O remake de "Éramos Seis", na Globo, vem presenteando o telespectador com uma versão bastante fiel ao do até hoje lembrado e elogiado produto do SBT, exibido em 1994, baseado no livro de Maria José Dupré. A história, bem conduzida por Ângela Chaves, está com uma produção caprichada e ótimo elenco. Vários conseguem destaque. Infelizmente, um dos grandes nomes do talentoso time se despediu da trama e deixará saudades: Antônio Calloni.
Júlio era um tipo que despertava uma avalanche de sentimentos no público. Em alguns momentos provocava ódio, em outros pena e até empatia. Um personagem que passou longe do maniqueísmo. O patriarca da família Lemos, que norteia o enredo, teve um início parecido com um quase vilão. Vivia bêbado e não se importava com situações vexatórias que protagonizava. Muitas vezes era extremamente rígido com os filhos e os agredia fisicamente, principalmente Carlos (Xande Valois) e Alfredo (Pedro Sol).
O marido de Lola (Glória Pires) também a traía em muitas noites com Marion (Ellen Rocche) e o remorso pela espera da esposa em casa era nulo. Todavia, Júlio realmente amava a mãe de seus filhos e seu carinho pelos herdeiros existia. Ele só não sabia como demonstrar o seu lado mais sereno.
Tanto que os poucos momentos de leveza da família logo eram substituídos por brigas e conflitos em virtude de dívidas financeiras. A ambição do personagem era sua maior inimiga. Sempre querendo dar um passo maior do que a perna. O maior exemplo foi a tentativa desesperada de conseguir um empréstimo para virar sócio do patrão, Assad (Wernner Schunemann), mesmo com as prestações da casa para pagar.
E Antônio Calloni defendeu o papel com extremo talento. Suas cenas ao lado de Glória Pires eram sempre merecedoras de elogios, assim como as sequências com os intérpretes dos filhos de Júlio: Xande Valois, Pedro Sol, Davi de Oliveira (Julinho) e Maju Lima (Isabel). E a boa parceria do ator seguiu com a mudança de fase, de 1920 para 1930, que resultou em ótimos momentos ao lado de Nicolas Prattes (Alfredo), Danilo Mesquita (Carlos), Giullia Buscacio (Isabel) e André Luiz Frambach (Julinho). É preciso mencionar também as boas conversas protagonizadas com Cássio Gabus Mendes (Afonso) e Ricardo Pereira (Almeida).
A segunda fase, inclusive, expôs o lado mais humano de Júlio e a autora conseguiu aproveitar um tom mais leve da interpretação de Calloni, que veio de outro perfil bastante pesado ---- o asqueroso Roger Sadalla, da série "Assédio". O enredo de Maria José Dupré é tão cheio de armadilhas sentimentais que provoca uma controvérsia no próprio público. Afinal, no começo da obra, é perfeitamente normal torcer para Júlio morrer. Mas quando a morte se aproxima, já na nova fase, o telespectador sente pena e lamenta. Isso porque o personagem tenta mudar sua postura depois do susto que leva após sua internação. E pela primeira vez a família 'ensaia' um respiro de felicidade graças ao último boleto da prestação da casa e a Tia Emília (Susana Vieira), que decide emprestar dinheiro para o marido de Lola virar sócio de Assad.
A última cena de Júlio, então, foi de cortar o coração. O personagem desobedeceu o conselho de Carlos, estudante de medicina, e ainda ignorou os sinais da piora da doença para a realização de seu sonho. Conseguiu ir até a casa de Tia Emília e se emocionou quando recebeu o cheque de oito contos de réis. Era o início da vida nova que tanto almejava. Calloni sensibilizou sem qualquer esforço e o olhar lacrimejado de Júlio evidenciou uma esfuziante alegria que o marido de Lola desconhecia, após tantos anos de frustrações. A pontada forte que o personagem sentiu logo depois que saiu da mansão implicou em três quedas: a de Júlio, da sua bengala e do cheque. O desmoronamento do sonho. A cena, com grande direção de Carlos Araújo, impactou.
Já a sequência da morte do personagem primou pela delicadeza. O último sonho de Júlio antes de partir, comemorando a nova loja e a quitação da casa com a esposa e os filhos, emocionou. A última dança de Júlio e Lola, então, fez chorar até o mais insensível. E a constatação da morte do patriarca, chocando Isabel, Lola, Carlos, Julinho e Alfredo, encerrou a trajetória de Júlio de forma triste e dolorosa. Uma dor que muitas famílias já passaram.
"Éramos Seis" é uma novela honesta e o elenco foi muito bem escolhido. Antônio Calloni abrilhantou a trama e a saída de Júlio reflete uma da principais viradas da história. Será uma pena não ver mais o competente ator todos os dias na produção, mas sua participação foi marcante.
#Éramosseis espetacular... Antônio Calloni e Glória Pires foram demais nas cenas finais de Júlio. Grandes atuações de todo elenco... Que novela...
ResponderExcluirEstou chorando até agora...
ResponderExcluirEssa é a melhor novela no ar e muito mais emotiva que a pretensiosa Amor de Mae.
ResponderExcluirQUE CENA E QUE TEXTO O SEU!!!!
ResponderExcluirÉ visível e fascinante a entrega de todos os atores e atrizes do elenco de "Éramos Seis" para seus personagens. Antonio Calloni é um deles.
ResponderExcluirGuilherme
Gostei da sua descrição sobre a novela: armadilhas emocionais. Verdade. Quando torcemos para morrer, não morreu e quando torcemos para não morrer morreu. Calloni estupendo.
ResponderExcluirAntonio Calloni é um gênio, estou adorando a novela apesar de ter pessoas criticando.
ResponderExcluir#ÉramosSeis é uma obra prima de atuação do elenco, direção e texto, onde o cotidiano se encarrega de ser o o grande vilão da história. Que novela bixo.... sem esteriótipos e gritarias....
ResponderExcluirQue beleza ! Quanta sensibilidade. Pura arte. Angela Chaves sensacional.
ResponderExcluirParabéns pelo resumo. E Viva o Calloni!
Foram meesmo, anonimo.
ResponderExcluirEntendo, anonimo.
ResponderExcluirConcordo, anonimo.
ResponderExcluirObrigado, Heitor.
ResponderExcluirConcordo, Guilherme.
ResponderExcluirÉ isso, Cassia.
ResponderExcluirIdem, anonimo.
ResponderExcluirTb adoro, anonimo,
ResponderExcluirBrigadão, Fernanda.
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