sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Vários personagens se perderam em "O Tempo Não Para"

Mário Teixeira conseguiu criar um folhetim criativo e com uma proposta ousada em torno o descongelamento de uma família de 1886 em pleno 2018. "O Tempo Não Para" começou muito bem explorando o ótimo recurso dos protagonistas precisando se acostumar com os novos tempos, se chocando com cada modernidade. E, além deles, os personagens secundários também eram promissores. Todavia, o fôlego do contexto dos congelados se esgotou. Ainda assim, a trama segue agradável e os protagonistas têm grande destaque. Mas, infelizmente, vários perfis dos outros núcleos se perderam.


O que se observa na novela, dirigida por Leonardo Nogueira, é a dificuldade que o autor tem em desenvolver ou destacar os personagens que não fazem parte do núcleo principal. A produção tem um elenco numeroso e já é um desafio valorizar tantos nomes escalados. Para piorar, alguns perfis que pareciam animadores (e com tudo para momentos de destaque) foram sumindo do enredo gradativamente. Mário prefere focar apenas na trama central, mesmo quando não há conflitos relevantes sendo desenvolvidos. Com isso, infelizmente, perde o conjunto do roteiro, os atores e o próprio público.

Amadeu (Luiz Fernando Guimarães), por exemplo, começou com um propósito bem criativo. O vilão sofre de uma doença incurável e precisa usar um tubo de oxigênio o tempo todo. Com a notícia do descongelamento de uma família de 1886, se animou com a possibilidade de poder se congelar até a medicina descobrir a cura de sua enfermidade. Para isso, fez questão de se aproximar da família Sabino Machado e virou grande amigo de Dom Sabino (Edson Celulari).
Todavia, seus planos nunca chegaram a lugar algum e o poderoso homem foi perdendo importância. Quando finalmente parecia que o personagem teria destaque ---- vale até citar a amizade que surgiu entre ele e Vera Lúcia (Talita Younan) ----, o autor o congelou literalmente. Emílio (João Baldasserini) armou contra o ex-parceiro e o colou em uma cápsula criogênica.

Aliás, Emílio foi um vilão que não aconteceu. O perfil tinha o intuito de mesclar humor e deboche, mas João não estava à vontade no papel. O interesseiro passou a ter atitudes forçadas em torno da obsessão por Marocas (Juliana Paiva) e nada do que acontecia provocava o impacto necessário que um ''malvado" precisa ter em uma novela. Não por acaso, Mário matou o advogado com uma picada de cobra. No entanto, não havia necessidade de criar um irmão gêmeo para seguir com as vilanias. No final das contas, nada mudou. Apenas o ator pôde compor um novo tipo para tentar melhorar seu desempenho --- e não conseguiu. Seria muito mais interessante dar destaque a Amadeu e a Maria Carla (Regiane Alves), outra vilã subaproveitada, após essa morte.

A tentativa de fazer Betina (Cleo Pires) uma vilã implacável foi outro erro do escritor. Valeria muito mais a pena, até para a atriz, expor algum passado traumático da ex de Samuca (Nicolas Prattes) para explicar sua passionalidade ou então intensificar a sua parceria com Zelda (Adriane Galisteu). Ficar a novela toda atrás do ex e tramando contra a mocinha definitivamente não dá. Ainda mais querendo matá-la (?). Por sinal, Zelda foi um dos muitos tipos que acabaram aniquilados por Mário Teixeira. Adriane estava ótima em sua primeira novela na Globo e sua dupla com a "poc" (Igor - Leo Bahia) era hilária. Mas, sem qualquer lógica, o rapaz abandonou a estilista picareta e passou a formar dupla com Betina. E Zelda ficou avulsa no roteiro.

Outros perfis deslocados são Marino (Marcos Pasquim) e Monalisa (Alexandra Richter). Os dois viviam em uma ilha paradisíaca e eram um empecilho para Amadeu conseguir comprar o local, com o objetivo de procurar os pertences naufragados dos Sabino Machado. Quando vieram para São Paulo, após o vilão ter incendiado a casa deles, o pescador teve um breve envolvimento com Carmem (Christiane Torloni) e a interesseira aceitou ser barriga de aluguel de Amadeu. Porém, os personagens foram desaparecendo aos poucos. Agora, por exemplo, Marino nem aparece mais, enquanto sua ex ficou ''jogada'' na pensão de Coronela (Solange Couto). Inclusive, o núcleo da pensão vale pela impagável dupla formada por Januza (Bia Montez) e a própria Coronela. Já os demais pouco acrescentam. Nem mesmo Valesca (Carol Castro), filha da dona e ex de Elmo (Felipe Simas), consegue destaque, lamentavelmente.

O caso de Helen é mais um que merece citação. Rafaela Mandelli é uma ótima atriz e brilhava no início da trama ao lado da grande Eva Wilma. Mas, com a saída da Dra. Petra, a psicóloga ficou sem função no enredo. Isso porque o casal que formaria com Bento (Bruno Montaleone) foi uma ideia cancelada pelo autor. No caso, Mário até acertou porque aquele par não teria mesmo química e o rapaz teve uma bela sintonia com Natália (Malu Falangola). Mas, ao invés de remanejar a personagem para alguma outra situação, o escritor simplesmente esqueceu que ela existe. Ele ainda desperdiçou um casal que tinha tudo para ser um dos melhores. Helen e Menelau (Davi Júnior) tiveram um entrosamento imediato no início do enredo e a relação entre pessoas tão diferentes seria um bom chamariz, até para expor a inserção do ex-escravo em um mundo que nunca foi dele. Mas Mário preferiu juntá-lo com a advogada Vanda (Lucy Ramos) sem qualquer construção ---- os dois se olharam, deram um beijão e pronto.

A perda de importância de Vera Lúcia também é um erro. Talita Younan está muito bem na pele da periguete desprovida de inteligência e conseguiu diferenciá-la da K1, de "Malhação - Viva a Diferença". No entanto, a personagem acabou deslocada ao lado de Laércio (Micael Borges). Os dois, aliás, formam uma dupla divertida. E, como já mencionado, sua aproximação com Amadeu foi um acerto e parecia que o perfil ia deslanchar. Mas, com o congelamento dele, tudo se perdeu. E a mãe da personagem mal aparece. Isso merece críticas ferrenhas porque Cyria Coentro é uma atriz grandiosa e não merecia um papel que mal tem falas. Marciana, no início, prometia bons embates com a filha, mas ficou apenas na intenção. Mais alguns personagens que estão avulsos no enredo são: Pedro Parede (Wagner Santisteban), Mateus (Raphael Vianna), Damásia (Aline Dias) e Mazé (Juliana Alves).

"O Tempo Não Para" é uma novela gostosa de ser acompanhada e o texto inspirado de Mário Teixeira entretém, mesmo havendo várias falhas no desenvolvimento do roteiro. O folhetim tem um saldo positivo, mas é lamentável ver tantos atores desvalorizados e uma infinidade de personagens sem a importância merecida.

30 comentários:

  1. Não acompanho um capítulo desta novela, mas pelos últimos acontecimentos, parece estar no período da infame "barriga", faltando pouco menos de dois meses para o encerramento do folhetim. Destaque negativo para Agustina (Rosi Campos) forjando uma gravidez para manter o casamento com Sabino (Edson Celulari), e Carmen (Christiane Torloni) usando do mesmo artifício para reforçar ainda mais o triângulo amoroso envolvendo os personagens. Creio que "O Tempo Não Para" faz por merecer sofrer com o "efeito dominó" da grade noturna que a reprise de "Belíssima" (2005) no "Vale A Pena Ver De Novo" ocasiona, haja vista o péssimo aproveitamento de alguns personagens. Só mesmo "Bom Sucesso" e "Em Seu Lugar" para me devolverem o prazer de acompanhar um folhetim na íntegra.

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  2. Seu texto traduziu com riqueza de detalhes todos os problemas da novela. E mesmo gostando da trama não poupou crítica. Isso é imparcialidade.

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  3. Estou totalmente descontente. A Valeska ficou grávida e desapareceu pq o pai não era o Samuca. Que coisa chata! Samurocas, samurocas. Aí nojo já. Nem perco meu tempo. Começou bem e vagou-se no decorrer da trama. Nota 0

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  4. Não entendi até agora matar o chato do Emilio pra enfiar um gêmeo tão chato quanto. S volta da Rafaella Mandelli a Globo não poderia ter sido mais desrespeitosa. Sorte da Eva Wilma que pulou fora antes.

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  5. Um desperdício essa novela lamentavelmente. Várias boas ideias iniciais se perderam e a novela se transformou no mais do mesmo. Tinha tudo pra ser uma novela acima da média no horário. Vários personagens foram deslocados, alguns casais foram criados sem a mínima coerência e alguns personagens mudaram de personalidade do nada. Enfim, uma novela que está entrando na reta final e, embora o bom texto do autor, não deixará saudades no todo. Não é novidade em se tratando do Mário Teixeira esses problemas de desenvolvimento. Paraisópolis se transformou num rascunho de novela há alguns anos atrás.

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  6. Sério que vc não se satisfaz com a atuação de João Baldasserine? Eu achei ele bem nos dois papéis. Rsrs Inclusive, eu gostaria de saber o porque ele não tem lhe convencido. O texto ficou muito bom. Meus parabéns!

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  7. Previsível que essa novela se perderia. O pior, Sérgio, é que até os perfis principais não estão lá essas coisas. O que vai ser uma mulher poderosa e forte como Carmem fingindo uma gravidez? Além disso, os casais não tem construção alguma, Vera Lúcia por exemplo já teve clima com Laércio, Elmo, agora Bento... Já o próprio Elmo se envolveu com Waleska, Celine, Damásia... Bento já esteve interessado em Marocas, teve clima com Helen, ficou com Nat e agora está com Verinha. Tudo isso sem sentido algum, a história não anda e a novela parece um amontoado de esquetes. Mario Teixeira não é de todo mal, mas deveria ficar em minisséries ou trabalhos mais curtos, já provou que nao sabe conduzir uma novela.

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  8. Nem sei pq vc defende essa novela bizarra. E outra, Juliana Paiva, Nicolas Prattes e Cleo PIRES no elenco só podia dar nisso, um flop esquecivel e sem sentido.

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  9. Perfeito o texto. ASSINO EMBAIXO!!!

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  10. Olá, tudo bem? Concordo. Muitos personagens das histórias paralelas desapareceram, como o Marino (Marcos Pasquim). Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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  11. Uma boa análise pormenorizada.
    Bom fim de semana.

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  12. Acho essa novela tão chata que tenho pena do elenco sabia?
    big beijos

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  13. Sérgio essa novela começou como I Love Paraisópolis (do mesmo autor por sinal):parecia bastante promissora, mas a historia se perdeu completamente. Tem tantos personagens avulsos no enredo que da até dó dos atores que o interpretam. A única novela boa do Mário Teixeira foi Liberdade Liberdade, apesar de ter sido um pouco enrolada.

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  14. Puxa, que crítica completa e acurada! Achei o começo genial mas depois perdi alguns capítulos e a trama não fez mais sentido. Agora entendi o que houve. Me pergunto se não foi por pressão que tiraram a Carol Castro da Marinha.

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  15. Olá Sérgio!!
    Tenho assistido pouco O Tempo Não Para por causa da falta de tempo e de alguns plots que me tiram a paciência, como quando a Marocas simplesmente resolveu ceder às chantagens do Emílio, ou essa "gravidez" da Agostina, e realmente senti falta de alguns desses personagens.
    Eu gostava do Marino com a Carmem, era um bom casal e gerava conflitos legais com o Dom Sabino.
    Também lamentei a perda de espaço da Zelda, Adriane Galisteu estava muito bem e agora mal aparece.
    Helen infelizmente era uma tragédia anunciada, tava na cara que ela não teria função depois que os congelados se adaptassem (o que é uma pena, eu também gostava da ideia dela com Menelau).
    Amadeu foi outro que não entendi até agora o que aconteceu, perdi a novela uns dias e quando voltei Emílio já tava morando na casa dele dizendo que ele tinha sido congelado. Aliás, as motivações dos vilões dessa novela são bem esquisistas, não dá pra entender direito nenhuma.
    No mais, é isso. Abraços!!

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  16. Obrigado, anonimo. E não me satisfaço nem um pouco. Está canastrão, pouco à vontade e artificial. Nos dois papéis.

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  17. Uma pena, Malu. Mas no caso do Elmo ele se deu contta a tempo.

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  18. A novela não é um flop, anonimo. E esse texto não é de defesa, não sei se notou.

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  19. Acho que Liberdade Liberdade sofreu do mesmo mal, anonimo.

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