segunda-feira, 11 de maio de 2015

Cenas bem produzidas, trama sombria e proposta ousada marcam a estreia de "Amorteamo"

"Uma história de amor e morte em que a noiva abandonada se entrega à sorte de um coração quebrado. A mãe que vê seu bastardo com um homem amargurado vivendo na escuridão. E os mortos voltam à vida com sede de vingança e explicação." Substituindo a impecável "Os Experientes" na grade da Globo e tendo estes enfoques como base, estreou nesta sexta (08/05) uma nova série que mescla terror e paixão. "Amorteamo" ---- cujo título provoca uma inspirada junção de amor e morte, deixando a cargo de quem lê a sua preferência ---- é uma criação de Cláudio Paiva, Guel Arraes e Newton Moreno, com direção de Flávia Lacerda.


A produção é uma grande ousadia da emissora, uma vez que envereda por um caminho até então pouco explorado em tramas nacionais. A história ----- ambientada em Recife, no início do século XX ----- é focada em dois triângulos amorosos bastante macabros: o primeiro entre Aragão (Jackson Antunes), Arlinda (Letícia Sabatella) e Chico (Daniel de Oliveira), e o segundo entre Gabriel (Johnny Massaro), Malvina (Marina Ruy Barbosa) e Lena (Arianne Botelho). A paixão, a traição, a morte e a tragédia estão presentes em todas estas relações conflituadas e completamente intrincadas. 

Gabriel é fruto da traição de Arlinda com Chico, que foi assassinado por Aragão assim que infidelidade da esposa foi descoberta pelo violento marido. O rapaz, cujo lado fúnebre se evidencia, foi criado pelo padrasto, mas nunca entendeu o ódio que o 'pai' sente por ele, pois desconhece toda a tragédia familiar.
E, por ironia do destino, Gabriel protagoniza um triângulo que se tornará tão trágico quanto o que sua mãe viveu: apaixonado por Lena, sua irmã de leite (filha da empregada Zefa - Ghueza Sena), ele é obrigado a se casar com a sombria Malvina, uma menina que tem a escuridão como companhia.

Com uma linguagem nada naturalista e tampouco realista, o enredo funciona como uma espécie de releitura do expressionismo. Há um tom lúdico presente e a mistura de dramalhões clássicos com pequenos toques de poesia funciona a contento no meio do clima sombrio. A série começou com um clima solar e alegre, exibindo o romance proibido de Arlinda e Chico. Porém, o rapaz é assassinado por Aragão (o marido traído), enquanto transava com ela (momento em que Gabriel, inclusive, é concebido), e não demora para um universo sombrio dominar o enredo, deixando todo o conjunto mais tenebroso e arrepiante.

E o ódio do poderoso esposo de Arlinda aumenta quando o mesmo descobre que ela está grávida do amante que ele matou. Mas, o homem aceita a proposta da mulher para criar a criança como se fosse seu filho. O tempo passa ---- retratado através de uma sensível cena da queda de folhas de uma imensa árvore --- e o herdeiro do casal cresce vivendo uma linda amizade com Lena, a filha da empregada com Aragão. Os momentos protagonizados por Johnny Massaro e Arianne Botelho foram poéticos e sensíveis, com direito também a uma dose de sensualidade. Gabriel ainda salva a amada de um afogamento depois que ela cai em um rio.

Porém, quando os dois pretendem iniciar um romance, Aragão logo trata de impedir a relação mantendo a mentira de que eles são irmãos. E é justamente esta sofrida situação (cuja 'revelação' do laço sanguíneo fechou o primeiro capítulo) que provocará um novo triângulo amoroso trágico. Como crê que jamais poderá ficar com o amor da sua vida, Gabriel se envolve com a sombria Malvina (Marina Ruy Barbosa) e marca até casamento com ela. Porém, no dia do casório, Arlinda conta para o filho que o pai mentiu sobre o parentesco do rapaz com Lena e, desesperado, larga a noiva no altar em busca de sua paixão. Mas, a ex-futura esposa de Gabriel não deixa barato e comete suicídio se jogando de um ponte. Ele, então, arrependido, resolve levar o corpo de Malvina para casa, e a cidade inteira sofre um revés a partir desta atitude: ela revive (em uma situação claramente inspirada no filme "A Noiva-Cadáver") e todos os mortos saem de suas tumbas buscando vingança.

Além destes dois triângulos bem construídos, há também outros personagens muito interessantes e repletos de tintas fortes: a fofoqueira Cândida (Guta Stresser em seu primeiro papel após quase 14 anos vivendo a Bebel em "A Grande Família"); Dora (dona do bordel da cidade, interpretada por Maria Luisa Mendonça, cuja caracterização lembra muito a Rainha Louca, de "Alice no País das Maravilhas"); Zé (solitário homem que fica no cemitério conversando com os mortos, vivido pelo ótimo Tonico Pereira); Padre Lauro (Gillray Coutinho), que se mata enforcado pela corda do sino da igreja logo no primeiro capítulo; Jeremias (Bruno Garcia), Manuel (Aramis Trindade), entre outros.

A série (de apenas cinco episódios) teve um início promissor e tem uma produção muito caprichada. São poucos personagens, o que ajuda na rápida compreensão da história como um todo, e a trilha sonora ---- supervisionada pelo dramaturgo recifense João Falcão (em parceria com Juliano Holanda), que misturou músicas inéditas com novas versões de antigas ---- consegue embalar com perfeição cada relação partida. Aliás, ficou atrativo o contraste de canções contemporâneas (algumas atemporais) de Recife com o enredo de época. Os figurinos são impecáveis, assim com as caracterizações e cenários. Já o elenco conseguiu incorporar rapidamente a linguagem diferenciada do seriado, protagonizando bons momentos. Com destaque para Letícia Sabatella (que também canta), Jackson Antunes, Arianne Botelho e Johnny Massaro.

"Amorteamo" apresentou um riquíssimo primeiro episódio e a série de Cláudio Paiva, Guel Arraes e Newton Moreno tem tudo para repetir as qualidades vistas na estreia nos demais capítulos. Um produto ousado e repleto de elementos atrativos dramaturgicamente, onde a paixão e a morte andam lado a lado. A impecável "Os Experientes", ao que tudo indica, foi muito bem substituída. 

33 comentários:

  1. O curioso é que Cláudio Paiva fez essa série luxuosa mas também fez aquele horror do Chapa Quente...

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  2. Gostei da estreia e como vc disse no Twitter parece uma mistura de Meu Pedacinho de Chão macabro com novela de época. Promete.

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  3. Achei o primeiro capítulo ótimo e me surpreendi ao saber através do seu bem escrito texto que essa não é uma obra do Luiz Fernando Carvalho.Jamais diria que é do Cláudio Paiva em parceria com Guel Arraes e Newton. Surpreendente. Só acho que essa Marina Ruy Barbosa precisa descansar a imagem porque já está enjoando vê-la toda hora na tevê.O que não falta é menina talentosa na idade dela. Abraço.

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  5. Assisti agora na Internet e achei excelente. Me lembrou as obras do Tim Burton. Jurava que era do Luiz Fernando Carvalho. Achei a história interessante e o elenco muito bom. Como o Jhonny Massaro evoluiu! Letícia Sabatella e Jackson Antunes estão ótimos também, assim como a Arianne Botelho. A caracterização me lembra a de filmes estrangeiros e me lembrou uma Meu Pedacinho de Chão sombria. Também gostei da Maria Luisa Mendonça e da Guta Stresser fazendo tipos diferentes. Apesar de ser uma trama que apresenta os dramalhões clássicos, é tudo contado de forma lúdica e sombria. Nunca fui muito fã de obras onde os personagens cantam, mas dessa vez gostei muito. Não vou perder um episódio, até por que só são cinco.
    Abraços

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  6. Achei essa série linda e muito criativa ao mesmo tempo que clássica, voltada para o tradicional triângulo amoroso. Adorei os efeitos e as cenas que Letícia Sabatella cantou.Fiquei ansiosa pelo segundo capítulo depois que o primeiro acabou com a revelação que Gabriel era irmão de Lena mesmo sem ser. Sua crítica ficou ótima, Sérgio.

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  7. Série de qualidade mas com uma história que para mim soou enjoativa. O elenco é ótimo e a trilha boa.

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  8. O que gostei da série foi as histórias de amor porque a parte dos fantasmas voltando das tumbas eu já acho que acharei bizarro demais.

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  9. Mas uma ótima série para essa faixa. Muito bom ver a emissora ousando colocando um produto nacional bem diferente no ar e ao que tudo indica tem td para dar certo.
    Achei a estética da série mt legal,o jeito meio musical da serie tbm achei q caiu bem, todos os personagens são bem interessantes.
    Bom de resto acho q vc ja falou td acho q vai ser bem divertido de assistir.

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  10. DE QUALIDADE REALMENTE! O MELHOR É O JOHNNY MASSARO COM A ARIANNE BOTELHO. CASAL LINDO.

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  11. Só comentei agora porque só agora pude ver, Sérgio. A série é ótima e nem tinha visto as chamadas por isso me surpreendi mais que o normal. Parece uma peça de teatro mas com linguagem televisiva, embora haja um pouco de exagero nas interpretações. Eu nem vi o tempo passar e isso é um bom sinal. Vou continuar acompanhando!

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  12. Oi! Vim aqui pra dizer que amo seu Twitter e te sigo desde 2010.Sempre li seu blog mas nunca comentei só que agora passarei a comentar.Adorei essa série e estou ansiosa pelos 4 episódios que estão por vir. E o bom que que assim como Alto Astral podem morrer que todos continuam na trama. rsrsrsrsrs

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  13. Essa série estreou muito bem. Deu pra ver o capricho da produção e a ousadia da proposta.Gostei bastante e concordo com o que você disse no Twitter sobre a força que deverá ter para ganhar um Emmy.Vou acompanhar os outros capítulos com certeza.

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  14. Sergio, as chamadas despertaram minha atenção, mas me esqueci de ver (kkk). Gostei muito de sua explanação e vou tentar acompanhá-la. Bjs.

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  15. Vi as chamadas e até pensei em assistir, mas desisti. Parece bem interessante, segundo sua excelente explanação. Se der, vou tentar ver os demais episódios.

    Abraço.

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  16. Achei a estreia bem caprichada e gostei mt do que vi. A globo parace estar apostando msm nas series de curta duração e tem dado certo. O nome do cap de estreia foi a Letícia Sabatella mas os outros não ficaram atrás não. É um produto ousado e mt bem feito. Já estou curioso pra ver os prox episódios.

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  17. Sim, Sabrina, mas vale lembrar que ele produz em parceira com outros dois autores.

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  18. Lembra mesmo os filmes do Tim, Ed. E essa produção é a cara do Luiz Fernando Carvalho. Incrível que não seja. E concordo com tudo o que vc bem colocou, tb não perderei um capítulo.

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  19. Tem um lado mais bizarro mesmo, Sol, mas faz parte da proposta. bjs

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  20. Tb gosto do casal e dos atores, anonimo.

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  21. Sem problemas, Andressa. E eu tb vou continuar acompanhando.

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  22. Renatinha, até que enfim vc deu o ar da graça no blog. Já estava na hora. rs bjsssss

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  23. Deu pra ver mesmo, Ulisses. E eu acho que é série pra Emmy mesmo.

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  24. Provoca curiosidade mesmo, Kauê. E Os Experientes foi mt bem substituída. abçs

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  25. A série é muito boa e diferente.

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