A nova novela das seis estreou cometendo o mesmo erro da produção anterior, "Mar do Sertão", escrita por Mário Teixeira. "Amor Perfeito" apresentou um primeiro capítulo repleto de acontecimentos relevantes sendo jogados de forma apressada e superficial, o que prejudicou a narrativa e ainda deixou o público perdido em meio a tantas informações. Mas o pior é que o ritmo acelerado segue nos demais capítulos da semana.
Tudo o que foi apresentado até agora poderia ser contado em duas semanas, no mínimo, e sem prejudicar o dinamismo da obra. A correria prejudicou até a afeição de quem assiste pelos personagens e, consequentemente, pelos dramas que vêm enfrentando. O primeiro capítulo pareceu um trailer da novela e não o início, de fato, do enredo. O atropelo dos acontecimentos tirou todo o impacto de tudo o que aconteceu. E olha que foi muita coisa.
Duca Rachid tem um vício narrativo que sempre prejudicou os seus protagonistas: juntá-los logo na estreia com um amor súbito, sem construção alguma. Foi assim em "Cama de Gato", "Cordel Encantado", "Joia Rara" e "Órfãos da Terra" ---- as quatro escritas com Thelma Guedes. Agora não foi diferente. Marê (Camila Queiroz) e Orlando (Diogo Almeida) se encantaram logo na primeira cena juntos e antes da trama ir para o intervalo já estavam perdidamente apaixonados e se beijando.
Também transaram cerca de 15 minutos depois ---- em uma história ambientada em 1934. Pouco tempo depois, o público foi informado que a mocinha estava noiva de Gaspar (Thiago Lacerda) por conta de um diálogo da personagem com seu pai, o poderoso Leonel (Paulo Gorgulho). Ainda houve um barraco protagonizado por Orlando e Gaspar durante um evento, o que culminou no rompimento da filha com o pai e consequentemente com o compromisso firmado.Os acontecimentos não pararam. Orlando se deparou com seu pai, agonizando em sua casa, dizendo ao filho para não ficar com Marê porque Leonel lhe deu um golpe no passado (situação exposta em um rápido flashback). O pai logo faleceu para o desespero do mocinho. Não deu para sentir a sua dor porque a sequência dramática não durou nem dois minutos. Orlando enviou uma carta para Marê contando sobre o falecimento, mas Leonel a interceptou e a falta de resposta de sua amada fez com que o rapaz concluísse que o pai tinha razão sobre a família de Marê. Então, também rapidamente, o protagonista resolveu viajar para o Canadá. Já a mocinha foi atrás de seu amor sem saber o que tinha acontecido. Enquanto isso, acontecia um show de Carmem Miranda (Priscila Alcântara) em um suntuoso baile com todos os personagens presentes. Do nada, Leonel surgiu com fotos de Gilda (Mariana Ximenes) e Gaspar aos beijos e mostrou para a vilã, exigindo a separação. A malvada rapidamente pegou um revólver e atirou no marido, que caiu na piscina em uma sequência claramente inspirada em "O Rebu" (1974/2014). Fim do primeiro capítulo. Se pareceu um enredo corrido e atropelado apenas lendo um parágrafo, a sensação de pressa ficou maior assistindo. Quem mostrou as fotos pro Leonel? Por que ele estava desconfiado da esposa? Por que insistiu para a filha se casar com o amante da esposa?
Já no segundo capítulo houve uma diminuição de ritmo, mas a sensação de correria permaneceu. Todos os personagens começaram a desconfiar da mocinha como se fosse algo comum uma filha assassinar um pai só porque não estava presente na festa e porque tinha brigado pelo namorado. E todos conhecem a personagem e sabem como é uma menina doce, o que deixou o contexto beirando o absurdo. Como ninguém desconfiou da esposa que nem mãe da Marê é? E não demorou para a polícia concluir que Marê era a culpada, até porque Gilda subornou o jardineiro da família para depor contra a enteada e chantageou o delegado para incriminar a mocinha. A protagonista acabou presa. No terceiro capítulo, foi condenada por unanimidade em um julgamento recorde e descobriu que estava grávida de Orlando. Para culminar, Olímpia (Analu Prestes), uma quase avó da mocinha, morreu depois que falou com Gilda (e nem foi uma discussão grave). Difícil entender o objetivo de tamanha correria.
É compreensível que o intuito de Duca Rachid, Júlio Fisher e Elisio Lopes Jr seja focar na trama de Marcelino (Levi Asaf), já que a novela é baseada no livro "Marcelino Pão e Vinho". Só que no livro a mãe do menino está morta e o final é até trágico, dependendo do ponto de vista de quem lê. Mas, a partir do momento que os escritores resolvem transformar a mãe do menino em mocinha, é obrigatório ter um cuidado com o desenvolvimento de sua história. Não havia a menor necessidade de tamanha pressa na hora de contar tudo o que a personagem sofreu antes de perder seu filho. A necessidade de criar uma falsa agilidade vem prejudicando vários folhetins, principalmente em seus capítulos iniciais.
A história de "Amor Perfeito" é um dramalhão clássico e o elenco é ótimo. Ter como base um livro tão querido é um dos trunfos da produção. Ainda é cedo para maiores análises, mas é uma pena que uma história que aparenta ser tão promissora tenha começado de forma tão atabalhoada.
Eu já desisti hoje. E amanhã já vai nascer a criança. Parece um filme de uma hora e quinze e nao uma novela de seis meses.
ResponderExcluirconcordo, não precisa ser lento como era, mas essa velocidade extrema nao dá tempo de identificação, mas estou adorando a novela. a confusão foi tanta na pressa q achei q era a mãe do médico, mas parece q é prima, irmã, amiga. mas pela pressa a gente nem entende direito. e parece q tao reprisando além da ilusão. por sorte agora começa a mudar bastante pq o começo tava muito igual. e camila queiroz tá arrasando e muitos personagens interessantes com atores incríveis q nem sempre tem destaque q merecem. beijos, pedrita
ResponderExcluirtá explicado pq a globo aceitou a cami de volta tão rápido: essa novela é um castigo p ela kkkjkk
ResponderExcluirEu acho essas coisas até engraçadas. E isso porque conheço umas senhoras idosas que gostam de ver novelas. Mas costumam cochilar (involuntariamente) enquanto as veem. Desse jeito elas não entenderão nada, rsrs.
ResponderExcluirBeijão
Pelo menos para a maioria dos autores, parece ser tendência conceber novelas que nas semanas iniciais acabam por entregar as histórias de forma a causar nos telespectadores a impressão de que os arcos centrais já foram preenchidos. Já havia criticado em alguns comentários de textos do blog o hábito de desenvolver folhetins mesclando aspectos de outros formatos dramatúrgicos por acreditar que o híbrido de formatos pode descaracterizar a identidade da obra e não é uma iniciativa inovadora para nenhum apreciador de dramaturgia.
ResponderExcluirGuilherme
Resenha muito bem feita. Parabéns!
ResponderExcluirBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
É como diz o ditado:
ResponderExcluir"A pressa é inimiga da perfeição."
Vamos ver no que vai dar,né?
Ane/De Outro Mundo :)
Pois é, Andressa...
ResponderExcluirVerdade, Pedrita.
ResponderExcluirAinda é cedo, anonimo.
ResponderExcluirSim, Marly...kkk
ResponderExcluirEu lembro, Guilherme. E até agora nao entendi o objetivo da pressa.
ResponderExcluirBoa semana, Emerson.
ResponderExcluirAguardemos, Ane.
ResponderExcluirQualquer novela que faça inspiração do mocinho injustiçado e preso ocorre essas pressas (O Outro Lado do Paraíso saiu ilesa disso) mas igualmente aconteceu recentemente com uma novela mexicana da Televisa "Marea de Pasiones" praticamente o mesmo enredo de "Amor Perfeito"
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