Após 14 episódios irretocáveis, "Sob Pressão" chegou ao fim nesta quinta-feira (25/07). A melhor produção da Globo em anos fechou o ciclo da terceira temporada com muitas brechas para uma quarta, que já foi anunciada pela Globo para 2021 (infelizmente um ano de hiato). Esse terceiro ano conseguiu ser ainda melhor que os dois anteriores e comprovou que há fôlego de sobra para muito mais histórias. Afinal, infelizmente, o caos da saúde pública no Brasil rende conflitos infinitos. E o enredo conseguiu expor todas as mazelas nacionais com impressionante realismo em uma hábil mescla com dramaturgia de qualidade.
A trama do terceiro ano teve como espinha dorsal a relação de Evandro (Júlio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano). Os protagonistas enfrentaram a rotina da vida de casados, as divergências sobre ter ou não um filho, e a dolorosa perda do bebê em virtude de um grave acidente sofrido pela médica, durante uma invasão de milicianos ao hospital São Tomé Apóstolo. Aliás, a reconstrução da rotina dos personagens também foi um ponto muito bem abordado. Todos precisaram recomeçar depois do fechamento do precário hospital Macedão por conta da corrupção exposta na segunda temporada. E encontraram uma nova oportunidade no hospital católico comandado pela Irmã Graça (Joana Fomm).
Alguns personagens saíram e outros entraram. Os talentosos Orã Figueiredo (Dr. Amir) e Heloísa Jorge (Enfª Jaqueline) deixaram a produção e foram substituídos pelos igualmente competentes Marcelo Batista (Dr. Gustavo) e Jana Guinond (Enfª Simone). Já a entrada de Drica Moraes como a infectologista Vera foi um dos maiores êxitos da terceira temporada.
A impaciência e o humor ferino fizeram parte do DNA da personagem, que cumpriu bem a missão de provocar alguns risos involuntários em uma série extremamente dramática. Mas a médica também tinha seus dramas pessoais (prisão injusta no passado e a perda da guarda do filho), o que proporcionou para Drica sensíveis momentos. A atriz engrandeceu o já ótimo elenco.
Júlio Andrade e Marjorie Estiano mais uma vez honraram o protagonismo da série e o talento da dupla merece ser aplaudido sempre. Impressionante como a sintonia de ambos é sentida em todos os instantes. E são personagens tão humanos e reais que fica difícil não se envolver com os conflitos apresentados. A cena em que Evandro descobriu a gravidez de Carolina, por exemplo, foi de uma delicadeza ímpar. E o momento em que a médica recebeu uma pancada de uma maca na barriga, durante um momento de imensa tensão, dilacerou o público. O desespero daquela mãe, que sentiu na hora que perdeu o filho, foi transmitido por uma atriz brilhante. É preciso ainda elogiar o restante do elenco, como Bruno Garcia (Dr. Décio) ---- que protagonizou uma marcante cena de beijo com Kleber (Kelner Macêdo em uma ótima participação) ----, Julia Shimura (Enfª Keiko), Josie Antello (Rosa) e Pablo Sanábio (Dr. Charles).
Já as participações especiais, assim como ocorreu nas outras duas temporadas, foram luxuosas. Joana Fomm se destacou em todos os episódios que apareceu com sua destemida Irmã Graça. Perfeito Fortuna encantou com o doce Seu João, enquanto Ana Flávia Cavalcanti emocionou com o vício em drogas de Diana. César Ferrario amedrontou com o miliciano Aristeu. Narjara Turetta, Walter Breta, Sandra Corveloni, Simone Mazzer, Thelmo Fernandes, Clarisse Niskier ---- que protagonizou intensas cenas na pele de uma professora agredida por um aluno ----, Maria Ceiça, André Ramiro, Gisele Fróes e Bruno Ferrari foram alguns nomes que abrilhantaram o terceiro ano.
A produção ainda surpreendeu com uma ousadia e tanto: um episódio inteiro em plano-sequência ---- quando apenas uma câmera acompanha todos os conflitos ----, com apenas três cortes para os intervalos comerciais. Sensacional a adrenalina provocada pela invasão de milicianos, provocando um desespero nos médicos e pacientes de um local já desestruturado. O choque do caos da segurança pública com o da saúde proporcionou uma avalanche de cenas impactantes. Justamente o melhor capítulo da trama. De tirar o fôlego. Júlio Andrade, por sinal, se aventurou na direção ao lado de Andrucha Waddington nesse episódio. Estreou muito bem na nova função.
Já o último capítulo começou com uma violenta briga de trânsito, retratando mais uma realidade do país. Exibiu também a despedida emocionante de Carolina do hospital, comovendo todos os colegas. Mas, para não fugir do costume do seriado, a médica teve que adiar seus planos em virtude do grave acidente de carro sofrido por Evandro e Diana. O médico voltou ao seu vício em remédios fortes. Carolina teve que operá-lo e enfrentou um drama semelhante ao do ex-marido, que precisou operar a então esposa anos atrás e não conseguiu salvá-la. Mas a heroína da trama triunfou e os dois ficaram bem. O adeus dos protagonistas sensibilizou ao som de "Se Eu Quiser Falar com Deus", em uma versão exclusiva de Gilberto Gil para a produção. E a cena final, de Evandro chegando de barco ao local onde Carolina foi trabalhar como voluntária, proporcionou um encerramento lindo. O amor venceu, apesar de tudo.
"Sob Pressão" é a melhor série que a Globo já produziu até hoje. A afirmação não é exagerada. Coprodução da emissora com a Conspiração Filmes, a trama ---- dirigida artisticamente por Andrucha Waddington e com direção de Mini Kerti, Rebeca Diniz e Pedro Waddington (escrita por Lucas Paraizo com Márcio Alemão, André Sirângelo, Claudia Jouvin, Flavio Araújo e Pedro Riguette) ---- merece toda a aclamação do público e da crítica. A terceira temporada apresentou 14 episódios repletos de dramas envolventes e críveis. Sempre com importantes avisos no final de cada capítulo. É a mistura do entretenimento com a utilidade pública. Uma produção digna de Emmy Internacional e que não poderia acabar. Ainda bem que a Globo reviu a decisão do cancelamento e produzirá a quarta temporada em 2021. Mas 2020 não será a mesma coisa sem o seriado. Isso é fato.
Sou fã dos seus textos e Sob Pressão é A melhor série da história da TV brasileira e quiçá uma das melhores do mundo. Que venha 2021!!!!
ResponderExcluirAAA NAO SÓ EM 2021??????
ResponderExcluirQue série e que final bonito. E que texto perfeito o seu sobre o balanço final.
ResponderExcluirSeu texto final fez jus ao produto que nós vimos.
ResponderExcluirJá estava me conformando com o "fim" da série, até que recebo a melhor notícia falando sobre uma quarta temporada. Mais do que merecido. Mas posso afirmar que se a série realmente tivesse encerrado no capítulo de ontem, fecharia com chave de ouro. Mas como não é o caso, então que venha mais. Um ano passa muito rápido, eu aguento a espera. Kkkkkk
ResponderExcluirTexto tão primoroso quanto a série cada palavra faz juz a esse trabalho incrível, apaixonante em cada detalhe.
ResponderExcluirEstão de parabéns o diretor da série e as personagens ,já estou na expectativa para os próximos capítulos .
ResponderExcluirEu sempre falei que existem séries brasileiras tão UP como A Teia, Dupla Identidade, O Rebu e outras produções, agora, depois desta terceira temporada, tenho que reconhecer: Sob Pressão atingiu níveis de maestria sem precedentes.
ResponderExcluirA temporada foi bastante dura em termos narrativos - mais mortes, mais sangue, mais perdas (no sentindo amplo da palavra) do que nos anos anteriores. Agora, a qualidade estética do seriado, que se tornou ainda mais refinada, deu um ar poético a toda a tristeza retratada. O episódio em plano-sequência foi a melhor coisa, tecnicamente, que vi na TV aberta brasileira. A utilização da câmera na mão aumentava nossa ansiedade - como se ela já não fosse gigantesca - enquanto assistíamos e nos colocava quase dentro da cena. Creio que essa série entrou para a História!
Se fosse uma produção estrangeira, com toda a certeza, Sob Pressão estaria abocanhando incontáveis indicações em premiações como o Emmy e o Globo de Ouro.
E não digo isso apenas por roteiro, direção e atuações esplendorosas. A equipe de cenografia concebeu uma verdadeira arte. Eu fiquei simplesmente apaixonada por todos os cenários, como você citou tão bem na resenha. E achei o máximo ler meu nome ali no meio! Até a quarta temporada, em 2021!
Nota: As emissoras Band, SBT, TV Brasil, Record precisa investir em dramaturgia de qualidade.
Esse é o diferencial da série: cativar as pessoas de alguma fora. É raridade isso hoje em dia! Ainda mais com tantos produtos televisivos por aí. O plano-sequência é uma obra prima sem tirar nem por. Chocante. Apreensivo. Inovador.
ResponderExcluirSob Pressão chegou gradual/segura/firme, sendo mais uma entre tantas séries da Rede Globo, e tomou proporções inimagináveis.
Os episódios foram muito além dos "casos da semana", fazendo com que a gente não esquecesse das histórias, dos personagens, da saúde pública brasileira.
Esse é o diferencial de Sob Pressão: fazer com que os telespectadores reflitam sobre os fatos que ocorrem no país. Algo que as series nacionais estão fazendo muito bem - Assédio, A teia, O Rebu, Dupla Identidade, Carcereiros, Arrunas, A Divisão, O Caçador, A Cura, etc.
É claro que falta muito ainda a ser feito para melhorar. Portanto, conscientizar a população dessa forma, já e um grande avanço.
Enquanto que as novelas tem perdido no cerne da valorização, pois a globo só que da quantidade da audiência sem priorizar a qualidade da dramaturgia.
É uma honra, Regys.
ResponderExcluirInfelizmente, anonimo.
ResponderExcluirObrigado, William.
ResponderExcluirValeu, Nina.
ResponderExcluirIsso é verdade, anonimo.
ResponderExcluirObrigado,Claudia.
ResponderExcluirEu tb, Unknown.
ResponderExcluirPerfeito comentário, Outsiders.
ResponderExcluirConcordo, Izabel.
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