quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

"Treze Dias Longe do Sol" explorou o melhor e o pior do ser humano com habilidade

Após "O Canto da Sereia" (2013), "Amores Roubados" (2014), "Felizes para Sempre?" (2015), "Ligações Perigosas" (2016) e "Dois Irmãos" (2017), a Globo apresentou mais uma excelente minissérie abrindo a sua programação do ano. "Treze Dias Longe do Sol" se mostrou uma trama muito bem realizada, expondo o talento de Elena Soarez e Luciano Moura como roteiristas. Uma das principais qualidades do enredo foi a habilidade em explorar o melhor e o pior do ser humano, ainda mais em um período com tanta podridão no Brasil.


A história de dez capítulos, dirigida por Luciano Moura, mesclou suspense e drama de forma competente, tendo como foco o clima angustiante que toda a situação envolvendo o desmoronamento de um prédio provocou, tanto nas pessoas que ficaram 'longe do sol', quanto nas demais que tentaram lidar com as consequências do desastre ocasionado por ganância e irresponsabilidade. Todos se viram diante de situações limítrofes, tendo seus lados bons e maus totalmente expostos através do desespero.

O desabamento do edifício comercial 'transforma' o subsolo do estacionamento em uma espécie de presídio mortal para os sete sobreviventes, que precisam lidar com todas as adversidades possíveis para se manterem vivos, precisando ainda da esperança de alguém vir resgatá-los. Ao longo da história, o público acompanha o pânico, o desespero e os períodos de tristeza profunda daqueles personagens.
Ao mesmo tempo, há momentos de solidariedade e outros de puro egoísmo, implicando em brigas e tensão. O principal elemento desestabilizador é Zica (Démick Lopes), funcionário que não se preocupa em dividir alimentos e nem água, enquanto provoca discussões com os demais, tentando sempre se mostrar mais forte.

Seu temperamento acaba até despertando um instante de vingança de Marion (Carolina Dieckmann), filha de Dr. Hupp (Lima Duarte) --- dono do prédio destruído ---, que a chega recuar na hora de ajudá-lo quando o rapaz está prestes a cair no fosso de um elevador. Ela acaba salvando o 'colega', mas titubeou por razões que o telespectador compreende. Já Saulo (Selton Mello), o engenheiro responsável pela obra que desviou recursos, usando mão de obra barata e material de segunda linha, não esconde o remorso e a culpa, enquanto tenta salvar todos dos perigos ao longo daqueles intermináveis treze dias soterrados. Para aquelas pessoas, ele vira uma espécie de 'líder salvador', embora não saibam que o mesmo foi o responsável pela queda do edifício, com exceção de Marion e do chefe de obras Jesuíno (Antônio Fábio). Outro ponto interessante é a inconstância de sentimentos daquela desesperadora situação. Vide o momento de alegria quando Jesuíno vê que sua filha está viva e, dias depois, a hora da dor de Yasmin (Camila Márdila) quando a menina grávida constata a morte do pai, após outro desabamento. A mesma garota que chorou a perda do progenitor, aliás, acaba parindo em meio aos escombros, passando, então, a chorar de alegria pela chegada do filho. Uma mistura dolorosa de sensações.

E na parte 'de cima', há os cúmplices de Saulo tentando se livrar da culpa e as vítimas, em pânico com a falta de notícias dos parentes soterrados. Também há o destemido Marco Antônio (Fabrício Boliveira), Major do Corpo de Bombeiros que não mede esforços para achar os sobreviventes, mesmo diante das desconfianças de seu superior e colegas de farda. Ele não desiste, lutando contra a descrença 24 horas. O clima angustiante não diminui entre os que não estão correndo risco de vida. Afinal, a corrupta Gilda (Débora Bloch) se divide entre a dor pela 'perda' do sócio --- fruto de sua paixão platônica --- e o medo de ser descoberta, fazendo de tudo para se livrar de provas e aproveitando para incriminar Newton (Enrique Diaz), o calculista da obra que não teve culpa alguma.

Essa incriminação, por sinal, resulta em uma tragédia: Newton acaba assassinado pelo namorado de Zica, que, descontrolado pela dor do luto, esfaqueia o homem e acaba preso. Ou seja, os responsáveis pela tragédia acabaram destruindo a vida de vários inocentes, direta ou indiretamente. Dois inocentes tiveram a vida arruinada. Um praticando um crime passional e o outro morrendo de forma cruel, culpado por algo que não fez. A situação envolvendo Gilda ainda tem outras nuances, como os seus momentos de carinho com o pai, vivido pelo grande Emiliano Queiroz. A personagem resolve levá-lo quando foge, mesmo não autorizada pelos médicos da clínica de repouso, que administram a demência do idoso desde que foi internado pela filha. As cenas de Gilda com ele comovem, expondo a dubiedade do perfil. Fria e cruel de um lado, carinhosa e frágil do outro.

"Treze Dias Longe do Sol" foi uma minissérie de grande qualidade e soube abordar todas as facetas do ser humano de forma inteligente, expondo como as pessoas podem ser cruéis e amorosas dependendo da situação e do momento. A única ressalva é em relação ao desfecho, pois não houve um aguardado clímax. Optaram por algo sem impacto e até frustrante, sem algumas explicações necessárias sobre os desdobramentos da tragédia. Porém, nada que desabone o conjunto da produção, que merece elogios. E, claro, vale destacar o show do elenco, especialmente Selton Mello, Débora Bloch, Carolina Dieckmann, Arilson Lopes (Benê), Démick Lopes, Antônio Franco, Camila Márdila, Lima Duarte, Emiliano Queiroz e Enrique Diaz.


26 comentários:

  1. Li tudo porque ja tinha visto na Globo Play e também não curti o final. São resgatados e daí?????Mas o saldo geral é positivo e concordo que a abordagem do melhor e do pior do ser humano foi interessante de se ver.

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  2. Que série sensacional. Curti cada momento! Destaque para Selton Mello e Carolina Dieckmann, estava com saudades de ver os dois trabalhando juntos novamente.

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  3. Olá, tudo bem? Farei meu comentário sobre a minissérie neste fim de semana no meu blog. Achei bem sufocante..... Não é de fácil "digestão"... Abs, Fabio www.tvfabio.zip.net

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  4. Amei também e concordo que o final deixa a desejar pela falta de impacto.

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  5. Parabéns por essa análise precisa e psicológica da série.

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  6. Sob os escombros, a impressão é que os conflitos são, literalmente, soterrados por quem está acima: as relações entre empresários e política, a sujeira desse (sub)mundo onde vidas pouco importam e resta, apenas, salvar a própria pele; o braço forte de quem vem lutar por um lugar ao sol, mas tratados como saco de bosta por poderosos; a visão deturpada de oficiais superiores que devem salvar vidas, mas são afeitos mais às regras e procedimentos do que aquilo que realmente importa. Por meio de flashbacks, a história é construída, em rápidas passagens, que ajudam o espectador a entender os porquês dos personagens.

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  7. A série foi maravilhosa! Qualidade de história, direção, atuação e técnica, com destaque especialmente, para mim, uma direção de arte muito criteriosa. Sobre o final, eu concordo que, na hora, a pessoa sente falta de alguma coisa. Mas acredito que essa era realmente a intenção dos autores: mostrar os "Treze Dias Longe do Sol", não tanto o que viria depois. Tanto que ficam apenas sugestões do que pode acontecer - as cenas do resgate e encontros familiares foram lindas nesse sentido. E eu, particularmente, também gosto quando a história acaba "sem final" - desde que faça sentido; e eu acredito que o sentido está justamente no título. Era uma história sobre sobrevivência, conflitos humanos, dor, culpa, amor, perda, esperança, com o desabamento do prédio sendo o fio condutor de tudo.

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  8. Huumm... Eu amaria ter assistido, mas estou viajando então fica bem complicado, mas obviamente não trocaria a viagem pra ficar em casa vendo TV.

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  9. Gosto de acompanhar séries.
    Bom domingo.

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  10. Sérgio, adorei a minissérie!!
    E agora, lendo o seu texto, pude compreender mais detalhes da trama!!
    Destaque para o personagem Marco Antonio: como eu adoro esse ator que interpreta apenas com o olhar!!
    Acho ele incrível!!!
    Realmente o pior e o melhor do ser humano foram expostos de forma nua e crua...
    Adorei amigo!!
    Tenha uma semana maravilhosa! :)))

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  11. Ao utilizar atores de outros estados para mostrar operários nordestinos, que constroem cidades, cria a identificação necessária a um produto desse porte, ao mostrar as várias camadas de uma sociedade tão diversa quanto mesquinha. Ponto positivo para essa: há uma crítica social forte, colocada sob os escombros por boa parte da população brasileira.
    Apesar da narrativa subterrânea ser pouco explorada — ou, pelo menos, como prometia — é compensada por cenas claustrofóbicas, angustiantes. Diante de uma condição tão adversa e incomum, é uma pena que não possamos acompanhar, em profundidade, os conflitos daquele grupo tão diverso: patrões e empregados, pai e filha, um personagem em dúvida sobre sua personalidade.
    O único ponto positivo da trama sob os escombros é que não abre concessões para mostrar como as coisas são conduzidas: elas acontecem, sem ter que mostrar em imagens o que foi feito em um resgate, por exemplo.
    Por outro lado, a produção mostra o poder de uma parceria entre duas das maiores empresas audiovisuais do país. O cenário de destruição é extremamente realista, bem como os efeitos especiais da queda do prédio. Se o produto falha pela narrativa, compensa em um cuidado pouco (mas cada vez mais) visto em conteúdos brasileiros: cenários, sujeira, crueza. É espantoso, porém, o pudor que a TV brasileira tem em mostrar partos e não definir lados políticos…
    O fim de Treze Dias Longe do Sol, de tirar o fôlego, deixa dúvidas: em algum momento, um dos personagens tem ciência do que vai acontecer adiante, em outra circunstância, mostrada logo nas primeiras cenas do primeiro episódio.
    Fica, porém, a sensação de que faltou algo para dar conta de uma história cativante, mas rápida demais.

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  12. Os lados positivos e/ou negativos dos atores dessa trama na modesta opinião minha:

    — os soterrados não têm tempo hábil para criar conexões ou laços entre eles e com o espectador. Os protagonistas, por exemplo, o engenheiro responsável pela obra e a filha do dono do hospital que seria o prédio, tem um passado, e que é pouco explorado quando estão sob os escombros para tristeza do público.

    - Esse Saulo... mesmo com flashbacks que demonstram os porquês do personagem, a sensação de que falta algo é permanente. O personagem não consegue criar nenhum tipo de empatia com o espectador - nem repulsa, nem condolência apesar da atuação exemplar de ator Selton Mello (comprovada em series como A Cura, Ligações Perigosas).

    - Já a atriz Dieckmann... sua atuação tem a falta de naturalidade, ainda que este seja um dos melhores trabalhos que já fez. Foi uma pena que a narrativa curta não tenha permitido um melhor desenvolvimento de sua personagem. Talvez, tarde demais para criar empatia.

    - O único que consegue fazer algum tipo de empatia em quem assiste foi o engenheiro calculista da obra. É, certamente, o personagem com camadas mais bem trabalhadas. E essa empatia não no sentido de simpatia, mas de causar algo: pena ou repulsa, já que foi causado pela dúvida. Isso graças à interpretação contida, no ponto exato, de Enrique Diaz.

    - Fabrício Boliveira e Débora Bloch fazem atuações que transmite a emoção necessária para seus conflitos de seus personagem na história.

    - Lima Duarte tão afeito às novelas, no papel do pai de Marion, mostra um outro lado (positivo) do veterano ao atuar em uma mini serie.

    - Ver Vilhena em cena, em papeis que não condizem com seu visual, é uma surpresa — como o traficante da (excelente) série A Teia. Já o seu personagem Vitor Baretti, convence por ser um jovem empresário inconsequente, que só quer saber de curtir a vida e está pouco se importando com a empresa herdada do pai.

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  13. Pontos muito pertinentes, Izabel. Concordo.

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  14. Vendo esses comentários parece que assisti a outra série, tantos elogios e eu vi tantas inconsistências, erro e péssimas atuações. Acho que a Izabel foi a única que retratou parte do que eu vi.

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