sexta-feira, 17 de outubro de 2025

"Vale Tudo" foi um remake apolítico, descaracterizado, raso, absurdo e covarde

 O remake de "Vale Tudo" sofreu um massacre de críticas muito antes da sua estreia. A ideia de uma nova versão da melhor novela já feita na teledramaturgia provocou uma série de desconfianças por razões óbvias e a rejeição nas redes sociais foi gigante, o que fez a missão da nova trama ser ainda mais complicada. Afinal, o objetivo era repetir o sucesso, manter a qualidade, não desrespeitar a obra original e provar que todas as críticas tinham sido precipitadas. Porém, a adaptação de Manuela Dias, dirigida por Paulo Silvestrini, chegou ao fim nesta sexta-feira (17/10) sem conseguir alcançar nem um terço das metas.  


A autora até conseguiu enganar o público e a imprensa no começo do remake, quando as similaridades com a obra de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Brassères eram muitas. Mas, ao longo dos messes, foi ficando evidente a precariedade do texto, a destruição de arcos dramáticos fundamentais, a direção repleta de equívocos e novos conflitos que só empobreceram a narrativa, a ponto da essência do enredo ter se perdido por completo. A pergunta central --- "Vale a pena ser honesto no Brasil?" --- perdeu a relevância porque não houve discussão alguma de temas pertinentes e incômodos para a sociedade. 

A principal característica do remake foi a covardia. A história de 1988 transbordava política e abordava assuntos que geravam debates. Mas é importante ressaltar que não se tratava de política partidária e, sim, a política do dia a dia de todo cidadão brasileiro, aquelas atitudes que quase sempre caminhavam na linha tênue entre a integridade e a canalhice. Tanto que não havia personagem perfeito em "Vale Tudo". Todos tinham algum tipo de falha, o que proporcionava uma sucessão de embates éticos e controversos sobre a conduta de cada um. Tudo isso honrava o título da obra, o que nunca aconteceu na adaptação, que foi apolítica do início ao fim. O pior é que as raras inserções políticas na trama foram feitas de forma rasa e até constrangedora, como o momento em que Solange Duprat (Alice Wegmann) disse para Odete Roitman (Debora Bloch) que ela era 'resistência'. Uma garota branca, de classe média alta, moradora da zona sul do Rio de Janeiro, cercada de privilégios, namorada do maior herdeiro do país, era resistência a quê? A cena virou chacota nas redes sociais. 


Um exemplo da falta de politização da nova história pode ser vista logo no começo, quando Raquel (Taís Araújo) foi furtada por um menor de idade. Em 1988, a protagonista se indigna e diz que um emprego poderia mudar aquela realidade. Hoje em dia, a afirmação dita pela heroína seria inconcebível, afinal, trabalho infantil é crime. No entanto, a personagem poderia levantar a discussão sobre a necessidade desses infratores terem que estudar em tempo integral e que prisão só pioraria o problema porque poderiam ser aliciados pelo PCC ou Comando Vermelho, enfim. A opção do remake foi enterrar o diálogo ao invés de adaptá-lo. E assim aconteceu com qualquer situação. Tanto que até a figura do Ivan (Renato Góes) se esvaziou. O mocinho larga Raquel e casa com Heleninha (Paolla Oliveira) para crescer na carreira e há um dilema ético porque ele acaba voltando com a protagonista, que vira sua amante. Isso gera até instrumento para Odete chantagéa-la. Só que no remake tudo aconteceu de uma forma tão rasa que nem deu tempo para o telespectador levantar qualquer discussão. Aliás, a superficialidade foi um dos motes do remake.


Assexualidade, tráfico de animais, adoção por casais homoafetivos, redução dos gases do efeito estufa, vício em jogo do tigrinho, pensão alimentícia, etarismo, assédio moral, falta de sexo no casamento, Burnout, bebê reborn, onlyfans, racismo, maternidade solo, enfim, nem dá para enumerar todas as abordagens rasas da trama. A impressão é que a autora tinha a ideia e a inseria por alguns capítulos sem nenhuma construção minimamente crível para que o assunto começasse a ser explorado. Aí depois o solucionava de forma mágica apenas para eliminá-lo da narrativa sem precisar de muito esforço.


Um dos poucos temas bem-sucedidos tinha sido o da pensão alimentícia. Manuela Dias criou esse conflito para Lucimar (Ingrid Gaigher) e Vasco (Thiago Martins), que formavam um ex-casal. De acordo com a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, a procura pelo aplicativo do órgão teve um recorde de 4.560 acessos por minuto, quando o normal é mil acessos. O crescimento de 300% aconteceu no dia em que a cena da personagem colocando o ex na Justiça foi exibida. No entanto, ainda assim, a abordagem foi rasa e resolvida em tempo recorde. Até porque a autora explorou o vício em jogos de azar através do mesmo Vasco, que gastava o dinheiro da pensão apostando na internet. Só que isso só aconteceu uma vez e depois nada mais foi exibido. Ele se curou magicamente do vício? Ninguém soube. E a pouca construção do núcleo foi eliminada por causa da reconciliação dos dois, que até se casaram. Tudo bem que a situação não é nada inverossímil diante de tantos casos no país, mas precisava colocar a mulher junto com o ex que devia pensão pro filho? Ainda mais depois dos bons resultados gerados com o público? Para culminar, em plena reta final, Maria de Fátima não colocou César na Justiça para pagar uma gorda pensão para o filho. Como a autora mudou a novela toda, o gigolô se casou com Odete e herdou 50% da fortuna. Algo inconcebível na versão original, mas que acabou forçada no remake para colocá-lo como suspeito do assassinato. Só que Manuela esqueceu que, diante de sua nova resolução, Fátima conseguiu dar o golpe do baú perfeito. O filho não era de Afonso (Humberto Carrão), mas de César, que ficou até mais rico do que o filho da bilionária. Qual o sentido a vilã precisar trabalhar em padaria ao invés de exigir a qualquer juiz um auxílio mensal de um novo bilionário? O pior: qual o nexo de entregar a criança para adoção? A interesseira ficou burra de repente? Se desfazer do herdeiro bilionário para seguir pobre?


É tanto conflito desenvolvido de forma vaga e absurda que não tem como citar um a um. Mas vale também mencionar o caso do Burnout de Renato (João Vicente de Castro). A autora achou de bom tom colocar um distúrbio de exaustão no chefe que mal trabalhava na trama e não em qualquer funcionário dele. O pior é que a descoberta de sua enfermidade e sua milagrosa cura se deu em menos de duas semanas. Outra situação que teve um tempo semelhante foi a obsessão de Aldeíde (Karine Teles) por bebê reborn. A personagem resolveu comprar um e conseguiu com César (Cauã Reymond), que decidiu contrabandear bonecos para ganhar uma grana. A então secretária de Marco Aurélio protagonizou cenas constrangedoras até que decidiu doar o brinquedo para uma criança em situação de rua. E acabou ali o enredo. César também deixou de comercializar naquele instante. 


E o que dizer da falência e súbita recuperação de Raquel? A situação pegou tão mal que até Taís Araújo deu uma declaração pública criticando o enredo da protagonista, que estava rica, mas ficou pobre e cheia de dívidas, voltou a vender sanduíche na praia por um único dia e depois recuperou sua empresa. Tudo em um contexto recheado de absurdos. E a personagem praticamente desapareceu da novela. Outra personagem que perdeu o destaque foi Maria de Fátima. A segunda grande vilã da história serviu como ponto de apoio para o golpe do baú de Olavo (Ricardo Teodoro) em Celina (Malu Galli) perto da reta final e ainda foi vítima de um atentado recheado de cenas sem qualquer nexo. A cena tão emblemática da personagem vendendo o filho recém-nascido por vinte e cinco mil dólares foi eliminada no remake e, por consequência, todos os conflitos que o ato criminoso geram com a mãe. Aliás, nem deu para perceber que Fátima estava grávida. A barriga nunca cresceu, enquanto a barriga de Solange, grávida de gêmeos, uma hora sumia e outra aparecia. 


O nível de inserções gratuitas no roteiro é tão alta que até a Globo precisou intervir, vide a eliminação da abordagem sobre o 'morango do amor'. A febre sobre a venda do doce foi colocada na história pela autora, mas a novela sempre esteve com as gravações adiantadas e a emissora resolveu cortar as cenas (que seriam protagonizadas por Vasco e Lucimar) porque o assunto nem estava mais em voga. Mas os conflitos superficiais infelizmente nunca pararam, vide a leucemia de Afonso (Humberto Carrão). Essa é uma alteração na história original drástica e exigiria o mínimo de cuidado para inseri-la no roteiro. Não houve qualquer preocupação para a abordagem de um tema tão delicado. Em um só dia, o personagem descobriu todos os sintomas da doença como se tivesse contraído uma gripe. Logo depois, descobriu a leucemia, iniciou o tratamento, cortou o cabelo, iniciou a procura por um doador, ficou careca, decidiu parar o tratamento porque não encontravam doador e depois retomou quando a família descobriu que Leonardo (Guilherme Magon) estava vivo. O drama ficou em segundo plano e não fez diferença alguma na narrativa. A doença só serviu para expor a frieza da família Roitman, embora não tenha sido a intenção da autora. A fixação pela doação da medula de Leozinho deixou Solange como uma obcecada, a ponto de pouco se lixar para a saúde do cunhado. Nenhum deles pareceu se importar. Cenas colocadas como 'sensíveis', mas que foram só sem um pingo de noção mesmo. A mocinha Duprat, por sinal, deixou de ser a mulher independente e bem resolvida para virar enfermeira particular. E outra dúvida sobre a personagem: qual o objetivo da sua diabetes? Mais uma novidade que nada acrescentou ao roteiro. 


O mais inacreditável é que o enredo envolvendo a doença de Afonso foi deixado de lado por causa dos atentados sofridos por Marco Aurélio. Outra situação inédita colocada pela autora da forma mais estapafúrdia possível. Odete resolveu matar o vice-presidente de sua empresa depois que soube, através de Freitas (Luis Lobianco), que ele desviava ainda mais dinheiro do que ela imaginava. A vilã recebeu os assassinos em seu escritório na TCA sem qualquer constrangimento e os dois foram matar Marco Aurélio sem qualquer disfarce. Ainda precisaram chamar o empresário para chegar mais perto e deram um único tiro no ombro. Tudo em alto mar. Como se não bastasse esse show de horrores, Marco Aurélio também tentou matar Odete com um atentado risível e não houve qualquer investigação da polícia. Odete ainda matou Mário Sérgio (Thomás Aquino) por engano em uma nova tentativa de eliminar seu rival e mais uma vez nada de polícia. Tudo foi jogado sem preocupação com uma mínima lógica narrativa. 

Outro grave problema da obra foi a direção. Paulo Silvestrini sempre foi um profissional talentoso, vide seus ótimos trabalhos em "Malhação - Viva a Diferença" e "Vai na Fé", mas não deu para entender o que aconteceu. Foram muitas cenas que deixaram a desejar, incluindo escolhas equivocadas da trilha incidental e no movimento dos atores, que eram constantemente prejudicados. As aguardadas catarses não tinham o impacto esperado, algumas vezes pareciam uma espécie de jogral, e vale citar como exemplo a aguardada revelação sobre o acidente de Leonardo. Foi um capítulo inteiro dedicado a isso e todos os personagens da família Roitman ficaram sentados durante toda a sequência em que Odete contava a verdade. Somente no finalzinho que Celina se levantou e partiu para cima de Odete. E o que dizer da cena em que Heleninha surgiu com Leonardo vivo na sala? Foi o melhor gancho da novela. Mas a continuação da cena beirou o ridículo. Todos agiram com aparente normalidade, a ponto de Odete sugerir uma foto familiar e todos aceitarem. Um anti-clímax. E claro que Manuela Dias tem sua grande parcela de culpa também, uma vez que destruiu até a memorável sequência do assassinato de Odete Roitman. 



Todos decidiram matar Odete no mesmo dia e no Copacabana Palace, o principal hotel do Rio de Janeiro, cercado por câmeras de todos os lados e com milhares de funcionários em cada corredor. Ninguém cogitou matá-la em um lugar um pouco menos movimentado. Mas o pior foi ver todos os personagens circulando pelo hotel armados na maior tranquilidade. Celina até abriu sua bolsa em pleno elevador, com câmera, para conferir se sua arma estava ali. E o que dizer da revelação surpresa de que Olavo era atirador do exército e tinha um fuzil de alta precisão? O personagem até ontem era um medroso, assim como César, que ficou aterrorizado quando soube que Odete matou Ana Clara (Samantha Jones). E Maria de Fátima que comprou uma arma e aprendeu a atirar com um desconhecido em tempo recorde? O que foi aquilo? Aliás, Fátima reservou um quarto no hotel com seu próprio nome para ser logo a primeira investigada pela polícia. Ainda teve Marco Aurélio com todo o equipamento de um assassino profissional se arrumando no quarto do hotel. E o final, que tinha tudo para amenizar um pouco todos os absurdos diante do impacto do crime, foi um banho de água fria com aquela cena da vilã se impulsionando para trás de forma artificial. Ficou tudo grotesco.


Vale citar também os atores desperdiçados. Após o seu grande trabalho como Inácia no remake de "Renascer", Edvana Carvalho foi uma figurante de luxo, assim como Ramille, que viveu a apagada Fernanda, depois do sucesso de Andrômeda em "Família é Tudo". O grande Luis Melo, longe das novelas há 8 anos, foi mais uma vítima. Seu Bartolomeu pouco apareceu. Maeve Jinkings e Lorena Lima ficaram avulsas ao longo da novela e todo o arco dramático de Cecília e Laís foi uma vergonha. Cecília teve mais destaque morrendo em 1988 do que viva em 2025. A autora nunca soube o que fazer com elas, que mal se beijavam. Cecília foi colocada como uma ativista ambiental que quase morreu em um atentado e nunca houve uma investigação sequer. O processo de adoção de Sarita (Luara Telles) foi repleto de desserviços, incluindo a reconciliação absurda com Marco Aurélio, que tentou tirar a guarda da menina através de um roubo de documento sem qualquer sentido. E ainda teve o surgimento de um falso pai biológico da criança, que tentou chantagear o casal e acabou preso em uma resolução súbita e constrangedora. E o que dizer de Luis Salém? Eugênio foi uma das figuras mais lembradas da obra original e foi reduzido a um nada no remake. Sua paixão por cinema foi extinta, assim como sua relação de cumplicidade e humor com Celina. O mordomo mal abriu a boca ao longo da trama e perto da reta final teve uma aproximação forçada com Freitas (Luis Lobianco), mas nem resultou em um final feliz porque o personagem preferiu permanecer trabalhando para a família Roitman, sem receber nem um pingo de agradecimento. Um desfecho deprimente para um papel que era icônico em 1988 e ficou sem alma na adaptação.


Em meio a tantos problemas graves, é necessário ainda mencionar os vários furos esquecidos  pelo caminho e que afundaram qualquer credibilidade da narrativa, entre eles o fato de Celina nunca ter descoberto que Olavo tinha roubado o quadro da Heleninha, que por sua vez nunca soube que a tia era sócia de Raquel e ainda ficou presa por meses em virtude de uma confissão sem provas só porque o delegado acreditou e pronto. Aliás, não existiu advogado para nenhum dos suspeitos do crime e pareceu que faltou verba para a contratação de novos atores, o que é inadmissível diante do lucro em publicidade que o remake deu. Porque era uma ação de merchandising atrás da outra e quase todas muito mal inseridas na história, o que deixava as cenas artificiais. Tudo o que a emissora faturou não foi revertido em qualidade para a obra. Vide a cena do acidente mal realizada de Cecília e o capotamento do carro em que estavam Odete, Heleninha e Leonardo. E a fuga de Leila (Carolinna Dieckmmann) e Marco Aurélio? Uma perseguição rápida e com um carro da Polícia Federal apenas. A sequência memorável do empresário dando uma banana para o Brasil ao menos foi mantida, mas com uma pane no avião que resultou na prisão do casal. 


O único ponto positivo do remake foi a escalação da maioria dos atores. Vários seguraram o rojão e foram até uma espécie de escudo para a autora porque defenderam com talento personagens inconsistentes e que não tiveram nem a metade da construção dos perfis originais. É o caso de Malu Galli, que mais uma vez esbanjou potência cênica com sua Celina, uma das mais descaracterizadas do remake, a ponto de ter sido uma forte suspeita do assassinato de Odete. Aliás, Debora Bloch deu um banho de atuação na pele da icônica vilã. Sua missão era a mais difícil porque a comparação era o desempenho irretocável de Beatriz Segall. Mas a atriz fez a sua Odete e viveu um grande momento. Alice Wegmann também brilhou como Solange Duprat, assim como Lucas Leto como Sardinha; Belize Pombal como Consuelo; Karine Teles como Aldeíde; Carolinna Dieckmmann como Leila; Guilherme Magon como Leonardo, Teca Pereira como Nise; Samantha Jones como Ana Clara; Jéssica Marques como Daniela; Luis Lobianco como Freitas; e Paolla Oliveira como Heleninha. Cauã Reymond e Ricardo Teodoro funcionaram como parceiros e fizeram de César e Olavo uma boa dupla. Taís Araújo, apesar do boicote escancarado, esteve excelente como Raquel e Alexandre Nero emprestou seu carisma para Marco Aurélio. Já Bella Campos merece uma citação especial porque era uma das mais cobradas e transformou sua Maria de Fátima em um perfil querido pelo público. 


Já o último capítulo foi um dos piores exibidos na história da teledramaturgia, com o agravante da obra ser um remake da maior novela já produzida. Foram vários blocos sem qualquer acontecimento relevante. Poliana e Marieta (Cacá Ottoni) falando sobre morar juntos, Raquel e Ivan se casando, Afonso e Solange felizes na praia e Cecília e Laís oficializando a união em um casório íntimo. A única parte realmente boa foi Marco Aurélio saindo da cadeia com tornozeleira eletrônica e maquiagem que fingia um estado crítico, quase agonizante, como um certo político que sempre piora seu estado de saúde quando fica perto de ser preso. O vilão e Leila no apartamento de luxo e em uma cama confortável, enquanto carregam suas tornozeleiras, também foi muito perspicaz e condizente com a realidade brasileira. Mas o resto... O que foi Maria de Fátima casada com um fazendeiro rico e reatando com César, que foi atrás dela mesmo estando bilionário? Por sinal, os dois se encontraram por acaso porque o gigolô foi lá dar golpe do ricaço. Qual o nexo? E por que Fátima ficaria com ele e ele com ela depois de tudo? Até porque não dá para deixar de lado o fato de ambos serem pais de uma criança herdeira da maior fortuna do país. E a revelação do verdadeiro assassino de Odete Roitman foi broxante. A opção mais óbvia venceu. Marco Aurélio atirou, o que era previsto na sinopse da versão de 1988. Só que a execução da cena não teve impacto algum. 


A única 'surpresa' do final foi Odete aparecer viva, ainda que grande parte do público tenha torcido e desconfiado do desfecho. Só que a explicação para o milagre foi um show de horrores. Absolutamente nada teve a mínima lógica e todas as cenas trataram o público como idiota. Odete ficou sangrando horas no quarto, o delegado constatou sua morte, os peritos constataram. O tiro atravessou a vilã. E depois a vilã acorda na van da Defesa Civil com o peito ensanguentado, como se tivesse dormido com azia. Foi operada em um estábulo e pronto. Estava linda e plena. Odete agradeceu a ajuda de Freitas e foi embora de helicóptero, mas sem dar uma banana para o Brasil. E não foi nada combinado. Ela simplesmente acordou de um tiro que atravessou o seu corpo e conseguiu ser operada. A ligação para o Freitas foi um improviso. Não havia plano algum para escapar. Custava colocar um colete à prova de balas e botar a mulher pra combinar essa falsa morte para se vingar do seu 'assassino'? Nem a Consuelo a ajudou? O 'plot' tinha tudo funcionar, mas a resolução ficou ridícula. E a empresária nem precisava fugir do país porque ninguém descobriu que ela matou Ana Clara. Ela foi embora e deixou o César ficar com 50% da sua fortuna? A Heleninha vai ser condenada? O final da alcoólatra é passar o resto da vida se culpando novamente por algo que não fez? Ela foi mais punida que todos os vilões? Por que diabos a Fátima jogou a arma dela no mar se nem atirou? Enfim, a última cena pareceu um escárnio. 


 "Vale Tudo" foi um remake apolítico, descaracterizado, absurdo, raso e covarde. A trama sai de cena com média de 23 pontos de audiência, dois a mais que a antecessora, "Mania de Você", o maior fracasso da história do horário das nove. Uma média muito abaixo do fenômeno "Pantanal" (30), do sucesso "Terra e Paixão" (27) e da mediana "Renascer" (26). Porém, não há como negar que a trama caiu na boca do povo, rendeu um faturamento recorde para a Globo e teve repercussão, ainda que muito negativa na imprensa e nas redes sociais. O saldo final para a emissora não foi tão bom quanto se esperava e nem tão ruim quanto se supunha, mas em se tratando de conjunto da obra só há uma verdade: Manuela Dias destruiu uma das produções mais aclamadas da teledramaturgia e o tempo vai provar o quão catastrófica foi essa novela, que já está na lista das adaptações que deram errado, junto com "Irmãos Coragem", "Pecado Capital", "Guerra dos Sexos", entre outras. A autora tinha apenas uma novela no currículo (a problemática "Amor de Mãe") e não podia ser a responsável pela adaptação de uma obra desta monta sem um supervisor de texto. Uma escritora ou um escritor com mais lastro era fundamental. A única constatação possível é que de Vale Tudo não teve Nada. 

13 comentários:

  1. Ricardo Linhares deveria ter supervisionado a Manuela ele já trabalhou com Gilberto Braga ou deveria ter ser coautor

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  2. Olá, Sérgio! Eu brinco que vi a novela por tabela porque durante a exibição eu costumo ficar no meu quarto lendo, pintando ou mexendo no celular, enquanto a TV está ligada em outro cômodo e por ser do lado em que estou acabo escutando tudo. Além de ver comentários sobre nas redes sociais. Mas não tenho ânimo nenhum de ir lá ver. Eu até vi no início por curiosidade, afinal eu ouvi muito que VT era um ícone. Enfim só que começaram a aparecer os problemas narrativos e os diálogos não eram bons em sua maioria e aquilo foi me dando uma sensação de perda de tempo que eu resolvi largar a novela.
    Depois disso eu posso dizer que voltei a sentar na frente da TV para assistir VT no dia do assassi@to da Odete e justamente ontem no último capítulo.
    E por que eu falei tudo isso? Porque eu assisto A Viagem. Eu programo o meu dia para que na hora de A Viagem eu esteja em casa e livre. E vendo A Viagem eu noto o quanto a VT de 2025 é uma novela amadora.
    Cont...

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  3. Cont...

    Uma coisa que eu estava observando é o arco de personagem para quem não tem familiaridade com narrativa o arco de um personagem pode ser de redenção ou pode ser de corrupção/queda. Fato que o personagem não pode começar a história do jeito que ele começou e hoje eu estava justamente lembrando do arco da Dina. A Dina do primeiro capítulo não é a mesma dos capítulos atuais e por tudo que vi sobre e até através de suas críticas excelentes, eu concluo que os personagens em VT sofrem todos de síndrome de Gabriela. Enfim só mais um dos inúmeros problemas.
    Sobre o Eugênio, eu penso que se ele fosse personagem da Rosane o homem ia ser um luxo de culto. Com certeza iria citar Scocerse, Spielberg, Godard, Tarantino, Hitchcock e etc, além claro de conhecer literatura no geral, então, claro sempre haveria alguma fala dele retirada de algum clássico do cinema ou da literatura e pertinente com o momento da história e parece um detalhe bobo, mas não é.
    Na escrita falamos muito de intencionalidade.
    Uma pergunta comum a quem escreve, além da clássica qual a mensagem que você quer passar com essa história? É justamente sobre intenção..
    Qual é a sua intenção com essa cena? Qual a sua intenção com esse diálogo? E VT parece que não existe intenção nenhuma. Ah vamos falar de bebê reborn porque está em alta. Na verdade note como praticamente a maioria dos temas abordados tiveram no auge na internet e morreram na trama tal qual são esquecidos mas redes, mas isso eu falei melhor em outro comentário.
    Enfim o que me lembra o Poliana dizendo hoje que se descobriu Assexual em uma pesquisa na internet e só. Sei que não tem exame pra detectar isso, mas levando em consideração o tanto de autodiagnóstico e até diagnóstico alheio que vemos hoje em dia é bem complicado essa questão.
    O ideal seria que ela escolhesse poucos temas e os aprofundasse.
    A sensação que dá com tudo isso é que ela tinha uma ideia do nada, botava no papel, os atores gravavam aquele rascunho e pronto
    Cont...

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  4. Cont...
    Sobre o Afonso é impossível não lembrar da Camila de Laços quando o assunto é esse. Eu me lembro que a Camila antes de se concluir tudo foi apresentado sintomas e sinais o que começou a gerar atenção do público. Como diz Assis Brasil no livro Escrever Ficção
    "Se o personagem morre de Tuberculose no capítulo 10, ele precisa tossir no capítulo 3" Não é exatamente assim, contudo é algo nesse sentido. Isso não é só sobre abordagem de doenças, mas de um modo geral.
    Ahh quando eu vi a Daniela hoje com a Fátima pensei: Ela tá ajuizando a ação de pensão alimentícia. Hahahahah


    Enfim são muitos problemas para serem debatidos e vou te contar uma fofoca. Hahahahah
    Uma moça gringa, famosa nas redes, estava sempre falando do livro dela. Livro que ela escrevia há dez anos. Até que ela lançou o livro com muito hype e segundo as pessoas o livro é tenebroso. É uma bomba e o que se descobriu a respeito? Ela nunca leu um livro na vida, ela própria até onde soube disse isso e ela passou dez anos escrevendo não porque estava lapidando a história, mas porque ela escrevia, apagava, escrevia, apagava porque segundo a própria para ela isso era revisar. Enfim eu tô resumindo muito aqui a história e eu tô contando isso porque esse amadorismo em VT me fez lembrar esse caso.

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  5. Você concorda com que é a maior novela do Brasil? E se não é qual é?

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  6. eu vou ter parcimônia em comentar pq oficialmente não vi. sou da q viu pedaços pela internet muito esporadicamente e vi ontem. antes de começar eu entendia as escolhas, falas e defesas, podia dar certo e era errado ainda julgar. mas depois... parece q a regra era faturar e deu certo. se pra isso precisava fazer esquetes bobas dos memes do momento, qual problema? dá asco. fazer qq coisa já q o público não senta mais pra ver novela. bom, isso é o q eles acham. mas errados não estão pq faturaram horrores, dá até medo do futuro. essa colcha de retalhos sem coerência faturou, então pra q qualidade? a falta de qualidade se devia a urgência das cenas. nada q é feito corrido tem bom acabamento. e pior, era bem pior do q pouco acabamento pq nem chegava no acabamento. ia pro ar ainda cru e de qq jeito. copacabana palace embarcou na brincadeira. qual problema se vão achar q o hotel não é seguro? de novo, o importante é faturar. empresa séria nunca tinha aceito correr esses riscos. a irresponsabilidade com adoção na teledramaturgia sempre me assusta. e foi tao de qq jeito q cesar pede pra ir no banheiro de uma fazenda milionária e o banheiro é atrás da cocheira pra justificar achar maria de fatima. e a cocheira era da fazenda do petruquio de cravo e a rosa, pq fazenda chique não tem tudo aberto, sem cuidado. fazenda de rico é ultra tecnológica, inclusive o banheiro q não é atrás da cocheira. ótimo texto. beijos, pedrita

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  7. Olá, Sérgio!
    Agora vamos falar de coisa boa?
    Eu acho que a grande maioria dos atores até onde pude ver e pelo que acompanhei nas redes entregou.
    A Débora foi excelente como Odete e não é a toa que o público simpatizou com ela, os mocinhos também não ajudaram muito e não pelos atores, mas por questões de enredo mesmo.
    A Taís, eu li o texto que você fez sobre ela, mas não consegui comentar, eu lamento que uma atriz talentosa, dedicada e tão boa no que faz venha sendo boicotada dessa maneira. Curioso que o apagamento da Raquel me lembrou do apagamento da Beatriz em Garota do Momento, contudo em Garota do Momento nós odiavamos a Bia, já a Odete caiu nas graças do público o que claro não é justificativa para se ignorar a protagonista.
    O Cauã e o Ricardo fizeram uma boa dupla, pelo menos nas raras vezes que vi notei que eles possuem sintonia, química.
    E falando em química o Nero e a Carolina precisam fazer par romântico mais vezes não ironicamente o final deles pra mim foi o melhor.
    Ah, outra coisa que preciso elogiar a Abertura. Eu sou viciada em aberturas e noto que já tem um tempo que as aberturas estão em sua maioria xoxas, mancas, capengas e a abertura de Vale Tudo era realmente muito boa.
    Por fim: Eu acho que a Manuela não foi feliz na condução do texto de VT, não sei se ela teve supervisão ou não, se teve colaboração de outros autores, não sei se ela teve medo de arriscar no texto e sofrer cancelamento. Mas existem erros narrativos que eu não entendo e não entendo porque ela não é uma pessoa aleatória que a Globo pegou no meio da rua e falou: "escreve"
    Então eu acredito que ela pode sim muito mais do que ela fez aqui.

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  8. Prometo que será o último. Hahahahah
    Toda essa conversa me fez pensar em coisas que precisam voltar a ter com urgência nas novelas

    Trilha Sonora. Hoje tem 2 ou 3 músicas isso quando tem. Antigamente se tocava música a gente sabia que ia vim personagem tal ou casal X. Inclusive todos os casais tinham uma música, hoje quando tem é só o casal principal e olhe lá. Detalhe que eles tinham música nacional e internacional
    Outro dia tocou no rádio uma música do oriente médio e na hora me lembrei de O Clone. A musica desperta sentimentos e hoje em dia é tudo tão mecânico e frio que isso faz falta porque uma história precisa se conectar com o seu público e essa conexão vem através do sentimento, da emoção e a trilha sonora ajuda muito nisso.

    Mais cenas externas que estão ficando cada vez mais raras.

    Vilões sem medo de serem vilões. Eu não sou a maior fã de maniqueísmo, mas sensação que dá é que hoje em dia muitos ficam pisando em ovos pra agir e falar. Claro que isso aqui é sobre mais autores sem medo de escreverem vilões.

    Novela que gosta de ser novela. Aqui talvez fosse legal que as novelas fossem menores, tivessem um elenco mais enxuto e não tivessem pretensão nenhuma de abraçar o mundo. Faz o básico bem feito, reverte certos clichês que funciona.

    Slow Burn quer dizer queima lenta ele é o oposto do Insta Love. Vou citar A Viagem de novo, um ótimo exemplo de Slow Burn é Dina e Otávio, hoje parece que falta paciência para se construir o par romântico.

    Padrão Globo de Qualidade. Hahahahah aqui é auto explicativo

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  9. Olá, tudo bem? Divulgarei no meu blog hoje o balanço final com os pontos positivos e negativos da nova versão de Vale Tudo. O último capítulo foi horroroso.... Abs, Fabio blogfabiotv.blogspot.com.br

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  10. No geral, o que você achou do desempenho da Bella Campos? Eu achei mediana/regular. Acho que ela só consegui se sobressair a partir da metade porque a personagem assumiu definitivamente uma postura mais debochada e que transbordava leveza, o que sempre um facilitador para a Bella. A zona de conforto da atuação dela sempre foi esse tom mais leve que o papel se concretizou. No entanto, as cenas em que a Fátima tentava ser fria, a atuação da Bella era constrangedora e resultava em uma inevitável canastrice. Essa foi minha visão. Eu gostaria de saber o que você achou, no geral, desde o começo até o final.

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  11. Sorte que não assisti essa nova versão por completo, que remake ruim >_<

    Como diria Carminha de Avenida Brasil: Já vai tarde, coisa ruim

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  12. Vale tudo não valeu nada?
    Não se fazem mas novelas como antigamente.
    Beijos! :-)

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