A nova novela das sete da Globo está há pouco mais de dois meses no ar. Escrita por Claudia Souto e dirigida por Natalia Grimberg, "Cara e Coragem" teve um início movimentado por bons enigmas e aparentemente tinha uma história interessante a ser contada. No entanto, semanas se passaram, e as impressões mudaram. No atual momento tem ficado claro que o conjunto apresentado deixa bastante a desejar.
Vendida como uma novela de muita ação por explorar a vida dos dublês e ter um misterioso assassinado que precisa ser desvendado, a história na verdade é monótona e com uma narrativa que vai cansando. É até estranho um folhetim começar assim, já que o normal é o enredo iniciar com agilidade e ir perdendo o fôlego ao longo dos meses. É até natural qualquer produção dramatúrgica entrar na fase da chamada barriga (período onde nada de relevante acontece), porém, no caso da trama das sete, a falta de situações atrativas da história começou a ser vista cedo demais.
Um dos maiores problemas é a ausência de carisma dos personagens. Não é culpa do elenco, muito bem escalado e repleto de ótimos nomes. Mas da apresentação dos perfis. A grande maioria não desperta a simpatia de quem assiste. É difícil criar qualquer envolvimento com alguém. Aliás, não tem como ignorar "Pega Pega", novela da mesma autora, exibida em 2017, que sofria do mesmo problema. Eram raros os personagens carismáticos. Dava para contar nos dedos de uma mão.
Tanto que quase todos caíram no esquecimento quando a produção acabou. Poucos funcionaram de fato. Maria Pia (Mariana Santos), Malagueta (Marcelo Serrado) e Sandra Helena (Nanda Costa) foram exceções. E na história que marcou sua estreia como novelista solo, Claudia teve a sorte do 'acaso'. Isso porque o casal de 'vilões' roubou a cena e caiu no gosto popular. O par 'Malapia' virou febre nas redes sociais. Só eles rendiam alguma repercussão na internet. O resto era praticamente ignorado.E "Cara e Coragem" até o momento não tem um casal sequer que tenha conquistado o público. Ou seja, a produção já está em desvantagem quando comparada ao folhetim anterior da escritora. É verdade que Claudia teve a preocupação de não repetir o erro de "Pega Pega", quando apresentou mocinhos que tiveram uma paixão súbita (Luiza - Camila Queiroz e Eric - Mateus Solano), o que resultou em um completo fracasso. Agora há uma construção do envolvimento de Pat (Paolla Oliveira) e Moa (Marcelo Serrado). Mas ainda assim não funciona porque a mocinha é casada com um sujeito que esbanja integridade e sofre de uma doença misteriosa. Se a autora supôs que o público rejeitaria Alfredo (Carmo Dalla Vechia) por ser um sujeito mais acomodado e caseiro, ainda que trabalhe de casa, supôs errado. E como achar bonitinho a protagonista traí-lo com Moa e sempre olhá-lo com piedade? Outro fator que torna os mocinhos cansativos é o fato de serem dublês. Com o perdão de toda a classe de dublês do país e do mundo, mas não é nada interessante acompanhar a rotina deles. Até porque as cenas não têm utilidade alguma para o roteiro. São sempre produções caprichadas que resultam em sequências de segundos, quase sempre deles pulando segurados por alguma corda, mas que só servem para o momento do intervalo, quando aí sim os protagonistas conversam sobre algo relevante. E normalmente é a respeito do assassinato de Clarice (Taís Araújo) ou sobre a disputa da guarda do filho de Moa com a ex.
Aliás, qual o motivo para a morte de Clarice ter sido tão cedo? A novela vai até janeiro de 2023. A Globo decidiu espichá-la antes mesmo da estreia para que "Vai na Fé", folhetim de Rosane Svartman, não seja prejudicado pelas baixas audiências comuns no fim do ano. Ou seja, não dava para desenvolverem a personagem para que o telespectador ao menos criasse um vínculo com ela? A empresária foi morta no terceiro capítulo e tudo o que vem sendo mostrado sobre sua rotina está em breves flashbacks. É uma narrativa mais ousada? Sim, mas a que preço? A escolha acabou destruindo qualquer possibilidade de gerar um interesse maior na descoberta dos enigmas que envolvem o crime. E Ítalo (Paulo Lessa), quarto protagonista? Vai passar a história toda atrás da falecida? Não há outros dramas pessoais? O pior é que há uma obviedade na existência de Anita, também vivida por Taís Araújo. A personagem só tem uma função real para o roteiro se ela for a Clarice que ocupou o lugar de sua sósia. Porque Anita surgiu do nada e não tem vínculo algum com os personagens. Se ela não for a 'morta' (e nem deve ser pelo que vem sendo exposto até agora), tudo ficará ainda mais deslocado do que já está. Por mais que todas as peças se encaixem no final. E falando no desfecho, a audiência (que está longe de refletir um sucesso) terá paciência para tantos mistérios e pontas soltas até janeiro do ano que vem? Até porque a história está arrastada e nada convidativa. A estratégia da autora tem sido clara: preenche o tempo dos capítulos com situações que nada acrescentam e reserva apenas os dois minutos finais com um gancho a respeito da morte de Clarice. Porque esse é o único mote que representa algum atrativo. Mas é apenas mais uma pista avulsa. Você pode se dar ao luxo de não assistir por uma semana que não perderá nada.
E abordando novamente a questão da falta de carisma dos personagens, nem mesmo os vilões funcionam. Mel Lisboa, Ícaro Silva e Ricardo Pereira fazem o que podem, mas não há muito para onde correr. Regina, Léo e Danilo são perfis gélidos até mesmo nos momentos que deveriam ter alguma dose de emoção. Não há humor, acidez, nada. Nem malignidade de fato. Se a intenção era não criar 'malvados' caricatos, houve uma falha porque, mesmo sem o deboche típico da faixa mais exagerada das sete, os tipos caem no abuso interpretativo. Todos têm tons acima. Parece que para lembrar que eles são os vilões porque caso contrário é até natural que a informação seja esquecida. Por sinal, falando em humor, a novela praticamente não tem comicidade. Não que seja uma regra para folhetins das 19h, mas a grande maioria tem determinadas características da faixa. Uma delas é essa. E as poucas que tentaram fugir disso fracassaram, vide "Além do Horizonte" e "Geração Brasil". O problema de "Caras e Coragem" nem é a ausência de algo mais cômico, mas é a ausência de tudo. Porque também não é uma história dramática ou pesada com um ar sombrio. Não tem arcos que te arrebatem com um dramalhão ou então uma leveza gostosa de assistir. O conjunto acaba não tendo uma identidade. É um folhetim de humor? De drama? De mistério? De romance? É do quê? Não há resposta.
Um dos poucos acertos até agora tem sido a dupla formada por Kiko Mascarenhas e Jeniffer Nascimento. Duarte e Jéssica têm um humor delicioso quando estão juntos e a sintonia dos atores é visível. Combinaram desde a primeira cena. Já a saga da identidade falsa do faxineiro, que vira o ricaço Bob Wright para curtir uns privilégios enganando trouxas, só funciona quando está com a parceira do lado. Ele sozinho, e agora aliado de Danilo, já perde aquele carisma tão em falta na trama. A questão envolvendo o relacionamento abusivo que aprisiona Lou (Vitória Bohn, ótima revelação), uma menina que não enxerga a toxidade do namorado, Renan (Bruno Fagundes), também desperta conflitos. Mas repetitivos. Já o fato dela ser irmã de Pat, fruto de uma relação extraconjugal do pai da mocinha com Olívia (Paula Braun, bem em sua volta às novelas) é apenas um clichê aleatório.
"Cara e Coragem" ainda não chegou nem na sua metade. Há muito chão pela frente. Mas Claudia Souto está com um desafio dos mais complicados. A sua novela não está despertando interesse, a audiência vem se afastando cada vez mais e a repercussão nas redes sociais é perto do zero. Tudo pode mudar com uma reviravolta incrível? É difícil, mas possível. O problema mesmo é que muitos dos fatores expostos não podem ser alterados. Só um milagre pode deixar esse roteiro interessante.
Essa novela já é uma das piores que eu já assisti.
ResponderExcluirEu ja nao esperava nada porque Pega Pega foi ruim de doer.
ResponderExcluirNão é a primeira vez que a Globo investe absurdamente em um produto que, no fim das contas, mostra-se equivocado em muitos aspectos. ("Malhação - Vidas Brasileiras" (2018), alguém?) Mas ao menos "Quanto Mais Vida, Melhor!" (2021), mesmo com índices modestos de audiência, não foi encurtada como "Malhação - Viva A Diferença" (2017) para favorecer a obra substituta na faixa horária em questão. E ambas repercutiram positivamente, ao contrário das respectivas produções que as sucederam. Com o perdão do trocadilho, mas é preciso muita coragem para acompanhar o atual folhetim da faixa das 19h30min.
ResponderExcluirGuilherme
Ja era uma tragédia anunciada. Bastava ver aquelas chamadas péssimas.
ResponderExcluirUm desenrolar moroso e desinteressante.
ResponderExcluirPena o investimento,né? abração, chica
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ResponderExcluirPensei que era só eu que não aguento vê essa novela!
Mas, agradar a todos é impossível, não é mesmo?
Sérgio, tenha ótima quinta-feira!
Um abraço.
A autora está perdida na trama e anda em círculos. A saída seria ressuscitar Clarice.
ResponderExcluirBig Beijos
www.luluonthesky.com
Mas como assim você achou interessante se o texto foi uma critica negativa? Que sugestão você vai levar??? Inclusive nem precisava ler o texto, só o título já está totalmente claro.
ResponderExcluirO problema dessa novela é a falta de carisma dos personagens e a falta de história.O mistério em relação a morte de Clarice e sua sócia Anita eu até estava interessado no começo, mas a autora enrola tanto que eu simplesmente perdi o interesse.Clarice deveria ter durado muito mais na novela, set mostrada como uma empresária de caráter, pra gente se apegar a personagem e quando ela morrer a gente sentir algo e mais pra frente a Anita se revelar a Clarice como grande vilã da história surpreendendo, estilo Flora de A Favorita, a Tais Araújo brilharia ainda mais na novela.E a Anita poderia ter escapado da morte e se vingar da Clarice, seria uma trama muito mais interessante e daria bastante conteúdo pra uma novela que vai durar tanto tempo.Paolla Oliveira e Marcelo Serrado são ótimos atores, mas os atores não se encontram nos personagens e não há química no par, ainda mais quando envolve traição, isso só funciona se a pessoa traída for uma pessoa escrota, o que nao é o caso do marido da Pat, a autora poderia ter o colocado como uma pessoa escrota, passiva agressiva ou até mesmo criando uma reviravolta o ligando a morre de Clarice é o seguinte: Clarice poderia ter chamado Pat e Moa propositamente a pedido do marido da Pat pra se vingar por ciúmes da relação dos dois, seria uma armadilha, isso até justificaria o furo do roteiro pra Clarice chamar e confiar em dois dublês que ela nem conhecia pra resolver uma questão que nem está ligado a profissão deles, os dois nem são detetives ou investigadores, acho que estou mais criativo e melhor que a autora 😂.A novela pode melhorar?Pode, mas só se acontecer uma reviravolta bombástica que chame mais público, conhecendo o histórico de incompetência da autora não acho que isso aconteça, vai durar até janeiro de 2023?MISERICÓRDIA!
ResponderExcluirCorreção: *sendo mostrada como uma empresária de caráter
ResponderExcluirBem ruim mesmo, anonimo.
ResponderExcluirEu tb nao, Yasmin.
ResponderExcluirMuita coragem, Guilherme...
ResponderExcluirVerdade, Heitor
ResponderExcluirIsso, Edite.
ResponderExcluirPena mesmo, Chica.
ResponderExcluirTa agradando bem pouco, Fatyma...
ResponderExcluirEla está viva, Lulu.
ResponderExcluirÉ verdade, anonimo.... kkkk
ResponderExcluirWelton, endosso tudo no seu comentário. E sua ideia foi mt melhor que a sinopse da autora.
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