quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Eternizada como Odete Roitman, Beatriz Segall era uma atriz fantástica

Morreu nesta quarta-feira (05/06), aos 92 anos, Beatriz de Toledo Segall, uma das maiores atrizes do país. Intérprete da icônica Odete Roitman, vilã que entrou para a história da teledramaturgia, a profissional admirada por todos os colegas faleceu no hospital Albert Einsten, em São Paulo, onde estava internada por problemas respiratórios. Os últimos anos não foram fáceis, pois a atriz sofreu duas quedas: em 2013, tropeçou em pedras portuguesas e sofreu graves escoriações no Rio de Janeiro, e em 2015 se machucou com gravidade ao cair no palco durante a apresentação da peça "Nine - Um Musical Feliniano".


Foram mais de 70 anos dedicados aos palcos e à TV. Em 1950, estreou profissionalmente na peça "Manequim" e posteriormente integrou a companhia "Os Artistas Unidos". Em Paris, prosseguiu os seus estudos e conheceu Maurício Segall, filho do pintor judeu lituano Lasar Segall, com quem se casou em 1954 e teve três filhos, adotando o sobrenome que a marcou como atriz. Na época, por sinal, abandonou a carreira para cuidar da família e só retomou em 1964, na peça "Andorra".

Seu currículo teatral, inclusive, era vasto: "Marta Saré" (1968), "Hamlet" (1969), "A Longa Noite de Cristal" (1970), "Casamento de Fígaro" (1972), "Maflor (1977), "A Guerra Santa" (1993) "Três Mulheres Altas" (1995), "Estórias Roubadas" (2000), "Quarta-feira sem falta lá em casa" (2003) e "Conversando com a Mamãe" (2011) foram alguns espetáculos que contaram com seu talento.
Já no cinema, esteve em dez filmes: "A Beleza do Diabo" (1951), "Cléo e Daniel" (1970), "À Flor da Pele" (1976), "O Cortiço" (1978), "Diários da Província" (1978), "Os Amantes da Chuva" (1979), "Pixote, a lei do mais fraco" (1981), "Romance" (1988), "Desmundo" (2003) e "Família Vende Tudo" (2011).

Entre 1956 e 1970, Beatriz esteve em poucas produções televisivas. "Pollyana", na TV Tupi, em 1956, "Angústia de Amar", em 1966, "Ana", em 1968, e "A Gordinha",  em 1970, foram as novelas que contaram com a presença da intérprete. Já em 1978, a atriz voltou para a televisão definitivamente e viveu Celina, mãe de Cacá (Antônio Fagundes), em "Dancing`Days", de Gilberto Braga. Sua estreia na Globo. No ano seguinte, em 1979, foi Norah, mãe de Carina, protagonista vivida por Elizabeth Savalla em "Pai Herói". Sua primeira vilã foi a canalha Lourdes Soares Mesquita, em "Água Viva", exibida em 1980. A personagem fez sucesso e teve destaque na trama. A intérprete foi para a Band entre 1981 e 1982, onde atuou nas novelas "Os Adolescentes e "Ninho  da Serpente". Voltou para a Globo em "Sol de Verão" (1982) e interpretou Laura, mãe de Rachel (Irene Ravache), na história de Manoel Carlos.

"Louco Amor" (1983), "Champagne" (1983) e "Carmem" (1987) foram outros folhetins que contaram com a luxuosa presença de Beatriz. Já em 1988, a carreira da atriz foi dividida entre "antes e depois". Isso porque foi o ano de "Vale Tudo", uma das mais aclamadas novelas da teledramaturgia ---- reprisada pela segunda vez atualmente no Canal Viva. Na trama escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Braseres, Beatriz Segall ganhou de presente Odete Roitman. A madame arrogante, corrupta e preconceituosa marcou a vida da intérprete e ficou para sempre na memória dos brasileiros. Suas frases recheadas de desprezo sobre o Brasil foram emblemáticas e a morte da personagem também entrou para a história. "Quem matou Odete Roitman?" foi a pergunta que dominou o Brasil na reta final da produção e a própria cena impactou pela ousadia ---- afinal, a vilã foi morta por engano. Embora tenha reconhecido o peso do papel, a atriz ficou incomodada com as constantes perguntas sobre a perua anos e anos após o término da novela. Tanto que nunca mais quis fazer vilãs para fugir do estigma.

Em 1990, viveu a simpática cientista Miss Penélope Brown em Barriga de Aluguel"; defendeu com competência a Stella Mendes Peixoto em "De Corpo e Alma" (1992); interpretou Paula Candeias de Sá em "Sonho Meu" (1993) e se destacou com a coadjuvante Clotilde Brandão, a Clô do remake de "Anjo Mau" (1995). Em 2001, fez uma pequena participação em "O Clone", de Glória Perez, revivendo Penélope e repetindo a parceria ao lado do grande Mário Lago. Esteve na novela "Bicho do Mato", na Record, em 2006, e participou da minissérie "Lara com Z", de volta à Globo, em 2011. Sua presença foi ficando cada vez mais rara. Seu último folhetim foi a elogiada "Lado a Lado", em 2013, onde viveu a elegante Madame Besançon. Uma pequena participação. E o último trabalho da atriz na tevê foi a espevitada Yolanda, em um dos episódios da aclamada série "Os Experientes", em 2015. A vovó aparentemente forte e até engraçada se mostrou bastante frágil no final da história e a atriz conseguiu ir do da comédia ao drama em menos de 40 minutos de enredo. Pareceu mesmo uma despedida.

Beatriz Segall era uma mulher linda, classuda e refinada. Talvez por isso tenha interpretado tantas senhoras elegantes na ficção, mesmo desejando dar vida a outros tipos de papel. Como já mencionado, ela chegou a viver mulheres pobres. Mas foram bem poucas. Ao menos em seu último trabalho na televisão, o seu desejo pôde ser realizado pela última vez. Yolanda não tinha nada das suas personagens mais marcantes. A atriz faleceu por volta do meio dia de hoje e o mundo das artes cênicas está mais cinza. Uma perda irreparável. Que siga em paz!


11 comentários:

  1. Mais uma grande artista que o mundo perde! Pena! Mas viveu bem e deixou muito pra mostrar e ser lembrada! abraços, chica

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  2. Triste demais por essa perda e uma pena que não era valorizada nos últimos anos.

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  3. QUE ATRIZ. ÓTIMA HOMENAGEM!

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  4. A última vez que assisti ela, foi na reprise de Bicho Do Mato. Gostei bastante. Ela interpretou uma avó zelosa e protetora.

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  5. Excelente atriz, além de não ficar fazendo média para Diretor, Autor, e etc, deveria ser invejada pelas "damas da TV". O motivo pode ser vista nessa entrevista exclusiva ao Notícias da TV em 2014:

    Responsável pela maior vilã da TV brasileira, a icônica Odete Roitman de Vale Tudo (1988), Beatriz Segall morreu com a convicção de que a Globo não lhe deu o valor que ela merecia. "A Globo nunca me deu importância", opinou Beatriz Segall morreu com a convicção de que a Globo não lhe deu o valor que ela merecia. "A Globo nunca me deu importância", opinou Beatriz em entrevista. "Nunca fui contratada [pela Globo]. Sempre trabalhei por obra. Por quê? Eles nunca me ofereceram e eu não procurei."
    Na época, sem trabalho na TV, ela começou a dar aulas particulares de interpretação. Não porque passava por necessidades financeiras, mas para exercer seu amor pela arte. "Dou aula porque eu gosto, eu adoro fazer isso. É um trabalho delicioso", disse.
    O lado professora veio à tona porque ela se irritou vendo atores da nova geração que não gostam de estudar atuação. "É uma coisa que acontece pouco hoje. Até os anos 1960, 1970, os atores estudavam muito. Hoje, eu acho que estudam menos. Basta ser bonitinha e aparecer 15 minutos na televisão", criticou ela à reportagem.
    Sem papas na língua, a atriz não escondeu sua preferência pelos veteranos. "A prova disso é que os elenco de antigamente eram melhores. Hoje seria difícil fazer Água Viva [1980] e Vale Tudo, por exemplo", desabafou ela, que definiu todo o elenco de Vale Tudo como excelente, dos protagonistas até os coadjuvantes.
    Ao priorizar rostinhos bonitos, a televisão é ingrata com os bons e velhos atores. "Ficam esquecidos", lamenta. A resposta? Beatriz Segall deixou de ver novelas em seus últimos anos de vida. "Vejo só o noticiário em geral. As novelas do meu tempo eram muito boas. As de agora são mais fraquinhas", falou. "Ai, agora é que não me chamam mesmo [para trabalhar em novela], depois de eu dizer isso", disse ela, aos risos. A brincadeira se mostrou uma previsão. Da entrevista para o Notícias da TV até sua morte, Beatriz fez apenas mais um único trabalho na Globo: o episódio de estreia de Os Experientes (2015), no qual viveu uma senhora que se via em um assalto a banco.

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