Público deve lamentar fim de "Chaves" no Multishow, não no SBT

Uma notícia espantou o público nesta sexta-feira: o cancelamento da exibição de "Chaves" no SBT, após 36 anos na emissora de Silvio Santos. É o fim de uma era. Mas a verdade é que os fãs do seriado icônico de Roberto Gómez Bolaños têm muito mais a lamentar o encerramento da exibição no Multishow, canal a cabo da Globo, que estava exibindo várias episódios até então inéditos no Brasil desde que comprou os direitos em 2018 --- foram comprados 277 episódios de "Chaves" e 250 de "Chapolin". A interrupção da série é fruto de um entrave entre a Televisa e o Grupo Chespirito.

Os telespectadores que acompanhavam as reprises no Multishow já sabiam da não renovação do contrato porque o próprio canal exibiu chamadas de despedidas. Mas o SBT manteve tudo em silêncio, sem ao menos avisar previamente ao público sobre o ocorrido. A emissora de Silvio enviou uma nota justificando que só souberam do rompimento do contrato na última quarta-feira (29/07). A Televisa é detentora dos direitos das fitas, enquanto o Grupo Chespirito é dona dos roteiros escritos por Roberto Gómez Bolaños.

A principal desconfiança é sobre o interesse do grupo chefiado por um dos filhos do saudoso comediante queira vender os direitos para algum serviço de streaming por uma bela fortuna e a Netflix, segundo consta, é a maior interessada. Tanto que essa quebra de contrato provocou o cancelamento do seriado em todos os canais ao redor do mundo que ainda exibiam a turma da vila, como o Las Estrellas, canal de entretenimento da Televisa.
O contrato venceu  hoje, dia 31 de julho. Até a Amazon Prime Video, rival de Netflix, também excluiu os programas mexicanos. Embora se trate de uma reprise de anos, essa interrupção mundial provocou uma grande repercussão em virtude do sucesso da atração até hoje.

Mas a verdade é que os fãs de "Chaves" e "Chapolin" devem se indignar apenas com a interrupção dos seriados no Multishow. O canal a cabo presenteou os telespectadores com a exibição em ordem cronológica das temporadas e ainda chamou os dubladores originais para a redublagem dos episódios que o SBT nunca quis exibir. Também fez questão de contratar os dubladores que substituíram os já falecidos na época em que a emissora de Silvio exibiu os chamados "episódios semelhantes". Não por acaso, a resposta dos fãs foi a melhor possível e os seriados logo viraram as maiores audiências da tevê paga ao lado de séries de sucesso como "Vai que cola".

O êxito foi tamanho que o Multishow chegava a exibir quatro episódios por dia, envolvendo manhã, tarde, noite e madrugada. Dois de "Chaves" e dois de "Chapolin". Já o SBT não tratava a produção de Bolaños com respeito há um bom tempo. "Chapolin" não era exibido desde 1999 para todo o Brasil e desde 2017 para São Paulo. O "Chaves" era usado como tapa buraco na grade de programação e muitas vezes a emissora condensava de três a quatro episódios para 'caber' em uma determinada faixa e os cortava com frequência. Recentemente, vários episódios tinham os finais editados para a entrada do pavoroso "Triturando".

O fechamento do ciclo de "Chaves" (e "Chapolin") no Brasil é um triste momento para os fãs. Resta torcer para que um acordo ocorra entre a Televisa e o Grupo Chespirito. Afinal, há espaço para a turma de deliciosos personagens criados por Roberto Gómez Bolaños tanto na televisão aberta quanto na fechada e no serviço de streaming. Exigir exclusividade de uma saga de reprises já vistas mais de 50 vezes por cada telespectador beira a estupidez. Mas a verdade é que o público só tem a lamentar a interrupção dos episódios no Multishow e não no SBT.