terça-feira, 14 de julho de 2020

Sucesso da reprise de "Totalmente Demais" reacende guerra entre "Arlizas e Jolizas"

O triângulo amoroso é um clássico da teledramaturgia. Toda novela que se preze tem pelo menos um. Porém, durante um longo período, esse conflito romântico era quase sempre composto pelo casal de mocinhos (ou de bonzinhos) e um vilão ou vilã. Entretanto, já há algum tempo que os autores vêm compondo o trio com perfis repletos de defeitos e qualidades, ou seja, humanos. E isso provoca uma clara divisão no público, afinal, todos os envolvidos têm pontos positivos e negativos, deixando de lado o maniqueísmo da vilania, o que costuma ajudar bastante a destinar a torcida toda para apenas um par. Foi exatamente essa situação que aconteceu em "Totalmente Demais", fenômeno das sete que vem sendo reprisado atualmente na Globo e reacendeu a guerra dos fãs.


Jonatas (Felipe Simas), Eliza (Marina Ruy Barbosa) e Arthur (Fábio Assunção) formaram um triângulo na trama das sete e Rosane Svartman e Paulo Halm conduziram os relacionamentos em fases, mas sempre deixando claro os reais sentimentos de cada um através de sutilezas nas cenas (como troca de olhares) e no texto. O romance "Joliza" ---- junção de nomes muito comum na internet que significa 'shippar' o casal (torcer pelo par) ---- sempre teve como fonte de inspiração o clássico filme "Luzes da Cidade", estrelado por Charlie Chaplin em 1931, cujo enredo era o amor que nascia entre um vagabundo e uma florista cega. Já "Arliza" é oriundo da peça "Pigmalião", de 1913, produzida por George Bernard Shaw (já inspirada no mito do "Pigmalião"), onde um culto professor transforma uma humilde florista em uma mulher refinada e se encanta com sua criação.

As duas relações foram bem conduzidas em "Totalmente Demais" e ajudaram a inserir inúmeros bons conflitos na trama. Os mocinhos do enredo sempre foram Jonatas e Eliza, tanto que os primeiros meses de novela foram todos voltados para a linda relação dos dois, que crescia pouco a pouco. Arredia e agressiva por conta dos abusos sofridos com o padrasto, a menina chegou ao Rio de Janeiro sozinha, foi roubada por duas picaretas e se viu abandonada nas ruas.
Jonatas, que se autointitulava um 'empresário das ruas' (vendia balas de dia e era flanelinha à noite), logo se apaixonou pela garota e se prontificou a ajudá-la. Apesar do receio inicial, Eliza ficou cada vez mais à vontade com o seu único amigo e aprendeu a vender flores com ele. 

A cumplicidade cresceu até que Eliza também se viu apaixonada por um garoto que não tinha absolutamente nada a ver com o príncipe que tanto sonhava. Pelo contrário, estava mais para um 'sapo'. Tanto que a sua primeira vez foi com Jonatas em um momento repleto de delicadeza e poesia, onde os dois transaram em um cinema abandonado após a exibição de alguns trechos de "Luzes da Cidade". A menina venceu o pânico de se aproximar de qualquer homem com o seu 'carrapato', apelido dado para o menino que vivia no seu pé. O casal é a representação do primeiro amor e do romance típico dos contos de fadas, tendo a ótima ironia do príncipe ser sujo, pobre e não ter condições de andar em um cavalo branco (no máximo um pangaré achado nas ruas). 

E o romance do casal foi interrompido não por uma cruel vilã (ou vilão) que fez de tudo para separar os pombinhos, mas sim por um agenciador de modelos que usou a garota como ferramenta de uma aposta feita com a mulher que sempre amou. Arthur desafiou Carolina (Juliana Paes), garantindo que conseguiria transformar aquela 'mendiga' em uma modelo refinada e ganhadora do concurso Garota Totalmente Demais. Chegou até a levá-la para morar com ele. Foi a partir de então que a relação "Arliza" começou a ser desenvolvida. Entretanto, inicialmente, o bon vivant apenas tolerava a menina e tinha repulsa do jeito grosseiro e sem modos da garota. Contou com a ajuda do fiel escudeiro Max (Pablo Sanábio) e da mãe Stelinha (Glória Menezes) como 'instrumentos' de ajuda na transformação ----- Stelinha, aliás, fez o filho simular uma expulsão de Eliza do apartamento para obrigar a garota a se separar de Jonatas, passando a focar somente no concurso.

À medida que Eliza ia virando uma mulher elegante, Arthur ia se encantando por sua criação. Até que ele começou a cortejar a nova modelo, mas a menina não cedia, pois ainda estava triste com o fim de seu namoro com seu amor. Entretanto, ao longo das fases do concurso houve uma aproximação inevitável entre eles, que ficou mais forte com a vitória da ex de Jonatas na competição, atingindo o seu tão sonhado objetivo. Os dois, então, namoraram e seguiram com a relação harmonicamente. Porém, a mocinha não conseguia disfarçar sua reação cada vez que se encontrava com Jonatas ou o via com Leila (Carla Salle). Os olhares que ambos trocavam eram reveladores. Já Arthur, apesar de todas as armações e idas e vindas, não conseguia se afastar de Carolina, por mais que tentasse. Mesmo que os encontros resultassem em discussões, onde o seu fascínio por se apaixonar era sempre exposto por Carol, que fazia questão de repetir o quanto que ele não aceitava perder uma disputa amorosa. 

Os autores souberam aproveitar muito bem todas as possibilidades e conflitos que essas relações resultaram, movimentando a trama e evitando qualquer tipo de desgaste, o que não é fácil em uma produção que ficou sete meses no ar. É verdade que houve um excesso no tempo de separação entre Eliza e Jonatas, o que implicou em uma ligeira enrolação, assim como as constantes humilhações que o mocinho se submetia pela mocinha ---- mas foi um pequeno equívoco que não afetou o conjunto. E, assim como já havia acontecido em "Malhação Sonhos" (com brigas de torcidas "Duancas", "Joancas", "Perinas", "Cobrades", "Dunats" e "Cobrinas"), conseguiram conquistar torcidas fervorosas e apaixonadas que defendem seus casais preferidos com unhas e dentes. Esse também costuma ser o termômetro de um sucesso, além de números de audiência e repercussão. O público foi realmente arrebatado por essa novela tão deliciosa e bem escrita.

Mas ninguém imaginava que a guerra entre torcidas fosse ressurgir em uma mera reprise. A reexibição de "Totalmente Demais", por conta da interrupção das gravações de "Salve-se Quem Puder" ---- em virtude da pandemia do novo coronavírus ----, está repetindo o sucesso da exibição original, entre 2015 e 2016, incluindo a passionalidade dos fãs. Os chamados "arlizas" até hoje não se conformam com o desfecho da novela e vários foram até o Twitter da autora Rosane Svarmtan exigir um novo final. Obviamente, é um desejo sem o menor cabimento. Tanto levando em consideração todo o desenvolvimento do roteiro, que não deixou dúvidas sobre os sentimentos dos personagens, quanto em relação ao período caótico do mundo, onde não há qualquer possibilidade de reunir elenco para regravar cenas de quatro anos atrás. Os próprios escritores deixaram claro que nunca foi gravado um final alternativo na época. Portanto, tudo segue na mesma, assim como as discussões frequentes nas redes sociais entre 'arlizas' e 'Jolizas' ---- que, vale ressaltar, têm debochado do desespero do 'fandom' rival para alterar o último capítulo. 

Na reta final, todo o enredo ficou voltado para o quarteto central, provocando mais uma mudança do triângulo, evidenciando o amor que sempre esteve vivo entre Jonatas e Eliza, implicando ainda em uma reaproximação entre Arthur e Carolina, graças ao menino que foi adotado pela ex-diretora da revista. Toda a história foi bem encaminhada e finalizada aos poucos com extrema competência, deixando, claro, um tom de mistério sobre com quem Eliza ficaria no último capítulo. Mas quem prestou atenção no roteiro não ficou em dúvida sobre o desfecho. O amadurecimento foi a principal razão para a volta dos casais do início da novela. Se não fosse pelo relacionamento que teve com Jonatas, Eliza nunca conseguiria se envolver com Arthur em virtude de seus traumas, ao mesmo tempo que Arthur nunca conseguiria enxergar o amor que sente por Carolina se não tivesse deixado um pouco seu ego de lado quando resolveu ser fiel por Eliza. Até mesmo Jonatas mudou, pois (além de ter um trabalho bem remunerado) deixou de se rastejar por Eliza, e terminou com sua amada, se cansando de sofrer por ela, fazendo a mocinha refletir sobre suas atitudes --- ainda que só na última semana. 

"Totalmente Demais" foi um fenômeno de Rosane Svartman e Paulo Halm, dirigido por Luiz Henrique Rios, e o êxito da reprise não surpreende. É um time vitorioso e a recente "Bom Sucesso" apenas comprovou o fato. Mas a volta das brigas ferrenhas nas redes por conta de uma reexibição realmente provocou uma surpresa. A disputa entre "Joliza" e "Arliza" foi apenas um dos muitos ingredientes que deram certo na época e ressurgiu das cinzas, como uma Fênix, já diria Alberto Prado Monteiro (Antônio Fagundes) durante a leitura do livro "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury.

30 comentários:

  1. Só sendo muito burro mesmo pra nao ter entendido até hoje que o final Joliza era sempre o óbvio.

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  2. Eu jamais imaginaria que o pessoal ia voltar a brigar por causa de uma reprise. Isso prova que se Espelho da Vida reprisar as brigas serão as mesmas. kkkkk

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  3. Final sem graça, sem surpresa... Seria melhor Eliza livre, leve e aproveitado sua independência e felicidade em Paris... enquanto o Arthur fica com Carolina e Jonatas com a Leila no Brasil. Isso é que seria algo interessante.

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  4. Sim, até porque a personagem da Juliana Paes ficaria solta na história. Seria a mesma coisa que a Viúva Porcina ter terminado com Rodésio (na época, esse final foi um dos que foram gravados).

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  5. O sim foi em relação ao primeiro comentário.

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  6. A força dessa novela impressiona. A única que repetiu o mesmo sucesso da época. E nem coloco Eta Mundo Bom pq o Walcyr é o coringa da Globo.

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  7. De fato essa disputa dos fandoms "Joliza" e "Arliza" foi um dos muitos ingredientes que tornaram "Totalmente Demais" (2015) tão gostosa de ser acompanhada. E com muito orgulho declaro a minha preferência por "Joliza", pois assisti à novela em sua exibição original e percebi quão genuínos eram os sentimentos de Jonatas (Felipe Simas) por Eliza (Marina Ruy Barbosa), apesar de reconhecer a importância de Arthur (Fábio Assunção) no enredo para Eliza vencer o concurso "Garota Totalmente Demais" e dar condições melhores de vida à mãe e aos meio-irmãos (e ela depois descobriria que tinha mais dois, Fabinho (Daniel Blanco) e Sofia (Priscila Steinman), visto que Germano (Humberto Martins) é o pai biológico de Eliza). Também concordo com todas as suas impressões a respeito de todos os personagens do folhetim ao ler os tweets sobre a re-reprise do nosso bolinho das 19h30min ("Bom Sucesso" (2019) também ocupa esse posto), Sérgio. Tanto apuro na concretização de "Totalmente Demais" só prova quão formidável e inesquecível essa obra foi.

    Guilherme

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  8. Desculpe, eu disse re-reprise, sendo que é a primeira vez que está sendo reprisada.

    Guilherme

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  9. Esses dias tive um ataque de riso com umas Arlizas furiosas fazendo ataques pesadíssimos contra a Rosane pq ela disse que era impossível gravar um final alternativo. Mano, muito surreal! Sabe 5°ano? Tipo isso!

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  10. Não consigo gostar da Eliza com Artur. Artur é muito egoísta, manipulador e cafajeste.
    Eliza não merecia ficar com Jonatas, uma vez que ela o desprezou. Casal funcionou tão bem por isso que ficaram juntos.
    Big Beijos,
    Lulu on the sky

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  11. Amigo querido, como uma reprise pode trazer à tona os conflitos originais nõa é verdade?
    Fiquei encantada com o seu texto e como você escreve de uma maneira tão vibrante sobre essa novela! Eu não a assisti, por isso que fico tão perdida, mas lendo o seu texto me situei muito bem!!
    Tenha uma semana encantadora querido, aqui está frio, imagino aí, deve estar do jeito que você mais gosta!
    Super beijo!! :)))

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  12. Caro Zamenza,
    sigo você no Twitter, admiro suas análises, e geralmente concordo com suas posições. Mas no caso deste texto, faltou você dizer que Arthur realmente se apaixonou por Eliza, e que o amor que sentiu por ela foi, sim, um divisor de águas em sua vida, até para que ele se transformasse para sua relação com Carolina. Eliza, por sua vez, e principalmente por sua natureza solar, sentiu paixão por Arthur, e viveram este sentimento plenamente, o que não invalida o final já previsto, pelo contrário, só demonstra que os caminhos do amor são múltiplos. Abraço!

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  13. Eu na verdade prefiro a Eliza com o Artur, é um gosto pessoal meu mesmo, mas analisando friamente a Eliza deveria terminar a novela sozinha, não ficar com nenhum dos dois.Jonatas é um chato grudento e abusivo e Artur é um arrogante com o ego lá em cima e é abusivo tbm.Não sei qual é o problema de uma mocinha terminar sozinha em uma novela, cadê o discurso de empoderamento que tanto pregam e que eu acho muito válido?

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  14. O comentário da Romina aí em cima eu concordo e acho válido, o que claro não anula os vários defeitos do Arthur e que a opção da Eliza terminar a nova.sozinha seria melhor!

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  15. *terminar a novela sozinha

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  16. Fábio Assunção está estonteante! Friamente, Eliza e Jonatas combinam. Carina e Arthur também. Mas confesso que vibro com as cenas de Arthur e Eliza. A beleza do Fábio Assunção mexe com a gente. Fazer o quê? O jeito é aceitar o final. Mas sou eternamente #Arliza.

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  17. Romantizaram demais a história de Jonatas e Eliza. Um carrapato possessivo,mal conhecia a garota e já roubava beijos dela. Sem contar que nunca saia do pé...Só atrapalhava.
    Isso não é amor,mas sim uma POSSE.
    Enquanto a história de Arthur e Eliza foi acontecendo a cada cena, um evoluindo com o outro. Os autores focaram bem mais ao casal Arliza.
    Justamente o Arthur foi o principal responsável pela beleza e sucesso dela.
    Já o Jonatas não fez nada para ajudar a garota crescer, pelo contrário, o folgado se deu bem, comemorou o sucesso dela em "Paris".
    Se a trama fala sobre desafios, transformações e contos de fadas...
    É fato que Arliza representou mais.

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