Todo autor tem aquele ator ou atriz com quem gosta de trabalhar. Não por acaso, há intérpretes que estão sempre na lista de escalação de determinados escritores. É a chamada 'panelinha'. É impossível acabar com a prática porque é natural que o roteirista queira trabalhar novamente com quem já defendeu um personagem seu com brilhantismo. Isso tem sido visto, por exemplo, em "Um lugar ao Sol". Lícia Manzo e Ana Beatriz Nogueira estão repetindo a bem-sucedida parceria de "A Vida da Gente".
A primeira novela de Lícia Manzo, exibida em 2011, é a terceira mais vendida da Globo e foi reprisada recentemente em virtude da paralisação das gravações por conta da pandemia do coronavírus. Ana foi um dos destaques na pele da narcisista Eva, mãe de Ana (Fernanda Vasconcellos) e Manu (Marjorie Estiano). A personagem tinha uma veneração doentia pela filha tenista e desprezava a outra de forma cruel. A atriz protagonizou muitas cenas de forte intensidade dramática e despertou a antipatia do público. Foi o papel mais importante da intérprete na televisão. Dava gosto assistir qualquer momento de Eva por conta do talento de Ana Beatriz Nogueira.
O curioso é que, embora fosse um perfil detestável, Eva tinha seus momentos de humor em virtude da quantidade de absurdos que proferia. Não por acaso, agora, dez anos depois, Lícia Manzo resolveu presentear a atriz com uma personagem que tem a comicidade como principal característica. Parte da crítica especializada costuma apontar a ausência de humor nas novelas da autora como uma espécie de demérito.
É preciso fazer duas observações sobre tal argumento: as tramas da escritora têm, sim, momentos engraçados. E não ter núcleo cômico em um folhetim não é um defeito, apenas uma característica. Mas voltando ao assunto sobre a parceria de Lícia e Ana, fica visível que os raros instantes que Eva provocava o riso do telespectador motivaram a autora a criar a Elenice. Quem dizia que Eva e Elenice eram iguais antes mesmo da novela estrear queimou a língua. São perfis totalmente distintos. A nova personagem de "Um Lugar ao Sol" é uma típica perua de classe média alta que vive endividada por conta de seus luxos e não consegue enxergar o outro, apenas a si mesma. Nem mesmo o filho ela consegue ver. Renato (Cauã Reymond) foi assassinado e substituído por Christian (Cauã Reymond) e a mãe nunca percebeu qualquer diferença entre os dois, por mais sutil que fosse. Ao contrário de Bárbara (Alinne Moraes), que percebeu de imediato uma mudança estranha. Isso porque Elenice está fechada em seu mundo de interesses. Ao mesmo tempo, o deslumbramento daquela mulher rende situações impagáveis e que funcionam como um elemento de leveza da história.Ana Beatriz Nogueira merece todos os elogios pela composição da personagem. A atriz conseguiu emprestar seu carisma a Elenice e sua parceria com Fernando Eiras, que interpreta Teodoro, irmão da perua, é um dos pontos altos do folhetim. Os dois formam uma espécie de dupla fracassada, onde um sempre acaba cometendo alguma gafe, despertando a ira do outro. Também acaba sendo algo comum sentir pena de Elenice, principalmente quando Christian a maltrata. E vale ressaltar que o protagonista tem toda razão para detestá-la. Afinal, acabou rejeitado por ela na hora da 'adoção' porque estava doente. Até hoje a mãe de Renato não sente qualquer remorso. Mas ainda assim é possível sentir empatia por ela. Isso é fruto da boa construção de Lícia e da atuação irretocável de Ana.
Em plena reta final, a novela está encaminhando o futuro de Elenice. A personagem vem apresentando leve lapsos de memória, que já são sintomas do Mal de Alzheimer, doença que a mãe de Renato desenvolverá. Já na vida real, Ana Beatriz descobriu recentemente um câncer no pulmão. O tumor foi descoberto no estágio inicial por conta de uma tomografia que a atriz precisou fazer no final de janeiro, quando contraiu a gripe Influenza. Há males que vem para o bem. A gripe ajudou a descobrir uma doença mais grave na hora certa. Tudo dará certo.
"Um Lugar ao Sol" tem se mostrado uma ótima novela e a trajetória de Elenice vem provando a cada capítulo como Lícia Manzo e Ana Beatriz Nogueira foram feitas uma para a outra. A criadora e a criatura que funcionam sempre bem juntas.
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ResponderExcluirSérgio, acredito que se A Vida da Gente fosse novela do horário nobre. A Ana Beatriz Nogueira estaria em outro patamar. É só ver que mesmo a Elenice que é um personagem menor que a Eva , a Ana Beatriz Nogueira vem dando um show , confesso queria que a personagem dela tivesse tido mais destaque. Estou na torcida pela recuperação dela e que ela brilhe no próximo trabalho. Ainda tenho esperança de ver Ana, Marjorie e Fernanda trabalhando juntas outra vez.
ResponderExcluirEspero que ela se recupere logo!
ResponderExcluirVery interesting post ^^
ResponderExcluirsim, eu tb gostaria de trabalhar com as pessoas de maior afinidade. mas os autores exageram e ficam preguiçosos. gosto da thelma e da duca que elas diversificam bem seus elencos. bárbara e elenice são personagens complexas e incríveis. as duas estão arrasando. que ela se recupere logo. bela homenagem. beijos, pedrita
ResponderExcluirDe fato a sintonia de autores com um ator ou atriz específica se mostra evidente, mas são poucos os roteiristas a honrarem a presença dos intérpretes com quem trabalham, principalmente no que tange ao desenvolvimento de um produto dramatúrgico em sua totalidade. Lícia Manzo constrói sob medida os perfis de suas obras, valorizando cada camada deles, e felizes são os atores e atrizes que têm a oportunidade de dar vida aos personagens que ela esmiúça com tanta dedicação.
ResponderExcluirGuilherme
Não acho Sérgio. Acho que a Elenice ficou um pouco escanteada, tanto é que terá um final abrupto ao meu ver. Teve bons momentos sim, mas não foi uma personagem crescente.
ResponderExcluirGabriela
A Ana Beatriz Nogueira é uma atriz incrível. Não vejo outra atriz para o papel da Elenice.
ResponderExcluirBig Beijos
www.luluonthesky.com
Concordo, Camila.
ResponderExcluirSe recuperou, anonimo.
ResponderExcluirObrigado, Malhinda.
ResponderExcluirElas nao diversificam tanto nao, Pedrita.
ResponderExcluirOnde assino, Gui?
ResponderExcluirSem problemas, Gabi.
ResponderExcluirIdem, Lulu!
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