Nada mais vantajoso para uma boa história do que a presença de um grande ator nela. O remake de "Pantanal" caiu nas graças do público e Bruno Luperi foi feliz na escolha do elenco. E acertou ainda mais quando colocou o extraordinário Irandhir Santos para participar das duas fases do folhetim. Uma pena, porém, que Zé Lucas de Nada tenha sido um papel tão ingrato.
O ator não é uma figura frequente na televisão, embora esteja bastante requisitado nos últimos anos. Tanto que brilhou como o vilão Álvaro na controversa "Amor de Mãe", em 2019. Em "Pantanal", surgiu logo no primeiro capítulo na pele de Joventino, o pai de José Leôncio. E protagonizou a cena mais emblemática da estreia do remake. O telespectador não vai esquecer o momento que o peão encantou um marruá após muita insistência e uma coreografia que prezou o respeito pelo animal. O texto nem foi necessário. Um momento de pura emoção protagonizado por um ator que sabe aproveitar cada minuto de tela. Foram poucas sequências, mas todas marcaram. E dias depois Jove sumiu no mato para nunca mais voltar.
Só que Luperi não desperdiçou a chance de trabalhar novamente com Irandhir. Um ator de seu nível não podia ficar na novela por apenas alguns capítulos. O autor escolheu o intérprete para ser o Zé Lucas de Nada na segunda fase e assim que o personagem surgiu, quase dois meses depois do encerramento da primeira parte da história, houve um impacto por conta da comparação com o personagem anterior.
Além do belo trabalho da caracterização, o intérprete diferenciou Lucas de Joventino na fala, na voz, no olhar, enfim, em absolutamente tudo. É o mesmo ator, mas muitas vezes não parece. Um desavisado seria facilmente enganado e jamais lembraria que aquela pessoa que interpreta o filho de Leôncio (Marcos Palmeira) também viveu o avô do protagonista.Irandhir protagonizou cenas grandiosas com Marcos Palmeira logo no começo da interação entre Zé Lucas e Leôncio. Eram sequências mais longas, onde o texto precisava ser defendido com precisão. Uma tarefa fácil para o ator, que alternou momentos de emoção ao lado do pai com outros de puro deboche diante de Jove (Jesuíta Barbosa). Tinha tudo para ser um dos melhores e mais ambíguos perfis do roteiro. Mas não foi. Luperi se mostrou incapaz de mudar uma vírgula do roteiro original e repetiu todos os equívocos que permearam a trajetória do personagem em 1990. Benedito Ruy Barbosa criou mais um filho de Zé Leôncio apenas para satisfazer a vontade do público, que há 32 anos não aceitou a saída de Paulo Gorgulho, intérprete de Leôncio jovem, da trama. Então não conseguiu criar conflitos atrativos e o rapaz foi empurrado de um núcleo para o outro. A paixão que criou por Juma (Alanis Guillen) não acrescentou nenhum drama convidativo e deixou a novela maçante. Seu envolvimento com a jornalista Érica (Marcela Fetter) também não funcionou e o término --- por conta da mentira sobre um aborto espontâneo ---- não teve o menor nexo. Já o envolvimento forçado com Irma (Camila Morgado) na reta final, apenas porque o neto se recusou a alterar a saída de Trindade da história de 1990, foi o maior erro de todos. São cenas onde a química inexiste e o texto não convence.
Com mais de 20 filmes no currículo e considerado um dos melhores atores do cinema brasileiro, Irandhir tem vários prêmios oriundos de longas que contaram com sua luxuosa participação, incluindo o fenômeno "Tropa de Elite 2". São mais de 30 troféus. Uma coleção e tanto. Sua estreia na televisão foi em "A Pedra do Reino" (2007), minissérie de Luiz Fernando Carvalho, de quem se tornou um grande parceiro. O ator brilhou vivendo o Quaderna e despertou atenção na época. Mas a preferência pela tela grande sempre foi mais forte. Tanto que só voltou para a tevê sete anos depois, em "Amores Roubados" (2014), onde deu show na pele do psicopata obsessivo João da Silva, braço direito do poderoso Jaime Favais (Murilo Benício).
E foi no mesmo ano que o intérprete iniciou sua parceria com Benedito Ruy Barbosa e Bruno Luperi. Foi no lúdico remake de "Meu Pedacinho de Chão" que viveu seu grande momento na televisão na pele do capataz Zelão. O ator foi o responsável pelas cenas mais tocantes, sensíveis e emocionantes da novela, o que fez do seu personagem o grande trunfo daquela história transformada em conto de fadas pelo diretor Luiz Fernando Carvalho. Sua química com Bruna Linzmeyer foi arrebatadora e aquele amor que fazia o ignorante homem chorar como criança conquistou o público. A atuação primou pela completa entrega do ator. Já em 2016, foi escalado por Luperi para viver Bento, o irmão do protagonista Santo (saudoso Domingos Montagner), em "Velho Chico", onde também emocionou.
A irretocável atuação de Irandhir Santos novamente saltou aos olhos em "Pantanal". E o elogiado ator provou algo que ainda era inédito em sua carreira televisiva: conseguir brilhar até na pele de um personagem mal desenvolvido como foi o Zé Lucas de Nada.
Irandhir Santos é sem dúvidas um grande ator, e esse remake de "Pantanal" produzido pela Globo evidenciou ainda mais esse fato. Pena que Bruno Luperi se recusou a aprimorar no atual folhetim das 21h15min o perfil de José Lucas de Nada, criado pelo avô Benedito Ruy Barbosa na obra de 1990 da Rede Manchete apenas para satisfazer os telespectadores inconformados com a até então curta participação de Paulo Gorgulho na novela como o jovem José Leôncio.
ResponderExcluirGuilherme
Pantanal, tem um grande elenco e cada um deles vai deixar saudade🤔🥰🥰.
ResponderExcluirSérgio, tenha uma boa noite.
Um abraço
UM PERSONAGEEM MUITO AQUÉM DO TALENTO DELE.
ResponderExcluirSérgio, eu fiquei tão emocionada com o seu texto sobre o Irandhir Santos!
ResponderExcluirQue ator, que monstro que ele é! Pena que não foi devidamente aproveitado na segunda fase da novela, poderia ter se desenvolvido de uma forma muito mais empolgantes. A interpretação dele é primorosa demais: ele nem precisa falar, o olhar diz tudo e mais alguma coisa!!! Que monstro sagrado da interpretação Sérgio!! E parabéns por trazer um texto sobre ele que foi essencial na novela Pantanal!!
Um grande abraço e uma ótima semana amigo!!
Vc traduziu tudo, Guilherme.
ResponderExcluirBjs, Fatyma.
ResponderExcluirConcordo, anonimo.
ResponderExcluirQue honra, Adriana!!!
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