Reprise de "Laços de Família" foi uma escolha muito feliz do Canal Viva

O Canal Viva começou a reprisar no último dia 15, às 23h45, "Laços de Família". A novela foi um dos maiores sucessos do horário nobre da Globo e uma das tramas mais impecáveis de Manoel Carlos. O autor estava inspiradíssimo nesta obra e a quantidade de cenas que marcaram impressiona. Se havia alguma dúvida a respeito da qualidade da novela --- em virtude do clima de saudosismo que muitas vezes mascara os defeitos ----, a mesma foi dissipada logo durante a primeira semana de reexibição.

Exibida originalmente entre junho de 2000 e fevereiro de 2001, o folhetim honrou todas as características das histórias de Maneco, com direito a muitos dramas familiares, passeios no Leblon e embates com intensa carga emocional. A produção chegou a ser reprisada no "Vale a Pena Ver de Novo" em 2005, obtendo uma ótima repercussão, comprovando que novela boa é atemporal. E agora, sendo transmitido pelo Viva, o enredo envolvendo um triângulo amoroso protagonizado por mãe e filha, cercado de situações paralelas tão atraentes quanto, vem provocando mais uma vez um bom retorno do público.

Desde que (re)estreou, a novela vem obtendo uma excelente audiência e o seu primeiro capítulo levou o Viva a liderar o ranking dos canais por assinatura entre o público feminino adulto, segundo a jornalista Patrícia Kogut. A trama ---- que já tem 16 anos, embora não pareça ---- teve o melhor Ibope dos folhetins exibidos na faixa do canal pago e faz por merecer todo esse feito.
Principalmente levando em consideração a reprise anterior da fraca e desinteressante "Fera Ferida", que não deveria ter sido reexibida.

A história de Manoel Carlos envolve justamente porque expõe o amor incondicional que a mãe tem pela sua filha. A Helena desta obra foi uma das mais complexas e ricas já escritas pelo autor, com todo respeito ao prestigioso currículo de Regina Duarte, que viveu três Helenas dele. Mas, a protagonista interpretada com extrema competência por Vera Fisher ---- que estava no auge da beleza e vivendo o seu melhor momento na carreira ---- era apaixonante e repleta de bons dramas pessoais. Todos os sacrifícios que aquela personagem fez durante a trama até hoje são lembrados, como abdicar de um grande amor e ainda engravidar para tentar salvar a vida da filha com câncer.

A produção ainda tem uma das melhores e mais marcantes trilhas sonoras, tanto nacional quanto internacional. E cada música ficou eternizada como de um núcleo, um casal ou um personagem. Afinal, como esquecer a emocionante "Love by grace", cantada por Lara Fabian, durante a cena em que Camila raspa a cabeça (por causa do tratamento contra a Leucemia) em uma das sequências mais antológicas da teledramaturgia? Impossível também ouvir "Man! I feel like a woman" (Shania Twain) e não associar a Cíntia, veterinária interpretada pela linda Helena Ranaldi.

"Perdendo Dentes", da banda Pato Fu, provoca a lembrança imediata da desbocada Ciça (talentosa Júlia Feldens), assim como "Próprias Mentiras" (Débora Blando) é diretamente relacionada aos passeios de cavalo da rebelde Íris (Deborah Secco em seu melhor papel). "Como vai você?" (Daniela Mercury) --- tema de Helena ---, "Samba de Verão" (Caetano Veloso) --- tema de Edu e Helena ---, "Save me" (Hanson) --- tema de Edu e Camila ---, "Devolva-me" (Adriana Calcanhoto) --- tema de Clara --- e "Spanish Guitar" (Toni Braxton) ---- tema de Capitu e Fred ---- são algumas outras ótimas músicas que merecem menção especial.

O elenco primoroso e a boa sintonia entre os atores foram outros acertos da novela. Vera Fisher teve uma ótima química com Reynaldo Gianecchini (Edu) e Tony Ramos (Miguel), assim como Giovanna Antonelli e Luigi Barricelli, que emocionaram com o conturbado relacionamento da prostituta Capitu com o certinho Fred. Marieta Severo brilhou com a elegante e debochada Alma, tendo um entrosamento muito bom com Alexandre Borges, intérprete do galinha Danilo. Regiane Alves se destacou com a insuportável Clara e Juliana Paes estreou bem com a empregada Ritinha. Já Carolina Dieckman interpretou a sua personagem mais difícil e deslanchou na carreira depois desse papel, que provocou uma imensa antipatia do público, honrando a 'tradição' do autor (as suas Helenas sempre têm filhas chatas e mimadas).

A química arrebatadora que Helena Ranaldi tinha com o machista Pedro (José Mayer) também merece menção, assim como o tocante entrosamento cênico que Lília Cabral teve com o saudoso Fernando Torres. Aliás, os dois atores não ficaram muito tempo na novela, mas suas participações marcaram. A morte de Aléssio, diante do pôr do sol, deixando sua bengala cair no chão, foi emocionante. E o trágico falecimento de Ingrid, sendo baleada durante um assalto, dilacerou o telespectador.

Além dos atores citados, vale elogiar ainda Walderez de Barros (Ema), Leonardo Villar (Pascoal), Henrique Pagnoncelli (Orlando), Denise Sartoni (Ofélia), Eliete Cigarini (Silvia), André Valle (Onofre), Flávio Silvino (Paulo), Marly Bueno (Olívia), Soraya Ravenle (Ivete), Thalma de Freitas (Zilda), Xuxa Lopes (Glória), Yara Lins (Nilda), Zé Victor Castiel (Viriato), Cláudio Gabriel (Severino), entre outros.

"Laços de Família" foi um típico novelão e sempre vale a pena ver e rever. O Canal Viva acertou em cheio com essa reprise e a escolha não poderia ter sido mais feliz. A comprovação é o clima de nostalgia que a reapresentação vem provocando e o ótimo retorno da audiência. É o Manoel Carlos na sua mais pura essência.