Antes improvável, romance de Ema e Ernesto vira um dos acertos de "Orgulho e Paixão"

Construir bons casais virou um grande desafio para os autores. Afinal, um par sem química e mal desenvolvido é sinônimo de telespectador desinteressado. Não dá para comprar uma relação com desdobramentos rasos e protagonizada por atores que não demonstram uma boa sintonia. Fica perceptível, portanto, a preocupação de Marcos Berstein com os pares de "Orgulho e Paixão", deliciosa novela das seis da Globo. Quase todos os casais se mostram atrativos e encantadores. Mas, curiosamente, o autor acabou criando um relacionamento improvável que virou um dos trunfos do atual folhetim.

A relação de Ema (Agatha Moreira) e Ernesto (Rodrigo Simas) parecia absurda para o telespectador que é fã dos romances de Jane Austen. Isso porque a trama é baseada em vários livros de sucesso da autora, como "Orgulho e Preconceito" (1813), "Lady Suan (1971) e justamente "Emma" (1815). Na história da escritora, a personagem se envolve com Jorge (Murilo Rosa) e os conflitos são permeados pela dificuldade da jovem casamenteira ser bem-sucedida no amor, enfrentando vários obstáculos para conseguir ficar com seu amado, que na novela se casou com uma mulher adoentada (Amélia - Letícia Persiles).

Todavia, essa questão não foi muito bem abordada inicialmente e nem foi possível despertar uma torcida por esse casal no folhetim. Ao contrário do livro, Jorge se mostra um sujeito passivo e conformado, procurando desabafar com seu melhor amigo, Coronel Brandão (Malvino Salvador).
Mesmo apaixonado por Ema, não pensou em lutar em momento algum por ela, preferindo se casar com uma mulher que não amava. Já a menina nunca se deu conta de seu sentimento por Jorge e quando pensou em se declarar percebeu que ele já estava compromissado com outra. Parou por aí.

Claro que ainda há muito enredo pela frente, mas nesse período o autor resolveu aproximá-la de Ernesto, perfil que nunca existiu no livro de Jane. E como deu certo. O carismático italiano é um idealista, pobre e bastante desbocado. Exatamente o oposto de Ema, que acaba representando uma espécie de "patricinha" da época (a trama é ambientada em 1910). Os dois ainda tiveram uma implicância à primeira vista, verdadeiro clichê que raramente falha quando bem trabalhado. Há até a clássica troca de xingamentos, com direito a apelidos "carinhosos": ele a chama de "Baronesinha" e ela o classifica sempre como "grosseirão". Ou seja, não demorou para a dupla crescer e protagonizar cenas hilárias ao longo dos capítulos.

O casal foi se destacando cada vez mais e agora divide o protagonismo do enredo em nível de igualdade com os demais pares, incluindo o principal, formado por Darcy (Thiago Lacerda) e Elisabeta (Nathalia Dill). Ema se aproximou mais de Ernesto quando descobriu toda a verdade sobre a falência da família, precisando se adaptar a um novo estilo de vida, bem mais modesto. A patricinha foi morar em um cortiço com Elisabeta, Jane (Pâmela Tomé), Camilo (Maurício Destri) e, claro, Ernesto. A convivência acabou desarmando mais a neta do Barão (Ary Fontoura), que passou a observar mais o italiano desbocado. As implicâncias mútuas continuam, mas agora há um nítido sentimento entre eles, nascido desde o primeiro beijo ----- apelidado pela menina de "suculento".

Recentemente, Ema ganhou um outro conflito: ficou noiva de Edmundo (Nando Rodrigues), filho de Coronel Tibúrcio (Oscar Magrini), para tentar tirar a família da miséria. Um casamento de pura conveniência para ambos, uma vez que ele é apaixonado por Fani (Thammy Di Calafiori). Essa situação implicou no sofrimento de Ernesto, que resolveu descarregar sua raiva lutando em um ringue de luta livre clandestino, onde o amigo Camilo "trabalha". Ou seja, o italiano que aparentemente era um simples coadjuvante recebeu bons contornos dramáticos, ganhando mais destaque.

Não é a primeira vez que Agatha Moreira e Rodrigo Simas demonstram uma linda sintonia em cena. Os dois foram irmãos em "Malhação Intensa", temporada de sucesso exibida em 2012, escrita por Rosane Svartman e Glória Barreto. Eram Ju e Bruno, respectivamente. Ela uma menina tímida e ele um rapaz extremamente responsável. Os dois protagonizavam ótimas cenas fraternais, enquanto o ator transbordava química com Juliana Paiva, intérprete da inesquecível Fatinha. Quem diria que os intérpretes fariam um casal seis anos depois. E um casal lindo, mesmo diante da improbabilidade inicial do roteiro do folhetim. Até mesmo música tema  que o par ganhou ---- "Fica", cantada por Anavitória ---- representa muito bem esse relacionamento.

Ema e Ernesto têm encantado e divertido o público em "Orgulho e Paixão", protagonizando várias sequências deliciosas na trama de Marcos Berstein. Agatha Moreira e Rodrigo Simas crescem juntos, repetindo a boa parceria vista em "Malhação". O casal tem roubado a cena, virando um grande acerto dessa novela tão agradável. Azar do Jorge.