A segunda fase de "Renascer" é marcada pelo marasmo, onde os conflitos se arrastam ao longo dos meses sem qualquer acontecimento relevante. O telespectador pode se dar ao luxo de não assistir por umas cinco semanas que não perde nada de importante. O remake mantém tudo o que foi constatado em 1993. As pequenas mudanças de Bruno Luperi em nada alteram o ritmo da narrativa e um dos maiores equívocos da versão original foi a trama de Mariana, antes vivida por Adriana Esteves e hoje por Theresa Fonseca.
Ou melhor, o maior problema está na falta de trama de Mariana. A personagem surge logo no início da segunda fase e pouco se sabe sobre ela. Mas não demora até Jacutinga (Juliana Paes) revelar que a menina é neta de Belarmino (Antônio Calloni). João Pedro (Juan Paiva) se apaixona imediatamente e a leva para sua casa no dia seguinte. Mas a garota se encanta por Zé Inocêncio (Marcos Palmeira) assim que o conhece e é correspondida. Tudo acontece em menos de uma semana. E, pouco tempo depois, os dois já se casam.
A construção de todo o imbróglio amoroso acontece da forma mais rasa possível, o que impede qualquer envolvimento do telespectador com aquela história. Até porque Mariana diz que veio para se vingar, já que seu avô foi misteriosamente assassinado e sua avó precisou vender todas as terras para Inocêncio a um preço ridículo.
A personagem sabe que o coronel tem a ver com a desgraça de sua família e realmente foi ele o assassino --- o mistério só é exposto perto da reta final. No entanto, a revelação é feita para o próprio Zé pouco antes de se casarem. Ou seja, o plot é desfeito de uma maneira zero catártica. A neta do falecido ainda garante que mudou de ideia porque se apaixonou. E o pior é que é verdade, mesmo se insinuando para João sempre que tem alguma chance. É a típica sonsa que quer os dois aos seus pés.A trajetória da personagem perde qualquer relevância algumas semanas depois que se casa com o protagonista. Tanto que vira quase uma figuração na fazenda, a ponto de não fazer diferença na narrativa dos demais personagens. A perda de destaque se deu em 1993 por conta da forte rejeição que a personagem teve, tanto de público quanto de crítica. O que foi algo bem injusto. Adriana Esteves esteve muito bem na novela, principalmente levando em conta o início de sua carreira. Era uma quase novata e fez o que o papel pediu. Benedito Ruy Barbosa raramente soube criar perfis femininos fortes em suas obras, que sempre foram voltadas para as figuras do patriarcado. As mulheres, em sua imensa maioria, só têm a função de coadjuvante dos homens ou meras bajuladoras. Nem mesmo nas vilãs o autor acerta, vide o papel ingrato de Gloria Pires em "O Rei do Gado". Claro que há exceções, mas a maioria dos acertos veio de perfis que tiveram vida curta em suas histórias, como Maria Santa (Patrícia França/Duda Santos) e Jacutinga (Fernanda Montenegro/Juliana Paes) em "Renascer", e Maria Marruá (Cássia Kiss/Juliana Paes) em "Pantanal". Mulheres que morreram ou sumiram.
A chance que Bruno Luperi tinha era dar uma história para Mariana. Theresa Fonseca me contou em uma entrevista que o público teria empatia com a personagem se tivesse visto tudo o que aconteceu com ela depois da morte de Belarmino e tem toda razão. O neto do autor perdeu a oportunidade de mostrar o que foi ignorado na versão original e ainda criar uma saga real de vingança. Até porque o remake vem tendo baixa repercussão e uma audiência que só cai, o que prova o pouco de interesse em virtude da falta de movimentação do enredo. E justamente por conta da falta de envolvimento do público que a nova Mariana nem rejeição sofreu. Portanto, era uma oportunidade de até transformá-la em alguém querida ou com torcida por alguma revanche.
A atriz está bem no papel, que é ingrato para qualquer intérprete. Não há um fio condutor para se apoiar ou algum drama mais sólido. É apenas uma mulher que fica circulando pela fazenda do núcleo central e sentindo ciúmes da finada Maria Santa (Duda Santos). Tanto que o raro 'conflito' de Mariana foi uma mudança para a fazenda de Morena (Ana Cecília Costa) e Deocleciano (Jackson Antunes), onde João Pedro está vivendo, após uma séria discussão com seu marido. Mas a personagem não ficou lá nem uma semana. O objetivo era aumentar a crise no casamento do rapaz com Sandra (Giullia Buscacio), o que surtiu efeito. A ex de Inocêncio depois foi morar na casa de Egídio (Vladimir Brichta) e tem dado a entender que pretende retomar sua vingança, mas é apenas um blefe. Nada acontece na obra original, então a dinâmica será mantida. E agora a personagem foi parar na venda de Norberto (Matheus Nachtergaele). A neta de Belarmino vai sendo empurrada de um lugar para o outro porque o autor não sabe o que fazer com ela e acaba refletindo o que a menina representa para a história: uma pessoa sem função e espaço no roteiro.
O remake de "Renascer" desperdiça inúmeras possibilidades de mudanças positivas. Embora até pareça em alguns momentos que Luperi tem provocado várias alterações no roteiro, nenhuma delas afeta o ritmo ou mexe na falta de conflitos relevantes, o que impede qualquer melhoria na história. A versão original teve muitos problemas e um dos principais foi a saga de Mariana, o que é uma pena para a talentosa Theresa Fonseca.
Gracias por la recomendación.
ResponderExcluirBjs, JP.
ExcluirSó descordo quando vc fala que Benedito nunca soube criar bons perfis femininos. E Maria Marruá? Juma, Maria Santa, Jacutinga, Luana... E quanto a Mariana, a própria personagem tinha um perfil interessantíssimo. O problema, como vc destacou, foi a condução desastrosa na narrativa da novela
ResponderExcluirEu acho que o Sérgio quis destacar a submissão das figuras femininas nas histórias dele. Mesmo quando são mulheres carismáticas e com um bom destaque, ainda assim são subservientes e conformadas com a condição. As vezes até vilanizadas. Jacutinga fugia desse estereótipo, mas o autor só a quis na primeira fase.
ExcluirO anonimo entendeu perfeitamente o que quis dizer. Falo de personagens femininas fortes e nao subjulgadas ou bajuladoras, ainda que carismáticas e bem interpretadas.
ExcluirBenedito é um autor muito machista mesmo. E todos os personagens em volta são ignorantes e reacionários. Eu achava insuportável os personagens de Pantanal duvidarem da masculinidade do Jove por ele ser um sujeito educado, sensível e que evitava brigas. A figura do homem é retratada da forma mais ultrapassada e retrógrada possível. São as vontades do homem que contam e devem ser respeitadas. E eles podem tudo, já as mulheres tem que baixar a cabeça. Tenório tinha duas mulheres, mas só Maria Bruaca era julgada pelos outros personagens, quando essa teve um caso. Renascer também tem os Inocencios como machistas e datados. São histórias antiquadas e que reforçam os males que a sociedade ainda luta para desconstruir. Naturalizar o machismo chega a ser um desserviço.
ResponderExcluirÉ visível!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirFantastic! Once again, congratulations for this beautiful work!
ResponderExcluirKisses
https://rb.gy/ihx885
https://rb.gy/do7oq9
Veja que até nisso a pessoa depende da sorte, a atriz é boa, porém a trama não a favorece. Que pena!
ResponderExcluirBeijão
Bem isso, Marly.
ExcluirEu concordo que a novela tem problemas de ritmo e com o desenvolvimento da Mariana, não porque o Benedito é um autor de novelas masculinas, aliás é uma qualidade dele já que muitos autores são ruins em criar protagonistas masculinos, como a Glória Perez. O problema da Mariana é a personagem não funciona, defeituosa. Além disso, o maior erro foi a própria Globo escolher uma novela problemática baseada no sucesso de "Pantanal".
ResponderExcluirFoi um tiro no pé, anonimo.
ExcluirEu não vejo e novela mas gosto de tuas análises.
ResponderExcluirBom fim de semana! 😍😘
Fico feliz, Ane.
ExcluirÉ uma pena que a personagem não tenha um destino fixo e uma boa história porque a atriz Teresa está fazendo o possível para dar vida a Mariana, mas sem nenhum sucesso...
ResponderExcluirMuito boa a sua análise amigo!!
Aproveito para desejar um lindo final de semana!
Beijão, Dri.
ExcluirLamentável um autor nem modificar a história no remake e simplesmente copiar quase tudo o que o avô escreveu. Fácil escrever novela assim. Renascer foi uma das novelas que menos gostei e nem vejo esse remake.
ResponderExcluirbeijos,
www.luluonthesky.com
Muito fácil, né Lulu...
ExcluirOlá, tudo bem? mariana foi a personagem mais mal escrita na obra original de Renascer. E isso se repete no remake. A atriz Theresa Fonseca pegou essa bomba. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirUma bomba, Fábio.
ExcluirO tempo chegou para perdoar a Adriana Esteves, é ela ainda estava a meia boca na época e ainda tendría que comer muito arroz com feijão para ser a atriz que conhecemos, mas de ahí a qué Benedito acha tirado as culpas nas costas dela e demais, ela já se había destacado em Pedra sobre Pedra com um personagem bem melhor e jogava profesionalismo, Marina Batista com tudo segue sendo um top 10 da atriz. E pensar que chegou a enfermar da mente por culpa de aquele velho machista e retrógrado.
ResponderExcluirAdriana nunca teve culpa mesmo.
ExcluirRealmente, na versão original de "Renascer" a audiência implicou com a personagem então defendida pela Adriana Esteves muito por "mérito" do roteiro do que a interpretação da atriz, pois revendo no Globoplay é perceptível que Adriana entregou aquilo que a personagem exigia, comparando com sua atuação em "Pedra sobre Pedra" é visível o quanto ela esteve bem em cena. O universo das novelas do Benedito de fato são voltados ao patriarcado e são apenas exceções personagens femininas de impacto, conforme você assinalou. Uma boa personagem feminina que o autor escreveu foi a protagonista de "Vida Nova" a Lalá, de Yoná Magalhães, e na mesma novela tinha também a Gema numa ótima criação de Nívea Maria. Pena que a novela não fez o sucesso que provavelmente foi esperado, e até agora nunca foi reprisada.
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