Com capítulo eletrizante, "Espelho da Vida" se firma como a melhor novela no ar

O assunto sobre "Espelho da Vida" não acaba. Impressionante como Elizabeth Jhiin conseguiu criar um enredo que prende a atenção através das ótimas amarras do roteiro. A baixa audiência não faz jus ao que é apresentado ao público, mas pelo menos os números vêm reagindo. O movimentado capítulo exibido nesta sexta-feira (08/02) apenas comprovou que a produção é a melhor novela no ar.

Após um impactante capítulo que explorou o talento de Vitória Strada através do surto psicótico de Cris, graças ao plano de Isabel (Alinne Moraes), a autora reservou uma sucessão de acontecimentos catárticos em cima dos personagens do enredo central. Tocante a cena em que André (Emiliano Queiroz) chega para visitar Cris na clínica e diz para a recepcionista que é médico PDH em Psiquiatria pela Universidade de Chicago. O sobrenome dele na carteira ainda fez uma referência a André Luiz, espírito (que era um médico) frequente nas obras do médium Chico Xavier.

O momento em que André confortou sua mãe de outra vida foi lindo e destacou a boa sintonia entre o grande Emiliano e Vitória. O veterano, aliás, vem sendo valorizado como merece por Jhin. O instante em que o espírito confrontou Isabel em plena clínica proporcionou um delicioso jogo de palavras entre os personagens.
André ironizou Isabel e novamente a alertou sobre o seu resgate. Ainda mandou deixar Júlia em paz. A vilã ignorou os avisos e ameaçou internar o senhor. Emiliano e Alinne Moraes brilharam.

Alinne também se destacou ao lado da talentosa Dandara Albuquerque no momento em que Sheila mostrou suas garras para a então aliada. Cansada das patadas de Isabel, a mãe de Florzinha a ameaçou exibindo o vidro da droga que a vilã mandou colocar na sopa da mocinha. A inimiga de Cris fez questão de debochar da cúmplice e acabou se surpreendendo com a agressividade de Sheila, que a ameaçou e enfrentou de igual para igual. As atrizes tiveram a melhor cena delas juntas.

Já a sequência mais impactante do capítulo foi a regressão de Daniel (Rafael Cardoso). Pela primeira vez o público pôde ver mais detalhes do famigerado sonho (pesadelo) que a mocinha tem desde o primeiro capítulo da novela. E também ficou explícita a terceira vida do casal. Na verdade, seria a primeira, mas para o telespectador é como se fosse a terceira mesmo. A linda mulher desnorteada em um grande descampado não é Júlia Castelo, é Beatriz. Ela se anima ao ver um homem se aproximando em um cavalo, mas logo se desespera ao constatar que o sujeito está segurando uma arma. Ele a mata friamente e Danilo (que obviamente tem outro nome na época) chega tarde, mas consegue balear o assassino várias vezes, que cai morto.

O soldado (a caracterização do mocinho lembra bastante o período da Revolta de Farroupilha, entre 1835 e 1845) se desespera ao ver o amor da sua vida agonizando e grita por Beatriz. O público, então, soube o nome da outra vida de Júlia Castelo. É graças a esse sonho que Daniel consegue finalmente ver o rosto da mulher do quadro que ele pinta no passado. Mas, assim como Cris, ele não tem ideia que está vendo uma terceira vida e não a que corresponde com o seu ofício de pintor. Outra peculiaridade da cena foi o truque usado pela ótima direção de Pedro Vasconcelos: o assassino que aponta a arma para Beatriz lembra muito o ator Felipe Camargo (Coronel Eugênio/Américo), mas o que é morto logo após o crime é idêntico a João Vicente de Castro (Gustavo Bruno/Alain). O intuito é confundir e manter o mistério, claro. Ou seja, ninguém sabe o que aconteceu de fato com Júlia.

Todos os personagens estão presos em um looping temporal, cujo desfecho é sempre o mesmo: a mocinha assassinada com um tiro no peito e o mocinho sofrendo sem seu amor. André veio para quebrar esse ciclo e as viagens no tempo de Cris têm como objetivo inocentar Danilo e impedir que a desgraça se repita em 2019. É um roteiro desenvolvido com criatividade de sobra e uma deliciosa dose de ousadia. "Espelho da Vida" é a melhor novela atual e quem não tem acompanhado vai se arrepender no futuro. Não precisa ser a Guardiã (Suzana Faini) para constatar isso.