terça-feira, 1 de outubro de 2019

"Éramos Seis" tem estreia correta e contemplativa

"Os nossos laços se fortalecem com o tempo e com o tempo tudo se transforma. O afeto, a nossa força, os nossos sonhos. Tudo o que importa é ter quem ame por perto. Porque quando éramos todos, éramos um só". O teaser de "Éramos Seis", nova novela das 18h da Globo, que estreou nesta segunda-feira (30/09), transmitiu muito bem o clima da história adaptada por Angela Chaves, baseada no romance de Maria José Dupré, de 1943, e dirigida por Carlos Araújo. É um enredo comovente, onde os problemas do cotidiano e da própria sociedade da época movem os personagens.


É a quinta adaptação da história de uma família contada em três décadas (1920, 1930 e 1940), onde a matriarca, Dona Lola (Gloria Pires), luta para manter a união dos laços que muitas vezes acabam se perdendo com os dramas da vida e o próprio tempo. A saga acompanha os seis integrantes da família Lemos. A mãe considera o casarão em que mora, na capital paulista, a alma da família. Para ela, os quatro filhos e o marido compõem uma instituição a ser preservada a qualquer custo. O conflito surge justamente quando o esposo, Júlio (Antônio Calloni), não consegue mais arcar com os juros altíssimos do casarão, marcando o começo da luta contra as turbulências econômicas e sociais do início do século XX.

A trama tem um ar de melancolia e a maior lembrança do público é o remake exibido pelo SBT, em 1994, escrito por Silvio de Abreu (hoje chefe da teledramaturgia da Globo e responsável pela ideia de uma nova adaptação) e o saudoso Rubens Ewald Filho -- que também escreveram a versão de 1977. Não é exagero afirmar que foi o melhor folhetim já produzido pela emissora de Silvio Santos.
As comparações, portanto, serão inevitáveis, mas não causarão empecilho para o êxito da história transmitida pela primeira vez na líder. A essência do roteiro é a metáfora para os sonhos da ascensão da classe média, um assunto que definitivamente não se esgota e ainda permanece atual, assim como a formação familiar mais tradicional. Todo mundo se lembra de algum familiar ou vizinho quando se depara com os personagens. Não é à toa que o livro emplaca o quinto remake.

O primeiro capítulo pareceu expor a maior característica da novela: o ritmo mais lento, valorizando o tom mais contemplativo. Um típico folhetim das seis para ser visto com um café, um chá ou lanche da tarde. Não é uma crítica, nem um elogio. Apenas uma constatação. Não é uma produção de viradas, grandes movimentações ou situações do tipo. Quem leu o livro ou acompanhou alguma adaptação lembra bem. Mas a força da história de todas aquelas pessoas prende e conquista o telespectador com certa facilidade. E não é um roteiro leve. Tem momentos muito tristes e o final foge do clássico "felizes para sempre". O próprio título é um 'spoiler'. Por isso mesmo marcou tanto.

Logo nas primeiras cenas já fica perceptível o acerto da escalação de Gloria Pires como Dona Lola. Realmente a matriarca vivida por Cleyde Yáconis, Nicette Bruno e Irene Ravache tinha que ser dela agora. O sotaque paulista adotado não soa artificial e a atriz está segura no papel, o que nem chega a ser uma surpresa. Antônio Calloni também promete brilhar como o controverso Júlio e os instantes do patriarca alcoolizado, intimidando os filhos, foi um dos pontos altos desse início. A escolha das crianças foi outro acerto da produção. Pedro Sol se sobressaiu como o rebelde Alfredo, que será vivido por Nicolas Prattes na segunda fase. Enquanto Xande Valois convence como o tímido Carlos (vivido por Danilo Mesquita em 1930); Maju Lima encanta como Isabel (Giullia Buscacio em 1930) e Davi Oliveira não faz feio como Julinho (interpretado por André Luiz Frambach na segunda fase). Kelzy Ecard na pele da fofoqueira Dona Genu e Maria Eduarda de Carvalho como a espevitada Olga são outras que prometem.

A abertura causou a melhor das impressões através de imagens que representam o efeito do tempo ao longo de 1920, 1930 e 1940, com uma trilha incidental original composta pelos produtores musicais Victor Posas e Rafael Langoni Smith. A reprodução da cidade de São Paulo em detalhadas maquetes impressiona e representa as mudanças dos costumes ao longo dos anos, como o lugar pacato e romântico perdendo espaço para uma agitação da década seguinte e assim por diante; finalizando com a imagem do casarão de Lola, que não deixa de ser um dos principais personagens da história.

"Éramos Seis" fez uma estreia correta e não pretende provocar qualquer mudança brusca no conjunto do tão conhecido folhetim. As maiores alterações estão na conduta de Lola, menos submissa e mais feminista, guardadas as proporções para a época, obviamente. E também na escolha de um casal inter-racial ----- Shirley (Bárbara Reis) e Afonso (Cássio Gabus Mendes) ---- no lugar de um par formado por espanhóis. Pequenas mudanças necessárias que só têm a acrescentar ao enredo. Ao que tudo indica, é uma novela que combina perfeitamente com o horário das seis.

25 comentários:

  1. Tenho minhas dúvidas se esse remake vai ser bom...O do SBT tá muito fresco na memória.

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  2. Foi o que pensei a respeito dessa estreia, Sérgio. Pelo pouco que vi, "Éramos Seis" de fato apresentou o primeiro capítulo de forma correta. Atuações impecáveis, abertura linda, enfim, um primor! Que Angela Chaves mantenha nos capítulos posteriores essa excelente impressão da estreia.

    Guilherme

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  3. Pior que Orfaos de Enredo nao tem como ser.

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  4. Também a estreia boa, mas nada além disso. Confesso que achei o todo meio chato.

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  5. Por tudo que vi,será muito legal essa novela! Vamos ver! abração,chica

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  6. Tentei ver por ser um remake e lembrar bastante da versão do sbt que eu não perdia um capítulo, mas não larguei de mão antes do primeiro intervalo. Pra mim não dá: as novelas da Globo hoje parecem filme e não novela. Não dá mesmo...

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  7. eu nunca gostei desse texto conservador. e acho uma péssima hora para lembrá-lo. pode dar ibope pela onda conservadora q está se espalhando, mas acho leviano trazer algo tão retrógrado para a tv aberta nesse momento. beijos, pedrita

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    1. Mas é uma novela de época, é assim que elas são, não é porque é conservador que será ruim, é apenas a representação de uma outra época

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  8. Espero que Glória Pires se destaque após papéis ingratos nos últimos anos

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  9. Vou ser que assisto, um tiquinho rs...


    bjokas e feliz outubro =)

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  10. Assisti em meados dos anos 90 no SBT, com Irene Ravache e outros. Bons tempos.

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  11. Não acho, Pedrita. Não tem nada de leviano, não, é somente a representação de uma época, de um mundo completamente diferente do de hoje. Se trata de história, de um passado não tão distante, e o povo daquela época tinha outra mentalidade, e não vejo mal algum em passar isso na TV, desde que os telespectadores entendam que é outra época, outra cultura, outro mundo. Qual o problema em mostrar a realidade como era antigamente? A época era conservadora mesmo se for comparar com o mundo de hoje. Ou queria que retratasse o povo das décadas de 20, 30 e 40 com a mentalidade de hoje? Não dá. E deve-se levar em consideração a época. Esta história foi escrita por uma mulher. Na época já era um avanço ter uma mulher escrevendo romance, e sob o olhar feminino, mostrando a importância da mulher na família. Mas existia machismo na época, como não mostrar? Eu gostei do livro, retrata bem a época.

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