Alanis Guillen foi uma das melhores revelações de "Malhação - Toda Forma de Amar"

Não é fácil criar mocinhas que provoquem empatia no público e ainda ganhem torcida. No caso de "Malhação", seriado adolescente longevo da Globo, há outro agravante: lançar um novo talento com esse tipo de papel.  Ou seja, o autor precisa se preocupar com uma boa história, uma personagem bem construída e escolher (juntamente com a direção) uma intérprete desconhecida que convença em cena. É possível afirmar, portanto, que, apesar dos seus vários equívocos no conjunto da obra, Emanuel Jacobina conseguiu cumprir essa ingrata missão em "Malhação - Toda Forma de Amar".

Rita  é uma adolescente que teve sua filha tirada de seus braços pelo próprio pai e só soube da verdade durante a missa de sétimo dia do avô do bebê. Ao contrário do que acreditava, a menina não morreu no parto. A saga da personagem é lutar pela guarda da criança e enfrentar uma séria disputa judicial com a família que a adotou, no caso, Lígia (Paloma Duarte), Joaquim (Joaquim Lopes), Lara (Rosanne Mulholhand) e Filipe (Pedro Novaes), por quem ironicamente se apaixona e acaba correspondida. Um contexto que utilizou vários clichês da teledramaturgia e funcionou.

Alanis Guillen foi uma escolha bastante acertada para viver a determinada menina. No início da temporada, é preciso ressaltar, apresentou uma certa insegurança. Em algumas cenas mais pesadas, onde a emoção era muito exigida, acabou deixando a desejar. Compreensível. É sua estreia na televisão e quase sempre os jovens talentos do seriado começam irregulares.
A diferença é que uns amadurecem e despontam, enquanto outros permanecem fracos e não decolam. A atriz está no primeiro grupo. Ao longo das semanas, à medida que o enredo avançava, foi ficando perceptível o seu crescimento cênico. Tanto nas cenas leves quanto nas mais dramáticas.

Alanis passou a dominar a personagem com facilidade e emprestou seu carisma ao papel. Sua química com Pedro Novaes é visível e o casal desperta uma forte torcida dos telespectadores. São mocinhos cativantes. A atriz ainda apresentou uma faceta cômica durante o período em que Rita e Filipe tentaram ser "amigos", sem beijos ou carícias. Foram momentos deliciosos típicos de boas comédias românticas da "Sessão da Tarde". A atriz também se destaca em sequências delicadas ao lado de Pedro Novaes e João Pedro Oliveira, uma vez que Rita é confidente e apoiadora do romance de Guga e Serginho. A sua sintonia com Dora de Assis (Raíssa) e Mariana Santos (Carla) é outro ponto que merece menção.

Já a maior prova da evolução da intérprete foi durante o depoimento de Isaura (Anja Bittencourt), que mentiu durante a audiência de guarda da filha de Rita, meses atrás. O ódio misturado ao desespero daquela mãe vendo sua maior chance de uma virada naufragar foi exposto com maestria por Alanis e comoveu quem assistia. As lágrimas, inclusive, saiam sem qualquer esforço. E a atriz ainda brilhou na sequência seguinte, quando Rita deu uma bofetada em Lara, após mais um enfrentamento entre a mocinha e a advogada sem caráter da família.

Resumindo, a atriz nadou de braçada durante o período do auge do enredo. Isso porque o autor se perdeu por completo ao longo dos meses e aquela trama tão atrativa se transformou em algo jamais imaginado até pelos mais pessimistas. Nenhum ponto positivo se manteve. Jacobina simplesmente jogou todos os promissores conflitos fora e preferiu enrolar o telespectador com situações repetitivas. Ainda inseriu novos personagens que nada acrescentaram e só tiraram ainda mais o destaque dos demais. Infelizmente, Alanis foi uma das maiores prejudicadas. Repetindo um recurso já usado em todas as suas temporadas anteriores, o escritor inventou um sumiço de Rita para criar um falso suspense na reta final. A atriz não aparece há mais de um mês em virtude da enrolação da trama e o fôlego do embate pela guarda da filha já se esgotou há muito mais tempo.

O 'castigo' de Emanuel Jacobina veio através da pandemia do corona vírus. A Globo interrompeu todas as gravações de suas novelas e agiu corretamente. Mas os folhetins das 19h e das 21h poderão continuar depois que o caos passar. Já "Malhação - Toda Forma de Amar" não teve a mesma tolerância. O autor foi obrigado a antecipar o desfecho e vários personagens ficarão sem cenas, apenas com finais narrados. A fase acabaria no final de abril e agora tem que fechar seu ciclo semana que vem. Ao menos Alanis Guillen e Pedro Novaes gravaram o final do casal. Sem beijo, no entanto, por questão de segurança. A atriz terá a chance de concluir essa sua estreia na televisão de forma digna. E com certeza brilhará novamente ao lado de seu parceiro de cena. Seu nome merece ser citado como uma das melhores revelações da atual temporada e seu futuro nas novelas e séries da Globo é certo. Que venham melhores oportunidades para a valorização de seu talento.