A primeira exibição de "A Vida da Gente" ocorreu entre 2011 e início de 2012. A novela preciosa de Lícia Manzo sempre foi uma das mais elogiadas da Globo e se tornou a segunda mais vendida no mercado internacional. A reprise, dez anos depois, por conta da pandemia do novo coronavírus, comprovou todas as qualidades já observadas na época. Foi um novelão inesquecível. Mas o olhar do público muda ao longo do tempo. É natural. E revendo a história é possível constatar que o final deveria ter sido outro.
A autora criou um enredo fascinante e envolvente, onde o vilão era a vida e todos os personagens tinham qualidades e defeitos. Era possível entender o lado de todos, dependendo da perspectiva de cada um. Por isso o público se torna tão passional quando acompanha a história e sente uma intimidade com aquelas pessoas que parecem tão reais. O triângulo amoroso envolvendo Manu (Marjorie Estiano), Rodrigo (Rafael Cardoso) e Ana (Fernanda Vasconcellos) é o que mais desperta sentimentos no telespectador. Muito pela forma como tudo aconteceu. Mas a novela nunca foi sobre casais. A autora contou uma história de amor entre irmãs. O resto era consequência.
E observando com maior atenção todo o novelo tão bem criado por Lícia, já com alguns pensamentos diferentes dos de dez anos atrás, não é absurdo achar que os três personagens deveriam ter terminado sozinhos. Um final infeliz, então? Um desfecho sofrido? Muito pelo contrário.
A chance de um término mais tranquilo, justo e sem situações inacabadas seria bem maior. Isso quer dizer que o encerramento do folhetim envelheceu mal, como ocorreu em várias obras de Manoel Carlos? Não. A cena final de "A Vida da Gente" é um primor e merece elogios eternos. A simbólica imagem de Ana, Lúcio (Thiago Lacerda), Júlia (Jesuela Moro), Manu e Rodrigo caminhando é de uma sensibilidade ímpar.Todavia, é necessário analisar melhor a conduta dos personagens. Ana e Manu sempre se amaram e eram melhores amigas, além de cúmplices, mesmo tendo uma mãe narcisista que tentava a todo momento colocar uma contra a outra. Inevitavelmente, algumas mágoas foram guardadas com o tempo. Rodrigo era irmão de criação das duas durante a época em que Eva (Ana Beatriz Nogueira) estava casada com Jonas (Paulo Betti). Ele e Ana flertavam, mas nunca tiveram coragem de iniciar nada. Até que um dia houve uma transa, que resultou em uma gravidez e a partir dali a vida de todos sofreu uma avalanche.
Ana foi levada para longe, pela mãe, para dar a criança e assim seguir sua carreira como tenista. Após o parto, Ana desistiu do acordo e tentou fugir com Manuela. As duas acabaram sofrendo um acidente de carro e Ana entrou em coma. Manu se tornou a responsável pelo bebê e Rodrigo descobriu que era o pai, o que implicou em uma maior aproximação com Manuela. Ao longo dos anos e com a falta de esperança dos médicos de um retorno de Ana, Manu e Rodrigo se envolveram e se apaixonaram. A relação só ocorreu quando Rodrigo tomou a iniciativa e convenceu Manu que não estavam fazendo nada de errado. O tempo novamente passou e os dois se casaram. A relação se tornou a mais linda de um casal na novela. Após uma nova passagem de anos, Ana acordou do coma e o casamento entrou em crise. Manu e Ana acabaram rompendo porque Eva fez questão de contar pra filha favorita toda a história da forma mais venenosa possível. Só que Ana descobriu o blog que Manu fez para ela, contando sobre o crescimento de Júlia, e as duas reataram. Entretanto, não demorou muito e a amizade das irmãs logo se desfez mais uma vez. Isso porque Manu sentiu um clima estranho entre os três e tentou arrancar de Ana e Rodrigo se eles ainda se amavam. Os dois negaram várias vezes, mas Manu flagrou um beijo e rompeu de vez, seguindo sua vida longe de todos.
Após todo esse conjunto irresistível de conflitos, houve a cena mais emblemática da novela: o acerto de contas entre as irmãs. Que na verdade se torna um rompimento 'definitivo' em virtude da avalanche de ataques que uma proferiu para a outra. E a discussão ocorreu em um momento da história onde Ana estava prestes a se casar com Lúcio e Manu iniciava um namoro com Gabriel (Eriberto Leão). Após ter ouvido de Manu que ainda sente amor por Rodrigo ---- na verdade por conta de um ato falho da própria ----, Ana decidiu romper com médico pela segunda vez. Vale lembrar que na primeira Lúcio colocou um ponto final porque viu o sentimento que a então namorada tinha pelo ex. Foi um término bonito. Já o segundo rompimento resultou em uma justificada indignação de Lúcio, que caiu novamente em um buraco de mágoas. Depois disso tudo, quem perdoaria? Difícil.
Já Rodrigo, quando descobriu que Ana e Manu brigaram, correu atrás de Ana para implorar uma nova chance. Aliás, vale um adendo. O personagem sempre se aproveitou dos momentos de fragilidade emocional de Ana para conseguir o que queria. Isso, dez anos após a primeira exibição, gera um grande incômodo. Manuela é tratada por ele como segunda opção, assim como Ana trata Lúcio como válvula de escape para seus problemas e indecisões. E Manu nunca conseguiu amar Gabriel. Seu amor por Rodrigo era real, enquanto Rodrigo se portou inúmeras vezes como um egoísta, onde apenas a felicidade dele importava. Nunca se preocupou com os sentimentos da filha diante daquelas idas e vindas amorosas e muito menos com a relação das irmãs Ana e Manu. Se Júlia se ferisse ou se as irmãs nunca mais se falassem, tanto fazia para ele. Na época, Rodrigo parecia uma espécie de 'prêmio' para qualquer uma das duas. Dez anos depois virou estorvo.
Manuela não deveria ter perdoado o ex depois de tudo o que aconteceu, assim como Lúcio não deveria ter voltado para Ana, após tantas feridas provocadas por ela, mesmo sem a intenção. O final ideal seria Manu, Rodrigo e Ana sozinhos, reavaliando a vida. Rodrigo visitando a filha e ficando mais perto de seu irmão, Tiago (Kaic Crescente), e o médico reatando com Laura (Vanessa Lóes). Já a cena linda e poética do último capítulo deveria ser Ana, Júlia e Manu juntas, felizes, se cuidando e se apoiando, após tanto sofrimento. Uma paz tão almejada por elas e com a possibilidade de novos amores no futuro. "A Vida da Gente" foi uma novela irretocável e o desfecho emocionou, mas não custa idealizar algo diferente com a nova percepção que dez anos de maturidade tem na vida de qualquer um.
Rodrigo tem zero responsabilidade emocional, o homem só serve pra atrapalhar as vidas das duas. Infelizmente a novela mostra a Manu como a 2a opção dele, enquanto ela o ama de verdade e é triste viu. Manu merecia mais. E Ana é outra indecisa, ela se apega demais ao passado, a um relacionamento claramente fadado ao fracasso, até pq quando eles ficaram juntos na vida adulta deu errado de novo! Coitado do Lúcio, um homem da porra daqueles jogado no meio dessa farofa!Os adultos dessa novela conseguem ser mais infantis que a Júlia!
ResponderExcluirBelo texto como sempre!
Exato! Já comentei isso também! Ana e Rodrigo reataram, mas logo terminaram! Por que? Porque aquilo já não tinha futuro mesmo! Ou seja, mesmo que Ana não tivesse sofrido um acidente, eles não iam ficar juntos mesmo! Resumindo, Manu não tem culpa de nada. Ela é a principal vítima!
ExcluirA forma como voce escreve sobre essa novela parece com a escrita da Licia Manzo. Eu adoro.
ResponderExcluirONDE EU ASSINO??? ESSA CENA FINAL SUA SERIA PERFEITA.
ResponderExcluirE fazendo terapia também principalmente a Ana,
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPessoas feridas ferem pessoas.a ana não tem maturidade e nem emocional pra ter responsabilidade afetiva em relacionamentos.o que a ana e o rodrigo tinham era apenas química e coisa de adolecente, a ana perdeu a chance de ter algo sólido com o Lucio,os únicos adultos são Lucio e manu,talves por isso ana e rodrigo nunca tenham conseguido ficar juntos pois crianças não tem capacidade de construir nada
ResponderExcluirSempre com conclusões sensatas a respeito das obras teledramatúrgicas, Sérgio. Realmente Manuela (Marjorie Estiano), Ana (Fernanda Vasconcellos) e principalmente Rodrigo (Rafael Cardoso) deveriam terminar sozinhos. Rodrigo nunca soube ao certo se queria Ana ou Manuela, e se achava no direito de fazer olhares enciumados ao ver uma ou outra interagindo com outros homens, sem se importar com a reação de Júlia (Jesuela Moro) diante de tantas idas e vindas envolvendo os pais biológicos e a tia. Ou seja, Rodrigo é a tradução perfeita do "macho Cado", risos. Ana se relacionava com Lúcio (Thiago Lacerda) sem ter superado por completo o período que passou com Rodrigo, e Manuela ficou temporariamente com Gabriel (Eriberto Leão) apenas para eliminar algum resquício de afeto que ainda poderia sentir por Rodrigo. Por mais primorosa e irretocável que "A Vida Da Gente" (2011) seja, a novela não escapa das discussões sobre as atitudes de alguns personagens segundo a ótica dos dias atuais.
ResponderExcluirGuilherme
Como sou portuguesa e vivo em Lisboa não conheço a novela, mas pela forma brilhante como escreveu o resumo da historia, acredito que tenha sido excelente e tenha cativado a audiência.
ResponderExcluirUm grande abraço
Apesar de achar bonito a cena final. A confusão entre eles foi enorme. Nem Manu e Lúcio deveriam perdoar Ana e Rodrigo. O correto era cada um recomeçar a vida. No caso das irmãs, meu final era as duas sozinhas fazendo terapia e criando a Júlia. Rodrigo também sozinho na terapia. No caso do Lúcio primeiro eu mandaria ele para terapia. Eu investiria num relação dele com a Dora
ResponderExcluirOnde eu assino? Mesmo na exibição original, em 2011, me incomodava muito o egoísmo do Rodrigo. Me incomodava muito ele se aproveitar de momentos de fragilidade da Ana, o fato de ele não ligar a mínima para o sofrimento da Júlia com as idas e vindas dele, e ele não fazer o mínimo esforço para fazer com que as irmãs se reconciliassem, se entendessem. As irmãs estando brigadas ou não, para ele tanto fazia, e as atitudes dele, o egoísmo dele já me irritava há uma década atrás, quanto mais hoje.
ResponderExcluirObrigado, Sandy. E endosso seu comentário.
ResponderExcluirQue honra, anonimo.
ResponderExcluirConcordo, Edinaldo.
ResponderExcluirObrigado, anonimo.
ResponderExcluirIsso também, anonimo....
ResponderExcluirAssino embaixo, anonimo.
ResponderExcluirFico honrado, Guilherme. E gostei do macho cado....
ResponderExcluirMt obrigado, Maria. É uma novela mt boa.
ResponderExcluirExato, Camila, Manu e Lucio nao poderiam ter perdoado.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirSérgio, pior são as Evinhas culpando a Manu pelo termino da Ana e do Lúcio. Sendo que a Ana vivia falando para a Alice do Rodrigo ,mas a culpa é da Manu.kkkkkkk
ExcluirOutra coisa que as Evinhas ignoram é que a relação da Ana e do Lúcio também é problemática. Ele era médico dela, e na questão da depressão dela. A equipe médica na qual ele fazia parte foram negligentes com a Ana. Não indicaram nem a família e principalmente a Ana uma terapia. Por isso, que a Ana entrou em depressão.
Sobre a questão do perdão. Acho que a Lícia criou uma situação que daria para perdoar os dois , a pergunta é
Ana e o Rodrigo mereciam perdão? A questão não é apenas perdoar tem haver com a segurança. Manu e Lúcio teriam alguma segurança para retomar um relacionamento com Ana e o Rodrigo?
Nem acho que a Ana trairia a irmã outra vez , mas a Manu não tinha nenhuma segurança se o Rodrigo teria voltado para ela, por ela ou porque a Ana não quis ele. Por isso, acho que o correto é o que você falou no texto, todo mundo seguindo em frente. E no caso da Ana me incomoda muito essa necessidade dela está com alguém. Antes dela ter se envolvido com o Lúcio ou com o Rodrigo, ela deveria ter ficado sozinha e fazendo terapia para se encontrar e se libertar da relação abusiva que ela tinha com a mãe
Obrigado, Cris. É isso, ele só pensa na felicidade dele e dane-se o resto.
ResponderExcluirFabulous blog
ResponderExcluirOlá Sérgio,
ResponderExcluirMe dá raiva desse Rodrigo não merecia ficar com ninguém.
Big Beijos,
Lulu on the sky
Te entendo, Lulu.
ResponderExcluirÉ inacreditável, Camila...
ResponderExcluir