Revelação sobre trauma de Justina destaca atrizes em "Éramos Seis"

Uma das qualidades de "Éramos Seis" é a valorização de todos os núcleos. Não existe trama desnecessária. Todas acrescentam algo no enredo do remake do  romance de Maria José Dupré, adaptado por Angela Chaves e dirigido por Carlos Araújo. Até a aparentemente mais deslocada história resultou em uma forte virada na reta final da novela: o mistério envolvendo o passado de Justina (Júlia Stockler) e Emília (Susana Vieira).

O traumático passado da filha mentalmente perturbada da ricaça não existe no livro, mas o público que acompanhou as versões anteriores do folhetim, tendo a do SBT, em 1994, como a mais lembrada, já sabia do enigma. Mas a atual produção conseguiu manter bem o segredo e a revelação implicou em ótimas cenas protagonizadas por Susana Vieira com as revelações Júlia Stockler e Joana de Verona (Adelaide). Era um momento bastante aguardado.

O roteiro sempre induziu o telespectador a pensar que Emília era uma mulher cruel e fria. Sempre isolada em sua luxuosa mansão, a milionária nunca ligou muito para a sobrinha Lola (Gloria Pires) e evitava uma maior intimidade com qualquer um.
Arrogante e às vezes grosseira, raramente aparecia sorridente ou de bem com a vida. Nem mesmo Higino (Thiago Justino), seu fiel mordomo, era tratado como um amigo. A distância entre patroa e empregado era uma exigência. Susana Vieira é expert em interpretar esse tipo de papel e mais uma vez se saiu bem.

E a relação de Emília com as filhas apresentava inúmeros conflitos. Fazia de tudo para Justina viver longe da sociedade em virtude do desequilíbrio emocional da menina, até então desconhecido pela medicina nos anos de 1930. Tudo piorou quando Adelaide voltou do exterior e se mostrou uma mulher feminista, revolucionária e transgressora. Um desgosto para qualquer mãe conservadora. Os embates sempre destacaram as atrizes e engrandeceram o núcleo. Mesmo quando Justina passou um tempo em Itapetininga, o período de melhores cenas da família caipira de Lola, a sua trama não se apagou.

A revelação do trauma da personagem, que vivia sedada pela mãe para não se lembrar de nada, ocorreu por conta de várias sessões de terapia realizadas pela médica Selma (Aline Borges). A hipnose provocou o clareamento da memória de Justina e a sequência impressionou. Para não exagerar no impacto, a criança que representou a irmã de Adelaide na infância foi apenas exposta em cenas isoladas, tapando os olhos. O principal foi vivido por Júlia Stockler, quando Justina flagrou o armário cheio de armas do violento pai e acabou espancada em seguida. A atriz passou todo o horror daquele momento com uma entrega digna de aplausos.

O melhor foi a virada logo depois da pesada cena, o chamado "plot twist" (a reviravolta inesperada). A sequência exibiu Justina matando o pai acidentalmente, mas era apenas uma lembrança falsa da menina. Emília foi a verdadeira assassina e matou o marido para salvar a filha. A própria contou a verdade quando Adelaide ainda estava chocada com a outra revelação. Foi o primeiro momento que estabeleceu a paz entre as três, após longos anos de sofrimento e mágoas. Susana Vieira, Júlia Stockler e Joana de Verona emocionaram. Aliás, que prazer ver duas atrizes desconhecidas do grande público ----- Júlia ganhou elogios no filme "A Vida Invisível" e Joana tem sua carreira estabilizada em Portugal ---- interpretando papéis importantes e que as destacaram.

"Éramos Seis" está a poucas semanas do seu fim e a conclusão da trama de Emília e suas filhas já está entre os melhores momentos da reta final da novela. Fez valer a espera.