quinta-feira, 11 de julho de 2024

Família Leonel enriqueceu, mas nada mudou em "No Rancho Fundo"

 A grande virada da atual novela das seis, escrita por Mário Teixeira e dirigida por Allan Fitermann, foi a descoberta da turmalina paraíba, o que provocou o enriquecimento da família protagonista que vivia em condições de pura miséria. Porém, "No Rancho Fundo" não apresentou qualquer alteração na história e o pior: parece até que o enredo acabou. 


Mário Teixeira sempre teve um grave problema no desenvolvimento de suas novelas. Seu texto é primoroso e dá gosto de ouvir os personagens proferindo tudo o que o autor escreve. Há uma riqueza nas palavras, o que tem sido ainda mais perceptível na atual produção. Mas é impressionante como todo folhetim seu perde a 'musculatura' após cerca de um mês de exibição. Foi assim em "O Tempo Não Para", "Mar do Sertão" e agora em "No Rancho Fundo". 

É verdade que na atual novela das seis houve uma preocupação do escritor em não correr muito com a história, que não acabou em duas semanas, como ocorreu com "Mar do Sertão". No entanto, a passagem de tempo provocou um banho de água fria no público que esperava ansiosamente para ver Zefa Leonel (Andrea Beltrão) finalmente vendendo a turmalina paraíba, após uma saga em busca de um comprador honesto que valorizasse a riqueza da pedra.

Nada foi exibido e a família já surgiu se mudando para o Grande Hotel São Petersburgo e mostrando um maço de dinheiro. Para quem a pedra foi vendida? Como eles abriram uma conta no banco? Eles abriram uma conta ou preferiram tudo em dinheiro vivo já que sempre foram desconfiados? Ninguém sabe até hoje. 

Para piorar, a mudança para o hotel foi a única alteração do enredo desde que a família Leonel enriqueceu. Toda a estrutura da novela seguiu igual. Ou seja, o acontecimento tão aguardado não provocou qualquer reviravolta. Nem mesmo em torno da nova vida dos personagens. Não houve alteração alguma na forma deles se vestirem. Todos seguem usando roupas simplórias. Apenas Margaridinha (Heloísa Honein) e Benvinda (Dandara Queiroz) compraram roupas novas, mas foram feitas de bestas pela vendedora e só depois conseguiram usar o que queriam. Mas não durou nem dois dias. Claro que seria até ridículo a família usando roupas de patricinhas, playboys ou peruas arrogantes da elite, pois nunca foi da personalidade ou do estilo de cada um. Mas uma mudança mínima condizente com a nova vida era necessária. 

A desculpa para a família morar no Grande Hotel era aguardar a reforma realizada no casebre em que todos moravam no Rancho Fundo. E o mínimo que se esperava era que uma linda transformação fosse feita naquele lugar. Que aquela família imensa ganhasse finalmente uma mansão para morar, onde todos ficassem com conforto que tanto merecem. Mas quase nada mudou. Nesta semana, Zefa Leonel resolveu voltar para casa com os filhos depois do flagra que deu em Tico (Alexandre Nero) com Deodora (Debora Bloch). E a cena do retorno da família apresentou um toque de poesia, graças ao trabalho do diretor Allan Fitermann, que seria lindo caso uma mudança real tivesse sido feita no lugar. Só que tudo seguiu praticamente a mesma coisa e eles voltaram de carroça. Como pode não terem comprado um carro sequer? Como não ampliaram e embelezaram aquele lugar que representou tanto sofrimento, fome e miséria na vida de todos? A única alteração foi a compra de eletrodomésticos e paredes pintadas, além da instalação de luz elétrica. Ou seja, o mínimo que todo cidadão deveria ter. Se a família tivesse ganhado cinquenta mil reais na loteria, seria algo plausível. Mas foram bilhões. O que era para ter sido emocionante acabou virando uma 'romantização' da pobreza. Tudo bem não esquecer suas origens, tudo bem os personagens terem lembranças boas apesar de tudo o que enfrentaram, mas a mensagem passada pelo autor foi digno de livro barato de autoajuda. Só faltou a frase "Dinheiro não traz felicidade". Apenas Margaridinha demonstrou descontentamento com aquilo. Se era para manter todos os personagens exatamente iguais, inclusive na forma como vivem, para que houve o enriquecimento com a turmalina? O 'plot' tão batido em folhetins não provocou nada relevante na produção das seis. É até difícil entender o que se passa na cabeça de Mário Teixeira ou o que planeja para os próximos meses. Porque os atuais acontecimentos vêm se mostrando decepcionantes. 

Entre os poucos conflitos atuais do enredo, nenhum empolga. Houve até um 'emburrecimento' de Zefa, a melhor personagem da trama. Isso porque Seu Tico Leonel começou a ser assediado por Deodora, grande rival de Zefa e que planeja ficar rica com a fortuna da família Leonel. A vilã armou várias situações e em todas Zefa caiu, o que não faz sentido diante da sagacidade daquela matriarca que percebeu na hora a falta de caráter de Blandina (Luisa Arraes) e Marcelo Gouveia (José Loreto). O que também se mostra forçado demais é a estupidez extrema de Tico, que segue dando trela para Deodora mesmo depois que soube que a mulher roubou e tentou matar sua esposa no passado. 

Outra situação que é impossível comprar é o envolvimento de Zefa e Ariosto (Du Moscovis). O sujeito sovina é um tipo complexo bem interessante e vem sendo defendido com talento pelo ator. Mas o personagem tentou comprar a turmalina por mil reais. Zefa sempre soube de seu olho grande para cima de sua fortuna e resolve acreditar no amor dele? A ponto até de propor uma parceria na exploração das minas em suas terras? Como assim? E por qual razão Dona Manuela (Valdineia Soriano) morreu? O falecimento da ex de Ariosto resultou em cenas delicadas, mas o fato não causou mudança na narrativa. Fica claro que são situações bobas criadas pelo autor para aparentar alguma movimentação no roteiro, que tem se mostrado estagnado. E o que dizer da vilania de Blandina e Marcelo Gouveia? Vão passar a novela toda armando para separar Quinota (Larissa Bocchino) de Artur (Túlio Starling)? O casal sem caráter é repetitivo e Blandina tem sua ambiguidade aflorada quando está com Dracena (Nina Tomsic), personagem atrativa e que aparece bem menos do que merece. 

"No Rancho Fundo" segue com qualidades, onde a principal é o já mencionado texto de Mário Teixeira, além da boa direção de Allan Fitermann e do talento do elenco escalado. Mas sem uma boa história de nada adianta. A impressão é que o enredo da novela não tem mais para onde ir, o que é preocupante diante do passado do autor. Resta aguardar. Mas a verdade é que a fortuna da família Leonel até agora não serviu para absolutamente nada. 

15 comentários:

  1. Mais um texto perfeito! E é isso os diálogos são muito bons, mas essa trama da familia Leonel com os abutres no entorno está difícil de engolir. Até então a Zefa era a mais esperta e do nada ficou burra diante de Ariosto. Não me lembro de em nenhum momento dela desconfiar dessa aproximação dele para com ela. Um homem sovina, mau caráter, abusivo. A mulher simplesmente aceita ser cortejada por um tipo tóxico. Se eu fosse o autor teria botado tia Salete pra fazer a Zefa pensar sobre o Ariosto. E realmente o Tico Leonel ficar amigo da mulher que roubou a amada dele também faz zero sentido. E esse retorno para o rancho sem impacto algum já que a casa continuou do mesmo tamanho e com a maquiagem de pintura e móveis. E como você bem lembrou chegaram de carroça kkkkkkkkkkk como assim?!?! A pessoa fica milionária e não se preocupa em comprar um carro? Até porque o rancho e a gruta azul ficam distantes da cidade. Facilitaria a vida deles nas idas e vindas pra olhar como estavam as coisas no rancho que estava desocupado. E a gruta que nem vigilante tem? A essa altura os garimpeiros já teriam invadido tudo. Aliás seria algo que faria sentido se acontecesse na trama. Enfim, sigo assistindo por ser noveleira e pelo bom elenco.

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  2. Parece un buen programa. Te mando un beso.

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  3. Vou confessar: tenho visto um ou outro capítulo dessa novela, principalmente para ver a Andréa Beltrão quase negra e envelhecida. E também percebi que a coisa agora ficou meio que travada. E bem no momento em que a gente esperava acontecimentos novos!

    Beijão

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  4. Fiquei muito triste com a morte de Dona Manuela. Uma personagem tão humana, bondosa, solidária...
    Não suporto Ariosto e Zefa Leonel, como casal... Não combinam...Em compensação, compensação, amo Arthur e Quinota!

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  5. Olá, tudo bem? No Rancho Fundo conta com expressiva audiência. Boa direção. Apesar disso, confesso que a novela não me envolve. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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  6. Concordo com você em gênero, número e grau. Apesar de tudo, é uma trama deliciosa de ser acompanhada.

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  7. Oi querido Sérgio, a novela tinha tudo para ser perfeita com essa história toda para desenvolver...
    Entretanto parece que tudo caiu no lugar comum. Seu texto descreveu tudo e mais um pouco e me faz perceber o seu conhecimento gigante em todas as áreas da tv e séries.
    Beijos e uma semana repleta de alegrias!! ;)))))

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  8. Muito obrigado, Ana Paula. E assino embaixo do seu excelente comentário.

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