira qualidade e impressiona o minucioso trabalho de toda a equipe envolvida. Pedro Bial, Camila Appel e todos os demais merecem o reconhecimento pelo brilhante esforço em desnudar toda a podridão que envolve a vida de um homem que se aproveitou da fé alheia para cometer uma sucessão de abusos sexuais asquerosos, incluindo acusações de envolvimento com tráfico, formação de quadrilha e até milícia armada. Vale a pena acompanhar para ver até onde vai a frieza e a crueldade do ser humano que se diz "escolhido por Deus".

11 comentários:

  1. Nao aguentei passar do segundo episódio. Muito pesado.

    ResponderExcluir
  2. Série documental impressionante.
    Cada pessoa do Brasil não fazia ideia da quantidade e profundidade dos casos ilícitos que envolviam o médium e as histórias dessas pessoas são muito fortes e impactantes.
    Pensei que talvez não precisassem colocar os jornalistas tão no centro da narrativa, agora esse é um mero detalhe.
    Senti falta de uma mulher falando com propriedade (profissional e pesquisadora) sobre estupro, pois esse ainda é um assunto tabu e sobre o qual sabemos pouco sobre a tipificação. Por exemplo: quando os defensores alegam que um senhor de quase 80 anos não teria vigor sexual que embasasse as denúncias de estupro, isso é na verdade uma distorção dos fatos e da própria denúncia feita pelo Ministério Público, uma vez que a configuração de estupro não abarca apenas penetração.

    "Ele fazia tudo isso rezando Ave Maria!"

    Estou estarrecido e sem palavras com esse documentário feita de cada relato dessas vítimas. É algo imensurável a dor que todas essas pessoas passaram. O documentário é brilhante em tudo, desde a investigação até a forma como abordou um tema tão delicado.

    Dessa vez, nossos aplausos para o Globo Play, documentário excelente.

    ResponderExcluir
  3. É maravilhosa essa série!

    ResponderExcluir
  4. É impressionante mesmo!

    ResponderExcluir
  5. “Em nome de Deus” nota-se a presença, por detrás do charlatão, o poder do agronegócio, do coronelismo, a política suja do país acoitando o criminoso João. Agro é tech, agro é pop agro é tudo REALMENTE.

    Queria essa COISA ser um novo Antônio Conselheiro, Padre Cícero ou Deus?! João é um charlatão, na verdade. Ou melhor: estuprador, miliciano, coronel que arvora a ser Deus.

    Em tempo, Casa Dom Ignácio de Loyola era o nome do lugar onde João assediava, abusava e violentava as mulheres. Não poderia ser outro o nome senão do homem que criou a Cia de Jesus, instituição que perseguiu, matou e dizimou milhares de indígenas e negros no Brasil.

    Isso já diz tudo. Vá p/ o inferno, senhor João Teixeira de Faria.

    ResponderExcluir