O que é etarismo? De acordo com a Academia Brasileira de Letras, o termo se refere ao preconceito contra pessoas com idade avançada. Também chamado de idadismo ou ageísmo. "Você não tem mais idade para isso" é a frase mais comum que exemplifica bem o termo. Porém, no meio artístico a discriminação não é evidenciada por afirmações do tipo e, sim, pela falta de trabalho para atores mais experientes. Verdade seja dita, é um problema que sempre existiu, mas depois da pandemia ficou ainda pior.
As novelas e séries gravadas na época do controle sanitário eliminaram por completo a presença de idosos em cena e havia todos os motivos para tal, já que eram o grupo de risco da covid-19. No entanto, as vacinas chegaram, a pandemia foi ficando para trás e a normalidade finalmente voltou no mundo. Nada de máscaras, retorno das aglomerações, enfim, tudo como era antes. Mas o setor audiovisual parece esquecer disso. Pelo menos no quesito escalação de veteranos. Virou algo cada vez mais raro, principalmente nas novelas. Com o perdão do termo explícito e até grosseiro, mas praticamente não há mais velho em folhetim algum.
Na semana passada, saiu uma notícia em vários sites que Roberto Bomtempo foi escalado para viver o avô da protagonista vivida por Grazi Massafera no remake de "Dona Beja", produzido pela HBO Max. A questão é que o ótimo ator tem 60 anos e a atriz está com 40. É uma escalação absurda e não se trata do talento dos envolvidos, é importante ressaltar.
Mas qual o motivo da não escolha de um ator com 70 anos ou mais para o papel? O que está acontecendo? E se nas plataformas de streaming, que estão começando agora a produzir folhetins, o etarismo está ficando claro, o que dizer sobre a Globo? A maior produtora de novelas do Brasil e do mundo vem a cada trama eliminando cada vez mais a presença de intérpretes mais velhos. É algo escancarado.O sumiço dos veteranos vem ficando tão indisfarçável que a emissora vem escalando atores com cerca de 50 anos para interpretarem pessoas com mais de 60, como é o caso de "Terra e Paixão", atual produção das nove. Flávio Bauraqui tem 57 anos e vive um idoso com direito a bengala. Seu Gentil aparenta ter uns 70 anos e o ator passa por uma caracterização que o envelhece. O mesmo acontece com Tatiana Tibúrcio, de 46 anos, que vive Dona Jussara, mãe da protagonista, que tem mais de 60 anos. Novamente é bom ressaltar, o questionamento não é sobre o talento dos envolvidos, até porque os dois estão ótimos na trama de Walcyr Carrasco, principalmente Tatiana, que vem roubando a cena. Mas por que a empresa não quis dois intérpretes mais velhos? E vale lembrar que o único autor atual que ainda se preocupa em escalar profissionais mais experientes é justamente o Walcyr, tanto que escalou Susana Vieira para o início de sua história e colocou Tony Ramos e Gloria Pires como um casal de vilões, a ponto da dupla ganhar ainda mais destaque com a chegada de Eliane Giardini, outra atriz experiente e de grande talento. Outro escritor que costumava escalar muitos atores veteranos era Silvio de Abreu, mas é uma pena que tenha se aposentado dos folhetins ---- em "Passione", de 2010, por exemplo, havia no elenco Elias Gleiser, Cleyde Yáconis, Fernanda Montenegro, Irene Ravache, Flávio Migliaccio, entre tantos mais.
No caso das outras duas novelas atuais da Globo, por exemplo, quantos são os intérpretes de mais idade? No remake de "Elas por Elas", que acabou de estrear, apenas Marcos Caruso e Cosme dos Santos são os representantes. Em "Fuzuê", só há um: Ary Fontoura em um papel que até o momento não passa de uma figuração de luxo. O autor da novela das sete ainda escalou Reginaldo Faria, Zezé Motta e Nathalia Timberg para breves participações em flashbacks, mas os personagens tem poucas falas e quase nenhuma relevância. Parece que virou uma espécie de proibição personagens terem avós na ficção. Até "Todas as Flores", exibida atualmente após o sucesso no Globoplay, está inclusa. Apenas Regina Casé (Zoé), com 69 anos, era a integrante da faixa etária mais avançada no elenco. E o que dizer de Mariana Nunes (Judith), de 42 anos, vivendo a mãe do Caio Castro (Pablo), de 34 anos?
Vale lembrar que o fenômeno "Vai na Fé", escrito por Rosane Svartman, tratou muito bem do etarismo através de Wilma Campos, uma atriz que não era mais escalada para nada por conta de sua idade avançada. Renata Sorrah deu um show. E além da veterana, a autora também escalou outros intérpretes experientes que brilharam, como Zécarlos Machado (Fábio), Neyde Braga (Dona Neide) e Elisa Lucinda (Marlene). Mas ainda é uma quantidade baixa para uma novela. E é preciso citar também Lícia Manzo, que abordou o etarismo com brilhantismo através de Rebeca, defendida com grandeza por Andrea Beltrão em "Um Lugar ao Sol".
O irônico de tudo o que foi levantado é que a expectativa de vida do brasileiro vem aumentando a cada ano e atualmente está em 77 anos, mas a teledramaturgia nacional parece retroceder. O pior é que o sinal do retrocesso nem é apenas em cima da idade do elenco, vide a censura de beijos protagonizados por casais homoafetivos. É um conjunto que vem se mostrando desanimador para os amantes e profissionais das artes. Triste.
É de se lamentar que a inclusão e a representatividade na teledramaturgia nacional estão ficando cada vez mais raras, e quando isso não acontece, são retratadas por meio do desempenho de quem possui pouco ou nenhum lugar de fala quanto à abordagem delas.
ResponderExcluirGuilherme
Particularmente, acho este preconceito especialmente idiota. Primeiramente porque as pessoas que o têm (geralmente jovens, ou adoradores da juventude) parecem crer que jamais envelhecerão, o que nos leva a deduzir que morrerão jovens.
ResponderExcluirDepois porque desconsideram os benefícios proporcionados pelo tempo, que se concretizam em coisas como experiência, melhoria do desempenho, prática e até sabedoria.
Beijão
Comentário muito lógico.
ExcluirParabéns.
e acho etarismo tb romper contrato de pessoas com mais de 80 anos. credo, bomtempo avô da grazy? sim, não é pq os atores que estão não mereciam, mas o mesmo q faziam com pessoas com alguma restrição. não chamar cadeirantes pra interpretar cadeirantes, cegos pra fazer cegos. sim, um ator pode fazer qq papel, mas excluir grupos não faz sentido. sim, os personagens de vai na fé eram incríveis. fuzuê tem zeze motta tb, mas ela só aparece sem falas. sim, wilma de vai na fé tinha vida amorosa. outro tabu da dramaturgia. beijos, pedrita
ResponderExcluirMuito interessante. Mas essa discriminação vê-se em todos os sectores de actividade e em idades até mais baixas. Velhos demais para trabalharem, novos demais para se aposentarem.
ResponderExcluirLamentável é ver artistas veteranos fora de cena como Francisco Cuoco, Betty Faria, Gloria Menezes, só para citar alguns exemplos.
ResponderExcluirbig beijos
Bem triste essa situação. Também tenho visto isso.
ResponderExcluirBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
Aposto que a causa é a coisa mais óbvia do mundo: dinheiro. Simplesmente não querem pagar o salário que um ator mais experiente merece e escalam gente mais nova interpretando idosos para pagar menos.
ResponderExcluirDe se lamentar muito, Guilherme.
ResponderExcluirÉ mt idiota, Marly!
ResponderExcluirPerfeito, Pedrita.
ResponderExcluirBjss, Fá.
ResponderExcluirSim, Lulu. bjs
ResponderExcluirObrigado, anonimo.
ResponderExcluirAbçs, Emerson.
ResponderExcluirTem isso também, anonimo.
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