sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Reprise apenas comprovou que "Flor do Caribe" foi uma novela insossa e esquecível

A reprise de "Flor do Caribe" chegou ao fim nesta sexta-feira (26/02) e reforçou todas as impressões de oito anos atrás: a novela de Walther Negrão teve lindas imagens, mas pouco conteúdo. Não foi um sucesso de audiência, mas também não fracassou. A repercussão foi nula. Os personagens não marcaram, assim como os conflitos, e nenhuma cena ficou na memória do público. Passou despercebida. O mesmo ocorreu durante a reexibição. 


A história de Walther Negrão começou fraca e sem qualquer atrativo. A obsessão do vilão em roubar a mocinha do mocinho era óbvia e os demais núcleos não empolgaram. A boa primeira impressão ficou por conta das lindíssimas imagens, bem usadas pelo diretor Jayme Monjardim. Entretanto, com o passar das semanas, a novela foi ganhando bons elementos. A temática do nazismo começou a ser melhor aprofundada (de uma forma bem didática), a fuga de Cassiano (Henri Castelli) transmitiu a impressão de que uma grande vingança seria iniciada e a entrada de Daniela Escobar deixou claro que Natália e Juliano (Bruno Gissoni) ofuscariam os mocinhos insossos.

Parecia de fato que a trama engrenaria de vez. Porém, com o tempo, foi possível constatar que a obra seria recheada de altos e baixos, onde o ritmo arrastado seria um dos problemas. Poucas viradas ocorreram na trama e quase sempre o público se via diante de situações que se repetiam ou então não saíam do
lugar. Muitas vezes apelavam para as belíssimas imagens do Rio Grande do Norte para ocupar o tempo.

Cassiano passou a história toda dizendo que Alberto (Igor Rickli) pagaria por ter destruído seu romance com Ester (Grazi Massafera), mas acabou não fazendo nada e sendo apenas um mero observador. O núcleo cômico dos tenentes foi um equívoco. Thiago Martins, Max Fercondini e Dudu Azevedo se repetiram e era impossível ver alguma diferença na interpretação deles em relação aos seus papéis anteriores. Somente Thaíssa Carvalho se saiu bem. E o contexto tinha como objetivo fazer rir e inserir alguma adrenalina na trama. A comicidade não funcionou, mas cenas de ação foram bem feitas, apesar de algumas vezes terem ficado forçadas.


O casal Doralice (Rita Guedes) e Quirino (Ailton Graça) não foi bem desenvolvido e ser perdeu por completo. Walther merece elogios por ter tirado os atores de seus respectivos estigmas --- ele do tipo engraçado atrapalhado e ela da 'gostosona' ----, porém, se equivocou na trama. O objetivo inicial seria abordar a paixão de Dora por seu enteado (Juliano), causando uma crise no relacionamento. Mas o autor se arrependeu e a solução foi transformar a cozinheira em uma mulher obcecada por ficar grávida, mesmo sabendo que era estéril. O resultado acabou afastando a personagem do folhetim, que só voltou no final para 'se despedir'.


Apesar do bom desempenho de Grazi Massafera, o casal protagonista não funcionou. O par abusava das declarações melosas e o único assunto que permeava a relação era a 'derrocada de Alberto'. Algo que cansou rapidamente. A trama do nazismo, apesar de ser um dos pontos altos, pecou na inverossimilhança com a idade dos envolvidos. Foi difícil acreditar que Samuel (Juca de Oliveira) era apenas uma criança quando Dionísio (Sérgio Mamberti) já era um adulto com mais de 40 anos. E tudo só piorou quando Manolo (Elias Gleizer) entrou na história, como melhor amigo de infância do pai de Ester.
Foi uma pena também ver uma atriz como Laura Cardoso ser colocada como mera figurante em um núcleo que nem sequer tinha importância para a trama. Sua Veridiana pouco apareceu, não fazendo jus ao talento da intérprete. E apesar do elenco enxuto, outros atores não tiveram o merecido destaque: caso de Bete Mendes e Cacá Amaral, por exemplo.


Ainda assim, é preciso elogiar a evolução do autor, que conseguiu escrever um folhetim mais bem construído e desenvolvido do que sua produção anterior na época: a fraca "Araguaia" (2010). E a posterior se mostrou ainda pior: "Sol Nascente" (2017). Tanto que a obra também teve acertos. Embora Igor Rickli tenha começado inseguro e inexpressivo, o ator evoluiu a olhos vistos e terminou a novela sendo um dos destaques. Suas fortes cenas com a maravilhosa Cláudia Netto (Guiomar) foram impecáveis. Sérgio Mamberti e Juca de Oliveira engrandeceram a história com seus respectivos talentos, protagonizando excelentes sequências. A entrada do saudoso Elias Gleizer e da ótima Inez Vianna também foi muito bem-vinda e melhorou o que já estava bom.


O casal Natália e Juliano transbordou química e a sintonia entre Daniela Escobar e Bruno Gissoni ficou evidente. Maria Joana e José Henrique Ligabue também formaram um bonito par, na pele de Carol e Lino. Luiz Carlos Vasconcelos e Cyria Coentro foram outros pontos positivos. Os atores protagonizaram emocionantes e difíceis cenas em todos os momentos em que Donato e Bibiana tinham que lidar com a ambição de Hélio (Raphael Vianna). 


A última semana da novela foi entediante e a reta final marcou pela previsibilidade. O que não deixa de ter sido coerente com o que representou a história. Porém, a cena final do último capítulo, vale ressaltar, foi excelente. Alberto fugiu da clínica psiquiátrica, viu o casamento de Ester e Cassiano e tentou se matar afundando no mar. Porém, foi salvo pelo casal protagonista. A amizade de infância do trio acabou sendo revivida naquele momento. O vilão olhou nos olhos dos dois e agradeceu, emocionado, encerrando a trama. A cena acabou demonstrando a inspiração do autor com o final de "Avenida Brasil", onde Carminha e Nina se reconciliam. Aliás, ele mesmo disse na época que a obra de João Emanuel Carneiro o inspirou para o desenvolvimento de "Flor do Caribe". Mas claro que as duas produções não são dignas de comparação.

Walther Negrão apresentou uma trama repleta de altos e baixos, mas soube se renovar e fugir de alguns vícios observados em tramas anteriores. A novela das seis foi um fracasso de repercussão e teve uma audiência mediana, mas não pode ser classificada como ruim. A Globo foi estratégica em reexibi-la em pleno verão. Porém, não merecia uma reprise. Uma obra desinteressante e esquecível que novamente não marcou em nada. 

14 comentários:

  1. Ainda bem que ja acabou. Novela ruim.

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  2. Oi, Sérgio!

    Tu explicas tudo tão detalhadamente, mas pelos vistos a novela não correspondeu às expetativas.

    Abraço e saúde.

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  3. Olá, tudo bem? Na época, Flor do Caribe foi produzida para reerguer os índices de audiência herdados de Lado a Lado. E nesta reprise, ficou novamente em um bom patamar. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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  4. Enfim, mais uma vez chegou ao fim a apática "Flor Do Caribe" (2013), e tive pela segunda vez a oportunidade de ver a cena final ridícula dessa produção esquecível, mas após "Fina Estampa" (2011), quase nenhum fim de novela ruim causa espanto. Walther Negrão já havia escrito um ou outro folhetim de qualidade duvidosa antes dos anos 2000, mas depois dessa época, perdeu a manha de criar obras dignas de maior reconhecimento por parte de pessoas com faro aguçado para acompanhá-las. Mas pelo menos "Flor Do Caribe" re-ergueu um pouco os índices de audiência da faixa das 18h15min perdidos com a boa "Lado A Lado" (2012), para depois a chata "Joia Rara" (2013) derrubá-los novamente. Mas não é para chorar, porque a partir da próxima segunda-feira poderemos nos deleitar com a edição especial da grandiosa "A Vida Da Gente" (2011).

    Guilherme

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  5. eu vi e pode não ter sido uma grande novela, mas achei gostosinha de se ver, meu sonho é ver a injustiçada sangue bom ser reprisada, todo fracasso merece uma segunda chance (tirando as piores novelas).

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  6. A novela fracassou, mas elevava muito de Malhação e melhorou os índices do horário após Lado a Lado. Nessa reprise, ela de novo elevou bem, ficando na meta e teve boa repercussão sim, pelo menos na Internet. A trama do nazismo foi melhor entendida do que naquela época. Não sei onde vc viu Natália e Juliano tendo protagonismo, as cenas deles eram desnecessárias. O personagem secundário que teve mais tempo de tela foi o Hélio, mas o Walther gosta de ir alternando os núcleos como histórias principais, vc vê isso em "Era Uma Vez" também. Eu gostei do plot da Doralice e do fato do Cassiano e da Ester ficarem juntos até o final. Não gosto de casais que ficam terminando e reatando. Sinceramente, prefiro Flor do Caribe do que Avenida Brasil. Acho Avenida muito superestimada e A Favorita do JEC muito melhor

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  7. Não acompanhei nem a primeira nem a segunda vez. Obrigado pela crítica tão bem construída e sincera.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está em Hiatus de verão entre 05 de fevereiro e 08 de março, mas não deixaremos de comentar nos blogs amigos. Também tem posts novos no blog.

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    Até mais, Emerson Garcia

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  8. Sangue Bom nem foi fracasso, Danilo. Ficou na média.

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