"Desalma" é uma produção caprichada, mas peca no ritmo

 A série "Desalma" estreou na Globoplay em outubro de 2020. Foi um dos lançamentos mais divulgados do serviço de streaming da Globo. Escrita por Ana Paula Maia --- premiada escritora de livros e vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura ---, a produção é dirigida por Carlos Manga Jr. e protagonizada por Cláudia Abreu, Cássia Kiss e Maria Ribeiro. Um ano depois, a emissora resolveu exibir a trama na faixa do "Corujão", a partir desta segunda, em episódios duplos, quase sempre perto das três da madrugada, para 'homenagear' a semana do Dia das Bruxas. 

Em "Desalma", os moradores de Brígida, fictícia cidade do interior do Sul do país, pagam pelas escolhas feitas no passado e são atormentados por eventos sobrenaturais. Cássia é a feiticeira Haia; Cláudia a instável Ignes e Maria a cética Giovana. Na história que tem como pano de fundo a mitologia eslava, a floresta de árvores altas e as enormes cachoeiras têm protagonismo. Fenômenos sobrenaturais assombram a população ao longo de décadas, enquanto rituais de bruxaria prometem trazer de volta ao mundo dos vivos almas de pessoas que já se foram. 

Nos anos 80, a população de Brígida se reúne para comemorar a Ivana Kupala, considerada a noite mais escura do ano. Mas a jovem Halyna (Anna Melo), filha da feiticeira Haia (Cassia Kis), some em meio à floresta e seu corpo aparecer dias depois. Com a cidade traumatizadapela tragédia, a celebração é banida do calendário festivo do município.

Apaixonado por Halyna, Aleksey (Nicolas Vargas) não se conformava com o amor que a jovem sentia por Roman (Eduardo Borelli/Nikolas Antunes). Roman é desejado por muitas meninas da escola, mas Halyna era a única moça com quem ele se relacionava, além dos amigos Bóris (Lucas Soares/Ismael Caneppele) e Ivan (Giovanni Gallo/ Bruce Gomlevsky), Natasha (Bela Leindecker) e Anele (Giovanna Figueiredo/Isabel Teixeira). Como é possível constatar, o elenco é composto por muitos rostos novos, fugindo um pouco da 'panelinha' conhecida do grande público. 

Com o assassinato de Halyna, os amigos se dividem. Roman decide deixar a cidade, Ivan e Anele se casam e a vida de Ignes (Valentina Ghiorzi/Claudia Abreu) passa por uma forte transformação. Além de perder a amiga de forma trágica, seu irmão Aleksey é acusado e preso pelo crime. Cumpre pena por alguns anos até conseguir a liberdade condicional, mas morre dias depois da prisão. Deprimida, Ignes se casa com Bóris e com ele tem Anatoli (João Pedro Azevedo). É no filho de Ignes deposita todo o seu amor. E trinta anos se passam. Os moradores decidem que está na hora de deixar os traumas do passado para trás. Haia comemora o fim do ciclo de 365 luas cheias que iluminaram o céu nebuloso desde a morte de sua filha e coloca em prática um feitiço há muito tempo esperado. A quilômetros de Brígida, o corpo de um homem aparece às margens de uma cachoeira. É Roman, que havia deixado a cidade pouco depois da tragédia há 30 anos. A morte repentina do marido transforma a vida de Giovana e ela decide se mudar de São Paulo para Brígida com as duas filhas do casal: Melissa (Camila Botelho) e Emily (Juliah Mello). Ignes, prima de Roman, deixa tudo arrumado para a chegada das novas moradoras. Giovana traz leveza para a vida de Ignes e as duas se tornam confidentes. Mas dois meses após a morte de Roman, acontecimentos enigmáticos passam a assustar a população, principalmente as duas amigas. 

A história é mais simples do que parece. A leitura do enredo provoca a impressão de um roteiro confuso. Não é, mas se torna cansativo ao longo dos episódios. A narrativa é muito lenta e cansa o telespectador. Não é uma série que dá vontade de 'maratonar' e isso ficou evidente quando foi lançada na Globoplay. Também não é uma série para todos. Quem não curte o estilo não vai se interessar, pois não apresenta nada de muito diferente dos clichês do 'sobrenatural'. E até quem gosta do gênero pode se decepcionar porque não há muitas cenas de fato assustadoras. Porém, é uma produção caprichada e com uma fotografia de encher os olhos. Analisando o conjunto, é possível constatar que se trata de um produto apenas correto. Não é ruim, mas passa longe do ótimo. A Globo exibi-la na faixa da madrugada não deixa de ser uma certeza sobre a falta de interesse do grande público caso fosse colocada na faixa da reprise de "Verdades Secretas", por exemplo. Apesar disso, a série já está com a segunda temporada sendo gravada. Que seja melhor que a primeira.