segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Nem o núcleo da família de Severo, trama mais atrativa de "Segundo Sol", escapou da perda de rumo do autor

"Segundo Sol" está em sua última semana e a trama de João Emanuel Carneiro apresentou um festival de equívocos. O autor enfiou os pés pelas mãos ao longo dos meses e acabou destruindo gradativamente uma trama que poderia ter sido ao menos mediana. Conhecido por criar enredos centrais ótimos e paralelos péssimos, o escritor inverteu a lógica no atual folhetim. Os secundários foram bem mais interessantes que o forçado drama dos pamonhas Luzia (Giovanna Antonelli) e Beto (Emílio Dantas). Ainda assim, só um núcleo realmente se sobressaiu positivamente na produção: o da família de Severo Athayde (Odilon Wagner).


Desde o início da história, dirigida por Dennis Carvalho e Maria de Médici, as situações expostas em meios a barracos cheios de acusações e ofensas se mostraram atrativas em virtude das muitas falhas de caráter de todos os envolvidos. Os personagens despertaram atenção e os atores se destacaram rapidamente, comprovando o acerto da escalação. O corrupto Severo construiu uma família sem um pingo de carinho, cuja a maior identidade era a instabilidade emocional generalizada. Até mesmo a justa empregada Zefa (Claudia Di Moura) acabava responsável por muitas das desgraças que permeavam os moradores da mansão.

Severo sempre foi um sujeito sem escrúpulos e não se preocupou em assumir o filho negro que teve com a empregada. Roberval (Fabrício Boliveira) virou um sujeito vingativo e amargo quando descobriu toda a verdade. O empresário só quis assumir o filho branco, mas nunca deu um pingo de carinho a Edgar (Caco Ciocler) e sentia um prazer mórbido em humilhar o rapaz, que acabou virando um sujeito passivo e instável.
Zefa ultrapassava todos os limites da subserviência e jamais enfrentou o patrão, se conformando com tudo que via. Karen (Maria Luisa Mendonça), esposa de Edgar, também era uma vítima daquele núcleo familiar e se tornou uma mulher frustrada. Já a filha deles, Rochelle (Giovanna Lancellotti), puxou o mau-caratismo do avô.

Enquanto o núcleo central se arrastava com Luzia e Beto sendo feitos de idiotas por todos os personagens, os embates dos Athayde resultavam em ótimas cenas e proporcionavam bons conflitos. As discussões entre Severo e Edgar tinham uma carga dramática intensa e Caco Ciocler impressionou com seu desempenho, assim como Odilon, valorizado como merece, após a figuração de luxo em "Tempo de Amar". Os constantes ataques de Rochelle, utilizando verdades incômodas e agressivas, eram bons elementos catárticos e expunham uma Giovanna Lancellotti entregue em cena. Quando Karen finalmente decidiu dar uma basta nas grosserias do sogro, a personagem cresceu e Maria Luisa aproveitou a oportunidade.

A vingança de Roberval, comprando a mansão e fazendo todos de seus empregados, embora previsível, foi uma boa virada do núcleo. Fabrício Boliveira pôde contracenar mais com os colegas e também ganhou boas sequências, após um período cansativo em torno de Cacau (Fabíula Nascimento). Aliás, a cena em que Roberval humilhou a irmã de Luzia em pleno altar, chocando a todos, foi um dos melhores momentos da novela e comprovou como esse enredo era o mais convidativo do roteiro. Não é exagero afirmar que foi a única reviravolta da trama que realmente impactou.

Recentemente, Zefa virou a protagonista do núcleo. Isso porque a empregada finalmente se cansou dos desmandos de Severo, que nunca abaixou a cabeça mesmo arruinado. A personagem defendeu Edgar e Roberval, enfrentou o ex-patrão e ainda o estapeou quando descobriu que o vilão era o responsável pela prisão do filho negro. Também emocionou ao lado de Maria Luisa Mendonça e Giovanna Lancellotti assim que a patricinha descobriu que está com a Síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune que afeta o sistema nervoso. Ou seja, fica bem evidente a quantidade de acontecimentos em torno da família, enquanto o núcleo central apresenta viradas repetitivas e nada verossímeis.

Todavia, nem mesmo esse roteiro escapou dos erros. O envolvimento de Karen e Roberval foi totalmente desnecessário, assim como a inserção de uma família de traficantes sequestrando Manu (Luisa Arraes) para render conflito. Aliás, a presença da filha de Luzia no núcleo se tornou dispensável. No início era interessante pelos embates com Rochelle, mas depois se esvaziou e ficou sem sentido a menina permanecer ali, após ter declarado inúmeras vezes que não suportava aquelas pessoas. Deveria ter ficado com a mãe biológica, como sempre queria. Inclusive, o vício dela em  drogas (além do "MD", ficava clara a ingestão de outras substâncias) foi curado milagrosamente. Já o romance de Edgar com Cacau foi desenvolvido de forma rasa, assim como o término graças a uma armação de Roberval, que voltou a ficar com a ex mesmo depois das humilhações na igreja. A irmã de Luzia, por sinal, ficar balançada por ele depois de todas as agressões que sofreu é mais uma falha grave do autor. E o que foi Rochelle fingir que tinha sido estuprada e agredida por Roberval em um momento onde a violência contra a mulher só cresce? Folhetim não precisa dar exemplo, mas foi algo gratuito.

Já os últimos acontecimentos em volta da família comprovou que até a melhor história da novela foi afetada pela perda de rumo do escritor. A invasão de novos bandidos na mansão era para ter sido uma sequência tensa, mas resultou em uma sucessão de situações grotescas e constrangedoras. Ainda expôs a falta da criatividade de João ---- outro sequestro? Para culminar, o roubo durou quase quatro capítulos deixando bem clara a intenção do autor: encher linguiça (enrolar o público). O contexto, inclusive, foi criado para promover a reconciliação da família, após inúmeras desavenças. Uma solução que se mostrou rasa e forçada. A regeneração de Rochelle por causa da doença foi um clichê, mas cabível. Porém, ver Severo todo amoroso com os demais depois de tudo o que fez não deu para engolir. O mesmo serve para a atitude amorosa de Roberval com seu pai, além da reação compreensiva de Edgar e Karen. Nem houve uma aproximação aos poucos e, sim, algo súbito. Parece que o sequestro promoveu uma onda de paz e amor. E o que comentar sobre o fato de Severo ser pai de Karola (Deborah Secco), fruto de uma relação com Laureta (Adriana Esteves) no passado? Qual o intuito? Enfim, vários desfechos bem decepcionantes para um drama familiar que parecia tão complexo.

João Emanuel Carneiro errou tanto na atual novela que até o melhor núcleo da história acabou prejudicado pela sua condução. A família repleta de tipos dúbios, liderada por um empresário sem escrúpulos, era o maior trunfo de "Segundo Sol" e acabou sem fôlego, apresentando soluções inverossímeis e sem impacto. Lamentável.

12 comentários:

  1. Tem alguma coisa nessa novela que não tenha sido destruída?

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  2. Severo bonzinho foi mais ridículo que a Karola sofrida e a Rosa voltar pro Valentim.Devia se aposentar esse cara.

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  3. A melhor novela dele nas 21:30 se chama A Favorita.Avenida Brasil foi a mais popular.ARDJ E SS são um fracasso que ele caregarrà em seu curriculo.

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  4. Creio que "Segundo Sol" ganhará mais um texto neste blog nesta semana, logo será analisada desde o princípio como uma novela repleta de furos e falhas no roteiro. No início, pensei que João Emanuel Carneiro havia dado a volta por cima após o retumbante fracasso de "A Regra Do Jogo", mas do jeito que foi conduzida, eu não poderia estar mais enganado. Na minha humilde opinião, "A Favorita" foi a última novela dele que realmente esbanjou qualidade e classe. Digo isso porque já expliquei em comentários de textos anteriores sobre "Segundo Sol" os motivos para afirmar que "Avenida Brasil" é superestimada, e declaro sem pestanejar que atualmente tenho abuso de "Avenida Brasil". Sem mais. (Pelo menos até então..., risos.)

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  5. MENTIRA QUE SEVERO É PAI DE KAROLA. HAHAHAHAHAHAHAH GENTE, QUE NOVELA RIDICULA. SE ACABASSE EM DEZEMBRO A LUZIA IA DESCOBRIR QUE É FILHA DA ROCHELLE!!!!

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