Voa, Maria!

 Na tarde desta terça-feira, Maria foi chamada ao confessionário e acabou desclassificada do "BBB 22" por conta da agressão que cometeu contra Natália, ontem, no jogo da discórdia. Quem viu a 'baldada' na cabeça que a participante deu na colega já sabia que a expulsão ocorreria. A produção só não eliminou imediatamente porque o fato precisa passar pelo jurídico da empresa e o programa estava ao vivo, já perto da meia noite. 

Ironicamente, Maria, na madrugada de domingo para segunda, defendeu a Natalia em uma franca conversa com Vinicius, que protagonizou uma discussão passivo-agressiva com Nat. Maria se comparou com Natalia e elaborou uma lista de semelhanças: são mulheres 'racializadas', precisam lidar com a rejeição dos homens, são vistas como agressivas e ambas têm apenas um ano de diferença de idade (Maria tem 21 e Natalia 22). 

Porém, a própria Maria já tinha confessado que precisa controlar sua impulsividade, sua maior fraqueza. Infelizmente, não conseguiu no último jogo da discórdia, onde um júri com todos os confinados foi montado e duas pessoas protagonizavam uma espécie de julgamento moral, onde o perdedor do debate era molhado com água suja. Natália foi massacrada por quase todos os colegas e chamou Maria para confrontar. Poderia ter chamado qualquer outra pessoa? Poderia. Tinha mais motivo para chamar outros? Tinha. Mas estava no seu direito.

E Maria não escondeu a raiva que sentiu. Os participantes não concordaram com os argumentos de Nat e declararam Maria como a 'vencedora' do duelo. Maria, então, ao derrubar a água do balde, aproveitou e bateu na cabeça da colega. Foi tão forte que deu para ouvir o barulho pelo microfone. Natalia disse na hora que sentiu a agressividade. Tadeu Schmidt ficou constrangido. 

A expulsão da Maria era necessária. Uma regra foi infringida. Ana Paula Renault, protagonista do "BBB 16", foi desclassificada por muito menos. Vale destacar que Maria já tinha sido agressiva quando colou uma plaquinha na testa de Arthur Aguiar no jogo da discórdia da semana passada. No entanto, ali não houve agressão. Mas a impulsividade da participante, quando confrontada, ficou mais evidente. O fato é que a punição já aconteceu. Nada mais precisa ser feito. Maria não cometeu nenhum crime. E quem a acompanhou ao longo das semanas conheceu um lado diferente da cantora e atriz: viu o quanto a pessoa Maria é corajosa. 

A cantora foi a única do elenco camarote que viveu o BBB em sua totalidade. A única que não se preocupava com sua imagem aqui fora, com o julgamento dos outros, com o risco que se mostrar causaria em sua carreira. Em meio a um elenco repleto de gente covarde e com medo de se expor até mesmo na hora da votação, era prazeroso demais ver a entrega da participante. Era a dona das festas. Dançava até o amanhecer, beijava, bebia. Ver alguém de verdade desnudando suas virtudes e defeitos diariamente. Ver uma pessoa que tinha a plena consciência que não valia a pena ficar com medo do 'cancelamento' porque sendo uma mulher negra, bissexual e periférica já sairia em desvantagem dentro de uma sociedade racista, machista e homofobica. Então, ao invés de se preocupar, foi viver intensamente. Mesmo sabendo dos riscos que essa intensidade poderia causar. 

Maria beijou Lina várias vezes nas festas sem medo de apontamentos ou questionamentos sobre sua sexualidade. Beijou Eliezer e disse claramente que queria transar com ele. Danem-se os outros. E transou. Não ligou quando Eliezer e Natalia se beijaram, afinal, os dois eram solteiros e adultos. Sua única preocupação foi Eli não ter contado para Natalia que tinha herpes. Se preocupou com ela e não com ele. Aliás, sua rivalidade com Natalia se deu quando Maria votou na colega logo no início do jogo, um dia após as duas terem tido uma importante conversa sobre a solidão da mulher negra. Cometeu um erro. Um erro que rompeu uma amizade que tinha tudo para se fortificar. Mas ainda assim havia um respeito entre ambas. A tão falada 'sororidade'. Uma pena que a impulsividade de Maria tenha dado um fim em uma relação que ainda poderia mudar ao longo dos meses. 

O "BBB 22" vem decepcionando desde sua estreia. Não passa nem perto da excelência que o "BBB 20" e o "BBB 21" foram, citando apenas as edições em que houve a divisão 'Pipoca' e 'Camarote'. Não há nada para criticar a respeito da desclassificação de Maria. Toda ação tem sua consequência. Ela pagou pelo que fez. Mas o público e o reality foram os que mais perderam com a eliminação de uma mulher que queria viver cada dia como se fosse o último. Agora voa, Maria! Voa, Vitória! Cante muito. Atue muito. Viva muito. Você merece ser feliz.