Rosane Svartman sempre foi uma autora corajosa e apaixonada pela arte. É uma profissional que ama o que faz e sua paixão é vista em todos os seus trabalhos. Não por acaso, está sempre produzindo e 2023 tem sido um ano recompensador. "Vai na Fé" estreou em janeiro e em julho foi a vez da série "Vicky e a Musa", exclusiva do Globoplay, e do seu livro "A Telenovela e o futuro da televisão brasileira". Três grandes sucessos, sendo que o maior deles chegou ao fim nesta sexta-feira (11/08), após 179 capítulos repletos de emoção, música e personagens carismáticos.
A novela foi um fenômeno de repercussão e elevou a audiência da faixa das sete em três pontos, após quase três anos de dificuldades por conta da pandemia do coronavírus e de novelas inéditas que não emplacaram. A missão de Rosane não era nada fácil, mas até o momento a autora desconhece o significado de fracasso. Com uma respeitada carreira no cinema, a sua estreia como autora na Globo foi em 2012, ao lado de Glória Barreto, com a até hoje lembrada "Malhação Intensa". Dois anos depois, permaneceu na faixa do seriado adolescente e iniciou sua vitoriosa parceria com Paulo Halm. A dupla lançou "Malhação Sonhos", outro sucesso. Em 2015, migraram para o horário das sete e escreveram "Totalmente Demais", uma das melhores novelas das 19h. Os dois seguiram juntos na mesma faixa em 2018/2019 e emplacaram mais um fenômeno: "Bom Sucesso".
"Vai na Fé" marcou a estreia de Rosane como autora solo. E foi um trabalho muito bem-sucedido. O folhetim conseguiu ser tão bom quanto os dois anteriores, tanto na potência do enredo quanto no desenvolvimento da história dos protagonistas, que formaram o primeiro casal de mocinhos negros na história da teledramaturgia ----- importante lembrar que nos poucos casos anteriores sempre havia um casal branco para dividir o protagonismo e eram sempre eles que ganhavam mais destaque.
Houve ainda uma preocupação da escritora em se cercar de representatividade com seus colaboradores (Renata Sofia, Mário Viana, Renata Corrêa, Pedro Alvarenga, Fabrício Santiago e Sabrina Rosa), que formaram uma equipe vitoriosa e responsável por muitas cenas que deixaram uma importante marca na trama.A história da novela das sete era tão potente quanto de uma produção das nove e justamente por conta disso havia uma série de dificuldades de desenvolvê-la sem os riscos de deixá-la pesada demais para um horário caracterizado pela leveza e humor. O mote central era o abuso sofrido pela mocinha no passado, que gerou uma sucessão de traumas em sua vida e resultou no afastamento de seu grande amor. Como contar um enredo assim sem pesar na mão? Complicado, mas não impossível. Rosane conseguiu mesclar situações de intensa carga dramática com momentos de pura sensibilidade, sem deixar de lado a comicidade e a musicalidade. Aliás, "Vai na Fé" foi a sua novela mais musical. A presença de cenas cantadas sempre foi uma constante em todas as suas obras, mas agora houve uma maior licença para explorar essa vertente já que Sol (Sheron Menezzes) cantava na igreja e posteriormente entrou para a equipe do cantor Lui Lorenzo (José Loreto). Vale observar que Lui ultrapassou a barreira da ficção. O personagem esteve no trio da Ivete Sangalo, no show de Lulu Santos e até no "Criança Esperança". Suas músicas foram um hit dentro e fora da trama, vide as inúmeras reproduções de "Joaninha", "Se eu fosse casado", "Vem Que Vem", "Hoje A Bagunça é Lá em Casa" e "Pool Party" no Spotify.
Antes da produção estrear, havia uma ampla divulgação na imprensa sobre "Vai na Fé" ser uma novela para evangélicos. Mas nunca foi verdade. O fato da família da mocinha ser evangélica não interferiu em nada no enredo. A história seria exatamente igual mesmo com Sol sendo católica, do candomblé, ateia ou de qualquer religião. A igreja frequentada pela protagonista era apenas um pano de fundo, assim como o escritório de advocacia era para Benjamin (Samuel de Assis) e Lumiar (Carolina Dieckmann), que também tinham a faculdade ICAES como importante ambiente para cenários de bons conflitos. Um conjunto que se mostrou harmonioso e funcionou desde a primeira semana de novela no ar. O fato de ter dado tão certo provocou até inúmeros memes nas redes sociais, como o divertido questionamento: 'Como um folhetim sobre crentes, advogados e estudantes de direito pode ter agradado tanto?". E agradou muito.
Impressionou como todos os núcleos se destacaram em algum momento, o que proporcionou boas cenas para todo o elenco. Samuel de Assis fez um mocinho cativante e conquistou o Brasil com seu carisma e talento. Sheron Menezzes merecia uma protagonista há muito tempo e fez de Sol um acontecimento. Todo o pavor que a personagem tinha de seu abusador foi transmitido com muita verdade, assim como a sua fé em dias melhores e o seu amor pela família. Aquela pessoa que dá gosto de torcer. Houve ainda um acerto de Rosane na construção do casal. Muitos criticaram a demora na concretização do par, mas a autora foi muito inteligente em utilizar os flashbacks, sempre inéditos, envolvendo os protagonistas através dos talentosos Jê Soares e Isacque Lopes, para sedimentar a expectativa do telespectador a ponto da cena do primeiro beijo dos mocinhos ser uma das mais esperadas da novela, algo raro em comparação com os demais folhetins recentes, onde os protagonistas se apaixonam subitamente logo no primeiro capítulo. A escritora sempre acertou com seus casais centrais, mas é possível afirmar que 'Bensol' foi o seu melhor par. E com uma trilha nostálgica e irresistível: "Garota Nota 100", de MC Marcinho.
Carolina Dieckmann estava precisando há anos de uma personagem que valorizasse o seu talento e conseguiu com Lumiar. A advogada que escondia suas fragilidades emocionais atrás de uma casca de aparente frieza foi defendida com brilhantismo pela atriz, que foi um dos grandes destaques da trama. Um retorno aos folhetins em grande estilo. Sua parceria com Samuel de Assis se mostrou certeira, assim como sua sintonia com Claudia Ohana e Zécarlos Machado, intérpretes de Dora e Fábio. Aliás, a morte de Dora transbordou sensibilidade e foi a cena mais emocionante da novela. Rosane ainda apresentou para o público toda a importância do tratamento paliativo em determinados casos através do livro "A morte é um dia que vale a pena viver", de Ana Claudia Quintana Arantes.
Emilio Dantas viveu o seu melhor papel na pele do abusador Theo Camargo Bastos. Um vilão digno de horário nobre interpretado por um ator que sempre se destaca. Após o Pedro, de "Além do Tempo", e Rubinho, de "A Força do Querer", era difícil imaginar o intérprete se superando na pele de outro malvado. O risco de cair na repetição era alto. Mas não caiu. O personagem esbanjava deboche e muitas vezes era cruel e repugnante, ao mesmo tempo que divertia em vários momentos, além de ter sido um malvado que cantava e muito bem. Emilio protagonizou inúmeras cenas excepcionais, onde muitas delas eram musicadas. Deu gosto odiar aquele demônio tão bem defendido.
O casal formado por Kate e Rafa foi outro sucesso da novela. Clara Moneke e Caio Manhente funcionaram juntos e a relação que envolvia o clichê dos opostos que se atraem caiu no gosto do povo. Por sinal, Clara virou a sensação de "Vai na Fé". A maior revelação da trama foi ganhando cada vez mais espaço até quase dividir o protagonismo. Responsável pelas cenas mais divertidas da história e repleta de tiradas impagáveis (quase todas escritas por Renata Sofia), a personagem foi um poço de carisma e também protagonizou momentos de forte carga dramática quando se viu em uma relação abusiva com Theo. Vale destacar também a bem-sucedida parceria da atriz com Carla Cristina Cardoso, intérprete da maravilhosa Bruna. Pareciam mesmo mãe e filha.
Assim como Carolina Dieckmann, Regiane Alves estava precisando de uma personagem que fizesse jus ao seu conhecido talento. Há anos a atriz não recebia um papel que a valorizasse na televisão. Até chegar a Clara e entrar para a lista de melhores personagens de sua carreira. A ex de Theo era um poço de contradições. Sofria em um relacionamento abusivo de mais de vinte anos, era uma mãe superprotetora, mas também vomitava uma avalanche de preconceitos e elitismo quando discutia com Sol e Kate. Suas feridas não apagavam o fato de ser uma típica dondoca preconceituosa da Barra da Tijuca (RJ). Todo o processo de amadurecimento e evolução de Clara teve como principal responsável Helena (Priscila Stzjemann), sua personal trainer, por quem se apaixonou e a fez enxergar novas vivências. Um arco dramático muito rico.
E o que dizer de Renata Sorrah? A veterana, afastada das novelas desde 2015 (na problemática "A Regra do Jogo", última trama que contou com sua presença do início ao fim), estava merecendo um papel que honrasse sua vitoriosa trajetória no mundo das artes cênicas. E ganhou com Wilma Campos, a atriz que teve várias personagens 'roubadas' por colegas mais jovens e enfrentava uma crise devido ao etarismo. A descrição até aparentava um certo peso dramático, mas a mãe de Lui Lorenzo era uma narcisista repleta de sarcasmo e até leveza. Foram muitas cenas (escritas por Mário Viana e Renata Corrêa) que homenagearam folhetins clássicos através de breves citações de Wilma, que fazia questão de recriar cenas emblemáticas. Já perto da reta final, foi ganhando espaço na trama através das gravações do filme thrash 'Fumaça Macabra' e ficou perceptível ao longo da história o quanto Renata estava se divertindo em cena. Ainda formou uma deliciosa dupla com Luis Lobianco, o fiel escudeiro Vitinho. Mas é injusto não citar os restantes do núcleo. Todos foram crescendo e correspondendo em cena, como Azzy na pele da arrogante Ivy; Alan Oliveira como DJ Cidão; Tati Vilela como a produtora Naira e Lucas Oradovschi como o segurança Jairo. Uma turma divertida.
O elenco, aliás, com quase 80% de atores negros, foi muito bem escalado e brilhante em quase sua totalidade. Elisa Lucinda esteve ótima como Marlene e protagonizou inúmeras boas cenas com Sheron Menezzes; Jonathan Haagensen brilhou como o temido Orfeu; MC Cabelinho fez tanto sucesso como Hugo que promoveu uma virada na vida do traficante que morreria logo no começo da história; Orlando Caldeira divertiu na pele do jornalista fofoqueiro Anthony Verão; Marcos Veras esteve muito bem como Simas; e Letícia Salles despertou raiva no público por conta de sua esnobe Érika e não lembrou em nada a doce Filó da primeira fase do remake de "Pantanal". Já o time do ICAES se mostrou uma grata revelação: Flora Camolese como Bia, Henrique Barreira como Fred, Clara Serrão como Bela, Guthierry Sotero como Vini e Laiza Santos como Alice surpreenderam e merecem novas oportunidades --- vale lembrar que Flora e Henrique também se destacaram na série "A Vida Pela Frente", do Globoplay. Mel Maia, como Guiga, e Jean Paulo Campos, como Yuri, foram outros nomes de destaque, embora não sejam revelações. Gabriel Contente também merece elogios, mas uma pena que Tatá tenha perdido relevância ao longo dos meses. É preciso ainda mencionar as crianças que estiveram seguras em cena, especialmente Manu Estêvão, que defendeu a Duda com competência. Além dela, Nathalia Costa (Meire), Lipe Rodrigues (Bryan) e Nego Ney (Gil) brilharam. Até mesmo atores que tiveram pequenas participações ganharam boas cenas e agradaram, como Cris Wersom (Sabrina), Renata Miryanova (secretária Sheila), Francisco Salgado (Horácio), Waldo Plano (Joel), Adriano Canindé (Pastor Miguel) e Valdineia Soriano (Mãe Ana). A escolha do time para interpretar os personagens centrais jovens foi outro acerto. Além dos já elogiados Isacque Lopes e Jê Soares, Matheus Polis (Theo), Hanna Romanazi (Lumiar), Nicollas Paixão (Orfeu) e Dhara Lopes (Bruna) foram gratas surpresas.
Além de todos os intérpretes citados, é necessário uma menção especial: Neyde Braga, que deu um show vivendo a fofoqueira maledicente Dona Neide. A personagem mal aparecia e foi ganhando cada vez mais cenas graças ao carisma e talento da atriz. Deu gosto odiá-la. E o elenco foi tão acertado que até as participações especiais tiveram destaque e boas cenas, como Heitor Martinez como Ricardo; Che Moais como Carlão; Samara Felippo como Vera; Roberta Gualda como Ruth; Otávio Augusto como Aurélio; Vitor Thiré como Lucas; Ana Flávia Cavalcanti como Valéria; Antônio Calloni como Stuart/Aristides; Tulanih como Janaína; Lorena Lima como Graziela e Ângelo Paes Leme como Mauro.
Porém, nem tudo foram flores. A trama também teve seus problemas, assim como qualquer folhetim. O tempo de tela da irritante Jenifer foi exacerbado, assim como as idas e vindas com seus pares. O romance entre Sol e Lui se mostrou cansativo e em nada contribuiu para o enredo. Pelo contrário, acabou tirando o destaque da protagonista. Enquanto esteve ao lado do cantor, Solange perdeu a relevância e virou coadjuvante, enquanto os demais dramas da produção se desenvolviam. Outro ponto fora da curva foi a relação criada entre Yuri (Jean Paulo Campos) e Vini (Guthierry Sotero). É importante lembrar que havia uma forte especulação nas redes sociais sobre um romance entre Yuri e Fred (Henrique Barreira), tanto que os personagens realmente estavam se aproximando, após um início conturbado. Mas a equipe da autora tratou logo de desmentir qualquer possibilidade de ocorrer um casal. Não por acaso, pouco tempo depois, Vini foi inserido na novela. Só que a relação nunca foi bem trabalhada. Vini logo começou a cobrar que Yuri se assumisse, o que gerava constantes desconfortos e até estranhamento porque ambos nem tinham ainda tanta intimidade para aquele nível de exigência. E os personagens foram perdendo a importância. Quando finalmente resolveram namorar começou a interferência da cúpula da Globo, comandada por Amauri Soares, que censurou várias cenas de beijo, o que deixou o contexto da história ridículo. Vários personagens flagravam os dois se beijando, mas o público nunca via a cena. Só foi ver quando Vini foi retirado da história. O garoto foi estudar fora e se despediu do namorado com um selinho digno de historinha infantil. A saída do personagem nunca teve uma explicação plausível, mas tudo indica que foi a vitória da censura. E o desligamento implicou em um novo casal: Yuri e Guiga (Mel Maia), com direito a gravidez. Os dois passaram a protagonizar boas cenas envolvendo a questão de influenciadores digitais e a rinha de padrinhos na reta final divertiu. Mas foi outro par que deixou a desejar no quesito desenvolvimento.
Aliás, a questão da censura manchou a trajetória de "Vai na Fé". E a culpa neste caso não foi de Rosane e, sim, de Amauri Soares, que deixou claro que a 'diversidade' na Globo vai até a página dois. Os constantes cortes prejudicaram um dos casais de maior sucesso da história: Clara e Helena. A aproximação das duas foi muito bem trabalhada e ajudou bastante no processo de desconstrução da ex de Theo, que precisou curar seus próprios preconceitos e vencer seus medos para iniciar um relacionamento com sua personal trainer. As atrizes esbanjaram química e o público torceu muito pelas personagens. Só que foram vários beijos censurados, o que prejudicou o sentido de muitas cenas. O beijo só saiu após uma avalanche de críticas na imprensa e cobrança dos telespectadores nas redes sociais. Em pleno 2023. Uma vergonha. Já a separação das duas na última semana de folhetim gerou estranhamento e soou algo gratuito naquela altura do campeonato. Em nada impactou na história e poderia ter sido explorado antes com mais calma. Fazer as pazes apenas no último capítulo? O pior é que as atrizes disseram que o final não seria assim, ou seja, terem cogitado deixá-las separadas comprovou o equívoco na condução do par.
E a relação de Lumiar e Lui Lorenzo se mostrou controversa. Os dois eram 'meio irmãos' e nunca conviveram na história. Só se aproximaram justamente quando Wilma revelou que Lui era fruto de inseminação artificial. Há uma grande dificuldade na teledramaturgia em colocar qualquer personagem terminando a história sozinho e feliz. A necessidade da felicidade estar ligada a um namoro segue em voga. Apenas isso explica a junção da advogada com o cantor. Seria bem mais interessante, por exemplo, mantê-los como meio irmãos e com o desenvolvimento da relação que nunca tiveram. Lumiar tinha como grande defeito sua dependência emocional, que prejudicou seu casamento com Ben e provocou sua cegueira com Theo. Vê-la sozinha e bem-sucedida no fim seria um desfecho corajoso e condizente com uma superação de vida.
Já nas últimas semanas houve mais um falha no roteiro, desta vez envolvendo Fred e Bia. Qual a necessidade deles terem se beijado? Os dois tiveram um caso que culminou no término da relação dela com Simas e Fred teve um arco de evolução até bem trabalhado ao longo dos meses, onde o início do namoro com Bela foi a cereja do bolo. Tê-la traído nos 45 minutos do segundo tempo pareceu uma artimanha desesperada para preencher o tempo dos capítulos. E Bia trair Tatá também jogou no lixo a evolução que a personagem estava tendo. Outro ponto fora da curva na reta final foi o falso sequestro que Kate e Rafa armaram. Durou menos de três capítulos, mas não provocou nenhuma virada ou impacto. Só serviu para botar uma das melhores personagens na cadeia. É preciso criticar ainda a chantagem de Theo para separar Sol e Ben. Tudo porque o vilão se aproveitou da falsa aproximação de Jenifer (Bella Campos) e Rafa para ameaçar a mocinha. Foi uma artimanha que não se arrastou, mas novamente pareceu um recurso raso de roteiro para inserir algum conflito.
Por sinal, é inegável que a reta final da novela apresentou uma queda de ritmo e de qualidade. Ficou a impressão de esgotamento da história a ponto de criarem situações forçadas para um último respiro. Theo ter sido inocentado em seu julgamento expôs a dura realidade brasileira, mas a sensação é que o enredo acabou depois da injustiça. Qual a necessidade de terem arrastado a descoberta da origem do caminhão do vilão, que acabou matando Carlão em um acidente, para o antepenúltimo capítulo? Um dos principais 'plots' que ficou esquecido por meses. O abusador merecia ter sofrido ao menos um pouco durante o folhetim. E a trama envolvendo a adoção de uma criança promovida por Simas e Sabrina tinha fôlego o bastante para ser explorada bem antes. Acabou ficando algo raso por ter acontecido nos momentos finais. Também não dá para ignorar o contexto envolvendo o assassinato de Orfeu. O traficante de armas sempre foi um bandido 'profissional' e foi impossível acreditar que se deixaria matar facilmente por uma pessoa tão covarde quanto Theo. Tudo bem que não tinha como o grande vilão sair da história antes do último capítulo, mas então que tivessem desenvolvido um desfecho melhor para o ex-aliado do empresário. A sequência foi muito bem mesclada com o show de Lui Lorenzo cantando "Tudo Azul", de Lulu Santos, mas Orfeu ter deixado Theo correr sem dar um tiro sequer beirou o absurdo.
Já o último capítulo teria sido perfeito se não fosse tanta correria. Muita coisa ficou para o final, o que deixou o conjunto com um ritmo acelerado desnecessariamente. O embate entre Theo e Ben no galpão, com o vilão incendiando o local enquanto cantava "Pra Dizer Adeus", do Titãs, destacou o talento de Samuel de Assis e Emilio Dantas, mas poderia ter sido exibido antes do final, deixando no ar a possível sobrevivência de Theo ----- para aí, sim, o abusador voltar no casamento dos mocinhos. A amizade selada entre Clara e Helena também deveria ter sido colocada semanas antes para ter um desenvolvimento decente do período de autoconhecimento da mãe de Rafa. A reconciliação no final ficaria até mais aguardada. Porém, deixando essas questões de lado, foi um desfecho lindo e repleto de emoção, o que fez jus ao conjunto repleto de acertos da produção. A volta assustadora de Theo diante de Sol provocou um embate entre mocinha e vilão com direito a interferência de Jenifer, que empurrou o pai pela janela e pouco tempo depois o salvou junto com os demais. A prisão do abusador foi a justiça sendo feita, ao invés do punitivismo de uma morte trágica. Só não teve o julgamento com sua condenação. Fez falta. O casamento de Ben e Sol sendo realizado pelo pastor e pela mãe de santo foi uma celebração da diversidade religiosa e uma lição para o mundo real, onde uma situação do tipo seria impensável. O beijo de Clara e Helena emocionou, assim como o de Vitinho e Anthony (pena que a relação não tenha sido desenvolvida ao longo da história). A Érika indo parar em um reality sendo anunciada como 'mulher de bandido' foi genial, assim como Dona Neide puxando o saco da Sol bancando a amigona. E a última cena, com todos cantando a música de abertura com Negra Li e MC Liro, encerrou o ciclo vitorioso deixando aquele gostinho de quero mais.
"Vai na Fé" chega ao fim consagrando Rosane Svartman e com o posto de maior sucesso comercial da história do horário das sete, superando o fenômeno "Cheias de Charme", de 2012. Um trabalho realizado em plena harmonia entre equipe e elenco, a ponto das filmagens nos bastidores serem tão cativantes quanto a história tão bem escrita pela autora e dirigida por Paulo Silvestrini. Todos realmente ficaram bem, como diz a música "Vai Dar Certo". Não há dúvidas que foi a melhor novela de 2023 e o vazio de sua ausência será sentido por público e crítica.
Confesso que não consegui shipar BenSol. Bemiar (ou Beniar) conquistou meu coração de um jeito que não consegui me desapegar. Também gostava muito de LuiSol... No final, eu só torci de verdade por Kate e Rafa, os maiorais. haha. Acho que o sequestro falso de Rafa e a aproximação de Rafa e Kate de Theo para vigiá-lo foram plots péssimos. Outro plot que não ajudou em nada foi a gravidez de Guiga. Sinceramente, pareceia uma novela a parte.
ResponderExcluirSérgio que post maravilhoso.
ResponderExcluirFoi delicioso acompanhar Vai Na Fé pela TV e pelos seus comentários no Twitter. Me diverti demais
Vai na Fé vai deixar saudades
Brilhante texto! Vou sentir saudade de torcer pela protagonista mais simpática dos últimos anos.
ResponderExcluirVai na Fé pode até ser a queridinha do público e da crítica no momento, mas está longe, muito longe de ser essa coca cola toda. O texto diz que essa novela foi a primeira a colocar um casal negro como protagonista, mas me desculpe, Ben e Sol estiveram mais para coadjuvantes. Suas tramas não foram bem desenvolvidas, e quando apareciam, era para girar em torno dos personagens brancos e explicar por que eles eram "complexos".
ResponderExcluirPor outro lado, Lumiar, Lui e Theo tiveram tempo de sobra para explorar todas as suas camadas, seus dramas foram explorados de forma humana, e eles puderam cantar em praticamente todos os capítulos. Ora, por acaso, a protagonista iria ser cantora, mas essa parte só foi mostrada nos 45 minutos do segundo tempo, e após muita pressão nas redes sociais. E onde estava Sol nesse tempo todo? Presa na mansão do Lui, e sempre fugindo da perseguição de Theo. Uma cena em particular chega a ser ofensiva: a autora ousou colocar o estuprador e a vítima para fazer um dueto, justamente no momento em que ela realizava seu maior sonho, de cantar sua música em um show. Fora que praticamente não vimos Sheron Menezes se apresentar como cantora nos programas da casa, enquanto Lui/Loreto pôde até mesmo cantar no Carnaval de Salvador!
Além disso, toda a trama do julgamento dela foi risível. Ben, que até então era um super advogado, foi emburrecido do nada para favorecer a "dotôra Lumiar". Ela, por sua vez, não foi nada convincente em sua súbita mudança de advogada machista para defensora do feminismo e das vítimas do machismo. Só mesmo sendo um fã cego para achar que isso é complexidade.
E o pior é que Ben e Sol eram personagens populares com o povo, não havia qualquer justificativa para eles serem tão boicotados e diminuídos. Eu senti que houve uma pequena alfinetada em Lado a Lado, a novela que colocou um casal negro para dividir protagonismo com um casal branco, mas Isabel e Zé Maria foram retratados com mil vezes mais dignidade. Eles foram bem desenvolvidos, pudemos sentir suas dores, suas angústias e celebrar suas vitórias em todos os momentos da novela, não apenas nos últimos capítulos e de maneira apressada e improvisada, como se a autora estivesse cumprindo com uma obrigação de má vontade, como ocorreu em Vai na Fé.
Quer ver representatividade de verdade? Assista Amor Perfeito. A novela das seis não é a melhor do mundo, mas nesse aspecto, supera as outras novelas com folga. Os personagens negros são fortes, incríveis e adoráveis, eles têm cativado os seus assíduos telespectadores com suas histórias, nas quais eles não passam o tempo todo sofrendo ataques racistas de personagens brancos, eles apenas vivem suas vidas, riem, choram e se divertem, assim como todos os moradores de São Jacinto.
Chega a ser engraçado notar a má vontade que boa parte da crítica tem com Amor Perfeito. Eu tenho certeza de que isso se dá apenas porque a novela não tem tantos fãs obcecados comentando e levantando hashtags em uma rede social moribunda, pois a trama vai bem na audiência e a maior parte de seu público fiel é justamente o que mais assiste as novelas: as donas de casa e as pessoas com mais de quarenta/cinquenta anos. Um pouco estranho ver que os críticos atuais estão menosprezando justamente o público que mais acompanha as novelas. Embora a impressão que dá é que esses críticos, assim como boa parte dos "haters" de Amor Perfeito, sentem falta daquelas novelas de época que retratavam a escravidão e desumanizavam os negros, tanto em cena quanto nos bastidores.
No mais, que venha Fuzuê, e que seja mais leve e divertida de se acompanhar.
Sérgio, eu até planejava fazer um comentário bastante caloroso a respeito de "Vai Na Fé" (2023); porém, após ler o seu balanço final, tentarei elogiar o folhetim da forma mais sensata. Autora, colaboradores, diretores e elenco em boa sintonia e com a representatividade característica nas produções da autora; trilha sonora condizente com a identidade da obra, anunciada por Rosane Svartman como uma "novela mosaico"; perfis munidos de potencial para gerar a identificação dos telespectadores com eles; tramas tão atraentes e cativantes quanto os personagens que as ilustravam. Sem dúvidas esses foram os maiores êxitos de "Vai Na Fé". Mas também concordo com todos os pontos negativos por você apontados, Sérgio, e queria aproveitar para ressaltar dois plots que poderiam ser listados como tais: Kate (Clara Moneke) demonstrar ciúmes de Jenifer (Bella Campos) ao vê-la em um momento carinhoso com Hugo (MC Cabelinho), embora Kate e Hugo já não fossem namorados e Kate tivesse iniciado relacionamento com Rafa (Caio Manhente), mesmo Jenifer dando motivos plausíveis para ser tachada como sonsa; na gincana para eleger os padrinhos de Dora, filha de Guiga (Mel Maia) e Yuri (Jean Paulo Campos), Bela (Clara Serrão) ter sabotado Alice (Laiza Santos) em uma das provas e Guiga não ter intervindo a favor da melhor amiga foi gratuito. Sobre os problemas de "Vai Na Fé" não terem poupado a reta final, pode-se tecer uma comparação com a também ótima "Um Lugar Ao Sol" (2021), embora o derradeiro capítulo de "Vai Na Fé" não tenha decepcionado por completo e tenha valido a pena a veiculação de uma ou outra cena do capítulo final de "Um Lugar Ao Sol". E concordo com algumas sugestões de plots por parte do anônimo que abriu a seção de comentários sobre este texto. Acredito que tornariam os desdobramentos da novela ainda mais interessantes e ricamente concebidos. Ainda assim, "Vai Na Fé" é a melhor novela exibida neste ano de 2023 e espero vê-la mencionada nos tradicionais textos de retrospectiva deste blog alusivos aos melhores casais, cenas, atores e atrizes, e os destaques do ano.
ResponderExcluirGuilherme
Oi!
ResponderExcluirO nome da Rosane tá forte ultimamente né? Só vejo elogios a Vai Na Fé e Vicky e a Musa!
https://deiumjeito.blogspot.com/
Olá, tudo bem? Já divulguei meu balanço final com os pontos positivos e negativos de Vai na Fé no meu blog. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirBom dia!
ResponderExcluirAcho que passamos por um momento, na história da humanidade, em que os autores de obras para a TV e cinema, estão meio que sobrecarregados, devido às pressões da muita concorrência.
Claro que isso não pode ser uma desculpa para a má qualidade ou insuficiências das obras, mas é o que se tem, rsrs. Vai na fé teve os seus méritos.
Beijo e bom domingo
Já estou com muitas saudades do novelão, Sérgio. Para mim, no conjunto, a novela termina como a melhor da Rosane. A reta final foi perfeita? Não, dá para apontar algumas coisas ali. Acho que a Globo perdeu uma boa chance de avançar em determinadas questões, mas preferiu censurar a trama em vários momentos. Mesmo assim, a Rosane conseguiu manter a trama sólida, ainda que não perfeita devido a determinadas imposições.
ResponderExcluirOs destaques são para o texto, a abordagem pesada, didática na medida certa e necessária sobre o estupro. A novela discutiu o assunto por vários capítulos, incomodou muita gente e valorizou o tema, sem apelar para circo ou desserviços. Além disso, tivemos outros assuntos abordados como a religião sem panfletagem e estereótipos. Aliás, foi muito positiva a mensagem no casamento no último capítulo.
Temos também que valorizar o ótimo elenco escalado e a direção segura do talentoso Paulo Silvestrini. Ele já tinha arrasado na Malhação das Five e novamente deu conta do recado. E o elenco? Todo mundo em estado de graça desde o casal protagonista Sheron e Samuel, passando pela brilhante Renata Sorrah, Carol Dieckmann e a revelação do ano Clara Moneke.
Enfim, uma obra de muitas qualidades e que deixará muitas saudades. A Rosane mostrou porque é a autora do momento. Por sinal, tenho que destacar também o uso dos flashbacks e toda a interatividade que a novela promoveu na telinha e fora dela. Não à toa, é a novela de maior sucesso comercial do horário, superando Cheias de Charme. É outra das várias qualidades da trama. Agora, só fica as saudades e a espera pelo próximo sucesso da diva Rosane.
Foi um socesso total esta novela!
ResponderExcluirBom domingo e boa semana!
Ane 👇
De Outro Mundo
amei vai na fé. achei fundamental que debateu temas tão urgentes. mesmo sendo leve a novela boa parte do tempo. sim, todos do elenco tinham bons momentos e personagens. eu torcia pra sol ficar com lui. mas consegui mudar de ideia na construção, mas ainda queria os dois. sim, q personagem da dieckman e a q eu mais me identifiquei. dantas arrasou realmente e como canta. moneke, que atriz, eu adoro o manhente desde berenice procura, outro grande ator. wilma, que riqueza de personagem. neyde braga foi demais como a insuportável fofoqueira. ri muito ela elogiando a sol pra tv. sim, revoltante a censura. q bom ele q nao conseguiu estragar o brilho da novela. linda postagem. amei essa foto do fim. tb falei da novela. beijos, pedrita
ResponderExcluirFoi uma novela excelente, vai deixar saudades, leve, divertida e com temáticas importantes. O único núcleo que deixou a desejar foi o da faculdade, infelizmente as histórias deles não foram bem desenvolvidas. Yuri e Guiga não deveriam terminar como um casal, aliás é bem estranho lembrar que ele começou a novela gostando da Jenifer e isso foi totalmente esquecido depois de um tempo, assim como o amor de Tatá por ela (personagem bem fraco e sem personalidade, era melhor ter tirado da novela do que deixá-lo como um quase figurante).
ResponderExcluirAté agora não entendi qual o propósito de terem colocado o filho da dona Neide dando em cima da Bruna.
ResponderExcluirAchei seu comentário ótimo, anonimo.
ResponderExcluirTudo bem, Chaconerrilla.
ResponderExcluirFico honrado, Diario de uma Leitora.
ResponderExcluirObrigado, anonimo.
ResponderExcluirA critica especializada critica Amor Perfeito pq sente falta de novela com escravizado, Gregorio? Essa é a sua brilhante análise ou uma lacrada? E o fiasco de Nos Tempos do Imperador voce explica como??? Realmente, os fãs dessa novela das seis são pedantes demais e se acham mt inteligentes mesmo por gostarem de uma história que só durou duas semanas. Mas gosto é gosto e cada um tem o seu. E sobre a cura gay nessa novela voce nao vai militar? Ou só serve se for em Vai na Fé?
ResponderExcluirTa mt, Giovana.
ResponderExcluirAbçs, Fabio.
ResponderExcluirBjs, Marly!
ResponderExcluirAssino embaixo, Guilherme.
ResponderExcluirFoi, Ane.
ResponderExcluirMt obrigado, Pedrita.
ResponderExcluirObrigado, anonimo.
ResponderExcluirAcho que para dar umas cenas a mais para o ator, anonimo, que nao apareceu mt.
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