A nova série do Globoplay estreou cercada de expetativas porque é baseada no livro homônimo de imenso sucesso, escrito por Fernanda Torres, lançado em 2013. A autora sempre teve a intenção de adaptar para o audiovisual por achar sua obra um dramalhão típico de folhetim e conseguiu dez anos depois. A produção estreou dois episódios no dia 25 de outubro e disponibilizou mais dois a cada semana de um total de dez. A história é envolvente e captura a atenção do telespectador.
"Fim" é uma série sobre a vida e a certeza da finitude. Mesclando momentos solares com outros mais soturnos, a obra é uma tragicomédia que acompanha a jornada de nove protagonistas, um grupo de amigos do Rio de Janeiro que faz parte de uma geração que acreditava em um "felizes para sempre", mas foi atropelada pela revolução de costumes dos anos 1970. A trama se passa em um período entre 1968 e 2012 e é dividida em quatro fases que abrangem a juventude, a maturidade e a velhice dos personagens. Ao longo das décadas, eles compartilham amores, traições, mágoas, alegrias, manias, loucuras e frustrações.
A história começa com a partida de Ciro (Fábio Assunção), o mais admirado do grupo, que morre sozinho na cama de um hospital. Nos tempos dourados, se apaixonou perdidamente por Ruth (Marjorie Estiano), com quem se casou.
Seu jeito agregador conquistou a moça igualmente encantadora, que também era o centro das atenções nas rodas que frequentava. Juntos, os dois formavam um casal de causar inveja, não fosse o passar do tempo e os percalços da vida a roubarem o brilho dessa união. O solteirão mais atlético do grupo, Ribeiro (Emílio Dantas), também cai de amores por Ruth. Acostumado a se envolver com meninas bem mais novas, passa a vida à sombra de Ciro, servindo de plateia para o relacionamento do amigo.Já Silvio (Bruno Mazzeo) é um funcionário público que leva uma vida hedonista e sem responsabilidades. O sujeito se casa com Norma (Laila Garin), uma moça do interior de São Paulo. Prestativa e amigável, Norma se deixa levar pela ideia de sair da roça e aceita a união com Silvio mesmo sabendo que ele não pretende abandonar seus vícios e prazeres da juventude ao longo da vida. Cheio de irreverência e sarcasmo, Silvio protagoniza cenas muitas vezes inconvenientes, sendo gatilho para reflexões de seu grupo de amigos.
Enquanto isso, o atrapalhado Álvaro (Thelmo Fernandes) se casa com Irene (Débora Falabella), formando um par no mínimo inusitado. Ele, sem jeito com mulheres, consegue fazer a moderna e ambiciosa mulher entrar em um relacionamento do qual ela se arrepende. Já neto (David Júnior) e Célia (Heloisa Jorge), têm uma realidade bem diferente dos demais. Trabalhadores desde cedo, se apaixonam e consolidam um cassamento tradicional, do qual muito se orgulham. Juntos, eles selam um pacto de fidelidade e se protegem de um mundo de permissividade, para o qual não foram convidados a participar.
As gravações de "Fim" aconteceram em 2022 ao longo de 14 semanas, em cerca de 290 locações. Para retratar quatro décadas de transformações houve um minucioso trabalho coletivo da equipe e do elenco para o rejuvenescimento e envelhecimento críveis dos personagens. Apesar de ser baseada no romance literário, a série apresenta diferenças, tanto na estrutura, quanto no perfil de alguns personagens. Em uma discussão sobre o próprio sentido da vida, passado e presente avançam em paralelo, marcados de forma clara graças às diferenças pontuais na cinemografia, direção de arte e caracterização dos personagens. Aliás, o trabalho impressiona. Ao contrário do que costuma ocorrer em qualquer obra audiovisual, as fases não são descritas com datas na tela. O telespectador que precisa observar os detalhes e funciona, principalmente através dos carros usados em cada cena.
O processo de caracterização dos atores corria sério risco de soar grotesco ou artificial ao extremo. Mas é algo tão bem feito que imprime veracidade ao enredo que está sendo contado. E vale ressaltar que seria quase impossível entender a história caso atores mais velhos fossem escalados para o time dos nove protagonistas na fase final. Foi um acerto manter o time ao longo de todas as épocas. E que elenco precioso. Marjorie Estiano é um dos maiores destaques, o que não é uma surpresa. A sua interpretação potente mais uma vez arrebata o público e sua Ruth não lembra em nada suas personagens anteriores. Débora Falabella interpreta o perfil mais complexo e atrativo da produção. Irene tem um péssimo humor e parece arrogante, mas é uma mulher triste por dentro e muito à frente da época. A intérprete ainda demonstra sua versatilidade diante da tímida e retraída Lucinda, que vive atualmente em "Terra e Paixão". Vale elogiar também Emílio Dantas e Fábio Assunção, que sempre agigantam qualquer cena, assim como Heloísa Jorge, Thelmo Fernandes, David Júnior, Laila Garin e Bruno Mazzeo. Até as participações são luxuosas, como Ary Fontoura e Zezé Motta vivendo os pais conservadores de Célia. Valentina Herszage também merece menção na pele da enfermeira Maria Clara.
O último episódio é o melhor de todos. A série transborda sentimentos incômodos, mas no final o conjunto aflora ainda mais a ponto do telespectador se ver mergulhado em um mar de melancolia, tristeza e medo do futuro. Isso porque a conclusão do enredo desnuda por completo um pensamento que a maioria das pessoas procura fugir: a chegada constante da morte e como a velhice pode ser cruel. Os desfechos de Ruth, Ribeiro e Álvaro são os que mais impactam, enquanto o final de Ciro impressiona pela genialidade do roteiro envolvendo vida e morte. A produção termina deixando uma marca em quem assiste.
Criada por Fernanda Torres, com supervisão de adaptação de Maria Camargo, direção artística de Andrucha Waddington e direção de Daniela Thomas, "Fim" ----- com produção executiva de Isabela Bellenzani (Estúdios Globo), Mariana Vianna (Conspiração) e Renata Brandão (Conspiração) ---- se mostra uma série melancólica de qualidade inquestionável. Não é uma narrativa que conquista todo mundo, mas desperta curiosidade em cima do futuro daquelas pessoas tão controversas, mesmo sabendo como todas irão terminar.
Resenha muito boa. Estou acompanhando a série e gostando bastante.
ResponderExcluirBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
Menino, você se superou neste texto, abordou todos os aspectos da série (que eu quero muito ver) de modo isento, mas entusiástico. Pessoalmente, eu fico muito feliz ao deparar com obras culturais brasileiras de qualidade, tenho certeza de que há muitos brasileiros criativos e talentosos.
ResponderExcluirBeijo e -desde já - bom fim de semana
Amei essa série e também postei no blog, você viu?
ResponderExcluirQue série maravilhosa da Conspiração Filmes. Um texto primoroso da Fernanda Torres (adaptação de um livro da mesma). As atuações sensacionais de todo o elenco, Marjorie Estiano, Débora Falabella, Fábio Assunção e todo o restante.
ResponderExcluirUma história que transita entre vários arcos temporais e a história se mantém coerente. Retrata as nossas escolhas em vida e o impacto que isso causa, fala de sentimentos, ressentimentos, amizades, relacionamentos e muito mais.
Confesso que os episódios finais te causam uma bad, já que é forte e impactante o fim desses maravilhosos personagens. Obra prima!
Boa semana, Emerson.
ResponderExcluirMt obrigado, MMarly!
ResponderExcluirVi sim, Lulu.
ResponderExcluirMt boa mesmo, Outsiders.
ResponderExcluirSérgio, me tira uma dúvida. A Marjorie é fumante? Me bateu essa curiosidade depois que eu descobri que o ex ator agora sub Rafael Cardoso é fumante
ResponderExcluirSérgio, acredito que teria sido melhor se fosse três elencos diferentes para cada fase. Alguns atores era difícil de engolir ter por volta dos 30 e pouco anos . Fábio Assunção na fase em que ele descobre a doença e morre , estava mais novo que quando o personagem dele conhece a Ruth. Mas depois que eu vi a Fernanda Torres falar que o projeto quase foi cancelado , entendo perfeitamente o porquê deles optaram em manter o mesmo elenco. Uma vez que a produção provavelmente foi cara. Eu não li o livro , mas pelo o que já vi o povo comentando. A série deu mais espaço para as personagens femininas. O que se mostrou um acerto. Uma vez que as personagens eram bem mais complexas e interessantes que os homens. A Débora me chamou muito atenção, até pelo fato de vê-la em “Terra e Paixão ”. Lucinda e a Irene são personagens bem diferentes. E ela mandou bem nos dois trabalhos. Amo a Marjorie, mas gostaria de vê-la em outro tipo de papel. Fazendo uma vilã ou mesmo comédia. Ano passado eu revi Malhação da Vagabanda, além de notar que ela já era super talentosa. Foi muito legal ver ela fazendo uma vilã, debochada, manipuladora e inteligente. Eu me diverti bastante com a Natasha. Terminei a temporada com a sensação que algum autor precisa dar uma vilã para ela fazer. Eu tenho certeza que o impacto vai ser parecido com o que a gente teve vendo a Adriana fazendo a Carminha ou a Patrícia fazendo a Flora/Constância. Assim, mas se rolasse uma mocinha tipo a Manu em outro trabalho da Lícia. Eu não iria reclamar.kkkkkkkkk
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