O desafio de Glória Perez não era simples: manter os bons índices conquistados pelo remake de "Pantanal", que tinha elevado a audiência do horário nobre da Globo, após a péssima (e injusta) média de "Um Lugar ao Sol". Mas a prestigiada autora não conseguiu. Pelo contrário, derrubou os números, que não apresentaram uma reação significativa ao longo dos meses. E a rejeição do público fez jus ao enredo frágil e mal desenvolvido. "Travessia", dirigida por Mauro Mendonça Filho, chegou ao fim nesta sexta-feira (05/05) marcada por uma avalanche de críticas, após longos e maçantes 179 capítulos.
Glória prometeu uma história sobre fake news, onde a modernidade da tecnologia moveria o enredo e todos os núcleos com conflitos envolventes. O estranhamento começou logo no primeiro capítulo. A protagonista, Brisa (Lucy Alves), surgiu criança ao lado de Ari (Chay Suede), em uma primeira fase que passou voando, assim como a aparição da dupla. O destaque mesmo foi em cima da família de Chiara (Jade Picon) através do embate entre Guerra (Humberto Martins) e Moretti (Rodrigo Lombardi), que culminou em um flagra de traição, com direito a uma sucessão de situações apressadas que resultaram na morte de Débora (Grazi Massafera), a personagem que dominou a estreia. Ninguém entendeu muito bem o intuito da correria e muito menos a intenção em quase ignorar a mocinha do folhetim.
Logo no terceiro capítulo, outro momento que provocou estranhamento: o embate entre as irmãs Guida (Alessandra Negrini) e Leonor (Vanessa Giácomo). Como Guida se casou com Moretti, que era ex de Leonor, a irmã trocada tacou fogo no vestido de noiva no dia do casamento. Uma catarse ótima, mas que deveria ter sido exibida lá na metade de trama no ar. O telespectador mal conhecia as personagens ainda e nem havia empatia ou envolvimento com nenhuma.
E a história da mocinha seguia inexistente. Apenas na semana seguinte, a saga de Brisa começou a ser contada. O ponto de partida foi sua vinda ao Rio de Janeiro para procurar Ari, seu então noivo, que largou o filho e a companheira para dar o golpe do baú em Chiara e melhorar de vida. A protagonista se viu cercada por populares que tentaram linchá-la ---- a situação foi baseada em um trágico fato real ocorrido em 2014.Vista como uma sequestradora de crianças, por conta de uma montagem feita por Rudá (Guilherme Cabral), Brisa quase foi morta e durante sua fuga conheceu Oto (Rômulo Estrela), um hacker que trabalhava para Moretti. A construção do casal foi muito bem realizada pela autora e tudo que envolvia a mocinha despertava atenção. A novela parecia que teria finalmente um mote central convidativo. A química entre Lucy e Rômulo foi imediata e despertou uma grande repercussão nas redes sociais. Mas o que deveria ser uma saga em busca da inocência da mocinha ---- e da descoberta do autor da mentira que provocou um caos em sua vida ---- acabou se transformando em uma interminável disputa de guarda com o ex. A mocinha e Ari passaram a brigar por Tonho (Vicente Alvite) e a trama central ficou resumida a isso. A questão em torno da falsa notícia espalhada pela internet desapareceu e os embates eram tão repetitivos que até o texto parecia sempre o mesmo.
Para culminar, Oto foi sumindo gradativamente da história depois que o casal se separou. Aliás, nunca fez sentido Brisa não ter achado a foto fake na internet, que motivou seu quase linchamento, para mostrar ao então companheiro hacker. Aliás, demorou muito tempo até Oto contar sobre o que realmente fazia, mas nem depois que revelou houve uma ligação com o conflito que era para ter sido o principal do roteiro. Tanto que na reta final bastou o hacker olhar a imagem para constatar que era uma montagem. Glória ainda criou uma relação mal construída entre Oto e Bia (Clara Buarque), que se aproximaram do nada e rapidamente marcaram a data do casamento, que não aconteceu porque a garota disse 'não' durante a cerimônia civil e a brincadeira ocasionou o cancelamento da união ---- inspirada em uma situação que ocorreu na vida real e viralizou nas redes.
Outra trama que tinha despertado atenção do público no início e acabou se perdendo foi o retorno de Stênio (Alexandre Nero), Heloísa (Giovanna Antonelli) e Creusa (Luci Pereira). O trio roubou a cena em "Salve Jorge", problemática novela da autora, exibida em 2013, e voltou em "Travessia". Glória prometeu novos conflitos, mas os personagens tiveram menos destaque do que tinham na produção de dez anos atrás. O casal 'Steloísa' seguiu com uma química arrebatadora e a sintonia com a empregada que sempre torceu pelo romance continuou igual. Porém, ninguém teve dramas novos ou situações que justificassem um retorno. Stênio era apenas uma 'orelha' para os desabafos de Moretti, enquanto Helô ficou jogada entre os núcleos sem muita função. Tanto que a delegada se especializou em crimes cibernéticos e acabou a novela quase toda dando conselhos sobre a guerra pela guarda de Tonho e investigando os crimes de Ari envolvendo o golpe que deu em Guerra. Já Creusa seguiu sem qualquer questão pessoal e ficou em função do casal. Na coletiva online, a escritora declarou que a personagem viraria influencer digital com suas receitas, mas certamente deixou a ideia de lado devido a tantas mudanças feitas por conta da baixa audiência da produção. O único conflito novo do par foi a inserção de dois mafiosos, interpretados por Cláudia Mauro e José Rubens Chachá. Mas não provocou nenhum acontecimento relevante e o desfecho, após longos meses de cenas repetitivas, pecou na falta de ação. Somente a última cena, de Helô salvando Creusa do sequestro planejado por Pilar, valeu a pena.
Já o núcleo de Vila Isabel era para honrar o que Gloria costumava colocar em suas histórias: personagens populares que caíam na boca do povo e protagonizavam situações engraçadas. Era visível que o 'Encanto da Vila' representava uma espécie de 'bar da Dona Jura' (Solange Couto), de "O Clone". Mas nada funcionava ali. Betty Gofman interpretando uma senhora que aparentava ter mais de 70 anos beirava o ridículo, enquanto o conflito de Joel (Nando Cunha) com o robô Haroldo promovia cenas infantis. O intuito era expor o quanto a tecnologia pode ameaçar o emprego de seres humanos, o que é uma verdade. Mas usar um robô que parecia vindo da década de 90 deixou o resultado constrangedor. Nem mesmo o dono do bar, Nunes (Orã Figueiredo), era um perfil atrativo porque se resumia a um sujeito amargurado e ranzinza. A repetição também se fazia presente nos diálogos, cujos temas eram sempre a atenção que o robô despertava nos clientes, fofoca sobre a disputa de Brisa pela guarda do filho e a rampa para pessoas com deficiência que só foi colocada depois que Nunes sofreu um acidente. Por sinal, as cenas da advogada da mocinha eram iguais. Gloria sempre foi boa no merchandising social em suas obras, mas era a mesma cena repetida semanalmente: Juliana (Tabata Contri) não conseguindo embarcar em ônibus porque o elevador de cadeirantes estava quebrado ou então em táxi porque o motorista não queria.
A trama envolvendo o casal Laís (Indira Nascimento) e Monteiro (Ailton Graça) foi mais um equívoco da novela. No início, o par enfrentava uma péssima relação com a filha, Isa (Duda Santos), que vivia na balada. Depois passaram a encarar a rebeldia do filho, Theo (Ricardo Silva), que era viciado em jogos de computador. Indira e Aílton eram ótimos em cena, mas ficaram limitados a um roteiro que não saía do lugar e nunca despertava atenção do telespectador. O agravamento da crise do garoto foi mesclado com cenas em que um personagem psiquiatra fazia relatos de casos reais envolvendo dependência tecnológica. Uma questão importante, mas que não proporcionava conflitos dramatúrgicos atrativos. As discussões acaloradas se repetiam exaustivamente. Um núcleo que andava em círculos, assim como todo o folhetim. Tanto que "Travessia" parecia exibir o mesmo capítulo todos os dias. O telespectador que não via uma ou duas semanas de novela não perdia nada. Porque a sensação era de que tudo ali já tinha sido mostrado em outro momento. A tão falada tecnologia que a autora abordaria em sua novela se baseava em um adolescente que não conseguia sair da internet, um robô garçom obsoleto e fake news que desapareciam.
E vale mencionar outra situação que parecia promissora, mas infelizmente também não se desenvolveu: o debate sobre assexualidade. A entrada de Caíque (Thiago Fragoso) fez bem para Leonor (Vanessa Giácomo), que estava perdida entre uma rivalidade maçante com a irmã (Guida - Alessandra Negrini) e uma obsessão por Moretti. Mas a personagem perdeu a relevância depois que descobriu que seu novo namorado era assexual e terminou a relação. O próprio Caíque foi sumindo aos poucos do enredo até praticamente desaparecer. Só voltou na última semana ao lado de uma personagem também assexual, interpretada por Mariana Vaz, esposa do ator na vida real. Até mesmo a assexualidade de Rudá foi mal abordada. A chegada de Caíque serviria para ampliar o destaque em torno do conflito do garoto, mas ficou pelo caminho. Por sinal, a revelação a respeito da identidade do autor da mentira espalhada sobre Brisa foi outra decepção. Rudá descobriu que tinha sido o responsável pela desgraça na vida na mocinha, a procurou, se desculpou e ela perdoou. Um tema tão sério com um desfecho tão irrelevante.
Vale citar ainda o mistério em torno das previsões que uma cigana fazia para a protagonista. Interpretada pela talentosa Sura Berditchevsky (longe da televisão há muitos anos), a personagem dizia que havia um parente de sangue de Brisa, o que a atormentou durante toda a história. Na última semana, o enigma acabou revelado por Bia (Clara Buarque), que ouviu a conversa da ex-rival e desvendou que aquilo se tratava de um gêmeo de Brisa que não chegou a nascer e acabou tendo seu DNA incorporado ao dela, o que fez com que o exame de DNA de seu filho sempre constasse como incompatível, já que por conta de uma questão genética rara a criança acaba identificada como sobrinho. A autora se inspirou em um caso real, mas foi outro conflito que não despertou interesse nem na reta final.
E um pouco antes do último mês de enredo, houve mais uma trama inserida que nada acrescentou à narrativa: a entrada de Wesley, interpretado pelo talentoso Gero Camilo. O personagem chegou para expor um pouco da rotina da vida das drags. Desde que passou a fazer parte da trama, Wesley marcou presença no núcleo de Vila Isabel e fez várias apresentações como Lucía Del Mar. Ainda serviu para destacar o trabalho de figuras renomadas no cenário artístico nacional, como Isabelita dos Patins e Divina Valéria. Sem dúvida, um feito e tanto o destaque em cima de um tema tão importante, ainda mais diante de uma sociedade tão preconceituosa. Mas, ao contrário de "A Força do Querer", onde a vida de Nonato/Elis Miranda (Silvero Pereira) tinha função na história, foi algo aleatório e que serviu apenas para preencher o tempo dos capítulos. Algo claramente improvisado pela autora.
Porém, Gloria acertou em cheio com a trama sobre pedofilia e estupro virtual. O drama vivida por Karina (Danielle Olímpia, a melhor revelação de "Travessia") emocionou e proporcionou cenas de intensa carga dramática, todas muito bem defendida pela atriz. Claudio Tovar também deu um show na pele do criminoso que aterrorizava a menina. Tanto que o conflito estava previsto apenas para alguns capítulos, mas o êxito fez com que a escritora prolongasse a situação até a última semana de novela. Destaque ainda para Nando Cunha e Flávia Reis, que brilharam na pele de Joel e Marineide, os pais de Karina. A sequência em que a verdade foi revelada pela menina na delegacia de Helô primou pela emoção. Todos se entregaram e o resultado foi o melhor possível. Aliás, o elenco era repleto de talentos. Lucy Alves esteve muito bem, assim como Romulo Estrela, Chay Suede, Drica Moraes (Núbia), Cássia Kiss (Cidália) ---- deixando as polêmicas da veterana de lado ----, Giovanna Antonelli, Alexandre Nero, Luci Pereira, Indira Nascimento, Renata Tobelem (Dina), Isabelle Nassar (Sara), Aílton Graça e Alessandra Negrini, que imprimiu um tom cômico delicioso para sua Guida.
Uma pena que vários atores não foram valorizados como mereciam. Além do já citado Thiago Fragoso, Vanessa Giácomo merecia muito mais, assim como Ana Lúcia Torre (Tia Cotinha era apenas a 'orelha' para os desabafos dos demais personagens), Dandara Mariana ---- Talita seria a responsável pela inserção do metaverso no enredo, mas a trama acabou rejeitada e desapareceu ----, Bel Kutner (Lídia era uma secretária que mal tinha falas), Betty Gofman (Olímpia) e Marcos Caruso (Dante ficou jogado na história e passava a maior parte do tempo trancado em seu apartamento se lamentando). Já Rodrigo Lombardi errou no tom de Moretti e abusou das caras e bocas, mas o papel não ajudou. O empresário iniciou como um tipo dúbio, depois foi virando um vilão, mas nunca cumpriu bem nenhuma das funções. A autora não sabia muito bem o que fazer com ele. E Jade Picon? Ficou evidente que erraram feio ao depositar em cima de uma pessoa totalmente inexperiente o peso de um personagem tão importante. A ex-BBB tem todo o direito de seguir a carreira de atriz, mas era para iniciar em um perfil com menos relevância. Chiara era praticamente co-protagonista e Jade não sustentou a carga dramática ao longo da história. Não por acaso, virou piada nas redes sociais. No entanto, apresentou uma significativa melhora no último mês e protagonizou boas cenas ao lado de Chay Suede e Cássia Kiss. Se estudar, pode evoluir mais ainda. E é preciso enfatizar: a culpa não foi dela e, sim, da autora e do diretor que a jogaram na cova dos leões.
Aliás, a sintonia entre Glória Perez e Mauro Mendonça Filho não foi das melhores. A dupla esteve com uma harmonia perfeita em "Dupla Identidade", série de sucesso exibida em 2014, mas na novela parece que quase tudo deu errado. Não havia um entendimento da direção com o texto. Muitas vezes o diretor tentou imprimir algo conceitual em situações que exigiam algo mais simples e até popular. Várias sequências que deveriam ter uma tensão não conseguiam transmitir o clima para o telespectador. Até mesmo os embates mais dramáticos deixaram a desejar, o que afetou até as interpretações de alguns atores. E a desconfiança em torno da falta de parceria acabou confirmada, involuntariamente, pela própria escritora no Twitter por conta de uma das cenas mais criticadas da história. Brisa tinha acabado de ser roubada e o filho atropelado. A protagonista levou Tonho ao hospital, brigou com Núbia e foi pegar um ar. Até que caiu um temporal. A mocinha, então, resolveu dançar na chuva alegremente, mesmo diante de tudo o que tinha acontecido. Para culminar, chegou Oto e a beijou, o que marcou a reconciliação do casal. Glória fez questão de mostrar em sua rede social que aquela dança tinha sido um improviso e não não escreveu aquilo. Ou seja, criticou abertamente o trabalho do diretor.
A última semana da novela foi tão decepcionante quanto o seu todo. Não houve nenhum acontecimento relevante antes do último capítulo e nem mesmo o penúltimo apresentou alguma emoção. A autora deixou absolutamente tudo para ser resolvido apenas no final. E, assim como ocorreu na estreia, mais uma vez ficou evidente o quanto Chiara tinha mais relevância do que Brisa. Novamente, a protagonista acabou preterida diante das várias descobertas feitas pela filha de Guerra, que só soube a verdadeira identidade de seus pais biológicos no último dia de história. As revelações renderiam bons desdobramentos que poderiam ter sido aproveitados por Glória ao longo de várias semanas, mas as catarses acabaram diluídas pela correria inevitável diante de tantas situações que precisavam ser concluídas.
Jade Picon protagonizou sua melhor cena na trama justamente no último capítulo. O ódio e o desespero de Chiara diante de todas as mentiras do pai foram muito bem expostos por ela. Helô prendendo o pedófilo, que fez Stênio de refém enquanto o advogado comprava um anel de noivado para a ex-futura esposa, foi a única dose de tensão do desfecho e graças ao desempenho de Cláudio Tovar, Giovanna Antonelli e Alexandre Nero. Já as demais sequências deixaram a desejar. Brisa mal apareceu e só surgiu dos minutos finais para fechar o ciclo da trama envolvendo o DNA. A sequência de Chiara conhecendo Débora no metaverso foi a mais constrangedora da novela. Jade e Grazi Massafera fizeram o que o 'encontro' propunha, mas o que deveria soar emocionante causou vergonha alheia. O tal metaverso parecia o céu de uma trama espírita. E os demais desfechos foram breves na última cena, ao som de "O Amanhã", cantada por Simone. Ari seguiu sendo um golpista, Moretti acabou preso novamente e infernizado por Guida, Helô e Stênio se casaram pela terceira vez e Brisa e Oto também tiveram uma bonita cerimônia de casamento.
"Travessia" foi uma novela problemática e repleta de equívocos. O saldo final é bastante negativo, tanto no quesito audiência (derrubou em cinco pontos a média do remake de "Pantanal"), quanto nas polêmicas envolvendo os bastidores, como mudança de rumo de vários personagens e indisposição de parte do elenco diante das declarações homofóbicas de Cássia Kiss, além de sua constante presença em manifestações contra a democracia. A avalanche de críticas da imprensa também fez parte da rotina da produção em virtude do enredo frágil e mal desenvolvido. Por sinal, não deu para entender a aprovação da Globo de uma sinopse que claramente não tinha fôlego para se sustentar. A cúpula da emissora anda tão rigorosa e temerosa na hora de decidir quais serão seus próximos folhetins, mas cometeu um erro crasso com a escolha da produção que chegou ao fim com a triste marca de pior novela de Glória Perez.
Faço das suas palavras, as minhas
ResponderExcluirNão precisa dizer mais nada..
Caraca você é extremamente certeiro…uma novela cheia de furos, não atendeu ao público, parece que jogaram a toalha e f***se
ResponderExcluirPerfeito! Os textos eram soltos não havia conexão de nada com nada, é até assustador vindo da Globo uma novela tão ruim
ResponderExcluirTexto cirúrgico! Expôs como a novela foi TENEBROSA do início ao fim.
ResponderExcluirConfesso que gostei do último mês de Travessia (desde a cena do Ari se relevando ser acionista e o desespero da Cidália mostrado naquele ótimo plano-sequência). Agora, como Travessia conseguiu ter sua sinopse aprovada? Mistério kkkk
ResponderExcluirA Globo não anda tão exigente, aceitou Cara e Coragem, Travessia e várias novelas sem graça das 6.
ResponderExcluirOlá, Sérgio! Faz tempo que não comento, mas vira e mexe apareço aqui para ler e outra vez um texto cirúrgico.
ResponderExcluirEu cá não sentei para assistir Travessia, mas minha mãe viu, mesmo reclamando.
Fico triste pela Glória, O Clone é uma das minhas novelas preferidas e quando ela passou eu que já gostava de escrever tive a minha vontade potencializada. Sim, O Clone também tinha seus problemas, mas não se compara a Travessia.
Minha opinião aqui será de alguém que vive no mundo das histórias. Embora minha área seja literatura, eu vejo que um meio ajuda ou se liga ao outro de algum jeito.
Travessia já começou mal no Marketing. Se era de propósito ou não, não sabemos. Mas o assunto principal era Jade não atriz Picon ganhando um papel de destaque na novela mais importante da emissora (importante pelo horário) Eu nunca saí nas redes pra ofender a moça. Atitude que considero péssima. Para este caso eu pensaria em outras opções. 1: Chiara ser interpretada por uma jovem atriz experiente, com outros trabalhos no currículo. 2: Chiara ser interpretada por uma atriz nova, mas que fosse estudante ou tivesse estudado teatro e feito cursos de formação na área. 3: Jade poderia fazer uma participação na novela como ela mesma. 4: Jade até poderia ter um papel pequeno o famoso começar debaixo. A escolha dela parece que foi uma tentativa de atrair um público jovem afinal, a novela tinha a intenção de falar de tecnologia, algo que se distanciava da sua antecessora Pantanal que era uma trama rural. A tecnologia em Pantanal era mínima. E ainda sobre Jade, sim ela pode seguir a carreira de atriz. Pode estudar, se aprimorar, ter outras oportunidades, pois a prática é necessária. A Grazi Massafera é um grande exemplo nesse sentido, inclusive eu sempre fico orgulhosa quando eu vejo a Grazi atuando, pois é uma história de superação e dedicação. Vou seguir em outro comentário porque este já está enorme.
Cont...
ResponderExcluirVou elencar aqui alguns pontos problemáticos da novela ao meu ver
1: Já falamos do Marketing
2: Excesso de personagens tortas. Também chamados de portas ou batatas. São personagens rasos, sem função, sem conflitos. Aliás isso é um problema da Glória Perez, pois foi assim em O Clone e foi assim tbm em Salve Jorge. A Força do Querer que fugiu dessa regra. O principal condutor da trama é o personagem. Em especial o protagonista, as pessoas acompanham uma história pelas seguintes questões identificação, simpatia, empatia. Quando o protagonista tem carisma este combo é perfeito. Brisa poderia despertar tudo isso dentro de uma trama lógica e coerente.
3: É preciso voar, mas pé no chão não mata ninguém e evita vergonha. Como uma novela sobre tecnologia a personagem vítima de Fake News nunca pensou em mandar uma mensagem pelo Instagram? Pior como ela nunca viu a tal foto se viralizou? E pior 2 como ela namora um Hacker e não pensou em correr atrás do conhecimento dele pra descobrir a verdade?
Eu lembro do triste caso da Fabiana, sinto uma revolta tão grande quando penso nessa história, toda vez que recebo algo não saio repassando, pois penso que posso estar contribuindo para a destruição de alguém inocente. Mas essa Fake de novela irá fazer muita gente acreditar que isso aí não é nada demais. Apenas brincadeira de criança/adolescente. E a coisa piora quando o culpado nem punição teve.
4: Que Merchan foi esse? Eu acho que a Glória já fez excelentes Merchans sociais olha a dependência química de O Clone. Tráfico Humano de Salve Jorge. (Outra novela cheia de defeitos, mas que abriu muitos olhos sobre este crime que é o terceiro mais rentável do mundo atrás do Tráfico de Drogas e tráfico de armas) mas em Travessia Glória não foi muito feliz nos Merchans sociais. Seu acerto foi na trama envolvendo estupro virtual e pedofilia. E ainda assim teve um erro. Por que a polícia nunca procurou a Bruna? Por que a Bruna nunca veio a público falar sobre a sua imagem ser usada de forma criminosa?Ainda assim pra mim foi a trama mais acertada da novela.
Vou seguir adiante...
Faltou um desenvolvimento maior entre a trama Moretti, Guerra e Chiara. Se a ela tivesse descoberto no meio da novela que era filha do Moretti teria ficado muito mais interessante e não haveria esse final porco e apressado.
ResponderExcluirO Oto era interessante, mas muito raso e misterioso. Nada se sabia sobre sua origem e nem se seus pais estavam vivos. É um absurdo a Brisa casar com um cara do qual ela sabe muito pouco sobre sua origem, família.
Eu lamentei sobre o mau aproveitamento de Steloisa e Creuza, mas acho que no início estava previsto um envolvimento deles na história da fake news, mas como isso foi meio deixado de lado o trio acabou ficando apagado. Steloisa foi mau aprofundado (não se soube o motivo do fim do segundo casamento) e repetitivo. Ficou na cara que a Gloria enfiou várias recaídas entre eles só pra satisfazer a fan base do casal.
Quem perdeu mais foi o Stenio que teve mais cenas repetitivas com o Moretti (eu conseguia rir do Lombardi algumas vezes) do que com Helô. Mas pelo menos deu pra perceber que Steloisa amadureceram um pouco ( principalmente o Stenio que estava mais fiel aos seu amor pela Helô diferentemente do que aconteceu em SJ).
E stenio que nunca descobriu q brisa era afilhada de creusa? Sendo q ele fez brisa or presa no lugar de otto. Kkkkk.
ResponderExcluirSó não concordo com a parte final do metaverso q foi constrangedora. Ali foi o de menos dos absurdos, achei ate coerente, afinal foi a forma de chiara conhecer a mãe, usando o próprio tema que a construtora aborda. Achei um gancho compreensível.
Cont...
ResponderExcluir5: O Cachorro corre atrás do rabo, o macaco senta em cima. Ontem eu sentei e assisti o final, tava curiosa pra saber como resolver tudo no último dia e tbm era uma aula do que não fazer quando escrever uma história. Identifiquei uma gama de conflitos desperdiçados que poderia ter rendido embates e avanços em um Plot que andou em círculos. O que me leva a crer que Glória não tinha planejamento na hora de escrever eu senti muitas vezes que o texto era no aleatório e as coisas eram costuradas como uma colcha de retalhos.
Quem escreve uma história precisa ser intencional
Qual é a função desse personagem? Já vimos que a maioria não tinha função nenhuma.
Qual é a utilidade dessa cena?
Esse diálogo acrescenta em que?
Nas vezes que espiei alguma coisa eu vi um texto que girava, girava e diálogos expositivos. Aqueles diálogos onde dois personagens explicam o que é X coisa para o leitor/telespectador entender a trama e quando isto é usado com frequência é porque o texto narrativo está falhando. Uma vez ou outra não é o fim do mundo, mas a repetição acaba sendo.
6: Esqueci de comentar que a Chiara na mãos de uma atriz experiente iria roubar todo protagonismo pra si. Não porque Lucy seja ruim, aliás ela merece outras oportunidades e sim porque a trama da patricinha era mais interessante e ela tbm poderia ser uma personagem dúbia que atraí atenção exemplos assim: Carolina Castilho, Jade Gardel, até a protagonista vilã Amora Campana. Mas aí tbm ajuda um bom texto somado a uma boa construção de personagem
7: Sempre me incomodou o fato de Steloisa nunca falar da filha. Sei que a atriz está em outra emissora, mas era só falar dela vez ou outra. Eu acho muito inverossímil tudo isso, mas fazer o que numa trama cheia de problemas?
8: Vou terminar. Só elogiar vários atores que tiraram leite de pedra. Espero que tenham trabalhos melhores o futuro. E Travessia não define a carreira da Glória Perez. Pra mim o nome dela é um nome de peso e ela trouxe histórias ótimas e marcantes. Precisa é se reciclar, aceitar críticas (não ofensas) não
é porque fez grande sucessos que pode se acomodar.
No mais é isso, se eu for comentar tudo vou ficar aqui o dia todo. Perdoe os erros é horrível a edição pelo celular
Pensando em quantos acontecimentos reais que a Glória referenciou nessa novela, e como foi tudo tão gratuito, mal costurado. Ela colocou por colocar, só ter o respaldo dos absurdos reais pra colocar absurdos na sua novela, mas se esqueceu de integrá-los a uma história que fizesse sentido.
ResponderExcluirComo por exemplo o caso do quimerismo. É muito fácil falar "mas isso acontece na vida real!" quando algo assim é questionado na ficção, mas será realmente interessante escrever uma novela sobre isso? É interessante enquanto entretenimento ou até mesmo pra conscientização do público? Será que existia outra maneira mais interessante de falar sobre isso?
Enfim. Que Glória seja abençoada pelos 40 anos de serviços prestados (que convenhamos, na grande maioria das vezes foram muito bem prestados), mas chegou a hora de parar.
No fim das contas, ficam comprovadas várias coisas: que abordagens (principalmente quando mal empregadas) sobre tecnologia na maioria das vezes não rendem bons folhetins; que carreira televisiva de autores é repleta de altos e baixos, e no caso de Glória Perez, após ter escrito "Salve Jorge" (2012) e "A Força Do Querer" (2017), com saldos finais opostos entre si, em que "A Força Do Querer" se beneficiou, com "Travessia" (2022) foi constatada uma recidiva no histórico da roteirista; e que a Leitora e você, Sérgio, sempre são certeiros em suas análises. E tudo isso reforça a importância de uma grade de programação de qualidade, independentemente do formato de determinados programas e dos departamentos responsáveis por cada um deles, aspecto em que a cúpula da Globo não vem se posicionando de maneira assertiva em anos mais recentes.
ResponderExcluirGuilherme
Ótimo texto. Preciso e fiel ao que foi apresentado
ResponderExcluirFoi culpa da Jade em partes, sim, vamos combinar. Ela poderia ter pedido pra ser remanejada pra outra novela (Vai na Fé, por exemplo) ao invés de aceitar algo que claramente não tinha forças pra aguentar. Culpa dela, da emissora e da produção sim.
ResponderExcluirComo sempre uma excelente análise.
ResponderExcluirAbraços
Eu só acompanhei essa novela pelo seu Twitter. Acho bizarro como a Glória conseguiu fazer um fiasco desse depois de fazer a Força do Querer que foi espetacular!!!
ResponderExcluirSei que nem deveria fazer isso nesse post pq é sobre outra novela que vou pergunta. Vi vc dizendo sobre Vai Na Fé e comentando que o Theo com o Ben lembra um pouco o sentimento da Flora com a Donatela, mas a comparação ideal não poderia ser Lobao com o Gael já que Malhação Sonhos e Vai na Fé são dos mesmos autores?
ResponderExcluirO melhor casal protagonista das novelas da Gloria para vc são Jeiza e Zeca?
ResponderExcluirAcho uma pena que esta ótima oportunidade, que foi dada à autora, de contar uma boa estória e trazer à reflexão temas importantes, tenha sido perdida!
ResponderExcluirVi um pouco das críticas suscitadas pela novela e só lamentei.
Beijão
Olá, tudo bem? Já publiquei a minha relação com os pontos positivos e negativos da novela Travessia. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirFora que um dos assuntos levantados foi o segredo que Nubia guardava sobre a identidade do pai de Ari. Nunca saberemos quem é.
ResponderExcluirSérgio, eu assisti só o primeiro e último capítulo inteiro, depois eram só pedaços e me irritava a tamanha importância que a Glória dava pra Jade Picon esquecendo da protagonista.
ResponderExcluirInfelizmente Lucy Alves não merecia ser desprezada pela autora ao longo da trama que não soube valorizar a boa atriz que ela é.
Big Beijos
Foi cirúrgico na explanação. Não assistia. Mas sabia da trama e os problemas pelas redes sociais. Assisti o último capítulo, foi horrível. Fiquei com pena de alguns grandes atores e atrizes que viraram "orelha" sem relevância, um desperdício ( Caruso, Torres, Fragoso, Giácomo...
ResponderExcluirObrigado, anonimo.
ResponderExcluirFico feliz, anonimo.
ResponderExcluirMistério, anonimo.
ResponderExcluirLeitora, saudades de voce e sempre seus comentários são impecáveis. Endosso tudo o que voce falou. Desculpe a demora em responder.
ResponderExcluirPois é, anonimo.
ResponderExcluirMuito obrigado, Guilherme.
ResponderExcluirNao acho, Alice.
ResponderExcluirObrigado, Maria.
ResponderExcluirTambem serve a comparação, anonimo.
ResponderExcluirSim, anonimo.
ResponderExcluirIdem, anonimo.
ResponderExcluirExato, Jack...
ResponderExcluirEu particularmente assistir na força do ódio essa novela em 2022/2023 teve momentos até que achei legais e houve um respiro mas a autora não soube aproveitar e desperdiçou por pura pirraça:
ResponderExcluirA única coisa que me prendia era o enredo da Chiara e seu pai biológico (Moretti), até me afeiçoei também com o Ivan que poderia ser meio irmão da menina furto de uma traição do Moretti -- tanto que não conseguia ver ALGUMA semelhança dela com o Moretti nem em perfil e sim o Ivan combinava perfeitamente com o vilão -- problema disso tudo que a autora enrolou esse assunto dela da Chiara descobrir a verdade do Guerra apenas no último capítulo de um jeito tão porco e apressado... Ela ainda depois de passar a novela toda servindo de besta e pateta pra outros personagens RÁPIDO DEMAIS perdoou o pai de criação por muitas mentiras e já não bastava que ela também servia de bobalhona na trama que ela se envolveu com Ari e a tal gravidez na reta final, não houve ainda aquela "vingança" em que a própria personagem prometeu em cumprir encima contra o vilão do Chay Suede.
Enfim: acho que a novela era ok no meu ver mas vários desenrolar dos núcleos decaíram -- a cena do dia no capítulo especial de natal na casa do Moretti gostei até serviu, e na cena da explosão do carro de Guerra com Guerra -- fora esses momentos legalzinhos, a novela prometeu e não entregou quase nada de tão interessante.