Reprises reforçam o talento de Malu Galli

A pandemia do coronavírus vem provocando um caos mundial e o isolamento social virou regra imprescindível em tempos de tanto contágio. O primeiro choque no Brasil foi através da paralisação das gravações das novelas da Globo, principal emissora do país. Medida necessária. E assim que passou a exibir reprises de folhetins que fizeram sucesso houve uma previsível coincidência em torno da presença de vários atores. Muitos estão em mais de uma trama no ar. Malu Galli é um dos casos e merece uma menção especial.

O caso da atriz é até diferente. Afinal, estava no ar em "Amor de Mãe" e agora está em "Malhação - Viva a Diferença" e "Totalmente Demais". E nunca foi uma profissional valorizada como merece. Tanto pelo público quanto por vários veículos que cobrem televisão. Com várias peças e filmes no currículo, sua carreira televisiva começou através de pequenas participações em novelas e minisséries na Globo. Seu primeiro papel de certo destaque foi na primorosa série "Queridos Amigos", em 2008. Na trama de Maria Adelaide Amaral foi possível observar que Malu podia muito mais.

E, graças aos papéis densos nos dois folhetins brilhantes de Lícia Manzo, a atriz conseguiu mostrar seu talento dramático. A emocionalmente frágil Dora, de "A Vida da Gente" (2011), e a bem-sucedida Irene, de "Sete Vidas" (2015), foram defendidas com muita entrega.
Todos os dramas vividos pelas duas mulheres muito bem escritas pela autora foram vivenciados de forma crível e emocionante. Eram perfis secundários que tiveram força no enredo em determinado momento e cresceram.

Porém, o porte da atriz acabou estigmatizando na hora da escolha de vários escritores. O papel da mulher refinada era sempre para Malu. Sua presença em "Amor de Mãe" é uma das várias provas. Lídia é uma perua da elite carioca, fútil, e arrogante. Aceitava as traições do marido, mas surtou quando Raul (Murilo Benício) pediu divórcio para oficializar a relação com uma então amante bem mais jovem. Pouco antes da trama ser interrompida, a intérprete protagonizava ótimas cenas com Reginá Casé em virtude da nova fase da personagem, que mergulhou no alcoolismo para esquecer a perda do filho e acabou virando confidente da empregada Lurdes.

Vale lembrar o papel em "Cheias de Charme" (2012), a elegante Lygia, patroa da doméstica Penha (Taís Araújo). Outra mulher rica. Na atual reprise de "Malhação - Viva a Diferença", a atriz vive a íntegra Marta, ex-modelo que enriqueceu com um bom casamento e mãe da patricinha rebelde Lica (Manoela Aliperti). Mas mesmo diante de perfis tão semelhantes, Malu consegue diferenciá-los com sua interpretação. No caso do seriado adolescente de Cao Hamburger foi surpreendente vê-la em uma dupla tão bem entrosada com a então novata Manoela.

Já a reexibição de "Totalmente Demais" funciona como uma espécie de "respiro" na trajetória da atriz. Rosane Svartman e Paulo Halm foram corajosos e presentearam a atriz com a carismática Rosângela, uma mulher tipicamente do povão: batalhadora, barraqueira e defensora dos filhos, que ainda precisa lidar com um ex-marido folgado e metido a malandro. Quase todos os autores jamais pensariam em Malu para um papel assim justamente por conta do esteriótipo que muitas vezes limita a carreira de um ator. E a novela de sucesso das sete foi um dos melhores momentos da atriz. Deu gosto vê-la em um perfil que a tirou da zona de conforto. E como esteve bem. Tem sido um prazer rever.

A "onipresença" de Malu Galli na Globo nos últimos meses se mostra como um belo presente para o público. Enquanto alguns atores provocam um desgaste de imagem em virtude da limitação profissional visível, é ótimo ver uma atriz tão talentosa e ainda não tão conhecida do grande público ganhar visibilidade em dois trabalhos que fizeram sucesso, mesmo que seja por conta de reexibições em virtude de uma infeliz pandemia.