sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Maria da Paz em "A Dona do Pedaço": uma protagonista que não precisou de par romântico

Entre os muitos clichês de qualquer novela, há o famigerado par romântico principal. Os mocinhos cujo amor precisa enfrentar inúmeros obstáculos ao longo da trama para a concretização do final feliz. Tão antigo quanto a invenção da roda. Nem todos os folhetins, no entanto, necessitam do recurso. "A Dona do Pedaço", por exemplo, dirigido por Amora Mautner, fugiu do padrão. Embora seja um produto repleto de situações clássicas, a protagonista da história escrita por Walcyr Carrasco teria seu drama muito bem desenvolvido se não existisse um romance.


Maria da Paz, defendida com talento por Juliana Paes, não precisou de um homem para ter sua saga desmembrada. Ironicamente, a premissa do enredo é o clássico "Romeu e Julieta". Os Ramirez e os Matheus eram famílias rivais e vários morreram ao longo de uma sangrenta guerra no interior do Espírito Santo. O amor de Maria --- uma Ramirez --- e Amadeu (Marcos Palmeira) --- um Matheus --- deixou o contexto ainda pior, em virtude de uma tentativa de trégua que fracassou graças ao tiro dado por Dulce (Fernanda Montenegro) no rapaz --- bem na hora do casamento da neta. E a maior prova a respeito da falta de relevância do romance para a novela é a sobrevivência de Amadeu. Se o mocinho tivesse morrido em pleno altar, não faria falta.

A personagem veio para São Paulo para fugir da violência e porque estava jurada de morte. Aos poucos, resolveu se dedicar aos bolos e lembrou as lições dadas pela avó, que cozinhava tão bem quanto matava. Construiu um império graças ao seu trabalho e ficou milionária.
Seu maior drama era o desprezo da filha única, a arrogante Josiane (Agatha Moreira), que nunca suportou o estilo de vida "brega" da mãe e sempre sonhou em ganhar cada vez mais dinheiro através do mundo das blogueiras de moda. Em nenhum  momento houve a necessidade de destacar o relacionamento amoroso de Maria. Inclusive, nem existia. Até seu envolvimento com o então interesseiro Régis (Reynaldo Gianecchini) se deu pela insistência da filha, que já planejava um golpe com o típico playboy 171. Sua química com Gianecchini, todavia, agradou.

A boleira viu sua vida desmoronar quando descobriu o verdadeiro caráter da filha que tanto amava e chegou a atirar em Régis quando viu o então marido aos beijos com Josiane. Foi presa e pouco tempo depois teve sua fortuna roubada pela herdeira, que ainda tirou a fábrica "Bolos da Paz" da mãe. Viu tudo o que construiu escapar de suas mãos. Mas não desanimou e voltou a vender bolos na rua, como fazia nos tempos difíceis. Mesmo cercada de sofrimento, a protagonista não reatou com Amadeu. Preferiu manter a amizade e apenas aceitou a ajuda do ex com a sua defesa e nos negócios. Ou seja, o telespectador quase não viu Maria da Paz protagonizando cenas românticas ao longo da novela. Isso porque todos os acontecimentos mencionados ocuparam vários meses de história, obviamente. Não sobrou espaço para cenas românticas. Mas nem por isso a personagem ficou menos feliz. Sempre com um sorriso no rosto, mesmo diante de tantas provações, Maria esbanjava otimismo por onde passava.

A protagonista ainda teve o conflito em torno de suas sobrinhas desaparecidas. Nunca perdeu a esperança de encontrar Virgínia (Paolla Oliveira) e Fabiana (Nathalia Dill). Só conseguiu, por sinal, quando se inscreveu no "Best Cake", reality de culinária que premiava o vencedor do melhor bolo com um milhão de reais. Aliás, esse foi outro desdobramento criativo do autor. Walcyr inseriu uma disputa que o público está acostumado a ver em inúmeros programas da concorrência e disfarçou bem aquele famigerado período de barriga (enrolação) presente em quase todas as novelas. Maria chegou até a ser eliminada em virtude de uma sabotagem, mas voltou na repescagem. E, claro, venceu. Como Vivi Guedes era uma das juradas, a digital influencer se lembrou do gosto do bolo da tia assim que experimentou o famigerado "bolo mágico". Uma nova reviravolta na trajetória da personagem central sem envolver par romântico.

Há até uma certa especulação a respeito do final amoroso de Maria da Paz. Como Régis realmente se arrependeu e se regenerou, a possibilidade de terminarem juntos existe. No entanto, o roteiro deixa bem evidente que o primeiro amor da boleira nunca foi esquecido e o tema de sua relação com Amadeu, "Evidências", beira a covardia. Óbvio que a boleira ficará com o integrante do clã Matheus. No entanto, essa 'dúvida' não norteia o enredo em momento algum. Seria até ousado Walcyr deixar Maria sozinha e realizada profissionalmente no último capítulo de "A Dona do Pedaço". Perfeitamente condizente com os tempos atuais e nada incoerente em se tratando do enredo do folhetim. Maria foi uma protagonista que não precisou de par. E Juliana Paes deu um show.

27 comentários:

  1. Sabia que nai tinha reparado nnisso? É real.

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  2. Olá, tudo bem? Maria da Paz é o principal problema da novela. Por isso mesmo, ela ganhou o apelido de A Trouxa do Pedaço....Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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  3. Achei uma protagonista fraca. E o concurso de culinária foi uma enrolação. Tiveram personagens que perderam função e caíram na artificialidade. Chiclete ficou sem função, Vivi Guedes se arrastou com essa trama com o Camilo. Fabiana foi uma vilã que só se destacou em poucos momentos. Era de esperar bem mais. Inclusive, o conflito das irmãs ficou de lado. Vivi está ameaçada por Camilo e Fabiana não está em guerra com essa irmã, como o roteiro prometia. Agno também perdeu o destaque. Seu relacionamento com Mão Santa não empolgou tanto e o personagem de Malvino ficou avulso, deixando para se vingar de Fabiana só no fim. Regis é outro que ficou apagado. Mal tem cenas. Perdeu o destaque do começo. Sinceramente, o único acerto da novela é Josiane. A vilã é sensacional e magnética. Obliterou o brilho de Maria da Paz, que foi uma mocinha burra. Jô foi magnética e seduzente. Agatha Moreira'MIL'. Não existe palavra que descreva o seu talento nesse papel. Por isso que Bianca Bin faria esse papel. Depois de Clara, Walcyr tinha que presentear a atriz com uma personagem excelente que brilharia mais que a mocinha. Mas Agatha me pareceu insubstituível. Bianca que me perdoe. Você escreve muito bem e eu gostei do texto, mesmo discordando dele um pouco. Acho que a falta de par evidenciou a fragilidade do roteiro e Maria ficou numa enrolação de concurso e sem ter um merecido destaque. Parabéns!

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  4. Concordo totalmente. Achei ótimo a Maria nao precisar de par ao longo da novela e por isso mesmo tinha que terminar sozinha!!!

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  5. A história de Maria da Paz (Juliana Paes) em "A Dona Do Pedaço" é fascinante, independentemente de a protagonista ter ou não pares românticos.

    Guilherme

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  6. E não mentiu! O casal queridinho da vez ficou a cargo de Paolla Oliveira e Sérgio Guizé. Nem pra recuperar a fábrica a Maria da Paz vai recorrer ao Amadeu. Por ironia do destino será pelas mãos da própria Jô, afinal, se ela não tivesse contado da pasta ao Agno, ninguém mais procuraria.

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  7. Ele deu show mesmo e torço por um grande amor ao final pra ela! Merece! abração,chica

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  8. Nunca parei pra pensar mas concordo o Amadeu podoa ter morrido que nao afetaria nada a trama da Maria.

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  9. Aconteceu o mesmo que em o outro lado do paraíso com a clara personagem de Bianca Bin que não dependia de um par romântico.

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  10. Realmente eu notei que o regis apos o flagra da maria da paz e que o caso dele com a josiane ficou exposto, perdeu um pouco o destaque.

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. As novelas da televisão brasileira que contam histórias de personagens femininas sejam poderosas, marcantes ou inteligentes:

    Cheias de Charme (Globo, 2012),
    Vitória Bonelli (Tupi, 1972-1973),
    Éramos Seis (Tupi, 1977 / SBT, 1994),
    Essas Mulheres (Record, 2005),
    Xica da Silva (Manchete, 1996-1997),
    A Força do Querer (Globo, 2017),
    Mulheres Apaixonadas (Globo, 2003),
    Senhora do Destino (Globo, 2004-2005),
    Elas por Elas (Globo, 1982),
    Locomotivas (Globo, 1977),
    As Divinas e Maravilhosas (Tupi, 1973-1974),
    Dona Xepa (Globo, 1977 / Record, 2013),
    Dancin´ Days (Globo, 1978),
    Rosa Baiana (Band, 1981),
    Guerra dos Sexos (Globo, 1983),
    Dona Beija (Manchete, 1986),
    Sinhá Moça (Globo, 1986 / 2006),
    Brega e Chique (Globo, 1987),
    Vale Tudo (Globo, 1988),
    Tieta (Globo, 1989-1990),
    Rainha da Sucata (Globo, 1990),
    Barriga de Aluguel (Globo, 1990-1991),
    Perigosas Peruas (Globo, 1992),
    Quatro por Quatro (Globo, 1994-1995),
    A Idade da Loba (Band, 1995),
    A Indomada (Globo, 1997),
    Por Amor (Globo, 1997-1998),
    Agora É Que São Elas (Globo, 2003),
    Celebridade (Globo, 2003-2004),
    Páginas da Vida (Globo, 2006-2007),
    A Vida da Gente (Globo, 2011-2012),
    Lado a Lado (2012-2013),
    Novo Mundo (2017).

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  13. Sérgio, adorei o seu texto porque deixou claro que as mulheres não precisam de par romântico para se destacar e que o famigerado "Romeu e Julieta" virou coisa do passado!!
    Agora a mulher faz sua própria história e Juliana paz está dando um banho de interpretação!!
    Ela é maravilhosa!!
    Um beijo amigo e um restante de semana incrível!! :)))

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  14. Discordo da sua opinião, anonimo, mas respeito. E obrigado pelo carinho.

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  15. Verdade, anonimo, mas a relação dela com Patrick fez um grande sucesso.

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  16. Discordo quando você disse que pela a trilha sonora de Amadeu e Maria da Paz eles ficariam juntos e eles colocaram a música duas vezes cantada por cantores diferentes achei desnecessário.Pra mim o Amadeu era apagado,picolé de chuchu e parecia mais amigo da Maria da Paz do que casal e não tinha aquele fogo que tinha com o Régis. E você mesmo disse que torcia pro Régis ficar com a Maria da Paz e o que fez você torcer pro Régis. Porque se fosse por trilha sonora não teria casais que ficassem separados em outras novelas

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