O Viva reprisou "Paraíso Tropical" em 2021 e três anos depois foi a vez da Globo reexibi-la no "Vale a Pena Ver de Novo". A reprise chegou ao fim nesta sexta-feira (03/05). A novela foi exibida em 2007 e sofreu um forte rejeição inicial. Isso porque o casal de mocinhos não emplacou e o enredo não prendeu o telespectador. No entanto, ao longo dos meses, os autores conseguiram reverter a dificuldade e emplacaram a história, que chegou ao fim como um grande sucesso.
A verdade é que a novela nunca foi ruim, nem mesmo no período que sofreu rejeição da audiência. O conjunto se mostrou muito bem estruturado desde o começo e impressiona como todos os núcleos têm atrativos e se complementam. Há uma gama de personagens construídos com densidade e vários enfrentam conflitos convidativos, principalmente os vilões --- há vários no enredo e todos responsáveis por boas movimentações nos núcleos.
A produção marcou o início da parceria de Gilberto Braga e Ricardo Linhares. Ricardo já tinha colaborado com o veterano no sucesso "Celebridade", de 2003, mas "Paraíso Tropical" foi sua estreia como autor titular ao lado de Braga. Embora a dupla tenha penado com a audiência nos meses iniciais, o resultado foi positivo. Escreveram um novelão.
No entanto, foi a primeira e única vez que a dupla funcionou e apresentou um grande folhetim para o público. Os dois trabalhos posteriores foram decepcionantes: a problemática "Insensato Coração" (2011) e a fracassada "Babilônia" (2015).Vale lembrar que "Paraíso Tropical" enfrentou um problema pouco antes de ter o título efetivado porque se chamaria "Copacabana". Mas como o nome já estava registrado, a Globo precisou mudar. E assistindo ao enredo fica claro como o título original cabia melhor. A todo momento os personagens falam sobre o tradicional bairro 'nobre' do Rio de Janeiro e quase toda a ação é passada lá. Os perfis que mais representam o lugar são Belisário e Virgínia, interpretados pelos saudosos Hugo Carvana e Yoná Magalhães. O sujeito é o típico bon vivant e sua esposa uma carismática ex-vedete. Os dois brilham sempre que aparecem e foi ótimo ver Hugo vivendo um tipo tão diferente do poderoso Lineu, seu trabalho anterior, em "Celebridade".
Aliás, Belisário é pai do milionário e bem-sucedido Antenor Cavalcante (Tony Ramos), um personagem que aparenta ser vilão, mas se mostra um perfil ambíguo muito interessante e brilhantemente vivido pelo ator. É até complicado contar sobre o enredo da novela porque os autores foram inteligentes na narrativa. Há vários conflitos que muitas vezes começam e são encerrados a cada duas semanas, no máximo. O folhetim vai se renovando a cada período, o que provocou estranhamento na época. A única trama que tem um arco constante (e por isso até cansativo) é a procura de Daniel (Fábio Assunção) por Paula (Alessandra Negrini). Os inúmeros desencontros dos protagonistas nos primeiros meses abusam da inteligência do telespectador. Ainda assim, não prejudicam a novela. A verdade é que Gilberto Braga sempre foi péssimo na construção de mocinhos. Nunca emplacou nenhum. Já com os vilões o sucesso é quase garantido. E o equívoco dos 'herois' de "Paraíso Tropical" foi visto logo no primeiro capítulo. Dificilmente o telespectador é conquistado por mocinhos que se apaixonam subitamente na estreia e em menos de uma semana já tem o pedido de casamento. Foi o que aconteceu com Paula e Daniel.
Vale ressaltar que o problema dos protagonistas era apenas a falta de química porque ambos eram inteligentes e sempre driblavam as armações dos vilões. Não eram aqueles mocinhos burros. Os atores também merecem elogios. Fábio Assunção defendeu seu Daniel com talento, assim como Alessandra. No caso, a atriz ainda mostrou seu talento na pele da vilã Taís, a gêmea má de Paula. É importante a ressalva porque Gilberto Braga foi grosseiro com Alessandra algumas vezes. Em mais de uma entrevista, o autor declarou que não gostou da atuação da atriz e que queria Cláudia Abreu interpretando as gêmeas. Mas a verdade é que mesmo a Cláudia não faria milagre na pele da cansativa Paula. Uma mocinha insossa, apática e sem carisma. Tanto que a personagem fica bem deslocada da história e ninguém sente falta. Já a picareta Taís está sempre em foco e movimentando seu núcleo, ao mesmo tempo que mexe no enredo central quando deixa Daniel desnorteado com a descoberta de que seu amor tem uma irmã idêntica.
A trama tem sua primeira grande virada quando Paula finalmente encontra Taís e grita pela irmã, que se choca ao ver uma mulher que parece seu espelho e acaba atropelada. Ao mesmo tempo, o enredo desperta a atenção do público em torno da trama de Ana Luíza (Renée de Vielmond) e Lucas (Rodrigo Veronese). A esposa de Antenor sempre foi traída pelo empresário e acabou virando a verdadeira mocinha da novela. Principalmente quando encontrou seu príncipe encantado, um homem bem mais jovem. O melhor é que os ótimos personagens foram bem interpretados por atores não tão conhecidos do público. Após alguns trabalhos na Record e no SBT, era a estreia de Rodrigo na Globo. Já Renée estava afastada da televisão desde 1998 ---- e depois novamente voltou a sumir da telinha. O casal fez sucesso e os dois brilharam. Infelizmente, o enredo da dupla fazia parte dos arcos que se fechavam bem antes do final. A milionária perde seu conflito quando descobre a traição do marido e fica com Lucas. Os dois acabam deixando a novela bem antes da metade. O êxito faz com que voltem e adotem uma criança, mas apenas nos meses finais.
Já outro casal que fez sucesso e roubou a cena foi Olavo (Wagner Moura) e Bebel (Camila Pitanga). Os vilões viraram a referência do folhetim. Até hoje lembram mais deles do que do título "Paraíso Tropical". Virou a 'novela de Olavo e Bebel'. E basta assistir para entender a razão. O vilão invejoso vivido pelo sempre talentoso Wagner só cresceu no enredo quando se juntou com a prostituta interpretada com total entrega por Camila em seu melhor momento na tevê. Viraram uma dupla perfeita. Isso porque a ambiciosa garota de programa despertava um lado bom até então desconhecido do vilão, que sempre tratou todos com profundo desprezo e muita arrogância. O amor que Olavo passou a nutrir por Bebel o humanizou, o que deixou o empresário canalha ainda mais interessante. Já Bebel sempre funcionou como um elemento cômico delicioso graças ao talento da atriz, que adotou uma interpretação caricata que vestiu muito bem no papel. O bordão "Eu tenho 'catiguria'" fez sucesso, assim como a expressão 'elegante' em uma festa executiva: "Que boa ideia este casamento primaveril em pleno outono".
A novela também teve outros personagens bem construídos e interpretados, vide a íntegra Lúcia, que formou um ótimo par com Antenor, repetindo a bem-sucedida parceria de Gloria Pires e Tony Ramos (vista na novela "Belíssima" e nos filmes "Se Eu Fosse Você" 1 e 2). Aliás, o filho dela, Mateus (Gustavo Leão em sua estreia), também teve uma boa trama em torno da aproximação com o pai biológico que não queria vínculos afetivos, Cássio (Marcello Antony), e sua sintonia com Patricia Werneck (Camila) era visível. Pena que os autores mudaram claramente de rumo na reta final e decidiram deixar Camila com Fred (Paulo Vilhena) e escalaram Mariana Ximenes (escolhida inicialmente para ser a Bebel) como um consolo para a solidão do filho de Lúcia. Vale destacar também a interesseira Marion (grande Vera Holtz) e sua parceria com Cláudio (Jonathan Haagensen), assim como seu filho, o 171 Ivan (Bruno Gagliasso). A cena final de Ivan e Olavo, em um duelo de irmãos, foi um desfecho surpreendente e marcante. Chico Diaz convenceu na pele do cafetão Jáder; a ótima Daisy Lúcidi voltou às novelas na pele da síndica fofoqueira Iracema; Flávio Bauraqui brilhou como Evaldo, joalheiro que enfrentava o alcoolismo; e Beth Goulart merece só elogios como a ambiciosa Neli, seu melhor papel na televisão. Lidi Lisboa (Tatiana), Isabela Garcia (Dinorá), Marco Ricca (Gustavo), Yaçanã Martins (Otília); Débora Duarte (Hermínia), Reginaldo Faria (Clemente), Othon Bastos (Isidoro), Nildo Parente (Pacífico), Roberta Rodrigues (Eloísa), Juliana Didone (Fernanda) e José Augusto Branco (Nereu) são outros nomes que merecem menção. Um destaque especial também a Fernanda Machado que emocionou na pele da íntegra Joana, personagem que passou por um calvário digno de mocinha.
Um dos poucos defeitos da trama, além dos mocinhos ofuscados, foi o casal homoafetivo representado por Rodrigo (Carlos Casagrande) e Tiago (Sérgio Abreu). Pareciam dois amigos e não um par romântico. Abordagem conservadora e irrelevante. A falta da cena da reação de Bebel ao assassinato de Olavo foi outro equívoco. Era uma sequência aguardada e Camila Pitanga daria um show de emoção. A prostituta sempre dizia que morreria junto com seu amor. Com a correria do último capítulo, focaram mais na perda do bebê que Bebel esperava de Olavo e seu final como esposa de um político corrupto. A sequência da personagem depondo em uma CPI é impagável. Já a revelação que Olavo era o assassino de Taís pecou pela obviedade, mas manteve a coerência da história. Todas as peças realmente se encaixaram em um plano macabro do vilão que se revelou um serial killer. A grande surpresa se deu com o fato de Ivan ser o filho de Antenor, algo que nem mesmo Marion sabia. Uma espécie de castigo para ambos que viviam dando golpes para manter uma vida de classe média e nunca sequer sentiram o cheiro da riqueza bem debaixo de seus respectivos narizes. Após o choque da verdade, a sequência resultou no momento mais impactante do enredo quando um irmão matou o outro. Uma ousadia que parece ter ficado para trás diante do atual cenário da teledramaturgia da Globo.
"Paraíso Tropical", dirigida com competência por Dennis Carvalho ---- é preciso aplaudir todas as cenas de ação que beiram a perfeição se comparadas aos trabalhos atuais da Globo ---- , foi um novelão e as duas reprises comprovaram todas as qualidades da trama. Uma obra que no conjunto foi bem melhor que a aclamada "Celebridade", apenas para um nível de comparação entre dois folhetins do mesmo autor. Infelizmente, a baixa audiência que a reexibição deu no "Vale a Pena Ver de Novo" apenas deixa claro que a novela é injustiçada até hoje.
Olá, tudo bem? Paraíso Tropical não foi uma novela injustiçada. Não deveria ter sido reprisada, conforme defendi logo nos primeiros capítulos. Agora, tiveram que resgatar uma novela do Walcyr Carrasco para levantar a audiência, como já tinha feito tal previsão. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirSérgio A parte que vc escreveu sobre ser uma espécie de castigo para ambos vc está falando da Marion e Ivan pq não ficou claro para mim?
ResponderExcluirCara, eu me encontro no mesmo predicamento. eu sei que as novelas não se miden como antigamente mas não consegui entender como O Rei Do Gado tão barriguda consegue fazer mais audiência ainda o até Mulheres Apaixonadas que é uma crônica social que vamos falar verdade o que mais sabe fazer e dar as mesmas voltas sobre a suas problemáticas até que autor as solta no último capítulo, e ire mais longe e falar que A Favorita que tem uma subtrama mais porca que a outra e que beneficia uma estupidez na sua protagónica (a partir da metade) para ficar no mesmo estatus quo por 100 capitulos mais. Paraíso é um folhetim no melhor sentido da palavra, um cuál construção faz comprender porque o Giba era maestro do Thriller, acontecen muitas coisas mais ainda sai no te fazem pasar ao espectador por tolo e um Thriller que respeita a audiência a maior parte do tempo coisa que não se consegue ver no Walcyr o no JEC, sem contar como ayudan as subtramas que ganan um interés particular por sua conta.
ResponderExcluirDaniel
Daniel você falou tudo, eventos como ese ensenhan que não existe fórmula para o sucesso. Eu ainda não consigo tirar a verdadeira sinopse de o rei do gado, é uma novela que se narra a conta gotas e que inventa plots da nada. É mais fácil entender a narrative das trocas dos bebês (por amor) ou a filha perdida na dictadura militar (senhora do destino), que isso como uma trama cheia de voltas e revira voltas pasa desapercibida?
ExcluirLembro bem da personagem Bebel,
ResponderExcluirfoi uma boa novela realmente.
Bom domingo!
Amigo, uma linda produção e maravilhoso elenco. Bju
ResponderExcluirRealmente Olavo e Bebeu foi um casal marcante na novela. Obrigado por compartilhar essa resenha tão completa e única.
ResponderExcluirBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
O último capítulo dessa novela foi excelente e uma das melhores revelações pq na época não vazou que o Ivan seria filho do Antenor e que o Olavo sempre soube. Uma das melhores cenas foi vc que matou o Lutero? Foi sim. Ele foi na minha casa de supresa falar que tinha que me casar com a Alicia em separação totais tbm. Morreu 🤣🤣🤣.
ResponderExcluirOi Sérgio, que ótima narratica você fez dessa excelente novela. Jamis esqueceremos do casal Olavo e Bebel, foram os melhores em tudo. Vagner Moura e Camila Pitanga carregaram a novela.
ResponderExcluirMe deu saudade de ver a Renée, cuja interpretação tinha um tom de elegância tão peculiar que considerei uma verdadeira aula de etiqueta social.
Excelente como sempre querido, e seguimos com o coração dolorido pela tragédia no Sul.
Beijos!
É assim reconheco que de fato gilberto braga foi um excelente autor mas era arrogante e prepotente também , não gostei da postura dele com relação a alessandra negrini muito grosso, deselegante e indiscreto ele ficou de pirracinha porque queria a claudia abreu nos papeis das gemeas tudo bem que ele queria a claudia mas não é preciso desdenhar do trabalho da alessandra desmerecer ela o problema é que gilberto tinha claramente as suas preferidas ele só enxergava malu mader claudia abreue glorias que eram as suas queridinhas não desmerecendo o trabalho delas que são óptimas atrizes lógico alessandra não fica atrás delas e ela é mestra em interpretar vilãs não entendo tanta implicancia e até acho estranho que ele nao gostava dela enfim gilberto braga podia ter disfarçado mais ne.
ResponderExcluirConcordo com o comentário acima, Gilberto Braga foi um ótimo autor de novelas e deixou seu legado na televisão brasileira, mas ele realmente é muito arrogante e foi totalmente deselegante e desnecessário com a Alessandra Negrini, ela fez o que pôde com aquela mocinha péssima que era a Paula e brilhou demais como Taís, o que prova que a culpa não foi dela e sim do papel, como você disse Gilberto Braga é ótimo construindo vilões, mas peca demais na construção dos mocinhos. Até mesmo a Paolla Oliveira que é ótima atriz, não foi bem vivendo aquela mocinha chata Marina em Insensato Coração, acho que foi a única novela que eu não gostei da atuação dela, mas a mocinha dela tbm era muito mal construída. Em relação a Paraíso Tropical, lembro pouco da versão original porque era criança na época, só lembro mesmo de Olavo e Bebel kkkkkkkkk e das gêmeas, assisti algumas cenas nessa reprise.
ResponderExcluirParaíso tropical é ótima, mas nunca melhor que Celebridade. Celebridade foi boa do início ao fim, personagens cativantes, tudo bem que o casal formado pela Malu Mader e Marcos Palmeira não era dos mais simpáticos, mas Malu deu um show com sua mocinha Maria Clara Diniz. Os vilões são os melhores, Laura
ResponderExcluir(Cláudia Abreu) Renato Mendes(Fábio Assunção) em um dos seus melhores papéis em novelas, Ana Paula (Ana Beatriz Nogueira), o michê Marcos (Márcio Garcia) a intensa e problemática Beatriz (Deborah Evelyn). O núcleo do Andaraí, cheio de personagens carismáticos. A premissa da novela que tinha como pano de fundo a fama, um mundo glamouroso e também pantanoso das celebridades. As aspirantes a celebridade Darlene Sampaio e Jack Joy, interpretadas respectivamente pelas atrizes Débora Secco e Juliana Paz. Destacam-se também a grande Natália Timberg, Hugo Carvana, Julia Lemertz, Alexandre Borges, Daniel Dantas, Isabela Garcia, Marcelo Faria, Sérgio Menezes, Nívea Maria, Taumaturgo Ferreira, Deborah Lamm, Juliana Knust, Paulo Vilhena, Marcos Palmeira, Bruno Gagliasso(brilhou com seu Inácio). Enfim é um novelão a lá Gilberto Braga, texto afiado e refinado, trama bem amarrada do início ao fim. Até hoje na nossa memória!
Discordo, Fabio.
ResponderExcluirFalo de Marion e Ivan mesmo, anonimo.
ResponderExcluirFoi um novelão incrivel mesmo, Daniel.
ResponderExcluirFoi sim, Ane.
ResponderExcluirSem duvida, Ro.
ResponderExcluirEu que agradeço, Emerson.
ResponderExcluirBoa lembrança, anonimo.
ResponderExcluirVerdade, Dri.
ResponderExcluirEle era arrogante e uma pessoa dificil mesmo, anonimo.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirConcordo com voce, Welton. Gilberto nao sabia fazer mocinhas.
ResponderExcluirDiscordo, anonimo.
ResponderExcluirÉ verdade, anonimo...
ResponderExcluirEu gosto do casal homoafetivo da novela mostrado com sutileza sem escancarar e principalmente respeitando o público conservador que gostando ou não faz parte da audiência,pra abordar um assunto não precisa enfiar guela abaixo do público e nem querer mudar a força a opinião de alguém.
ResponderExcluirAnderson, nao é mostrado som sutileza, é mostrado com censura. Parecem irmãos e nao casal.
ResponderExcluirTem excessões entre as mocinhas de Gilberto, como a Isaura de Escrava Isaura e a Ester de Força De Um Desejo.
ResponderExcluir*Exceções
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