sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Claudia Di Moura e Kelzy Ecard são gratas revelações de "Segundo Sol"

Normalmente, a primeira associação que surge quando se fala de revelação em alguma novela é a de um ator ou atriz jovem. Afinal, é o primeiro trabalho do intérprete na televisão. Porém, nem sempre a questão da idade prevalece. Há vários casos de profissionais com larga carreira no teatro que estreiam na tevê muito tempo depois de já ter um currículo sólido. É o caso de Claudia Di Moura e Kelzy Ecard em "Segundo Sol".


As intérpretes das sofridas Zefa e Nice, respectivamente, se destacaram assim que surgiram em cena e desde então vêm protagonizando momentos de intensa carga dramática, emocionando o público. São perfis aparentemente sem muito importância, mas cresceram graças ao talento dessa dupla de respeito. Ambas já participaram de várias peças teatrais, mas a oportunidade de mostrar o quão são competentes na televisão, alcançando um maior número de pessoas, ainda não havia chegado. Finalmente a chance veio.

Claudia é uma atriz baiana e chegou a dizer em uma entrevista que não sairia da Bahia se a Globo não fosse buscá-la. O diretor Dennis Carvalho conseguiu trazê-la para o Rio de Janeiro, sede da emissora e local dos Estúdios (antigo Projac), e João Emanuel Carneiro criou a subserviente Zefa. A empregada da família de Severo Athayde (Odilon Wagner) é uma espécie de porto seguro de um núcleo familiar dilacerado, mas nunca recebeu um tratamento diferenciado por isso.
E a personagem é típica de um folhetim mexicano. Teve um caso com o patrão e engravidou de dois filhos: um branco e um negro. O primeiro foi criado pelo pai, recebendo todos os privilégios, e o outro ficou com ela, virando motorista da família.

A empregada desperta pena e indignação em quem assiste. Isso porque seu sofrimento é visível, assim como sua tentativa de deixar todos ao seu redor bem. Todavia, sua subserviência ultrapassa todos os limites. Zefa parece se conformar com a vida que tem e quando defende todo mundo acaba sendo conivente com o festival de canalhices, vide a corrupção de Severo, a crueldade de Rochelle (Giovanna Lancellotti), a vingança sem escrúpulo de Roberval (Fabrício Boliveira), o descontrole de Edgar (Caco Ciocler) e a inconsequência de Manu (Luisa Arraes). A atriz se sobressai sempre que aparece em cena e seus embates mais dramáticos são com Fabrício, exigindo uma entrega visceral de ambos.

Já Kelzy foi aparecendo timidamente e no início mal tinha falas. Nice era apenas uma esposa retraída do machista Agenor (Roberto Bomfim) e cuidava das filhas Maura (Nanda Costa) e Rosa (Letícia Colin). Aos poucos, ganhou importância e uma trama para chamar de sua: cozinheira de mão cheia, tentou vender quentinhas para ajudar na renda da família, mas foi impedida pelo intimidador marido. A intérprete emocionou com a dor da personagem e virou um dos poucos acertos da novela quando a batalhadora mulher entrou em choque assim que descobriu que Maura era lésbica. A cena protagonizada por ela e Nanda mesclou sofrimento e indignação, expondo a competência das atrizes. E o momento da reconciliação das duas também arrancou lágrimas do telespectador, assim como o as duras discussões com Agenor. Mas, sem dúvida, a sequência mais dilacerante protagonizada por Kelzy foi a expulsão de Rosa de casa. Claramente inspirada na clássica cena de "Tieta", a situação constrangedora vivida pela ex-prostituta serviu para exalar todo o desespero daquela mãe "perdendo" outra filha para a intolerância do esposo. Que show de atuação.

Aliás, o enredo de Nice é bem parecido com o de Catarina (Lilia Cabral) em "A Favorita", do mesmo autor. A diferença é que a personagem anterior era agredida fisicamente por Leonardo (Jackson Antunes) e Agenor a fere emocionalmente. E, assim como Lilia, a atriz cresceu na novela e virou um dos pontos altos do folhetim. Não é exagero afirmar que sua trajetória se mostra bem mais interessante que vários desdobramentos do núcleo principal, por exemplo. O mesmo, inclusive, vale para o drama da empregada da família Athayde.

É impossível não sentir empatia por Zefa e Nice. As personagens são bastante semelhantes, incluindo a submissão como principal característica. Claudia Di Moura e Kelzy Ecard são gratas revelações de "Segundo Sol" e estão brilhando merecidamente na atual novela das nove. Resta torcer para que seja o primeiro de muitos outros trabalhos da dupla na televisão. O grande público não pode ficar mais longe delas.

24 comentários:

  1. Realmente, com a passividade das personagens elas se destacaram demais e agora com, pelo que parece, a retomada da auto estima estão ainda melhores. Belo texto.

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  2. Olá, tudo bem? O núcleo do Roberval, na realidade, sustenta a novela. E a Zefa é uma das personagens mais interessantes. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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  3. Elas são muito talentosas mas essa novela tá cada vez pior.

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  4. Sérgio, vim agradecer os carinho e me atualizar aqui! Deixo abração, ótimo fds de urnas...Sorte pro Brasil!!!Tá feia a coisa em termos de escolhas! abraços, chica

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  5. Oi Sérgio


    Adorei estar aqui...
    Espero sua visita em meu blog também e se gostar siga, já estou seguindo o seu.


    Beijos
    Ani

    https://cristalssp.blogspot.com.br

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  6. Pois é... Claudia Di Moura e Kelzy Ecard, por meio de suas respectivas personagens, Zefa e Nice, são um alento em meio a tantos equívocos cometidos por João Emanuel Carneiro nessa novela que morreu na praia (ou era natimorta?).

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  7. Uma análise a sério.
    Esteve cá, em Portugal, a Juliana Pais. Que bela mulher!
    Bom domingo, Sérgio.

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  8. Gratas revelações de uma novela péssima.

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  9. Concordo com você, que interpretações ótimas em um enredo fraco.
    big beijos
    www.luluonthesky.com

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  10. As melhores atrizes, as mais atuantes e que passam uma emoção legítima e verdadeira!
    Texto incrível como sempre amigo,
    Abraços!

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  11. As atrizes são ótimas mesmo, gratas revelações e as personagens são bem escritas e com conflitos interessantes, mas essa novela tá ruim demais, já deu o que tinha que dar e já considero a pior novela do João Emanuel Carneiro.

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  12. Que legal, Elisabete. Ela é uma querida.

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