Chico Diaz fará falta em "Renascer"

 Nesta segunda-feira (25/03), a segunda fase de "Renascer" sofreu mais uma dura perda. Após o final da primeira fase do remake de Bruno Luperi, muitos personagens desapareceram do enredo, mas ainda estão na memória do público ---- e suas ausências são sentidas. Um dos poucos que continuaram foi padre Santo, interpretado com magnitude por Chico Diaz. 

O personagem teve uma licença poética para se manter na história com a passagem de tempo. Afinal, o padre já tinha certa idade na primeira fase e com o avanço de mais de 30 anos era para estar bem mais idoso do que o apresentado no enredo baseado na obra original de Benedito Ruy Barbosa. No entanto, esse tipo de situação é sempre relevado, tanto por público quanto crítica em virtude do talento do intérprete. É sempre bom ver um veterano em cena, ainda mais em um momento em que o etarismo reina na teledramaturgia. 

Padre Santo representou uma figura que transmitia amor e sabedoria. Chico declarou em várias entrevistas que pesquisou a vida do padre Júlio Lancelloti para compor o personagem e não havia ninguém melhor para representar a bondade do ser humano.

A composição foi tão acertada que ficou até difícil acreditar que o ator acabou marcado pelos vários vilões que interpretou na ficção. Os perfis mais emblemáticos do intérprete na televisão foram os malvados. Não por acaso, um deles vem sendo mostrado diariamente no "Vale a Pena Ver de Novo": o malandro Jader, de "Paraíso Tropical", exibida em 2007. Vale lembrar que o cafetão teve um bonito arco de redenção no final, quando morreu defendendo sua filha. Já ano passado, no Canal Viva, mais um tipo bastante lembrado de sua carreira voltou ao ar: o cruel feitor Clemente, de "Força de um Desejo" (1999). Outro grande trabalho. 

O ator ganhou no remake de Bruno Luperi a chance de interpretar um perfil diferente de tudo o que já fez na TV. O que soa até estranho, já que muitos atores acabam estereotipados diante de tantos padres que interpretam nas novelas e séries. Mas não aconteceu com Chico. A figura do pároco foi uma novidade e muito bem-vinda. As suas cenas na primeira fase com Humberto Carrão (Zé Inocêncio), Juliana Paes (Jacutinga) e Duda Santos (Santinha) tinham uma mescla de humor e delicadeza. Já na segunda, as sequências ao lado de Marcos Palmeira (Inocêncio) eram mais carregadas de tristeza. A chegada do pastor Lívio estabeleceu uma boa dobradinha do intérprete com Breno da Matta e os momentos da dupla tinham sempre um bom texto sobre religiosidade sendo bem defendido. E ainda no tema da religião, Chico protagonizou um dos melhores diálogos da história ao lado de Edvana Carvalho, quando Inácia ensinou ao padre tudo o sobre o candomblé, incluindo o significado de cada Orixá. Emocionante. 

Infelizmente, Santo se despediu da novela hoje e com uma sequência carregada de sensibilidade ao lado de seu grande amigo Lívio. É uma pena que Bruno Luperi tenha decidido copiar e colar até o desfecho do padre, tão antes do final de "Renascer", previsto para setembro. Ao menos a morte não foi tão fria quanto a de 1993, já que na época não tinha uma amizade entre os personagens (eram dois padres). Porém, ainda tinha tempo para explorar mais o talento de Chico Diaz, principalmente em um elenco cuja presença de veteranos é tão escassa.