quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Segunda temporada de "Filhos da Pátria" debocha do retrocesso atual do Brasil

Rio de Janeiro, sede do governo federal, Outubro de 1930, momento de transição da história do Brasil com o início da Era Vargas. É neste contexto que se passa a segunda temporada de "Filho da Pátria", que estreou nesta terça-feira (08/10), na Globo. Na série, escrita e criada por Bruno Mazzeo ---- dirigida por Felipe Joffily e Henrique Sauer ----, uma típica família da classe média brasileira, já conhecida do público durante a primeira temporada (exibida há dois anos), volta ao ar, mas agora vivendo em outro tempo. Todavia, os problemas que envolvem o país e seus habitantes não mudaram muito.


Os Bulhosa mantêm as mesmas características vistas na série de 2017. Geraldo (Alexandre Nero) segue com sua covardia e passividade diante do sistema que o cerca; Maria Teresa (Fernanda Torres) continua bajulando quem está no poder; Geraldinho (Johnny Massaro) não deixou a preguiça de lado; enquanto Catarina (Lara Tremouroux) avança com sua luta feminista pela independência. Já Lucélia (Jéssica Ellen) virou empregada doméstica da família, uma vez que a escravidão acabou, e seu grande amigo Domingos (Sérgio Loroza) tenta a vida como sambista. Outros personagens que continuam na trama são Leonor (Letícia Isnard) ---- irmã mais nova e esnobe de Teresa ---- e o corrupto Pacheco, vivido pelo ótimo Mateus Nachtergaele, comprovando que sujeitos assim sobrevivem a qualquer regime.

Se na primeira temporada, os Bulhosa viviam no Brasil de 1822 --- um país recém-independente e otimista --- na segunda, o contexto inclui o governo de Getúlio Vargas que enche o Brasil (novamente) de esperança, com promessas de modernidade diante da estagnação após anos da hegemonia da elite no período conhecido como "café com leite".
A chegada da influência da rádio, o impulso da industrialização e a revolução são as novidades que moldam a sociedade da época e marcam a chegada do século XX. É a época também em que o samba é estabelecido, por Getúlio, como música oficial do Brasil e quando o Carnaval é criado.

O suntuoso Palácio do Catete serviu de cenário à nova safra de episódios da trama e nada mais propício, afinal, foi sede da presidência. Vários foram os cuidados para a preservação do local, fundado em 1867. E o resultado ficou ótimo. Logo no primeiro episódio, há a exibição da tomada da presidência pelas tropas de Getúlio e uma frase já provoca risos em quem assiste: "Acabou a mamata", diz Matoso, o militar líder das tropas, interpretado por Adriano Garib. Qualquer semelhança com o Brasil atual não é mera coincidência. Aliás, essa é a maior qualidade da produção de Mazzeo: utilizar, em um passado não tão distante, toda a hipocrisia da atualidade para expor a ausência de mudanças concretas no comportamento do brasileiro.

Maria Teresa, assim como na primeira temporada, domina a série com facilidade. Fernanda Torres segue impagável e a personagem se transformou em uma típica "bolsominion". Até o gesto da ''arminha'' com as mãos a esposa de Geraldo faz para bajular os militares. A alienada mulher ainda se destacou ao bater panela na revolução e disparar "Tchau, querido", uma clara referência a conversa que viralizou após o grampo telefônico dos ex-presidentes Lula e Dilma e o processo de impeachment da então presidente em 2016. O conservadorismo de Teresa, refletido bem no atual governo, também está presente em diversas outras situações, como no momento em que se chocou ao ver Geraldinho vestido de mulher em casa: "Meninos vestem azul e meninas vestem rosa", disse a desesperada mãe, que repete a frase da atual ministra Damares Alves. É o humor sendo usado para tocar nas feridas e alertando para uma volta ao passado que se evidencia.

A corrupção do governo é bem exposta através das atitudes de Pacheco, que chega a ser preso quando os militares tomam o poder, mas logo volta ao cargo de antes graças aos seus inúmeros ''contatos". E tudo com a conivência de Geraldo, que mantém o conflito ético dentro de si: embora se sinta mal com sua complacência diante de contextos condenáveis, se beneficia do tal ''jeitinho brasileiro". Nero e Nachtergaele seguem com uma boa parceria e brilham. Johnny Massaro, Lara Tremouroux, Jéssica Ellen e Sérgio Loroza também se destacam, assim como Letícia Isnard, Bruno Jablonski (Juca) e Adriano Garib.

"Filhos da Pátria" é uma série que provoca risos constrangidos. Reflexões involuntárias através da piada. Ao mesmo tempo que o público se diverte com as situações, se entristece ao constatar que o Brasil mudou muito pouco, principalmente em se tratando de corrupção, patriarcalismo e preconceitos. Parece que o país retrocede quando está mais próximo de evoluir. A ideia de Bruno Mazzeo é genial: usar a mesma família para abordar todas essas questões em diferentes épocas. Os Bulhosa protagonizaram uma trama ótima em 1822 e seguem com um bom enredo em 1930. Quais serão os próximos anos? Conteúdo histórico não falta. E hipocrisia também.

15 comentários:

  1. Amei, mas deveria vir depois de Segunda Chamada.

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  2. Adorei a estreia.

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  3. Quero Fernanda Torres de volta as novelas é uma grande atriz

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  4. Que texto bom, Sérgio!!!!!!!

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  5. Já que o espaço daqui virou um palco de manifestaçào politico-pártidario algumas informações:
    Getulio Vargas tentou implementar o facismo no BRASIL e existe documentos historicos que comprovam que ele simpatizava com as ideias de Mussolini.
    O PT rejeitou o REAL.
    Que o ex-ministro Palocci entregou provas que o homenzinho presso em Curitiba embolsou mais de 300 milhoes sò em propinas.
    Que enquanto a grande midia brasileira está preocupada com o Queiroz não se fala nada sobre o Deputado aqui do Rio Andre Ceciliano(PT-RJ) que movimentou mais de 15 milhões.
    Que essa república em que vivemos é um golpe de estado,pois diferente do que é mostrado nos livros didáticos o imperador D.Pedro 2 não era um velho cansado e a familia imperial não foram embora porque quiseram e sim porque foram EXILADOS na Europa.
    No mais vou deixar está frases de um grande filósofo.
    "É MAIS ENGANAR AS PESSOAS DO QUE CONVECE-LAS DE QUE FORAM ENGANADAS"

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  6. O retrocesso e o estrago que os governos do PT deixaram no povo são quase irreversíveis, os jovens então estão com a cabecinha totalmente estragada. Só pensam em lacrar, são uns idiotas INÚTEIS mesmo.

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  7. Vem cá, respondendo ao anonimo, quando que isso aqui virou palanque político? Que eu saiba, só vi elogios com relação a serie e merecidos por sinal. A fixação pelo PT já está ficando bem doentia. E olha que nem sou simpatizante deles, tampouco bolsominion.

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  8. Anonimo, não acho que o blog tenha virado um palco politico-partidário. Aliás, eu odeio o PT. Mas daí a gostar do jumento que está no poder são outros 500...

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  9. O pessoal parece que ficou doente msm, anonimo...

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