A Globo tinha escolhido o sucesso exibido em 2016 para substituir "Por Amor". Sérgio Guizé até gravou chamadas especiais com o burro Policarpo para anunciar a reexibição. Mas havia uma preocupação para manter os elevados índices que a reprise do clássico de Manoel Carlos alcançou. Embora Walcyr seja uma fábrica de sucessos em todas as faixas, a emissora mudou de ideia no meio do percurso. Silvio de Abreu, responsável pelo setor de teledramaturgia do canal, acabou convencido por outros colegas a selecionar "Avenida Brasil" para a missão. E funcionou. O fenômeno de João Emanuel Carneiro repetiu o êxito de 2012, ainda mais com a chegada da quarentena que implicou em um aumento ainda mais expressivo da audiência.
Era previsível, portanto, que a substituta seria "Êta Mundo Bom!". Já havia um planejamento. O fato é que o (trágico) acaso da pandemia transformou a escolha em algo perfeito para o atual momento. O folhetim reúne tudo o que Walcyr Carrasco apresentou na faixa das 18h: uma fazenda, guerra de comida, caipiras, quedas em chiqueiro, vilã muito diabólica, vários animais e bordões.
Vale lembrar que o folhetim marcou a volta do autor ao horário que o consagrou, após o imenso sucesso de "Verdades Secretas" em 2015. E, para honrar o título de ''rei das seis", o escritor resolveu reunir todas as fórmulas que funcionaram em "O Cravo e a Rosa" (2000), "Chocolate com Pimenta" (2003) e "Alma Gêmea" (2005).
A novela, ambientada na década de 40, estreou no dia 18 de janeiro de 2016 e teve seu último capítulo exibido no dia 26 de agosto, ou seja, ficou quase oito meses no ar. Foram 190 capítulos, sendo uma das produções das seis mais longas, levando em consideração a diminuição da duração das obras dessa faixa nos últimos anos. Mas essa situação foi benéfica, uma vez que a audiência só foi crescendo (o folhetim virou o mais visto da emissora por muito tempo, deixando "Velho Chico e "Haja Coração", exibidas na época, para trás) e Walcyr conseguiu evitar a famigerada barriga, sempre criando boas reviravoltas na trama.
A história principal se mostrou muito bem estruturada. A adaptação do conto "Cândido ou o otimismo" (do filósofo Voltaire) --- cuja versão cinematográfica é até hoje lembrada pela interpretação magistral do saudoso Mazzaropi como Candinho --- foi desenvolvida com competência pelo autor, tendo como principal acerto a escalação de Sérgio Guizé para viver o protagonista. O ator deu um show na pele do ingênuo caipira que tinha o burro Policarpo como melhor amigo e vivia repetindo a clássica frase de seu quase pai adotivo, o professor Pancrácio (Marco Nanini): "Tudo que acontece de ruim na vida da gente é para 'meiorá'". Ele honrou o protagonismo do enredo, sustentando com talento a posição de personagem central do início ao fim. É um papel que ficou marcado para sempre na carreira do intérprete.
Aliás, Marco Nanini voltou aos folhetins em grande estilo, após quase 14 anos interpretando o Lineu em "A Grande Família". Seu carismático professor de filosofia era uma das principais figuras da novela e o ator viveu 36 tipos diferentes na história, graças ao ofício clandestino de seu personagem, que adorava se disfarçar, encarnando diversos tipos para pedir dinheiro nas ruas. Miss São Paulo, índia, Marquesa de Santos, nadador olímpico, cego, mendigo, vedete, ex-combatente do exército e grávida foram alguns dos seus inúmeros perfis. Vale citar também o arrogante Pandolfo, irmão gêmeo de Pancrácio, que entrou na novela para fazer par com Eponina (Rosi Campos), engrandecendo o núcleo da fazenda. O ator ainda teve uma química evidente com Eliane Giardini (Anastácia) e protagonizou ótimas cenas ao lado de Sérgio Guizé e JP Rufino (Pirulito).
Eliane, inclusive, ganhou um grande papel. A milionária Anastácia representava a mulher à frente do seu tempo e a sua saga em busca do filho Candinho foi envolvente, culminando na cena mais linda da novela, quando a mãe irradiante de felicidade e o caipira se encontram, dando um abraço emocionante. Foram muitas sequências merecedoras de elogios, evidenciando a compensação de Walcyr, que não havia valorizado o talento da atriz em "Amor à Vida". Ela, inclusive, formou uma boa dupla com Bianca Bin, intérprete da destemida Maria, que virou a mocinha da novela logo no início, se mantendo no posto até o final. A saga da menina que se via viúva, grávida e expulsa de casa, arrebatou o telespectador, que passou a torcer pela personagem. O envolvimento dela com Celso (Rainer Cadete) foi outro acerto, transformando o casal em um dos melhores da história.
Composto por um elenco excelente e entrosado, o núcleo dos caipiras foi um dos grandes êxitos da trama. Inicialmente, a história da família que vivia querendo vender a fazenda onde moravam era claramente inspirada no conto "O Comprador de Fazendas", de Monteiro Lobato. Esse, inclusive, foi o fator que implicou no romance de Mafalda (Camila Queiroz) e Romeu (Klebber Toledo), o picareta que tentou enganar os jecas. Mas, ao longo da novela, a tentativa de golpe cedeu lugar para outras situações hilárias, como a curiosidade em torno do 'cegonho', nome dado pelo autor para o órgão sexual masculino. O termo pegou e virou quase um personagem à parte, caindo na boca do povo. As cenas protagonizadas por Mafalda e Eponina eram hilárias, destacando a sintonia perfeita entre Camila e Rosi Campos ----- aliás, vale citar que a grata revelação de "Verdades Secretas" se firmou de vez na carreira vivendo uma caipira fofinha, completamente diferente da sensual Angel.
A vilania de Sandra foi outro ponto alto da história. Flávia Alessandra voltou a trabalhar com o autor que mais a valorizou na carreira e se deu bem novamente com ele, pois a sua personagem era responsável pela movimentação da trama principal e se destacou do início ao fim. As semelhanças com seu papel mais marcante, a Cristina, de "Alma Gêmea", foram nítidas, como a cor do cabelo e o estilo classudo; entretanto, o escritor se preocupou em diferenciá-las, obtendo êxito. A sobrinha de Anastácia sempre foi a mentora de seus atos e primava pela racionalidade, ao contrário da outra, completamente dependente da mãe, Débora (Ana Lucia Torre), e passional ao extremo. Flávia esteve muito bem e os embates da víbora com a 'titia' e Maria eram ótimos, assim como sua parceria com o canalha Ernesto (Eriberto Leão). Outra dupla que funcionou foi Osório e Gerusa, vividos por Arthur Aguiar e Giovanna Grigio. O casal gerou torcida e teve um final tocante, embora triste.
"Êta Mundo Bom!" foi um verdadeiro fenômeno das seis e apenas comprovou que Walcyr Carrasco é mesmo o rei da faixa, apesar de já ter provado ser capaz de emplacar grandes sucessos em todos os horários da Globo. É o escritor mais versátil do país. A retomada da bem-sucedida parceria com o saudoso diretor Jorge Fernando também merece menção e resultou em mais um produto acertado da dupla ---- vide "Chocolate com Pimenta", "Alma Gêmea" e "Caras & Bocas". A escolha da Globo para reprisá-la é uma estratégia inteligente.
Vídeo do querido Sérgio Guizé convidando vocês para a reprise no "Vale a Pena Ver de Novo".
Eu adorei essa novela e li que tá fazendo mais sucesso que Avenida Brasil!
ResponderExcluirMelhor papel do Sérgio Guizé!
ResponderExcluirComo eu amei essa novela!!!!!
ResponderExcluir"Êta Mundo Bom!" (2016), novela memorável e perfeitamente apropriada para o momento que estamos vivendo por conta da pandemia do novo coronavírus. Leveza, desempenho irretocável do elenco e uma boa história sendo contada foram alguns dos trunfos para o sucesso desse folhetim.
ResponderExcluirGuilherme
Minha mãe assiste todo dia. Eu acompanho algumas partes e me vejo apaixonada pelo enredo. Gerusa e Osório formaram meu casal preferido. Vê-los novamente é um presente. Maria e Celso também não ficam para trás! Maravilhosos!
ResponderExcluirImpressionante como o Walcyr faz sucesso em qualquer horário e sempre com números astronômicos.
ResponderExcluirSergio obrigado pelos parabéns que você dedicou pra mim no último post sobre a AB. Amando essa reprise, que, ao contrário da novela anterior é mais orgânico, tanto que as subtramas parecem às vezes as centrais de tão bem explicadas que são. Walcyr realmente joga muita imaginação em suas criaturas, cada núcleo é tão poderoso que pode dar uma novela propia, ao contrário do anterior, onde prevalece a sensação de que JEC queria enrolar ao público com sus tramas sem idéias e pobres. Estou tão empolgado que cha foi por spoiler e so fico mais entusiasta, um romance com un plot sobre leucemia, Pancrácio tem un gemeo, e o melhor não hay que esperar muito para que Nastacia descubra a o Candinho verdadeiro. Walcyr e nossa Ivani o Janete moderna, não tem medo de soltar trama, aconteceu em Amor à Vida com a revelação de Paulina. É novela pra quem gosta de novela, algum outro jogou praga quando foi anunciada, bateram de frente com o ibope. O cara parece uma máquina robótica de escrever novelas, é testemunhado na grande variedade de personagens a bordo do navio, todo mundo tem seu momento no palco a diferença com a anterior é que não haverá figuração de luxo: Antes do fim todos dirão a que vieram. Sua dedicação ao seu trabalho não é surpreendente, se ele faz 1000 novelas em uma sò. Conheça os clichês e os truques do gênero. O tempo será mais gentil com ele do que com qualquer outro de sua geração. Das duas últimas atrações do vale a pena este é o verdadeiro novelão. Pronto falei.
ResponderExcluirAssino embaixo de cada frase.
ExcluirAdoro eta mundo bom, gostaria que o Walcyr carrasco voltasse ao horário das 6 é neste horário que ele escreve suas melhores novelas, inclusive tem um livro do Walcyr chamado "juntos para sempre" que daria uma linda novela das seis.
ResponderExcluirOlá, tudo bem? Foi o melhor trabalho do Sergio Guizé em telenovelas. Walcyr Carrasco acertou em Êta Mundo Bom!. Abraços, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirEstá, Heitor.
ResponderExcluirConcordo, anonimo.
ResponderExcluirIdem, anonimo.
ResponderExcluirÉ isso, Guilherme!
ResponderExcluirTb adoro os dois casais, Chaconerrilla!
ResponderExcluirSempre, Letícia!
ResponderExcluirQue ótimo comentário, anonimo. E eu que agradeço.
ResponderExcluirUm dia pode voltar, anonimo. Ele nao se importa com horário.
ResponderExcluirAcertou, Fabio. abçs
ResponderExcluirSérgio resolvi acompanhar essa reprise porque gostei mt da novela na exibição original, mas passei a reparar nas falhas da novela, que antes não tinha percebido.
ResponderExcluirPor exemplo, todos os enredos de Sandra e Maria são muito bons, na minha opinião, já o núcleo da Fazenda, que antes era o meu preferido, agora me parece chato. Todas as situações que acontecem nesse núcleo são chatas e repetitivas (pelo menos para mim). Por exemplo, após Romeu ganhar na loteria e tentar provar aos caipiras q está rico, as situações se repetem ao longo de vários capítulos e não anda. Igual quando supostamente havia petróleo na fazenda, a história parecia estar estagnada para sempre. Pra mim o núcleo da Fazenda virou mera encheção de linguiça sem sentido que dura a novela inteira.
Pra mim uma aula de como se faz comédia familiar, sem ficar chato nem subestimar a inteligência do público. Porque choras JEC?
ExcluirComo estou amando rever Eta Mundo Bom! Foi a novela do ano de 2016 e provou que mesmo após quatro anos, a novela continua primorosa. É uma pena que a não está sendo exibida na íntegra... Mas não deixo de amar😍 Walcir Carrasco é o melhor autor das 6.#etamundobom
ResponderExcluirWalcyr é o ilusionista da Globo.
ResponderExcluirEu discordo, anonimo, mas respeito sua opinião.
ResponderExcluirConcordo, Fernanda!!
ResponderExcluirBoa anonimo... kkkkk
ResponderExcluirNao duvido, anonimo...
ResponderExcluirObrigado, anonimo.
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