Nada mais gratificante para um ator do que ganhar um perfil complexo para interpretar. Isso proporciona sempre grandes cenas para o intérprete, que precisa vivenciar todas as angústias e mostrar as nuances daquele personagem. E é o que vem acontecendo com Domingos Montagner desde a estreia da primorosa "Sete Vidas", novela das seis que lamentavelmente está perto de seu fim. Ele ganhou um tipo desafiador, brilhantemente escrito pela autora.
Miguel é a figura que move toda a história de Lícia Manzo e o protagonista transborda complexidade. Atormentado por um trauma do passado, o navegador tem uma séria dificuldade de se relacionar com o outro, de criar vínculos, expressar sentimentos, enfim, de viver. Isso porque, quando adolescente (interpretado por Jesuíta Barbosa), ele viu o pai (Celso Frateschi) abusando sexualmente da menina por quem era apaixonado e o confrontou, provocando uma briga séria. A mãe do rapaz (vivida por Cláudia Netto) ouviu tudo e foi atrás do filho, que saiu de casa a toda velocidade em uma moto. Esta perseguição acabou culminando no acidente que matou a mãe, atingida em cheio por um caminhão.
Desde então, a vida deste homem passou a ser um verdadeiro inferno. Além de ter se culpado pela morte da mulher que mais amava, ele ainda achava que havia cometido uma injustiça com o pai. Todo o trágico conjunto deixou Miguel introspectivo e cada vez mais isolado. Porém, uma atitude sua no passado foi a responsável por uma armadilha do destino: ainda adolescente, doou sêmen nos Estados Unidos para ganhar dinheiro e cinco filhos foram originados, sendo que todos eles acabaram se encontrando por meio da internet anos depois.
O encontro familiar começou a ocorrer, inclusive, na época em que o navegador havia terminado com seu grande amor (Ligia - Débora Bloch) justamente por temer estabelecer laços fortes com ela. E todos os desdobramentos desta história são vistos desde que "Sete Vidas" começou a ser exibida.
O navegador, que se especializou em oceanografia, tinha como principal arma a fuga. Sempre que se via envolvido afetivamente ou quando o seu aterrorizante passado ameaçava vir à tona, ele simplesmente viajava e se afastava. A primeira vez que o personagem precisou enfrentar o medo foi quando Felipe (Michel Noher) ---- seu último filho 'surgido' ---- apareceu em sua vida precisando de um transplante de fígado. Como os irmãos não eram compatíveis, foi o pai seu salvador. E para ajudá-lo, Miguel, embora receoso, fez questão de sair de seu isolamento (neste caso, aliás, todos acreditavam que ele havia morrido) para fazer a doação.
O protagonista só consegue se abrir totalmente com seu melhor amigo Lauro (Leonardo Medeiros), que é um irmão para ele. E não esconde o imenso amor que sente por Lígia. Entretanto, após uma reconciliação que aproximou muito o casal, toda a sólida relação que estava sendo construída foi jogada fora quando Miguel perdeu Joaquim ---- seu filho mais novo e único fruto de uma não-inseminação artificial ---- na praia. O problemático personagem ficou desesperado e a cena foi angustiante. Domingos esteve impecável do início ao fim. Mas mesmo o menino tendo sido encontrado horas depois e de Lígia tê-lo perdoado, o consolando, não houve jeito: o navegador mais uma vez se puniu e todo o seu medo de se relacionar voltou com força. O resultado foi outra fuga, para a decepção de Ligia ---- ele arrumou um intercâmbio na Espanha para se isolar novamente.
Ou seja, o personagem é uma avalanche de inseguranças e angústias, onde os sentimentos entram em conflito constantemente. Enquanto uma parte dele quer ser feliz e viver ao lado da mulher que ama e dos filhos, a outra quer um afastamento punitivo em virtude de um sofrimento que não passa. Domingos Montagner ganhou um maravilhoso perfil e já pode ser considerado o melhor da sua carreira até então. Não é qualquer ator que consegue interpretar um tipo tão complexo quanto Miguel, sem deixá-lo irritante ou cansativo. É preciso muito domínio do papel, além de talento de sobra para expressar tudo o que é sentido e vivido. E o ator tem tudo isso.
Como se não bastasse toda esta riqueza do personagem ----- que na verdade sempre esteve certo, pois o pai realmente molestou a menina e foi processado três vezes anteriormente por abuso ----, Domingos ainda tem uma ótima sintonia com Leonardo Medeiros e nítida química com Débora Bloch. Ele também faz ótimas cenas com Isabelle Drummond (Júlia), Michel Noher, Jayme Matarazzo (Pedro), Regina Duarte (Esther), Mariana Lima (Isabel) e Maria Flor (Taís), além de ter protagonizado boas sequências com Vanessa Gerbelli (Marina). O ator brilha com todos os seus parceiros e já se destacou em vários momentos. Aliás, uma de suas mais lindas cenas na novela nem precisou de texto: foi quando Miguel, Lígia e Joaquim viveram dias de pura felicidade (ao som de Epitáfio, dos Titãs), como se fossem mesmo uma família.
Vale mencionar, ainda, uma belíssima sequência feita por Domingos com a Isabelle Drummond, onde Júlia ouviu todo o desabafo de Miguel, após o mesmo ter finalmente lido todos os diários ----- escritos por Luzia (interpretada pela ótima Susana Ribeiro), a menina abusada pelo pai do navegador ---- que falavam sobre seu passado. A cena foi extremamente sensível, com direito a momentos de flashback mostrando o convívio do protagonista com sua mãe e como o pai foi nocivo (grandes atuações de Jesuíta Barbosa, Celso Frateschi e Cláudia Netto) em sua vida. Júlia o consolou e ainda fez questão de dizer que queria ser sua filha e que todos os seis irmãos precisavam dele. Foi uma situação delicada que emocionou e evidenciou o tamanho da complexidade daquele homem.
Domingos Montagner é um grande ator e Miguel é um personagem muito bem construído por Lícia Manzo. Portanto, o resultado desta junção tinha que ser positivo, como de fato foi. O papel certo para o intérprete ideal. Impossível imaginar outro profissional escalado para viver este controverso navegador, cujos sentimentos são verdadeiros desafios. A autora fez uma escolha certeira e "Sete Vidas" ganhou bastante com este cativante protagonista, que é interpretado por uma pessoa que tem talento de sobra para as artes cênicas.
Tô adorando esses seus textos sobre Sete Vidas que já está acabando. Miguel é um tipo complexo mesmo e é fácil julgá-lo, difícil é entender suas ações. Domingos está incrível! Um grande papel pra um grande ator.
ResponderExcluirAmo Miguel e quero que fique com a Ligia!!!!!!!!!
ResponderExcluirOI SÉRGIO!
ResponderExcluirENFIM UMA BOA NOVELA, PENA QUE ESTÁ ACABANDO, MAS AO MENOS VALEU A PENA VÊ-LA.
ABRÇS
-http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Tenho pena da limitação de alguns SUPOSTOS críticos de televisão que dizem que os homens dessa novela são frouxos ou tontos. Não são, pelo contrário, tem acertos e defeitos como todos nós. As mulheres são mais fortes mesmo mas isso não reflete a realidade? E Miguel é o tipo mais controverso e complexo dessa história. Você escreveu lindamente sobre o personagem e sobre a atuação incrível do Domingos.
ResponderExcluirAlgo a comentar...
ResponderExcluirAté aqui eu adorei as duas novelas da Lícia Manzo escritas pro horário das seis "A vida da gente" e "Sete Vidas". Ela é realmente fera e os conflitos criados por elas são emocionantes.
Mas eu confesso que Lícia é uma autora que escreve para mulheres. Os diálogos entre as personagens femininas é uma espécie de diálogo entre ela e suas telespectadoras.
Já os homens, apesar de complexos, são fracos. Eu observo essa característica nos homens criados por Lícia desde "A Vida da Gente". Era bastante evidente que as mulheres como Manu, Ana, Celina, Iná, Vitória, Dora, Lorena entre outras mulheres daquela trama tinham personalidades fortes e primavam sobre homens como Rodrigo, Lourenço, Jonas, Laudelino, Marcos, Renato, Matias e etc.
Agora em "Sete Vidas" o fenômeno se repete. É Clarividente ver como as mulheres são mais fortes, mesmo diante da complexidade dos dramas em que vivem. Júlia, Tais, Lígia, Esther, Branca, Virginia, Irene, Marlene, Laila, Lúcia, Marta, Guida e sua empregada Rosa e até Dona Yara foram personagens femininas que conduziram essa história. Tudo isso diante dos perfis masculinos sobrepujados por elas, homens como o indeciso Pedro, o explorado Vicente, o atormentado Miguel, o passível Lauro, o cordato Luiz, o pateta Arthurzinho, o hesitante Caio, o abatido Bernardo, o sem testosterona Eriberto, o viciado Durval e por aí vai... Claro que muitos passaram por transformações nessa reta final... mas só na reta final.
Então Sérgio, discordo que o Miguel seja um cativante protagonista, durante quase toda a novela muito me irritei com o jeito ermita dele levar a vida. Tem pessoas que passam por traumas muitos mais complicados que aquele que o Miguel passou, e nem por isso se tornaram pessoas atormentas e com tal complexidade. Discordo que a vida dele tenha se tornado um verdadeiro inferno. Apesar da relação conflituosa com o pai, ele foi muito amado pela mãe. Ele se deparou com mulheres que o adoram, e muito, como Lígia e Marina. Se tornou um profissional bem sucedido. Durante toda a trama, mesmo diante de suas frequentes atitudes esquivas, sempre foi paparicado pelas pessoas que encontrava pelas suas andanças. Mas os problemas pelos quais o Miguel passou fizeram dele um homem imaturo, já muitas pessoas se tornam mais maduras diante dos sofrimentos. A atuação do Domingos Montagner é ótima e o personagem tem um certo charme mas o perfil dele não me agrada. Se eu fosse a Lígia já tinha mandado ele curar os traumas deles com os pinguins da antártica.
Personagem cativante mesmo é o da Júlia de Isabele Drumond.
Quero frisar que a novela é excelente, e tem um texto primoroso. Uma direção competente e um elenco excepcional. Mas desejo que Lícia, em sua próxima novela, escreva homens com perfis mais interessantes e não apenas na reta final. Homens como as mulheres de suas novelas. Homens como nós mulheres gostamos de ver e ter ao nosso lado. Tenho certeza que isso renderá ótimas "DRs", e isso entre os casais e não só entre as mulheres.
Um grande abraço e até a próxima...
Esse texto foi praticamente uma biografia do Miguel e um resumo da sua vida. Amei!
ResponderExcluirSérgio, adorei o texto. Classificar o Miguel como frouxo ou banana é muito raso e você soube perfeitamente explorar todas as nuances desse personagem. Adoro o Miguel e a interpretação do Domingos. Adoro a novela toda, né. Pena que só falta uma semaninha pra acabar. E a cena do Miguel com Ligia e Joaquim e do Miguel com a Júlia nessa semana foram as melhores mesmo!
ResponderExcluirSérgio, querido, esse ator merecia esse grande papel depois daquela figuração ridícula em Joia Rasa. Ele ganhou um grande personagem e também acho que é seu melhor na carreira embora ache que aquele presidente de O Brado Retumbante foi incrível também. Miguel é um tipo ambíguo (e como nós gostamos desses tipos, né? Saudade da Amora Campana) e o ator está vivendo tudo com talento e entrega. Eu sou apaixonada pelo Miguel e chegou a hora dele ser feliz depois de tanto sofrimento. E com Lígia! Um beijo.
ResponderExcluirBelo texto. Parabéns pelas as belas expressões
ResponderExcluirSergio, ele é um grande ator. Brilhou nessa novela e soube aproveitar a grande oportunidade que lhe foi oferecida. É o centro de tudo, na trama, e merece seus elogiosos comentários. Bjs.
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ResponderExcluirOlá Sérgio,
Adorei a oportunidade de ler aqui um pouco mais sobre o desenrolar desta novela. Cheguei a ver um pouco do capítulo em que o filho de Miguel e Lígia foi encontrado. Domingos Montagner é muito expressivo, além de carismático, e merece todos os elogios que você dispensou a ele em suas ótimas considerações.
Torço para um final feliz entre Miguel e Lígia. É claro que você vai contar o final aqui, né??? - rsrs.
Ótimo final de semana.
Abraço.
Sérgio, eu lamento tanto que essa novela já esteja no fim. Foi tão gostosa e tão bem escrita. Valeu a pena cada segundo dela. E o seu texto sobre o Miguel está perfeito, tanto na análise da riqueza do personagem quanto nos elogios ao Domingos Montagner.
ResponderExcluirTexto maravilhoso, personagem maravilhoso, ator maravilhoso, autora maravilhosa e novela maravilhosa.
ResponderExcluirOi Sérgio, boa tarde!
ResponderExcluirUm ótimo texto, para variar!
Infelizmente não acompanho a novela, mas acredito em cada palavra que mencionou sobre o grande ator Domingos Montagner, que além de muito competente e expressivo, é bonito e cativante!
Com certeza, uma novela com ótimo texto, que deixará saudades em muita gente!
Sérgio, até já te convidei na postagem da novela do Roque Santeiro, mas reitero o convite para participar da festinha de 4 aninhos lá do meu blog, pois você é convidado TOP/MUITO ESPECIAL!
Sua presença é imprescindível naquele local, pois faz parte da história do blog!! :))))
Beijinhos e uma semana maravilhosa!!! :))))))
Podemos dizer que o personagem Miguel encontrou um ótimo intérprete em Domingos Montagner, que parece "crescer" a cada novo papel.
ResponderExcluirUm contra ponto ao personagem "mala" do Pedro. Estou a avançar todas as cenas em que ele aparece, principalmente depois de ler que a Julia ficarà com ele no final. Grande pena! Novela linda. Porém ao meu ver a autora, insistiu nesse final por motivos q nao cabe a mim aqui relatar... Quem sabe voce posta aqui um perfil desse mais que chato personagem...
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ResponderExcluirÓtima novela infelizmente chegou ao fim, como tudo que é bom, parabenizo a todos os personagem, não sei qual o melhor. Mas o Miguel me surpreendeu, amei o personagem, porém o intitulei; Miguel o protagonista invisível pouco falava e aparecia, porém foi o que mais me fez chorar. Desejo vê-lo na tv num futuro bem próximo !!!
Eu assistindo a novela ficava a me questionar: Como a autora sabe tanto da alma humana? :) A complexidade dos personagens era ao mesmo tempo simplicidade deles. Muitas vezes, acredito, nos víamos em um questionamento, em uma conversa e não dava para julgá-los, mas só esperar para que se encontrassem.
ResponderExcluirDomingos soube dar a este personagem uma suavidade dentro da complexidade, que é muitooooooooooooooooooooo difícilllllllllllll! Ao chegar ao fim ele deve estar respirando fundo, tirando a "roupa" de Miguel e agradecendo por mais este lindo trabalho!! Vai deixar saudades!!
Só uma correção, não são cinco filhos, são seis gerados via doador de sêmen.
ResponderExcluirMt obrigado, Andressa! bj
ResponderExcluirIdem, anonimo!
ResponderExcluirPena mesmo, Zilani. E valeu mt a pena!
ResponderExcluirReflete mesmo, Yasmin. E tb acho uma bobagem isso de criticar as figuras masculinas. Os que enfiaram os pés pelas mãos e irritaram pela frouxidão foram Vicente, Pedro e Arthuzinho. Só. bjs
ResponderExcluirF Silva,mais um ótimo comentário. Só que eu discordo mesmo disso dos homens. Em A Vida da Gente havia isso mesmo e até escrevi sobre na época,mas nessa não vejo. As mulheres são mais fortes mesmo, mas Ligia, por exemplo, teve inúmeras fraquezas na novela com suas idas e vindas com Miguel. A própria Júlia se mostrou imatura ao negar pra si mesma o que sentia por Pedro, magoando Felipe. São características mt humanizadas.
ResponderExcluirE o trauma do Miguel foi mt grave. Ver o pai molestando a menina por quem era apaixonado, acusá-lo e provocar indiretamente a morte da mãe não é 'simples'. Td era bem justificado. E acho Lauro, Eriberto, Luis, Bernardo, entre outros, ótimos personagens. Gostei mt deles e não os achei fracos.
E a novela foi linda mesmo e fará muita falta. Bjsss
Que bom, Daniele. bj
ResponderExcluirMt obrigado, Fernanda. Já em clima de saudade!
ResponderExcluirMerecia mesmo, Melina! E amamos mesmo um tipo complexo. Que saudades da Amora mesmo! Ela era julgada que nem o Miguel é. E eu defendo mesmo! =) Domingos ganhou seu melhor personagem e concordo que o de O Brado Retumbante era ótimo mesmo! Ele ficará com Ligia. Justo! Bjão!
ResponderExcluirMt obrigado!
ResponderExcluirExato, Marilene! bj
ResponderExcluirClaro que contarei, Vera. rs Eles ficarão juntos! Bjão!
ResponderExcluirFoi mesmo, Fernanda. Obrigado. bjs
ResponderExcluirObrigado, anonimo!
ResponderExcluirEstarei lá, Adriana! =)))) bjão!
ResponderExcluirPerfeito, Elvira!
ResponderExcluirMarquinhos, o Pedro era uma pessoa ótima e ficou amargo e insuportável depois que abnegou de sua vida. Mas ele voltou a ser o que era e merece uma chance. Achei a saída da autora bem coerente. abçs
ResponderExcluirConcordo com vc, Evora.
ResponderExcluirQue excelente seu comentário, Cleu. A Licia entende a alma humana como poucos mesmo. E reitero tudo o que vc escreveu. bjão!
ResponderExcluirSão cinco mesmo, Netto. Laila, Luis, Bernardo, Pedro e Felipe. Joaquim foi por meios naturais e Júlia não é filha dele, é fruto de uma traição da mãe.
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